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terça-feira, 4 de março de 2008

O que os pais (não) devem querer

O texto que segue, sob o título acima, é de José Matias Alves e fui buscá-lo ao terrear. É de leitura obrigatória: pela mensagem, contra o espírito trauliteiro e demagógico que tem imperado em muitas considerações, porque sinto que é assim.

O que os pais devem querer, em primeiro lugar, é uma educação recta, justa, e digna para os seus filhos. Que atenda e respeite a sua singularidade. Que lhes transmita o património da humanidade. Que lhes ensine a capacidade de ver, de escutar, de ler o mundo e os outros. Que lhes ensine a respeitar os outros. Que lhes ensine a respeitar a autoridade e a exercer responsavelmente o direito à crítica e à divergência. Que lhes incuta o gosto de aprender, de ultrapassar obstáculos, de celebrar as vitórias sobre si mesmos.
O que os pais devem querer é que as escolas sejam casas de humanidade. Que sempre têm as portas abertas para os receber e acolher. Que trabalham 15 ou 16 horas por dia para atender uma grande diversidade de públicos. O que o pais devem querer é professores prestigiados e respeitados, competentes, dedicados, rigorosos. E que gostam de fazer o que fazem. E que gostam das crianças. E que sentem orgulho da sua profissão.
O que os pais não devem querer é que as escolas sejam depósitos de crianças. E os professores os tomadores de conta. O que os pais não devem querer são ambientes destrutivos e de cortar à faca. O que os pais não devem querer é que os professores passem grande parte do tempo a preencher papéis que nada melhoram os processos e os resultados do ensino. O que os pais não devem querer é que se transformem meios em fins. O que os pais não devem querer é ver professores desautorizados e esgotados.
Os pais (a maioria dos pais, não tenho dúvida) querem um futuro para os seus filhos. E isso passa obrigatoriamente por apoiar os professores no cumprimento da sua missão.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Bravo, "Correio da Educação"!

Em 16 de Outubro, escrevi aqui sobre o Correio da Educação, editado pela ASA, que teve primeira saída em 26 de Abril de 1999, testemunhando sobre ele e sobre a companhia (útil) que tem feito aos professores durante este tempo.
Hoje, ao ler o número mais recente do jornal, um discreto parágrafo de José Matias Alves, no fim do seu habitual texto de opinião - “a todos os meus leitores e colaboradores um muito obrigado por me terem acompanhado neste projecto único que dignificou a classe docente durante quase nove anos ininterruptos” – disse muito mais do que pode querer dizer um certo pendor lacónico sobre o assunto. No blogue da Teresa Marques, fui encontrar aquilo que poderia ser uma poética do final: “a saída de José Matias Alves marcará claramente o fim de uma era que acompanhei desde o número 1. De forma simples, porque as palavras nestas horas parecem nunca chegar, um imenso obrigada por toda a luz que foi inundando os professores, mesmo nas noites mais escuras. Companhia fiel, do papel ao digital, tornou-se parte de nós: a nossa própria voz. Nada paga a dádiva. Mas um sorriso nosso, um parabéns, um enorme bravo, pode ser que ajudem no momento da despedida...”
A minha colaboração no Correio da Educação foi enquanto leitor apenas. Mas é nessa mesma qualidade que me apetece subscrever o “sorriso”, os “parabéns” e o “bravo” que a Teresa criou. Os 323 números do jornal merecem e a equipa que o concebeu e produziu também. Quanto aos comentários de José Matias Alves, o Terrear não deixará o mundo à deriva; quanto ao Correio, veremos se vai ser outra era…

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O sucesso faz-se caminhando... mas os caminhos são muitos

