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quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Luís Aguiar: a partilha dos silêncios e o amor


Há uma canção de Bob Dylan, de 1968 (“Open the door, Hommer”), em que o papel das memórias é assim poetizado: “Cuida de todas as tuas recordações / pois não podes revivê-las.” Estes versos do poeta-cantor nobelizado acentuam de forma crua o efeito da lembrança, uma quase-metáfora para tornar presentes coisas acontecidas no passado, momentos distanciados pelo factor tempo e pelo contexto em que os acontecimentos e as recordações ocorrem.

A obra surgida da edição do Prémio Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage de 2022 que agora se publica, O sossego do tempo sobre a pele (Setúbal: LASA - Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, 2023), de Luís Aguiar, joga com esse elemento fundamental que é o tempo, fermentador de uma certa quietude e elevador das recordações, num percurso resultante da brutalidade do encontro com a morte, com o silêncio.

Na mais antiga recordação, o poema que inicia o livro, há a vivência de um passado que fazia o tempo, trajecto prolongado que parecia não ser interrompido - “Éramos tão novos, meu amor, / mas o tempo trazia nas veias lume, / romãs e os lugares / que um dia iríamos esquecer”. Contudo, este correr da vida e da paixão surge ameaçado logo no segundo poema, quando a escrita se confronta com a sorte e com a doença - “o destino é um viajante, / assim é a dor que o naufrágio causa / (...) / enquanto a leucemia se estendia / pelo sangue e pela linfa, / como se fosse um vestido preso / no estendal da quinta.”

A memória impele para lugares de revisitação, numa tentativa de construção de momentos de felicidade retomada - “Ontem, estive junto à praia onde namorávamos / sem que a tua mãe o soubesse. / (...) / Em escassos segundos recordei-me do teu sorriso.” Porém, tais instantes podem acentuar a dor, trazida pela ausência - “O mundo não mudou e tu, agora, repousas em parte incerta, / enquanto eu me tento expulsar deste quarto / onde adormeceste ontem, e ontem foi há tanto tempo”.

A continuação do poema constrói-se sobre recordações assentes em objectos (as cartas), em partilhas (uma viagem de comboio para Caminha), em instantes de alegria (o vento na praia, a areia nos pés, os campos verdes), como é conseguida nas imposições do sofrimento (“Doem as perguntas mais planas, / e as histórias que desapareceram no azul desvanecido”) ou na insistência na vã procura do ser amado - “Diz-me, / em que manhã, / ou em que pôr-do-sol, / poderei / procurar o teu cheiro, / ou o teu beijo, / misturado num lívido poema (...)?”

A leitura deste O sossego do tempo sobre a pele é um desafio à sensibilidade do leitor, uma viagem pela dor e pelas cicatrizes trazidas pela vida, num percurso interrompido pela morte, que “chegou na idade em que o cimento / estava fresco, e as searas eram infindas / para os passos que não conseguíamos dar”. O trajecto torna-se difícil para o poeta, que, depois de se ver “órfão” na viagem, sente a falta do abraço do “último momento”, tem de responder às perguntas sobre a morte, peregrina na tentativa de minimizar a ausência.

Na justificação apresentada pelo júri para premiar esta obra, assinada por José-António Chocolate, é referido estar-se “perante uma história de amor e saudade, sendo esta última não o resultado de uma revolta perante as circunstâncias adversas da vida, mas um hino de agradecimento a quem partilhou uma relação intensa e verdadeira”, ao mesmo tempo que se sublinha a riqueza imagética e metafórica conseguida no poema. No fundo, um livro construído sobre o silêncio e a vertigem da dor.

Se, como disse Jaime Salazar Sampaio, “é preciso ter amado a vida para aceitar a morte”, este longo poema de amor é prova desse percurso, via difícil de procura e de encontro, que se conclui com uma declaração que ultrapassa todas as agruras, que vence a dor: “Amo-te, / mesmo que as rosas me rasguem as mãos, / por não suportarem / o peso do teu nome inscrito numa lápide.”

* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". O Setubalense: n.º 1149, 2023-09-20, p. 10


quarta-feira, 21 de julho de 2021

Anabela Coelho e Fernando Fitas: Prémios Sebastião da Gama e Bocage 2020



Anabela Coelho (n.1969) e Fernando Fitas (n. 1957) venceram as edições de 2020 do Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama e do Prémio Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage, respectivamente, com trabalhos agora publicados - Distância de mim para mim (Associação Cultural Sebastião da Gama) e O vidro desabitado (LASA - Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão).

Fazendo justiça à interiorização que o título sugere, o livro de Anabela Coelho abre com epígrafe de Vergílio Ferreira - “De ti é apenas o silêncio... Pensa-o ardentemente, profundamente, absolutamente.” Logo no poema inicial surgem algumas das palavras-chave que vão determinar a leitura - “voar”, “luz”, “flor” -, a que se juntará “sonho”, assim se compondo o quarteto imagético decisivo desta escrita, fazendo “florir um poema” que, depois, é visto a “seguir o rasto das estrelas”. Qualquer uma das quatro palavras vai tendo substitutos ao longo do livro, numa relação de coerência lexical - “asas”, “anjos”, “pássaros”; “sol”, “estrelas”, “lume”, “iluminar”; “rosas”, “girassol”, “magnólia”, “papoilas”, “tulipas”. Já o “sonho” corre em linguagem predominantemente metafórica, como “adormecer”, “vento”, ou em imagens como “água corrente”, “labaredas de azul”.

A escrita prende-se a locais, objectos, momentos, gestos, sempre percepcionados na primeira pessoa - “encostei-me ao silêncio / e olhei o dia num sudário de luz” - e o leitor assiste à construção de um mundo dominado pelo imaginário, por vezes através de momentos de transfiguração - “Escrevo as rosas e é primavera / e já as asas e as pétalas / na doação infinita dos espaços / espalham cores e perfumes” ou “Inventemos um mar, um mar imenso / com o mesmo azul, o último azul / (...) / igual ao que fez nascer Vénus”.

Em O vidro desabitado, Fernando Fitas parte também de uma epígrafe, devida a Al berto: “ergue-se uma cidade de melancolia na incerteza dos punhos e nela nos ferimos”. Os vários textos constituem um longo poema em que o leitor se confronta com a pandemia e com as marcas de refúgio e de afastamento que a caracterizam, constituindo boa oportunidade para o poeta se encontrar com a memória e com a esperança, preferindo o verso longo, mais consentâneo com a demora das imagens.

O presente, vivido sob as marcas da catástrofe, é construído com imagens fortes de dor - “Morte ignóbil esta, que mata os indefesos sem alguém que os lembre, / (...) / que o tempo não consome num forno crematório / ainda que os seus nomes tenham perdido as sílabas, as vogais, a alegria / e sejam simplesmente números frios e tristes.” Este tempo de silêncio em tudo se opõe a outros envolvimentos que o poeta vai memorando, que foram de esperança - “Vivi a epidémica festa dos abraços, o tempo inebriante dos sorrisos / espontâneos, esse momento único em que o erguer dos punhos coloria avenidas”.

Alguns textos recorrem à primeira pessoa do plural, por vezes com pendor exortativo e sentencioso - “o amanhã é apenas aquilo que não vemos, ou se quiserdes, / o lugar onde um dia iremos construir nossa nova morada.” A pandemia, privação de liberdade, é olhada pela janela, metáfora da trincheira, miradouro para a esperança do recomeço - “lugar onde espero que chegue a hora exacta de levantar o braço, / erguer de novo o punho e entoar a Grândola, a plenos pulmões, / como um rio que transborda”.

Anabela Coelho e Fernando Fitas, que já obtiveram diversos prémios literários, tornam-se assim oleiros de imagens sobre o mundo que nos faz.

