sábado, 29 de junho de 2013

Florindo Cardoso conta «Os últimos dias do jornal 'O Setubalense'»



Florindo Cardoso trabalhou no periódico O Setubalense durante 14 anos (desde Outubro de 1999 até ao final do periódico, em 2013). Com experiência jornalística acumulada noutros órgãos de comunicação social regional, conhece o meio, aí incluindo as suas potencialidades e também as suas fragilidades.
O desaparecimento (ou final ou suspensão, chame-se-lhe o que se quiser) do jornal O Setubalense foi percepcionado pelos leitores logo que de trissemanário (com edições às segundas, quartas e sextas) passou a bissemanário (suprimindo a saída a meio da semana), em 4 de Março de 2013, data em que, na primeira página, constava o seguinte destaque: “Medida temporária – Passamos a sair só duas vezes por semana – O nosso jornal está numa fase de reordenamento da sua estrutura, acção fundamental para que possa resistir aos tempos e continuar a servir a cidade, pelo que foi entendido que a partir de agora, ainda que temporariamente, passe a ser publicado somente duas vezes na semana, sendo suspensas as edições de quarta-feira. No mais breve espaço possível queremos retomar a periodicidade normal. Esperamos a compreensão dos nossos leitores, anunciantes e amigos.”
Pouco tempo depois, quase subitamente, na sua edição de 10 de Maio de 2013, a última, a notícia de primeira página do jornal era o seu final. Surpreendidos (ou não), os leitores confrontaram-se com o desaparecimento daquele que constituía uma referência social e cultural para Setúbal, muitas vezes apresentado como o jornal regional mais antigo do país, com 158 anos (a fazer no início de Julho), pressuposto assente numa informação de que só tem sido apresentada uma parte da verdade: com efeito, a primeira vez que o título O Setubalense surgiu foi em Julho de 1855, pela mão e pela ideia de João Carlos de Almeida Carvalho, um “coleccionador” de coisas e de histórias de Setúbal, para ser interrompido dois anos depois, em 1857, com 131 números publicados, apenas ressurgindo, na sua segunda fase, por 1916. Ora, o que tem 158 anos é o título, porque o jornal, como meio de comunicação, como objecto, é bem mais jovem… pelo menos cerca de 60 anos mais jovem, se quisermos ser benevolentes (uma vez que podem ainda ser consideradas as interrupções de 1927 – cerca de seis meses – ou a verificada posteriormente a 1974, durante a publicação do Nova Vida, apenas tendo reaparecido o título O Setubalense por 1980).
A história, embora sucinta, do periódico é o que ocupa o capítulo inicial de Os últimos dias do jornal ‘O Setubalense’, de Florindo Cardoso, acabado de publicar (Setúbal: ed. de Autor, 2013), história completada com uma cronologia que fecha o livro. O título desta obra sugere uma peça de reportagem. Contudo, a razão desta obra não vai por esse caminho, antes pelo trajecto pessoal do seu autor, com entradas em vários momentos do tempo de 14 anos que foi a relação profissional de Florindo Cardoso com o jornal e com uma leitura sobre quais possam ter sido as razões que levaram ao fim do jornal. Assim, este livro é também um relato autobiográfico, quer pela narrativa que é contada na primeira pessoa relativa à experiência no jornal, quer pelo facto de não lhe ser alheia a perspectiva da opinião, visível numa leitura pessoal, por vezes, impressiva, dos acontecimentos e das razões que os originaram, não lhe sendo alheia, aqui e ali, uma avaliação judicativa.
O que pode levar um jornalista a fazer a reportagem ou a memória do final do jornal em que trabalhou? Logo no início, Florindo Cardos não o esconde: “Este livro conta de forma simples a minha experiência de trabalhar n‘O Setubalense, os problemas, as pressões, o relacionamento com os agentes políticos, sociais e económicos.” Temos, pois, a experiência autobiográfica; depois, vem a justificação, também ela marcada pelo mesmo cariz, ainda que dominado pela identidade: “Considero importante falar sobre esta etapa final do Jornal para que se feche um ciclo na minha vida.” Finalmente, uma explicação: “Não se trata de um acto de vingança nem de um ajuste de contas, apenas a minha versão dos acontecimentos, podendo assim os setubalenses saber a verdade sobre o encerramento do seu Jornal.” Esta explicação não será alheia a alguns comentários que ao longo da narrativa vão sendo feitos, sejam eles quanto ao funcionamento do jornal, quanto ao ambiente de relações interpessoais, quanto às incompatibilidades que o leitor vai sentindo existirem. No entanto, este relato, com cunho fortemente pessoal, contém também uma dedicatória: “Deixo uma homenagem aos colegas de O Setubalense que nestes dois últimos anos sofreram mas não desistiram.
Sabemos agora que o pagamento pontual dos salários começou a falhar em Julho de 2011, facto que o jornal não noticiou (talvez por combinação interna), muito embora salários em atraso seja sempre um tema que, pelo envolvimento social e laboral, costuma constituir notícia (e disso O Setubalense só fez excepção no seu próprio caso).
