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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Hugo Van Der Ding: biografias a partir do fim



Eis um conjunto de quase centena e meia de vidas, invariavelmente iniciadas pelo falecimento dos biografados, ideia compreensível pois só no final do percurso se pode registar o contributo deixado para o mundo...

São 141 figuras (70 mulheres e 71 homens) - e mais os Távora -, metade das quais falecidas no século XX, que Hugo Van Der Ding colige em Vamos todos morrer (Objectiva, 2021), título nada apocalíptico pois o subtítulo explica - “Biografias breves de gente que já lá está”.

A primeira apresentação destas narrativas aconteceu na Antena 3, ordenando-se a escolha pelo calendário (entre 3 de Abril e 30 de Março), em revisitação a figuras como Oscar Niemeyer (104 anos), Katherine Johnson e Rainha-Mãe (101 anos) ou Irmã Lúcia e Estée Lauder (97 anos), as mais longevas, e a outras como Severa (26 anos), Mário de Sá-Carneiro (25 anos) ou Joana d’Arc (19 anos), as que mais curta vida tiveram. A viagem cronológica inicia com os que faleceram há mais tempo - Jesus, o Cristo (f. 33), Nero (f. 68) e Maomé (f. 632) - e finda com os que mais recentemente partiram - Duquesa de Alba e Maya Angelou (f. 2014), China Machado (2016) e Katherine Johnson (2020). Neste intervalo, há registos para todos os séculos a partir do XIII e ainda para os séculos I, VII e IX. Entre os biografados portugueses (38, sendo 21 homens e 17 mulheres), os mais antigos desaparecidos são Santo António (f. 1231), Rainha Santa Isabel (f. 1336) e D. Filipa de Lencastre (f. 1415) e os mais recentes, Sophia de Mello Breyner (f. 2004), Irmã Lúcia (f. 2005) e José Saramago (f. 2010).

O painel é tão diverso como as obras que levaram a que estas figuras ficassem conhecidas - boas ou más razões; acção no campo da política, da economia, da cultura, da sociedade; muito trabalho ou sorte; crime ou sofrimento; partilha ou amor. Após a idade com que a personagem faleceu, fica o lamento “tão novo(a)” entre parênteses, paródia do hábito, aqui generalizada para um tempo de vida entre os 19 e os 104 anos...

As crónicas assentam em relatos leves mas com informação densa, entremeados com tiradas de humor, muitas vezes surgidas dos jogos de palavras (sobre a indumentária de Isabel de Inglaterra, refere as “enormes golas, que dão também nome àqueles ‘abat-jours’ que os veterinários põem à volta da cabeça dos cães e dos gatos”), de referências à actualidade com recorte de ironia (“é verdade que Maria Antonieta vivia num luxo escandaloso acima das possibilidades da França, como diria o saudoso Passos Coelho”; São Francisco Xavier “estudou Filosofia, Literatura e Humanidades, e só não acabou a trabalhar num ‘call center’ porque, naturalmente, ainda não havia telefones”). Por vezes, o jogo humorístico chega à recreação, registando de imediato o invento com a fórmula “brinco” - a propósito de Neil Armstrong, a pessoa que primeiro pisou a lua: “parece que nunca foi lá grande estudante, uma vez que andava sempre com a cabeça na Lua. Brinco.” Luísa Todi, a cantora setubalense, falecida em 1 de Outubro de 1833, também aqui tem o seu epitáfio, não sem notas de riso (jogar o apelido Todi do marido com o achocolatado é uma oportunidade).

Um livro que se lê com gozo. Mas, antevendo poder haver quem não goste do tom posto nesta escrita biográfica, Van Der Ding avisa: “o livro é meu, escrevo sobre o que eu quiser e bem me apetecer. Se não gostam, é questão de escreverem os vossos próprios livros.” Bom desafio ao leitor!

* J.R.R. "500 Palavras".  O Setubalense: nº 788, 2022-02-16, pg. 9.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Luísa Todi: ler e ouvir a diva de Setúbal



“Há vozes fluidas como veios de água que vão abrindo sulcos no coração, logo ribeiros esguios onde apetece mergulhar os pés, depois correntes caudalosas que arrastam tudo pelo caminho. A voz daquela menina, por acaso minha irmã, provinha de uma nascente encorpada, depressa se transformava num rio que galgava margens e deixava um lastro fértil para semear emoções. ‘É um tesouro fora do comum’, dizia o empresário João Gomes Varela, contente pela aquisição... ‘um achado muito raro’, comentava Giuseppe Scolari, cravista, compositor e então maestro da orquestra, de cada vez que ela ensaiava.”

Quem assim vai contando é Isabel de Aguiar, dois anos mais velha do que a irmã, Luísa. O testemunho não existe, na verdade, pois a Isabel que isto diz é uma personagem de ficção, criada por Maria Helena Ventura para ser a narradora de Minha Irmã Luísa Todi, romance histórico em torno da biografia da diva setubalense de Setecentos (Edições Saída de Emergência, 2019), livro que, segundo a autora, mais não pretende ser do que “uns grãos de areia, para lembrar a erosão do tempo”, como afirma na dedicatória.