* J.R.R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 668, 2021-07-21, p. 9.


sábado, 1 de setembro de 2018

Prémio literário Bocage já tem vencedor: "A Casa do Ser", de António Canteiro



António Canteiro é o vencedor da XX edição do Concurso Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage, promovido pela LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) com o trabalho A Casa do Ser, na modalidade de poesia, cujo prémio será entregue na tarde de 15 de Setembro, feriado municipal em Setúbal e dia de Bocage.
António Canteiro, pseudónimo de João Carlos Costa da Cruz, é natural de Cantanhede. Detentor de vários galardões literários, mereceu em 2013 o primeiro lugar no Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama com a obra O Silêncio Solar das Manhãse, em 2015, o primeiro lugar no XVII Concurso Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage com a obra Na Luz das Janelas Pestanejam as Sombras.
O júri decidiu não atribuir prémio na modalidade de “Revelação”.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Prémio Literário Bocage 2017 já tem vencedores



No final da tarde de ontem foram conhecidos os vencedores da XIX edição do Concurso Literário Manuel Maria du Bocage, promovido pela LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão).
Entre os cerca de 140 trabalhos apreciados pelo júri (constituído pelos poetas Arlindo Mota e José António Chocolate e pelo professor João Reis Ribeiro), o vencedor na modalidade de "Poesia" foi o texto "Fragmentos de um todo - Pedaços de memória de uma tarde de Agosto", assinado com o pseudónimo Mia Pinto, pertencente a Elsa Maria Pinto de Carvalho Domingos, de Alverca. Na modalidade de "Revelação" (para jovens com menos de 20 anos), o prémio foi atribuído a trabalho sem título, sob o pseudónimo Sérgio Santos, pertencente a Guilherme Nuno Sobral Coelho Pina.
A entrega dos prémios ocorrerá em Janeiro, em data a ser divulgada. Além do valor monetário atribuído a cada um dos vencedores, a LASA será a responsável pela primeira edição das obras escolhidas.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Para a agenda - Bocage com música



A cerimónia de entrega dos prémios da 18ª edição do Concurso Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage vai ter lugar na sexta feira, 28 de Outubro, no Fórum Municipal Luísa Todi.
A sessão contará com a estreia de uma composição musical da autoria de Christopher Bochmann, "O Suspiro do Rouxinol", inspirada no texto bocagiano "Olha, Marília, as flautas dos pastores", peça encomendada pela Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão (LASA), que terá como intérpretes Suzana Teixeira (mexo soprano), Fernando Pernas (clarinete) e Ana Teles (piano).
Os agrupamentos "Paganinus", "Violetas" e "Orquestra de Violoncelos" do Conservatório Regional de Setúbal, intervirão também com interpretações de obras de Bach, Handel, Purcell, Telemann e Vivaldi.
Um programa a não perder! Para a agenda!

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Prémio Literário Bocage 2016 já tem vencedores


No final da tarde de hoje foram conhecidos os vencedores da XVIII edição do Concurso Literário Manuel Maria du Bocage, promovido pela LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão).
Entre os cerca de 220 trabalhos apreciados pelo júri (constituído pelos poetas Arlindo Mota e José António Chocolate e pelo professor João Reis Ribeiro), o vencedor na modalidade de "Poesia" foi o texto "Quantas madrugadas precisamos para fermentar um pão?", assinado com o pseudónimo Alicia Pereira Ribeiro, pertencente a Luís Filipe Gomes Aguiar Pereira (Luís Aguiar, como autor), de Águeda. Na modalidade de "Revelação" (para jovens com menos de 20 anos), o prémio foi atribuído ao trabalho "Maria Aurora", sob o pseudónimo Branca Teixeira, pertencente a Maria Matilde Teixeira de Queiroz Seabra Real.
A entrega dos prémios ocorrerá em Outubro, em data a ser divulgada. Além do valor monetário atribuído a cada um dos vencedores, a LASA será a responsável pela primeira edição das obras escolhidas.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Prémio Literário Bocage 2015 já tem vencedores


A XVII edição do Prémio Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage, promovida pela LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) com o apoio de vários parceiros, teve no final da noite a decisão do júri nas várias modalidades: em poesia, o trabalho Na luz das janelas pestanejam as sombras, de João Carlos Costa da Cruz (apresentado sob o pseudónimo de Deus de Lume), residente em Cantanhede; no ensaio, o texto Bocage no Oriente, de António Alberto Sancho Trabulo (apresentado sob o pseudónimo de Zé d’Arrábida), setubalense por adopção (natural de Vila Nova de Foz Coa); em revelação, a obra Pentapétalo, de João Diogo Pereira Barreira (sob o pseudónimo de Ricardo Neves), residente em Mafamude (Vila Nova de Gaia).
Os prémios serão entregues em cerimónia a realizar em 15 de Setembro, feriado de Setúbal, e, além de um valor monetário, os textos merecerão a edição (a cargo da entidade promotora). A este concurso foram apresentados 304 trabalhos (tendo sido a poesia a modalidade mais concorrida), apreciados por um júri constituído por José António Chocolate, João Reis Ribeiro e António Chitas.

