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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Helena Buescu e Inger Enkvist: duas opiniões sobre educação a ler hoje


No Público de hoje, dois bons textos sobre educação que merecem uma leitura e um olhar atentos.

   

O primeiro, de Helena Carvalhão Buescu (a ler aqui), sobre as aprendizagens essenciais, sobretudo no domínio do Português do ensino secundário. Um texto de preocupações que, mais do que serem dos professores, deviam ser dos pais, das famílias e da sociedade. Reduzir o ensino secundário ao “essencial”, seja isso o que for, é dar uma machadada no espírito crítico tão necessário, é deixar ao livre arbítrio dos níveis de exigência (não da exigência em si) a preparação e o apoio aos alunos, á ajudar a que se pense e conheça cada vez menos. Os argumentos de Buescu, que subscrevo (para que dúvidas não restem), fazem-me lembrar uma história passada com um colega, professor de Português, há uns anos: uma mãe de um seu aluno de 11º ano encontrou-o e, feliz, contou-lhe que o filho estava a estudar Os Maias. Quando o colega quis saber como era feito esse estudo (que só podia ser através da leitura da obra, obviamente), a progenitora explicou que, todos os dias, à noite, lhe lia um bocadinho do romance até ele adormecer...

O segundo texto é uma entrevista feita por Bárbara Wong à professora universitária sueca Inger Enqvist (que pode ser lido aqui), que, nos seus 71 anos de saber e com uma simplicidade impressionante, diz verdades fundamentais que variadas correntes têm andado a contestar e a alastrar essa oposição, estando a deixar marcas nos sistemas educativos. Marcas que, como sabemos, são fenómenos de moda e que deixarão resquícios de que nos viremos a arrepender, por certo. Vale a pena ler a entrevista na íntegra, independentemente de nos situarmos na sociedade como pais, como professores ou como educadores. Acho que serve para todos, sem excepção. Deixo algumas citações:
“Aprender a aprender”- O “aprender a aprender” dá a ideia de que se aprendeu alguma coisa que se pode usar noutras situações, mas a investigação diz que não. É preciso aprender os factos para se ser capaz de pensar, compreender e chegar a conclusões. É preciso ter muito conhecimento para ser capaz de pensar bem. 
“Em Portugal ou no Reino Unido, ninguém quer ser professor” -É um problema também noutros países. Em comum, têm o facto de terem introduzido a “nova pedagogia” que diz que o estudante tem direitos e não é obrigado a obedecer ao professor. Quando o aluno pode entrar ou sair da sala de aula, quando pode chegar e não trazer os trabalhos feitos, ou pode dirigir-se ao professor de forma desrespeitosa, ninguém quer ser professor.
Perfil de um bom professor- Para ter bons professores é preciso ter um Governo que imponha boas regras. Um bom professor tem de ter uma boa preparação, em termos da língua e do conhecimento, e gostar de aprender. Mas é preciso aceitar que qualquer aluno possa estar em turmas de diferentes níveis. 
Os pais nunca devem falar mal dos professores?- Nunca. Podem dizer: “Se fosse eu, não faria assim, mas aprende tudo o que puderes com essa pessoa.”
Nas férias do Verão, os alunos devem continuar a estudar?-Primeiro, é necessário ir com eles para a rua, depois pô-los a ler. Ler pelo prazer. Até podem oferecer uma recompensa: “Lê dez livros e oferecemos-te uma viagem.” Se não forem bons leitores, não serão bons alunos.

sábado, 6 de julho de 2013

José Pacheco Pereira na "Ler"



A revista Ler, de Julho-Agosto (Lisboa: Fundação Círculo de Leitores, nº 126), traz, pela mão de Ana Sousa Dias, uma entrevista com José Pacheco Pereira, peça que vale bem a pena ler por estarmos perante uma reflexão humanista, culta, que vai muito além do papel de comentador. Aqui ficam alguns excertos pela ordem por que surgem na conversa.