O leitor pode hoje mergulhar nesse romance sobre Luísa Todi (1753-1833), que só ganhará no conhecimento das circunstâncias e nas emoções. E, para recriar mais um pouco o ambiente, vale a pena ouvir o notável trabalho que é o cd As árias de Luísa Todi, devido à soprano Joana Seara e ao grupo “Os Músicos do Tejo”, editado em 2010, onde constam excertos de composições de Perez (1711-1779), Piccinni (1728-1800), Gassman (1729-1774), Sachinni (1731-1786), Ottani (1736-1827) e Paisiello (1740-1816). O que une estes nomes é o facto de serem contemporâneos da cantora setubalense e de ela mesma lhes ter dado voz em palcos tão diversos quanto Lisboa (1770), Porto (1772), Londres e Paris (1778), Turim (1781), Bérgamo (1791) e Nápoles (1797). O ouvinte sentirá, assim, um pouco do que seria a magia que Luísa Todi derramava naquela conjugação de canto e de representação que arrastou multidões (em 1794, ao despedir-se do público madrileno, com a lotação do Teatro de Los Caños esgotada, as portas tiveram de ser abertas porque o público que estava fora do Teatro exigiu ouvir a celebridade). 

 

Entre o êxito e o sofrimento

Nascida em 9 de Janeiro de 1753, na Rua de Coina (actual Rua da Brasileira), em Setúbal, Luísa Rosa de Aguiar foi baptizada em 30 desse mês na paróquia da Anunciada e, ainda criança, foi viver para Lisboa com a família, participando aos 15 anos numa representação de Molière, no Bairro Alto, embora a sua estreia como cantora tenha ocorrido em 1770 (um ano depois de ter casado com o violinista Francesco Todi) na ópera Il Viaggiattore Ridicolo, de Scolari, em que actuavam também as suas irmãs Cecília e Isabel. O seu fulgurante trajecto a partir de 1775 levou-a a uma carreira internacional, com actuações nos mais cotados palcos - além dos já indicados, em Berlim, Turim, Varsóvia, Veneza, Viena, Sampetersburgo e Madrid, entre outros - e convivência com as cortes europeias, chegando a ser mestre de música das princesas da Rússia por iniciativa de Catarina II.

A vida longa de Luísa Todi, se teve um considerável período de glória, teve também não menos longo tempo de intenso sofrimento. Com a entrada do novo século, a cantora enviuvou (1803) e, vivendo no Porto, ao fugir da invasão napoleónica de 1809, na travessia do Douro, perdeu todos os bens de valor que conseguira transportar. A viver em Lisboa desde 1811, começaria a cegar em 1813, perdendo completamente a visão por 1822. Em 1833, em 1 de Outubro, desaparecia, no dizer de Mário Moreau (1926-2020), um dos seus mais brilhantes estudiosos, a “maior cantora de todo o século XVIII”. Por coincidência, o primeiro de Outubro passou, a partir de 1975, por iniciativa do International Music Council, a ser o Dia Mundial da Música...

 

Ler a vida de Luísa Todi

De 1872 é a primeira biografia sobre Luísa Todi, subscrita por José Ribeiro Guimarães, publicada com carácter de beneficência, pois o produto da venda revertia “a favor das bisnetas da cantora, filhas de Francisco Xavier Todi”. No ano seguinte, seria Joaquim de Vasconcelos a assinar Luísa Todi - Estudo crítico (reeditado em 1929), investigação que percorreu muitos dos jornais estrangeiros que se referiram à cantora. Em 1943, Mário de Sampaio Ribeiro biografava-a também, tema em que voltou a pegar quando, em 9 de Janeiro de 1957, palestrou em Setúbal a propósito do 204º aniversário da cantora. O ano de 1967 trouxe A vida fascinante de Luísa Todi pela mão de Maria Isabel Mendonça Soares, que, em 2007, voltaria a contar a vida da diva na obra 10 Grandes Portugueses. De 2002 é, talvez o mais completo estudo, Luísa Todi, assinado por Mário Moreau, assunto que já abordara em Cantores de ópera portugueses, publicado em 1981. Aquando do 250º aniversário da cantora, em 2003, Victor Luís Eleutério aumentou a bibliografia todiana com a obra Luiza Todi - A voz que vem de longe, com vasta documentação iconográfica. Em 2011, na colecção juvenil “Chamo-me”, apareceu o livro dedicado a Luísa Todi, redigido por Nuno Quintas, uma biografia contada na primeira pessoa.

* João Reis Ribeiro. In Sem Mais: nº 1110, 2021-01-15, p. 10.


domingo, 7 de janeiro de 2018

Para a agenda: Luísa Todi para os mais jovens



Dentro de dois dias passam 265 anos sobre o nascimento de Luísa Todi (1753-1833) numa rua do Bairro de Troino, em Setúbal. A sua voz correu o mundo e para sempre ficou como um símbolo maior do canto lírico.
Chamo-me... Luísa Todi, de Nuno Quintas, uma biografia da diva destinada aos mais jovens, vai ser a obra apresentada na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal dentro do programa das comemorações, pelas 14h30. Para a agenda!