Refira-se que os premiados de poesia e de ensaio são autores com obra já publicada: no caso do galardoado em poesia, trata-se do escritor António Canteiro (pseudónimo), com títulos no âmbito da poesia e do conto, vencedor de diversos prémios literários, designadamente o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama; no caso do contemplado na modalidade de ensaio, é o médico e escritor António Trabulo, com vários prémios no domínio da escrita, como o Prémio Aldónio Gomes, sendo as suas obras mais conhecidas nos géneros conto e romance.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Bocage no seu dia, por Zé Nova



Hoje, dia de Bocage, feriado municipal em Setúbal (que assim relembra o seu poeta), uma visão de Bocage, talvez ela mesma bocagiana, da autoria de Zé Nova, concebida para o programa do Prémio Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage, promovido pela LASA. Um desenho em que facilmente se reconhece o poeta, bem como facilmente se revê a sua imagem de Setúbal: naquela estátua que faz girar a praça em torno de si, há quase sempre uma pomba que penteia as ideias do poeta...

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Prémio literário Bocage 2014 já tem vencedores



A XVI edição do Prémio Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage, promovida pela LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) com o apoio de vários parceiros, teve no final da noite de ontem a decisão do júri nas várias modalidades: em poesia, o trabalho Pequeno livro de elegias, de Daniel da Silva Gonçalves (apresentado sob o pseudónimo de Rui Curado), residente em Santa Maria (Açores); no conto, o texto Eu e tu nesta cama, de Virgínia Sofia Antunes (apresentado sob o pseudónimo de Mariana Algarvia), farense a residir em Inglaterra; em revelação, um conjunto de poemas sem título, de Manuel Eurico Vaz Marques (sob o pseudónimo de Mosguy), residente em Joane (Famalicão).
Os prémios serão entregues em cerimónia a realizar em 15 de Setembro, feriado de Setúbal, e, além de um valor monetário, os textos merecerão a edição (a cargo da entidade promotora). A este concurso foram apresentados 509 trabalhos, apreciados por um júri constituído por José António Chocolate, João Reis Ribeiro e António Chitas.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Para a agenda - Entrega do Prémio Bocage a Paulo Assim



No dia de Bocage, que é também Dia do Município em Setúbal, a LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) homenageia o vate com a entrega do Prémio Nacional de Poesia Manuel Maria Barbosa du Bocage. O vencedor foi Paulo Assim. O encontro é no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal. numa homenagem ao ao poeta, aos poetas, à poesia, a Setúbal. Para a agenda!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Prémio Literário Bocage 2012 já tem vencedores


Foram cerca de 500 os candidatos ao Prémio Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage, promovido pela Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão (LASA), na sua 14ª edição, nas modalidades de Poesia, Revelação e Conto.
O júri, reunido na noite de ontem, decidiu premiar os seguintes trabalhos:
- na modalidade de Poesia, a obra A Bocage, subscrita pelo pseudónimo “Tiago”, correspondente a António José Barradas Barroso (n. 1934), oficial reformado, natural de Vila Viçosa e a residir na Parede, autor já conhecido pelos prémios literários conquistados noutros certames;
- na modalidade de “Conto”, a obra O dia em que a Augusta morreu e depois merendou com as amigas, apresentada sob o pseudónimo Ana Isménia de Malaca, correspondente a Maria de Fátima Clemente Bica (n. 1966), professora, natural de Mira, a residir em Coimbra;
- na modalidade de “Revelação”, a obra Princesa da Gama, assinada por Eda Paixão, correspondente a Vânia Maria Rebola Pimenta (n. 1991), desempregada, natural de Redondo, que já obteve o prémio “Especial Juventude” da edição de 2008 do Prémio Literário Hernâni Cidade, promovido pelo município do Redondo.
A entrega do prémio terá lugar no final da tarde de 15 de Setembro, feriado municipal de Setúbal, dia em que se celebra também a data de nascimento de Bocage, o patrono do prémio.