Saber - "Há uma certa hostilidade em relação ao saber, mesmo [ao] tipo de saber que é um saber de amador, no verdadeiro sentido do termo. Há mais defesa da ignorância, particularmente da parte daqueles que acham que sabem."
Prosápia - "A prosápia tem uma proporção inversa com a sabedoria."
Álvaro Cunhal - "É um homem muito corajoso (...). É claramente um intelectual, até naquilo em que se sente mal por ser intelectual, a tentativa de forçar uma proximidade com o mundo operário que ele na realidade nunca teve. (...) Ele teve a fé do século XX, o comunismo, uma fé que tem uma componente religiosa, uma determinação identitária que também existe no comportamento religioso, de tal maneira que ele morre com uma grande amargura. (...) É um homem que reconstrói a sua própria identidade a partir do que acha que deve ser, não a partir do que é. (...) Ele é um dos grandes portugueses do século XX e molda de uma forma importante a História portuguesa e a História do mundo. A sua influência no movimento comunista mundial não é despicienda (...)."
Europa - "Os grandes desafios têm a ver com a dificuldade que a Europa tem em entrar no mundo global. Quer as vantagens e não quer os inconvenientes, as vantagens de ser uma zona de paz e prosperidade, e não quer mudar os seus erros económicos históricos, não quer ter Forças Armadas, não quer ter Defesa, portanto não quer ser autónoma nas relações internacionais, que são dominadas desde sempre pela paz e pela guerra. Quem não seja credível nessa área não tem papel na política mundial. Isso é preocupante."
Liberdade - "Há muito tempo que as pessoas fizeram um trade off que é muito perigoso entre a liberdade e a segurança. Aceitam. Aceitam que haja câmaras na rua e que os filmem, aceitam que os Governos proponham a divulgação dos nomes dos mais pobres que recebem casas nos bairros sociais, aceitam que os Governos queiram controlar a velocidade através das horas a que se entra e se sai da autoestrada, aceitam que o fisco possa saber tudo o que se compra. Só ainda não aceitaram pôr um chip como os cães, porque ainda parece muito intrusivo, mas na verdade a nossa sociedade caminha para que as pessoas aceitem um sistema de vigilância total."
Crise - "Vamos sair da crise com um Estado disforme, não mais pequeno mas disforme, um Estado mais autoritário, mais intrusivo. Numa sociedade em que o tónus é dado pela classe média, o único processo dinâmico é o empobrecimento, a passagem da classe média para a pobreza."
Decência - "As pessoas sabem distinguir o que é decente e o que é indecente. Uma das razões por que a linguagem política à esquerda é muito pouco eficaz para exprimir o que se passa nos dias de hoje é que ela substituiu um elemento de indignação que é moral por um discurso político que é restritivo."
Revolta moral - "O tipo de desafios que se coloca hoje, em que muita gente é maltratada, muita gente está a ser conduzida à miséria por incompetência, ignorância e por experimentalismo social, exige uma revolta moral que está muito para além da esquerda e da direita."

sábado, 4 de maio de 2013

Máximas em mínimas (97) - João Tordo


Depois de ler O bom inverno (Dom Quixote, 2010), de João Tordo, um lote de máximas, organizadas por ordem alfabética e não pela ordem em que aparecem no livro.

