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domingo, 27 de dezembro de 2009

Poemas de Natal (12) - Lutgarda Guimarães de Caires

O "Natal dos Hospitais" é programa já tradicional nos hábitos portugueses. O que nem toda a gente saberá é que essa tradição começou com o "Natal das Crianças dos Hospitais", iniciativa devida à poetisa Lutgarda Guimarães de Caires (1873-1935), algarvia, de Vila Real de Santo António.
No seu primeiro livro, Glicínias (Lisboa: Livraria Ferreira Editora, 1910), o poema "Noite de Natal", que reproduzo, eivado de um total sentimento cristão, faz-me lembrar uma outra história associada ao Natal, devida a Hans Christian Andersen. Lembram-se de "A menina dos fósforos"?
Noite de Natal

Tudo são cantos, tudo alacridade:
É noite de Natal, repicam sinos, –
A grande noite em que se entoam hinos,
Enaltecendo a santa caridade.

No degrau duma porta já dormiam
Dois pequeninos, muito abraçadinhos;
O frio era cortante, e os seus bracinhos,
De enregelados, não se desuniam.

Através dessa porta ouve-se o riso.
Lá dentro festejava-se o Natal,
A noite santa, a noite sem igual,
Que às criancinhas traz o paraíso.

Mas essas que vagueiam sem ter pão,
Que dormem sem um tecto protector,
A essas, já sem mãe, sem um amor,
A neve cai-lhes sobre o coração!...

Há quanto aquele sono duraria,
Sabiam-no, talvez, só as estrelas,
Que os pobrezinhos tinham-nas a elas,
E a ninguém mais, naquela noite fria.

A meia-noite acaba de soar,
Nasceu Jesus, o nosso Redentor.
Hinos de graça e divinal amor
Estão no céu os anjos a cantar.

De súbito, uma luz bela e fulgente
Como chuva de estrelas luminosas,
Transforma a branca neve em lindas rosas
E a pedra fria em leito brando e quente.

E, então, naquele berço vaporoso,
No perfume das rosas nacaradas,
As duas cabecinhas desmaiadas
Descansam num remanso misterioso.

Caía a neve em flocos, de mansinho,
Em volta do seu berço encantador,
Estendendo um tapete de esplendor,
Como um manto real de níveo arminho.

Doce visão celeste ajoelhou,
Curvada sobre o berço alvinitente,
E o manto que levava, docemente,
Sobre os dois pezinhos desdobrou.

E o pranto de seus olhos deslizava,
Caindo no seu manto redentor, –
Estrelas deslumbrantes de fulgor
As lágrimas que a Virgem derramava.

Depois, ao envolvê-los nesse manto,
De estrelas fulgurando recamado,
Estreita-os ao seu seio imaculado.
No calor do seu peito sacrossanto.

…………………………………………………………

E os anjos entoando um coro alado,
Em mística doçura celestial,
Cantavam essa noite de Natal,
No céu, de luz divina iluminado:

“A meia-noite acaba de soar, –
Ajoelhai, cristãos! Nasceu Jesus,
Aquele que, pregado numa cruz,
Só por amor de vós veio a expirar.

Nossa Senhora, a Sua Santa Mãe,
Celeste e pura Mãe de abandonados,
Foi socorrer os pobres enjeitados,
Porque essa Mãe nunca enjeitou ninguém.

A Caridade, que Jesus pregou,
Exercê-la, no mundo, mal sabeis!
Vede as crianças, como as esqueceis,
Essas crianças que ele tanto amou.

Bem-vindos sejam nossos irmãozinhos
Que a Virgem Santa à terra foi buscar:
A vida eterna aqui virão gozar,
Porque no céu jamais há pobrezinhos.

Ajoelhai, cristãos, nasceu Jesus!
E Sua Mãe, a Santa Virgem pura,
À terra foi livrar da desventura
Aqueles por quem Deus morreu na cruz.”