A crise do jornal O Setubalense terá começado após o falecimento de João Carlos Fidalgo, membro da Plurijornal e director da publicação entre 1995 e Junho de 2011, que Florindo Cardoso considera ter sido “a alma” deste projecto, um elogio que tem muito de bom para a memória mas que é demolidor quanto à sucessão. A partir daí, a “falta de experiência da nova gerência e a ausência de contactos desta com o exterior foram os principais entraves para a salvação do jornal”, razões obviamente aliadas à crise por que o país e a região estão a passar. Mas, além destas razões, Florindo Cardoso aponta ainda a responsabilidade ao facto de um eventual aumento da circulação do jornal não ter sido tentado à custa “do alargamento dos pontos de venda na região” e consequente tratamento informativo sobre essas regiões, à falta de uma “gestão profissional que reunisse com as entidades da região com vista à obtenção de campanhas publicitárias”, à facilidade de acesso à informação através da net (com possibilidade de leitura gratuita do jornal na respectiva página) e às relações da política com a imprensa.
Relativamente a este último aspecto, o capítulo “A relação do jornal com os políticos” diz sobre os dirigentes políticos locais que temos tido e o espelho de oportunidades que a imprensa tem ou não tem sido. Com efeito, Florindo Cardoso passa em revista a sua relação profissional com os três últimos presidentes da Câmara de Setúbal – Mata Cáceres, Carlos Sousa e Maria das Dores Meira –, sendo evidente que em todos eles é visível o interesse quanto ao papel que a imprensa pode desempenhar na visibilidade e imagem dos respectivos mandatos: aqui saltam aspectos não de todo claros, uma vez que, sendo verdade que todos eles têm uma diferente e diversa relação com a imprensa, também é verdade que ressaltam aspectos de simpatia ou de antipatia do jornalista relativamente às figuras com que se relaciona. O retrato resultante da experiência de Florindo Cardoso vai ao ponto de atribuir responsabilidades ao actual executivo autárquico quanto ao fim do jornal, o que deveria ser mais coerentemente explicado, uma vez que todos conhecemos essa vertente relacional dos políticos com a imprensa, sempre oscilante entre o amor e o ódio, apenas explicável pelas circunstâncias do momento.
A vertente profissional de Florindo Cardoso consta ainda na escolha que faz das suas experiências no jornal, ora elegendo como muito marcante o acontecimento que foi a explosão num prédio da zona de Montalvão em 2007 (assunto que dominou as notícias locais por bom número de meses), ora seleccionando algumas das entrevistas que fez para a rubrica das personalidades locais (dando visibilidade às conversas com Herman José, Simone Fragoso, Rui David e Celina Piedade). Em boa verdade, quer a reprodução das entrevistas, quer a lembrança da explosão deveriam constituir um grupo separado da narrativa do fim do jornal, uma vez que, colocadas estas referências no interior da história, há uma situação de estranheza relativamente à lógica das escolhas e da ordenação do texto. Em defesa da perspectiva autobiográfica, a experiência de escrita e de jornalista que Florindo Cardoso pretendeu evidenciar deveria constituir uma segunda parte do livro, independente daquilo que é o relato que justifica o título.
O livro contém ainda, a abrir, três textos de outros tantos directores de órgãos de comunicação social da região de Setúbal – Francisco Alves Rito (do Diário da Região), que questiona a identidade da região de Setúbal enquanto não haja uma “libertação” relativamente a Lisboa; Pedro Brinca (do Setúbal na Rede), que enaltece o papel da imprensa regional; e Raul Tavares (do Sem Mais Jornal), que reflecte sobre a necessidade de haver uma informação regional sustentável e sobre um futuro nada auspicioso para este mesmo sector. É por estes textos que passa a reflexão sobre o papel da imprensa regional hoje, importantes ainda para se perceber razões de conjunto que podem ter contribuído para o desaparecimento do jornal O Setubalense, apenas um caso, mas que pode ser paradigmático. O conjunto dos três testemunhos é importante, sobretudo se relacionado com o final do livro – em jeito de conclusão, apaixonada e emocionada, Florindo Cardoso confessa o desgosto pelo fim do jornal, não contendo a marca do dissabor nem renunciando à tentação da denúncia: “Fomos usados. Marionetas de um teatro controladas por alguém exterior que nos queria mal ou não gostava de nós. Intencional ou não, eis a dúvida. Nunca entendi os objectivos de certas pessoas em relação ao futuro da empresa.”
Os últimos dias do jornal ‘O Setubalense’, de Florindo Cardoso, é um contributo pessoal para a história. De cunho acentuadamente próprio, deixa a marca da distância crítica para o leitor. Quando for feita a história da imprensa regional em Setúbal, designadamente do título O Setubalense, este testemunho será importante, sem dúvida. Mas terá de ser confrontado com outras leituras, com outras interpretações, com outros testemunhos, não pelo que possa exigir o chamado “contraditório”, mas porque o “puzzle” da actualidade exige a entrada de muitos intervenientes.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Para a agenda - O fim do jornal "O Setubalense"