Cronologia – “Existem, na verdade, razões para explicar como as coisas [acontecem] e, se existem razões, é possível ordená-las numa cronologia. Porém, tal como no funcionamento do universo, o todo raramente corresponde à soma das partes.”
Desgraça – “Talvez, no fundo, toda a gente leve a desgraça no rosto. (…) Alguns de nós andam por aí com as marcas da sua finitude à mostra e outros, embora pareçam não as ter, estão tão condenados como os primeiros.”
Destino – “Pergunto-me muitas vezes como é possível que o destino nos pareça um conceito plausível quando este mundo é uma panóplia de erros que conduzem aos piores horrores. Usamos o destino como álibi, crendo, ingénuos, que as coisas acontecem de certa maneira porque não poderiam acontecer de outra; essa crença, tão válida como a crença em Deus ou na imortalidade da alma, tem consequências terríveis para o espírito que, mais cedo ou mais tarde, se vê corrompido pela dúvida que tem origem na impossibilidade de sabermos, com qualquer grau de certeza, se as nossas decisões nos trarão paz ou, pelo contrário, irão acordar as bestas do Inferno; se, doravante, teremos de caminhar pelo mundo com a cabeça voltada ao contrário como um contrapasso de Dante.”
Dor – “Mesmo imaginada, uma dor continua a ser uma dor; está lá quando nos deitamos à noite, está lá antes do pequeno-almoço.”
Existir – “Se não estivermos muito preocupados com a existência, tendemos a ser mais racionais. Ou menos sujeitos aos nossos impulsos. A vida torna-se menos dolorosa.”
Imundície – “Há sempre quem compre coisas imundas, embora não haja sempre quem compre coisas belas.”
Inveja – “Não existe pior mistura de sentimentos neste mundo do que o ciúme, a inveja e a admiração; é uma trindade tão perigosa que pode levar um homem a ascender ao Céu ou a lançar-se de um penhasco até ao mais profundo dos Infernos.”
Medo – “O medo transforma-nos, faz de nós presas fáceis, mergulha-nos num torpor pesado e ruminante.”
Palavra – “As palavras têm o seu poder sobre as pessoas. Se forem as palavras certas, podem mover montanhas. Ou transformar a água em vinho.”
Saber – “Não é possível saber tudo. Existem certos momentos que, se não os vivermos, são impossíveis de resgatar através de outros.”
Sarilhos – “Há um limite para a quantidade de sarilhos em que uma pessoa se pode meter.”
Solidão – “A ausência, a solidão e o esquecimento [são] coisas terríveis, tão terríveis como a mutilação ou a morte de um filho, tão terríveis como um velho amigo ao qual nunca mais ouviremos a voz nem conheceremos o cheiro nem saberemos a cor dos olhos, tão terríveis que, mesmo nos livros, até nos romances mais pessimistas, não devemos chamar por elas, não devemos enaltecê-las ou tentar transformá-las em beleza.”
Surpresa – “A última coisa que uma besta espera é que a presa se meta no seu covil.”

Verdade – “A verdade é uma miragem tragicamente limitada pela condição humana. Ainda assim, a verdade é tentada vezes sem conta.”

sábado, 29 de outubro de 2011

A "felicidade" dos 100 mil

O jovem sai da motorizada, tira o capacete e o inquérito sobre a felicidade surge. O clube? Não o faz feliz. A escola? Só o faz feliz nos intervalos. A namorada? Ainda não o faz feliz. Então o que o pode fazer feliz? Talvez uns 100 mil!
O desempenho é artificial, o anúncio é dos “25 dias Jumbo”, passa na televisão em horário nobre.
A gente vê e questiona-se. A cadeia de hipermercados só encontra a felicidade pelo dinheiro; não entende a felicidade pelas opções próprias ou pela vida aprendida com vitórias e com derrotas; não entende a felicidade valorizada pelo saber; não entende a felicidade da relação humana. E um jovem adolescente é empurrado para todo este mundo, aniquilando outros valores que não os do dinheiro… Nem sequer se levanta o véu de uma educação para o consumo, nada!
Uma sociedade que se interessasse consigo mesma teria já repudiado a história deste anúncio. Que pode ela esperar de jovens adolescentes que se vendem ao fascínio do dinheiro, desprezando o fascínio da formação humana? Entretanto, os dias felizes do hipermercado correm… enquanto o jovem vê a felicidade de contribuir para o anúncio dos 100 mil que não para ficar com eles… As sociedades têm os deuses que merecem, não é?

domingo, 16 de janeiro de 2011

Máximas em mínimas (66)

A velhice e o firmamento
"Os mais velhos sabiam coisas incríveis - até os nomes das estrelas, que eram mais do que todos os antepassados da tribo juntos."

