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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Em La Lys, na Flandres, há 94 anos

Na obra Notas do Cativeiro – Memórias dum Prisioneiro de Guerra na Alemanha [Lisboa: J. Rodrigues & Cª (depositário), 1919], Adelino Delduque ocupa o primeiro capítulo, intitulado “De Cense de Raux a Salomé-La Bassée”, transmitindo a visão do que ficou do 9 de Abril, dia da batalha de La Lys.
Datado de “Rastatt, Abril de 1918”, este texto é a memória do momento em que o narrador e camaradas seus (entre os quais o então tenente-coronel Craveiro Lopes) foram feitos prisioneiros pelos alemães em 9 de Abril. Depois da descrição do saque produzido pelos soldados inimigos aos souvenirs (“termo extremamente singelo e não sei se quase carinhoso, à sombra do qual fomos ficando sem as coisas que lhes iam apetecendo e que para nós em não sei quantos casos tinham além do seu valor intrínseco o da recordação que representavam”) que eram os objectos de uso pessoal (artigos de toilette, relógio, carteira, casaco e outros), torna-se forte a impressão causada pela destruição, pela ruína – dos homens e dos sítios:
«(…) A barragem de artilharia, essa música ensurdecedora e horrível de nove horas consecutivas, ouve-se já a maior distância. (…) Agora vamos ao longo da rua du Bois, antiga estrada que atravessava as linhas e que entre elas estava quase desaparecida. (…) A todo o longo há um horroroso espectáculo de carnificina. Jazem a um e outro lado numa verdadeira igualdade, nesta que só nestas condições é verdadeiramente igual, soldados nossos e inimigos. Há-os desfigurados, disformes, contorcidos, despedaçados, as mãos crispadas, o rosto profundamente contraído, mostrando bem o horror do sofrimento em que se debateram e em que morreram. Lutaram como soldados e diz-nos o aspecto que nos últimos momentos em que os rostos da lucidez lhe avivaram memórias que não falham, sentimentos que se não perdem, lutaram ainda desesperadamente para viver. (…) Foi por entre este horrível espectáculo que atravessámos as linhas. (…) O efeito do nosso bombardeamento íamo-lo encontrando a cada passo. Havia muitos cavalos mortos, muitas viaturas em destroços. Infelizmente, porém, não fora o bastante. (…)»

Adelino Delduque da Costa (10.Jun.1889-25.Jun.1953), natural de Viana do Castelo, foi oficial do Exército. Passou à situação de reserva como coronel em 1948. Participou no CEP, tendo sido feito prisioneiro em 9 de Abril; leccionou no Instituto dos Pupilos do Exército e no colégio Militar; foi Chefe do Estado-Maior do Estado da Índia e Governador do distrito de Damão. Pertenceu ao Instituto Vasco da Gama e à Comissão de Arqueologia do Estado da Índia. Foi autor de Notas do Cativeiro – Memórias dum Prisioneiro de Guerra na Alemanha (1919), Diu – Breve notícia histórica e descritiva (1928) e Os Portugueses e os Reis da Índia (1933).

terça-feira, 11 de novembro de 2008

90 anos sobre o Armistício

No dia de hoje de há 90 anos, pelas 5h da manhã, em Compiègne, políticos e oficiais alemães entravam numa carruagem de comboio ali estacionada, tendo à sua espera delegados de países que estiveram envolvidos na Grande Guerra. Era o fim do prazo que fora dado à Alemanha para assinatura do documento que punha fim ao conflito. Neste mesmo dia, pelas 11h da manhã, a guerra tinha que acabar. Foi às 11h do dia 11 do mês 11, em 1918. Foi o Armistício.
Bem distantes dali, em Breesen, prisioneiros portugueses sentiam na pele as agruras e o sofrimento do desterro forçado, depois de uma participação na Guerra que nunca foi clara, mas que foi efectiva, apesar de, nos números internacionais, a participação portuguesa ficar frequentemente esquecida.
Foi por esta altura que o vianense Adelino Delduque (1889-1953), prisioneiro, tendo sabido do armistício pela imprensa, registou, depois de saber com os seus camaradas que a Alemanha tinha 30 dias para evacuação de todos os prisioneiros de guerra: “Loucos de alegria, víamos agora aberto diante de nós o caminho da Liberdade de que estávamos separados havia já oito meses e quase garantido o dia de Natal nas nossas casas. (…)” [em Notas do Cativeiro – Memórias dum Prisioneiro de Guerra na Alemanha. Lisboa: J. Rodrigues & Cª (depositário), 1919]