No início da semana, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a Ministra da Educação interveio na abertura da conferência sobre o sucesso e o insucesso escolar, tendo passado em revista a estrutura do ensino nos séculos XIX e XX e fazendo assentar o futuro do sistema educativo sobre três vectores: a abertura da escola ao exterior (“tem de se construir com os agentes que representam historicamente o «local» e o «exterior» – com as autarquias e as associações locais da sociedade civil, bem como com as associações de pais”); uma maior autonomia e responsabilização das escolas e dos seus profissionais (“às escolas passa-se a exigir que funcionem como organizações, respondendo por objectivos, pelo cumprimento de um serviço público: um serviço público de educação que garanta o acesso universal e maximize a possibilidade de todos os alunos atingirem níveis elevados de sucesso escolar”); a diversidade e a qualidade das competências (“a somar às competências mais tradicionais ou básicas, como a comunicação na língua materna e em línguas estrangeiras, ou o domínio da matemática e das ciências, exigem-se hoje competências no uso das novas tecnologias da informação bem como um crescente número de saberes mais transversais, sociais e cívicos, de espírito de iniciativa, de sensibilidade e de expressão culturais”).
Todo o discurso da Ministra da Educação foi canalizado para sustentar o que apresentou como conclusão: que o Governo a que pertence está no caminho de promover todas essas exigências, dando como exemplos “os processos de transferência de competências para as escolas e para as autarquias, a celebração de contratos de autonomia com as escolas na sequência da sua avaliação externa, bem como o desenvolvimento de metodologias de acção política baseadas nas parcerias com os pais, as autarquias e as escolas; (…) a alteração de importantes instrumentos de gestão como o estatuto da carreira docente e o estatuto do aluno, bem como a racionalização da rede escolar e a criação do Conselho de Escolas; (…) a introdução do ensino do inglês e das actividades de enriquecimento curricular no primeiro ciclo no âmbito do processo de construção de uma escola a tempo inteiro, bem como o lançamento de programas especiais como sejam o plano de acção para a matemática e o plano nacional de leitura, para além da generalização de instrumentos externos de avaliação como as provas de aferição; (…) a diversificação das ofertas educativas no secundário, o lançamento do Programa Novas Oportunidades e o reforço da acção social escolar.
No Correio da Educação divulgado hoje na net, mas com data de 26 de Novembro, José Matias Alves, visando contribuir para a mesma promoção do sucesso na / da escola, propõe outros vectores, a saber: “a revalorização social e familiar (e empresarial) do saber e do trabalho escolar”, “o reconhecimento e a valorização dos professores, actores e autores indispensáveis em qualquer cenário de qualificação das jovens gerações”, “a autonomia, a contratualização, a responsabilização colectiva (e só depois individual) ao nível das organizações escolares” e, finalmente, “a abertura da escola à sociedade”, ressalvando, quanto a esta última, que também “importa sublinhar a proposição inversa”, uma coisa que não é apenas um pormenor e que se afigura determinante, em muitos casos.
Por certo, as duas visões revelam uma leitura da Escola e da política educativa. Procure cada um encontrar os pontos de contacto ou as divergências, assim como o que sustenta cada discurso…

terça-feira, 16 de outubro de 2007

O "Correio da Educação" não deve acabar

O Correio da Educação, que apareceu pela mão da ASA como sendo o “semanário dos professores”, surgiu com a sua primeira edição em 26 de Abril de 1999 e ganhou público e adeptos. Como assinante, como leitor em biblioteca, consultando a net… sempre o Correio da Educação tem sido um parceiro na área da educação e na escola, às vezes para saber notícias, outras para ler comentários a preceito, outras ainda para se poder navegar e mais outras por uma necessidade de informação.
Nesse primeiro número, no texto “A voz e as vozes dos professores”, tipo de apresentação editorial, José Matias Alves, ainda hoje director da publicação, assim prognosticava o papel do jornalzinho de quatro páginas: “Assumimos o compromisso de, semanalmente, em cada ano lectivo, chegar a casa dos professores para dizer os temas da agenda educativa, o que se passa lá por fora no mundo da educação, as circulares e a legislação que vão saindo, registar as pequenas grandes iniciativas das escolas, dar a palavra aos actores e autores que fazem as realidades, debater as grandes questões que nos preocupam, tomar o partido dos profissionais da educação que no terreno trabalham em condições, por vezes, muito adversas.” Enquanto leitor que tenho sido, creio que o compromisso assumido foi cumprido.
Foi assim com pena e surpresa que li no blogue de José Matias Alves, nos comentários ao postal "O poder dos professores", que, fruto da aquisição da editora por um grupo editorial, a publicação do Correio da Educação só está garantida até Dezembro. Veremos o que vai suceder a seguir… Mas, se acabar, é pena que se finde um projecto que tem dado um contributo elevado para o acto de se pensar a educação e a política educativa, aprensão tanto mais justificada quanto há uns tempos acabou, noutra editora que foi adquirida pelo mesmo grupo editorial, a revista Pontos nos is, também ela dedicada, no seu mais curto trajecto biográfico (de 11 meses apenas), a pensar a educação. Muito gostaria de pensar que vamos poder contar com a continuidade do Correio da Educação… por razões que são óbvias, às quais não será estranho o próprio fenómeno de respirar, como acto primordial que é para a vida.