A pena
"Normalmente, as penas ficam cá dentro de nós. Só saem se alguém nos ajudar a deitá-las para fora, o que nem sempre é fácil."

Ideias
"As ideias não precisam de ter pés nem cabeça. Basta que sejam boas!"

História
"Todas as histórias têm um fim, menos a história da nossa vida - essa está escrita num livro muito grande (o maios do Universo), que só existe na biblioteca que há no Céu. Cá na Terra, ninguém teria tempo de o ler."

Saber
"Se a vida te dá um limão azedo, junta-lhe água e açúcar e tens uma limonada."

Maria Teresa Maia Gonzalez. A História dos Brincos de Penas. Lisboa: Editorial Presença, 2006.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Gonçalo M. Tavares, “Uma Viagem à Índia”, canto VI

* “Para conheceres as melhores mentiras de um país ou de um homem terás que te sentar longamente ao pé dele. Ninguém mente aos gritos, de longe.” (est. 2)
* “Não se aprende a ser sábio como se aprende a resolver uma equação. Nas duas aprendizagens exige-se atenção total, é certo, mas há no caminho para a sabedoria mais obstáculos, como se algures, deuses de voz rouca tivessem assumido o compromisso de não deixar a filosofia sensata ocupar por completo os homens. E talvez a causa seja puramente egoísta, pois se todos fossem sábios quem precisaria de templos?” (est. 7)
* “O mar não é como o fogo em que uma pequena parcela dá ideia do conjunto: o mar não existe em caixas, não se mantém intacto quando passa para um aquário. O mar não é apenas água salgada, é a sua grandeza que lhe dá o nome.” (est. 18)
* “A coerência de uma coisa, de um objecto ou de uma pessoa, dispensa a inteligência dos outros, dispensa ainda a investigação. (A excitação depende mais daquilo que está escondido do que do visível, toda a gente o sabe.)” (est 22)
* “A Natureza é mais ágil no ataque do que na defesa: constroem-se cidades em cima de florestas, mas debaixo das estradas e dos estabelecimentos comerciais há uma vida animal que persiste e faz ruído.” (est. 24)
* “De entre os vários reinos e géneros animalescos, os mamíferos são de longe os que melhor põem a funcionar a amizade; mas mesmo assim, nessa amizade, surgem avarias constantes.” (est. 31)
* “Se a ligação entre os homens fosse perfeita não teria existido a necessidade de inventar a linguagem. Falar é a maneira mais civilizada de marcar uma distância de segurança; os animais rosnam entre si, os homens elaboram sobre o clima e citam autores clássicos. Mas ambas as acções têm o mesmo efeito.” (est. 32)
* “Há no escutar, que parece acto passivo e pacífico, uma estranha parte activa, que são os olhos. Escuta bem quem tem olhos atentos.” (est. 39)
* “A timidez não é um valor benéfico no campo de batalha. Ou se avança ou se foge muito rápido, hesitações demoradas transformam-se habitualmente na última acção de um soldado.” (est. 46)
* “Cada homem tem, de modo telegráfico, as duas faces: tem medo e mete medo. Um homem unilateralmente corajoso não existe, a não ser que seja unilateralmente pouco inteligente.” (est. 53)
* “O que é contar uma história senão esticar a distância entre a primeira palavra e a última?” (est. 69)
* “O sítio essencial de um corpo é o sítio por onde se começa a morrer ou por onde a doença é inaugurada. Cada morte diz qual o bocado do corpo que afinal deverias ter defendido.” (est. 70)
* “Perigos nunca fizeram adormecer, nem cansadas ficam as pernas que fogem ou perseguem.” (est. 95)
* “No mundo, o sofrimento ensina mais do que cem professores bem-intencionados. (…) Os sofrimentos não são todos da mesma espécie animal: de uns, sais aperfeiçoado, de outros, canino e obediente.” (est. 97)
Gonçalo M. Tavares. Uma Viagem à Índia. Alfragide: Leya / Caminho, 2010.

