quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Entre a autoridade e a educação

Na Pública de domingo (com o jornal Público), Daniel Sampaio escreveu sobre a autoridade democrática. Só o li hoje. Texto claro, associado à pertinência do momento, em que se fala de autoridade, de democracia, de educação e de participação e sobre a forma como tudo isto pode ser camuflado...
"(...) A autoridade democrática de um governo não se pode definir a partir de uma qualidade ou defeito de quem precisa de a exercer, mas impõe recorrer a uma relação: requer um elo de reciprocidade entre o detentor dessa autoridade e aquele a quem se dirige, uma partilha de qualquer modo. A autoridade é sempre, em derradeira análise, uma questão cultural: é preciso que quem manda e quem é suposto obedecer reconheçam essa hierarquia como legítima e o demonstrem no quotidiano. Ao governo exige-se acção eficaz, mas não só, é imperioso que faça o exercício mental de estar atento ao que de individual e pessoal existe em cada cidadão relacionado com a medida anunciada, única forma de obter apoio para o que se pretende mudar (quando isto não é feito torna-se ainda mais difícil governar...). Os média costumam falar de interesses dos lóbis, eu acho que se trata de uma posição narcísica de não ouvir ninguém para além do círculo restrito dos assessores e estruturas partidárias, ou de não escutar quem pode ter uma opinião útil e livre.
Para mudar na saúde e na educação, por exemplo, nunca bastarão comissões técnicas, grupos de trabalho ou sumários executivos dos colaboradores; nem serão proveitosas reuniões com autarcas (sempre prontos a tirar dividendos políticos) ou encontros com os Conselhos Executivos das escolas (sem auscultar professores e alunos). Pelo contrário, as mudanças anunciadas (muitas delas correctas), terão sucesso se forem acompanhadas do apoio da Ordem dos Médicos, dos Conselhos Pedagógicos das escolas, da opinião dos pais, do parecer de cidadãos de prestígio, sem ambição na carreira partidária e política.
Quando se afirma que o governo é autoritário, estamos a dizer que ele acabou de perder autoridade. Os políticos actuais pressentem-no, e então multiplicam assessorias de comunicação, conferências de imprensa, artigos encomendados, entrevistas sucessivas, em repetidas fugas para a frente que só acentua o que já existe: a falta de confiança dos cidadãos face ao poder. (...)
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