O fim do jornal O Setubalense contado por quem o viveu por dentro, por quem lá trabalhou e sentiu que a hora estava chegada. As (possíveis) razões que levaram à queda do mais antigo jornal de Setúbal, um título com 158 anos, mas um jornal bem mais novo do que isso. Os últimos dias do jornal "O Setubalense", por Florindo Cardoso, jornalista, um texto de história actual, de memória, de opinião e de testemunho. Para conhecer no sábado, 29 de Junho. Apresentação no Clube Setubalense, pelas 17h30. Para a agenda.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Para a agenda - Eduardo Pitta em Setúbal



Um encontro para a agenda. Eduardo Pitta, responsável pelo blogue Da Literatura, crítico literário e autor de Os dias de Veneza (2005), Aula de poesia (2010), Desobediência (2011), Cadernos italianos (2013) e Um rapaz a arder (2013), entre outras obras, estará em Setúbal para falar da sua obra. Na Casa da Cultura, em 28 de Junho, à noite, na programação do "Muito cá de casa", com leituras de José Nobre. Para a agenda!

Universidade de Coimbra e diário da viagem de Vasco da Gama - Mais dois reconhecimentos da UNESCO para Portugal



A semana que passou foi pródiga no reconhecimento de marcos de Portugal como fazendo parte da memória da Humanidade. A decisão da UNESCO em reconhecer o registo do diário da viagem de Vasco da Gama até à Índia (supostamente da autoria do cronista Álvaro Velho, propriedade da Biblioteca Pública Municipal do Porto) como documento importante para a memória do mundo e de atribuir à Universidade de Coimbra o estatuto de integrante do património mundial constituem duas marcas na importância cultural do nosso país.
Se o diário da viagem de Vasco da Gama é considerado como “um testemunho verdadeiro da forma como Vasco da Gama, à frente da sua frota, descobriu a rota marítima para a Índia”, numa aventura “sem precedentes”, e “um momento determinante que mudou o curso da História”, porque esta viagem originou “uma série de acontecimentos que viriam a transformar o mundo”, já a Universidade de Coimbra foi escolhida porque se tornou “uma referência para os outros estabelecimentos de ensino superior no mundo lusófono onde exerceu uma influência máxima na difusão do saber e da literatura”, sendo que “Coimbra surge como exemplo assinalável de cidade universitária integrada com uma tipologia urbana específica e tradições rituais e culturais próprias que foram perpetuadas”.
Um país de parabéns! Que muito ganha em preservar o seu património, a sua identidade.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Máximas em mínimas (98) - Afonso Cruz


Depois de ler Jesus Cristo bebia cerveja, de Afonso Cruz (Carnaxide: Santillana Editores / Editora Objectiva, 2012 – já com 3ª edição, de 2013), uma história bem contada pelo Alentejo dentro, um lote de máximas, organizadas por ordem alfabética e não pela ordem por que aparecem no livro.

Conhecimento – “O auto-conhecimento é uma coisa muito difícil, é como os cães, que roem ossos mas não roem os seus próprios ossos.”
Dor – “As nossas dores acompanham-nos até morrermos, como cães fiéis atrás dos donos.” 
Espaço – “Quando o espaço comum é demasiado pequeno, surgem  inúmeros problemas. Numa sociedade, se houver espaço, nunca há conflito.”
Futuro – “Conhecer o futuro dá cabo do presente.” 
Idade – “A idade de uma criança ainda é um fenómeno mitológico. Fenómeno que se perde com a adolescência. A partir de certa altura a cronologia passa a ser um número sem qualidades metafísicas. Os deuses greco-romanos perdem protagonismo e acabam por ser substituídos por leis físicas, por sebentas aos quadrados e, fatalmente, por um bilhete de identidade.”
Instinto – “O instinto é um processo admirável que se sobrepõe a todas as virtudes, mesmo às mais celestiais, castas e abençoadas.”
Morte – “A morte come muita coisa, mas deixa os ossos.”
Natureza – “A natureza é um lugar sem higiene nenhuma, cheia de bichos e de terra e de coisas desorganizadas. É o oposto dos jardins e das cidades e das hortas e do cimento. A natureza é o maior inimigo do homem civilizado.”
Sonho – “As coisas que imaginamos que irão ser o futuro, e jamais o serão, existem mesmo, mas num universo ao lado deste, coladinho a este. (…) Tudo o que pensamos acaba por acontecer, mas noutro lado a que não temos acesso.”
Tempo – “O tempo, nas relações, não anda necessariamente de trás para a frente, do passado para o futuro. É fácil verificar que uma mulher nova pode ser muito mais velha do que um velho e que um homem de idade impressionante pode ser uma criança. Nas relações, o tempo comporta-se de maneira diferente. O único relógio que mede o passar destes tempos são os sentimentos.” 
Trabalho – “Se o trabalho desse dinheiro, os pobres seriam ricos.”