sábado, 23 de maio de 2009

E mais um retrato de escola, ainda hoje

Há dias, grande grupo de professores da minha escola reuniu-se num jantar para despedida de sete outros professores que deixaram de o ser por motivos de aposentação. Uma colega tinha uma mensagem preparada para transmitir a todos. Mas as condições da sala em que a reunião ocorreu não permitiram a leitura. Por outro lado, o facto de serem sete os homenageados terá também pesado na decisão de não ler a missiva, porque era pessoal. No entanto, posteriormente, distribuiu a mensagem por uns tantos amigos mais próximos, entre os quais fui incluído.
Pedi-lhe autorização para aqui transcrever alguns passos, por me parecer que, também aqui, além de um retrato de professor (que pouco ou nada tem a ver com os estereótipos que a sociedade e a política mais recentes têm vindo a fazer), há um outro retrato de escola, que deve ser um espaço feliz, sem demagogias e sem ser campo de batalha (como, infelizmente, tem vindo a suceder!). Reproduzo, pois, alguns excertos. De uma mensagem que tem o saber e o fazer de 30 anos de escola…

«(…) Foram mais de 30 anos. Tanto e tão pouco! Desde as tardes que passava a brincar às professoras com as minhas bonecas, ainda não sabia bem o que era a escola, até ao último dia de Abril de 2008, passou a maior parte da minha vida … um instante … e eu não dei por isso?! Mas, como?!
Talvez porque a nossa seja a mais bela profissão!
Digo-o, não porque esteja a pensar nos tantos e magistrais saberes e competências que é suposto possuirmos. Digo-o, porque estou sinceramente convencida de que, no acto de ensinar, se processa algo de único entre aquele que ensina e aquele que aprende, sendo que o que se aprende não é só o que se ensina, outras aprendizagens vão no “quando” e no “como” de o fazer.
(…) Digo-o, logo, porque acho que viverei para além dos meus dias em tudo o que deixei junto daqueles com quem trabalhei e convivi e em tudo o que estes a outros deixem.
Sei que falo numa altura em que estas reflexões foram adiadas porque o dia-a-dia das escolas perturba a dedicação ao saber, às competências, à cultura, à partilha.
Mas, por muito que isto custe a alguns, outros dias virão. As travessias dos desertos, esta nossa feita de desrespeitos e de ignorâncias, chegam sempre ao seu fim. A razão vence sempre, só que não vence logo. O momento virá em que, reduzidos ao quanto, alguém perguntará pelo como.
Como Philippe Meirieu ainda há pouco tempo dizia numa conferência em Lisboa, a pedagogia não é um dom, nem uma ciência, nem uma arte. Será antes uma «arte de fazer», arte de bricolage entre dois pólos antagónicos: o princípio da educabilidade (todos podem aprender e crescer) e o princípio da liberdade (ninguém pode obrigar ninguém a aprender e a crescer). Charneira entre estes dois pólos, o professor pode, pelo acto de transmissão de cultura, transformá-los em pólos de atracção. E cumprir-se!
Este tempo da minha vida passou depressa porque acreditei nisto que vos digo. Digo-o não para vos “consolar”, mas para vos incentivar … à resistência pela razão que nos assiste, pela dignidade de que nunca poderemos prescindir.
Confesso que fui feliz com o meu trabalho porque fiz dele um desafio para a vida. Sinto-me como que tenha aplicado o pensamento com que me deparei, há pouco tempo, e cuja autoria não era referida: «todos querem o cimo da montanha, mas a felicidade está durante a subida». Eu … apreciei cada passo da minha subida!
(…) Termino com um voto. Que a nossa razão vença porque feita de saber, de dignidade e de respeito pelo outro.
(…) Será sonho? Sim, e porque não? Já um poeta que muito admiro dizia que pelo sonho é que vamos e dele nos sustentaremos! (…)»