…………………………………………………………

E foi assim, em noite abençoada,
À hora Santa em que Jesus nasceu,
Que os pobrezinhos foram para o Céu
No manto azul da Mãe imaculada.

domingo, 25 de outubro de 2009

Rostos (132)

Monumento ao Marquês de Pombal, por Cutileiro, em Vila Real de Santo António

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Patrimónios do nosso brincar

Patrimónios do nosso brincar – Brinquedos e jogos das 4 cidades é uma monografia que dá a conhecer brinquedos e brincadeiras de antigamente de quatro cidades portuguesas que estão geminadas e através de cujas Câmaras Municipais se tornaram co-editoras deste livro – Fundão, Marinha Grande, Montemor-o-Novo e Vila Real de Santo António.
Ao longo de uma centena e meia de páginas, o leitor pode ver alguns brinquedos antigos e ler a sua história, bem como confrontar-se com alguns testemunhos de brincadeiras antigas, num trabalho que resultou do empenhamento de cerca de 400 alunos de oito escolas (100 alunos de duas escolas de cada um dos municípios participantes). O projecto, que englobou os quatro municípios, decorreu entre 2005 e 2007.
A par com as descrições dos jogos e dos brinquedos e com os testemunhos de muitas pessoas, que vão contando os seus brincares, há também fotografias documentais e poemas de Miguel Torga, Fernando Pessoa, Francisco Bugalho, António Gonçalves, Terezinha Tavares e Sebastião da Gama.
João Amado, da Universidade de Coimbra, prefacia o livro, escrevendo, a dada altura, que “falar de brinquedos, tal como construí-los, é uma forma de fazer poesia”. E é através dessa poesia que o leitor (depois dos participantes no projecto) viaja até à infância (a sua ou a de outros tempos), às memórias, à sociedade, ao tempo, num percurso balizado pela recordação e pela inovação e experiência.
Apresentado em três capítulos – “A infância, o brincar e o brinquedo popular”, “Brinquedos populares” e “Jogos tradicionais infantis” –, o livro vale pelo prazer de ver um bonito objecto gráfico e de olhar o registo de uma infância que se constrói e inventa a partir de coisas tão simples como subir às árvores, ir aos ninhos ou tomar banho no rio… Sobre essa capacidade de invenção fala a informante Célia Domingues, por exemplo (n. 1969, na Marinha Grande): “Os brinquedos eram poucos! Nós brincávamos mais era na rua com terra, com água, com lama… Era a brincar com a lama, era a apanhar flores. Fazia barcos de cascas de pinheiro e brincávamos assim… entretínhamo-nos assim…” Há ainda a conotação da escola com o tempo feliz por ser aquele em que se podia brincar – “Mas eu brincava muito era na escola, era uma judia… Jogava à malha, ao calhau, que é com cinco pedrinhas…”, rememora Maria José Brito (n. 1933, em Tavira). Pelo meio, há também descrições e lembranças mais atrevidas, tal como recorda António Sousa Carvalho (n. 1939, Fundão): no jogo do cântaro, “às vezes, os rapazes faziam de propósito para partir o cântaro, a rapariga aventava-o para o apanharem, o rapaz desviava-se…” Brincadeira com malandrice à mistura, traz Ramiro Mosca (n. 1937, Marinha Grande) a propósito do jogo da cabra-cega: “À cabra-cega arranjávamos sempre raparigas para brincar com a gente e a gente aproveitava e também apalpava um bocadinho”.
E vale a pena terminar relendo parte do poema que de Sebastião da Gama é transcrito – em “O menino grande” (poema de Fevereiro de 1946, publicado pela primeira vez na obra Itinerário paralelo), relembra: “Nem tudo se foi: / Ficou-me, dos tempos de menino, / Esta alegria ingénua / Perante as coisas novas / E esta vontade de brincar.”

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Rostos (25)

Marquês de Pombal, em Vila Real de Santo António (Carnaval de 2006)