terça-feira, 18 de junho de 2013

O património museológico da Escola Secundária de Bocage em catálogo



A ideia de um Museu Escolar para Setúbal vai sendo falada de vez em quando, uma tentativa de historiar a educação em Portugal e na região, com certeza. Mas pólos importantes de uma musealização na área do ensino são também as próprias escolas, sobretudo as mais antigas, que guardarão um espólio a todos os títulos interessante.
Uma prova disso é a recente publicação do catálogo Património museológico alusivo à Escola Secundária de Bocage (Setúbal: Escola Secundária de Bocage, 2013), devido aos professores Isilda Silva, António Vasconcelos e Miguel Boullosa, mostra de um mais vasto projecto, o da base de dados do Património Museológico da Educação, a cargo do Ministério da Educação e Ciência.
Desde a criação do Liceu de Setúbal em 1858, a funcionar então no Convento da Boa Hora, mais de século e meio passou sobre a que é agora a Escola Secundária de Bocage, tempo importante para a identidade sadina e para a história da educação em Setúbal. Além do que terão sido os investimentos de origem local ou nacional no património desta escola, também foram importantes as doações levadas a cabo por Arronches Junqueiro (1868-1940) e, mais recentemente, por Ireneu Cruz (1937-2011).
No catálogo on line do Ministério da Educação e Ciência constam 725 peças do acervo da Escola Secundária de Bocage anteriores a 1974; o catálogo agora editado, em pouco mais de uma centena de páginas, apresenta cerca de duas centenas de reproduções fotográficas em que se incluem as categorias “instrumentos científicos”, “materiais didácticos” (biologia, zoologia, geologia, paleontologia, cerâmica, artes visuais, mineralogia, cristalografia) e “fotografia”. Utensílios, mapas, quadros parietais, animais embalsamados, modelos vários e diapositivos em vidro constituem outras tantas modalidades dos materiais apresentados. O livro fecha com a descrição das peças do espólio apresentadas, embora sem as datas da concepção ou aquisição das mesmas, consideradas pelos autores como as “mais significativas quanto ao seu interesse científico e pedagógico e qualidade estética”.

Com esta obra, interessante e elucidativa, está o leitor perante uma boa oportunidade para revisitar a história, para um encontro com o que constituiu a via experimental em prática no ensino em Portugal, para o conhecimento do trajecto do que tem sido a vida nas escolas, do que tem sido o ensino, a aprendizagem e a actualização didáctico-científica ao longo dos tempos.

Para a agenda - Setúbal nos roteiros da memória urbana



Setúbal nos Roteiros da memória urbana, por João Freire e Maria Alexandre Lousada. Ou as "marcas deixadas por libertários e afins ao longo do século XX". No dia 22, pelas 22h00, na Casa da Cultura. Para a agenda.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Para a agenda - Feira Medieval em Viana do Castelo


No âmbito da comemoração do foral, Viana do Castelo propõe uma Feira Medieval de 14 a 18 de Junho. Bem no centro da cidade. Para a agenda.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Para a agenda: "Wine sunset party" - Vinhos de Setúbal apresentam-se



Cruzeiros enoturísticos no Sado. Com os vinhos da região de Setúbal, da Península de Setúbal, por companhia, nos seus aromas e sabores. De Junho até Setembro. A ritmo semanal. Para degustar. Para a agenda.

sábado, 1 de junho de 2013

Dia da Criança - "A estas criancinhas tem respeito..."


«Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas têm o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piadoso sentimento
Como com a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos que Roma edificaram:

Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar ua donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.

E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro
Sabe também dar vida com clemência
A quem pera perdê-la não fez erro.
Mas, se to assim merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.

Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas, que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.»


Luís de Camões. Os Lusíadas, 1572 (canto III, est. 126-129)

Para a agenda: "Isto é um assalto", a dívida em bd



A propósito dos tempos que correm... Isto é um assalto - A história da dívida em banda desenhada, segundo Francisco Louçã e Mariana Mortágua, com as ilustrações de Nuno Saraiva, apresentado por Álvaro Arranja. Mais uma iniciativa da livraria sadina Culsete, num programa que assinala os seus 40 anos de existência. Em 4 de Junho, terça. Para a agenda!