terça-feira, 21 de abril de 2009

Em louvor dos professores, da cultura e da ética

A falta que os professores não cometeram
«(…) A teoria e a prática da gestão têm avançado no sentido de organizações cognitivas ou inteligentes. A gestão da Educação parece não ter ido nesse sentido. O que é surpreendente, pois a tutela é detentora de um capital intelectual fantástico: o nível de instrução do seu pessoal docente.
Por outro lado, a audição dos envolvidos numa dada estrutura, quando o gestor pretende tomar medidas geradoras de mudança, torna‐se uma prática requerida por concepções teóricas, resultados previsíveis e bom senso social. Não falo de negociação, esta implica a igualdade das partes, em relação à mesma, o que não seria o caso.
Que fizeram, então, os professores para se sentirem ultrapassados nas concepções teóricas, nas boas práticas de gestão e no bom senso? Uns poucos terão andado distraídos, a maior parte, entregue aos seus ideais educativos, desactualizados, parece, sem saberem bem porquê.
(…) Que falta cometeram os professores para verem: os valores saírem da escola? O número de alunos a crescer, na sala de aula, à espera da saída? A aprendizagem a tornar‐se insignificante e os resultados escolares irrelevantes? O esforço, o trabalho e o mérito a abandonarem a escola? Seja qual for a razão, essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores têm salários mais altos que os das profissões correspondentes. – Diz-se. Admita‐se o facto, se ele for verdadeiro; verbalize‐se, pois a língua que apreende e comunica o mundo aproxima e solidariza os cidadãos; também essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores tinham um horário de trabalho liberal e estavam demasiado tempo fora da escola. – Ouve‐se. Fundamente‐se o facto e afira‐se a verdade; compare‐se o que, antes, faziam fora com o que, agora, fazem dentro da escola: talvez os 45% de homens e os 60% de mulheres do sector dos serviços, em Portugal, sintam a profissão do professor mais próxima da sua, mas os pais senti‐la‐ão bem mais longe da educação e da instrução dos seus filhos; também essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores já não ensinam nem os alunos aprendem e sabíamos mais nós com a 4ª classe que eles com o 9º ano. ‐ Exclamam alguns pais. Tire‐se a limpo a situação e a frase; saber‐se‐á do que se fala; concluiremos: a comparação é inverosímil, pois mudaram o tempo, o espaço e as pessoas; também essa falta, os professores não cometeram.
‐ Os professores já são inúteis… ‐ Alguém decretou. Resta saber para que tarefas. Para a educação, não; para a instrução, não; para a formação do carácter, da vontade, da perseverança, do esforço, da sublimação, do altruísmo, não; também essa falta, os professores não cometeram.
Quem melhor que eles para conduzir crianças e jovens ao património / ideal educativo, clássico e moderno, em: Dos Deveres, de Cícero ou Da Educação das Crianças de Séneca; Da Natureza das Coisas de Lucrécio ou, mais tarde, do Discurso sobre a Dignidade do Homem, de Pico della Mirandola? Mais próximos de nós, em: Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, de Andre‐Comte‐Sponville ou A Sociedade em Busca de Valores de Edgar Morin e, ainda, Em Busca de um Mundo Melhor, de Karl R. Popper, entre outros. É verdade, também essa falta, os professores não cometeram.
Ai da sociedade cujos pais perderam a pergunta que, desde a Fenícia, iniciava o diálogo pai / filho, de regresso a casa: ‐ Que aprendeste hoje, meu filho, com o mestre, na “casa da tabuinhas” (a escola)?»
J. Esteves Rei. "A falta que os professores não cometeram".
Correio da Educação: nº 344, 16.Abril.2009.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O tempo que Galileo explica

Em certa ocasião, alguém perguntou a Galileo Galilei:
- Quantos anos tens?
- Oito ou dez... - respondeu Galileo, em evidente contradição com a sua barba branca, logo continuando - Tenho, na verdade, os anos que me restam de vida, porque os já vividos não os tenho mais, como não temos mais as moedas que já gastámos.
[foto: Galileo, por Justus Sustermans (1636)]

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Máximas em mínimas (33)

"Todo o tempo é de aprender
desde a hora do nascer
até que a vida se acabe."
António Gedeão. História breve da Lua (1981).