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Setembro, mês de Bocage (29)


Bocage e Luísa Todi no Restaurante Portugália, em Setúbal
Painel azulejar assinado por: Faria, Cerâmica de Bicesse, 2002

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Para a agenda - Mais um ano sobre Luísa Todi



Um programa de música para 8 e 9 de janeiro, quando o calendário roda pela 263ª vez desde que Luísa Todi nasceu em Setúbal. Lembrada com música e com flores, como acontece às divas, por iniciativa da Câmara Municipal de Setúbal. Para a agenda.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Para a agenda: Neste dia, há 261 anos, nascia Luísa Todi



Flores e música para Luísa Todi no seu dia, em Setúbal.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Para a agenda - Mês da Música, em Setúbal - programação de 1 a 6 de Outubro



Há música para todos os gostos neste "Mês da Música", em Setúbal. Para começar, a programação dos primeiros seis dias do mês. Com a "bênção" de Luísa Todi. Para a agenda!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Luísa Todi num soneto com 220 anos



Facsimile de folha volante distribuída em Madrid em 1793, que, com um soneto de autor desconhecido, louva Luísa Todi e o seu mérito [reproduzido por Mário de Sampaio Ribeiro, em Luísa de Aguiar Todi (Lisboa: Revista "Ocidente", 1943)]

Luísa Todi vista por Mário de Sampaio Ribeiro há 70 anos




O livrinho já carrega umas décadas em cima de si. Tanto como 70 anos, que passarão em 12 de Junho deste ano. É uma biografia de personagem ligada a Setúbal e lê-se em pouco mais do tempo que leva uma palestra. Refiro a obra Luísa de Aguiar Todi, de Mário de Sampaio Ribeiro (Lisboa: Revista “Ocidente”, 1943), inserida numa colecção dedicada à cultura artística, cerca de 90 páginas de história com notas e gravuras.
Formado por três capítulos, este estudo inicia-se com um olhar para o mundo que nos envolve, numa viagem pela cidade quotidiana, desta vez com olhar menos distraído. É que, “normalmente, qualquer de nós, ao calcorrear na parte de Lisboa, que tem pergaminhos, não atenta nas coisas por que adrega de passar, alheado que vai, se não divorciado, do cenário que o rodeia”. O pretexto pode ser o nome de uma rua, por exemplo. E aquela antiga Travessa da Estrela fora rebaptizada, recebendo o nome de Luísa Todi (n. 9.Janeiro.1753) por edital camarário de Junho de 1917, uma vez que, no número 2 daquela artéria, vivera a artista e aí falecera no primeiro dia de Outubro de 1833.
Quase um século depois do desaparecimento da cantora, em 1934, Mário de Sampaio Ribeiro foi convidado para palestrar em Lisboa sobre esta setubalense, conferência que retomaria oito anos mais tarde, em 24 de Julho de 1942, ao repeti-la a convite do grupo “Amigos de Lisboa”. Cerca de um ano depois, saía o livrinho, que o autor apresenta como “refundição parcial” da comunicação de 1934, enriquecida com gravuras e notas. Um pretexto para a repetição da palestra foi o facto de, poucos dias antes, o governo ter sido autorizado a adquirir a uma descendente de Luísa Todi o “célebre quadro que a Vigée-Lebrun pintou, em Paris, no ano de 1785”, retratando a lírica setubalense, tela que importou em “vinte e cinco contos” e se destinava a “ser incorporada no futuro museu do Conservatório Nacional de Música”.
No segundo capítulo, o autor imagina o filme que permite o encontro com Luísa Todi, a biografada, “em dia canicular”, saindo manhãzinha rumo à igreja, amparada no braço de uma outra personagem feminina, sua filha. Cerca de uma hora depois, regressavam as duas a casa e da mais velha se voltaria a saber apenas no dia seguinte. Era este o quotidiano daquela “velhinha, de aspecto tão grave e respeitável”, que passava os dias recolhida no lar, depois que perdera a visão, a recordar os tempos passados.
E assim estava dada a entrada para o mais extenso dos capítulos, em que o leitor revê, pelos olhos da memória da biografada, a sua vida de glória e de arte, de uma carreira internacional, não isenta de invejas, em salões nobres, na presença de régias figuras e de outros artistas de próximo gabarito, num processo de recuo no tempo. Mário de Sampaio Ribeiro faz uso intenso de bibliografias, de notícias da imprensa e de outros testemunhos para que a narrativa seja credível, nunca esquecendo o acompanhamento emocionado da história pela sua personagem – chegada a biografia ao final, “fundo suspiro rematava tão longo desfiar de saudades, que, a despeito de seu amargo travo, eram o consolo que sua atribulada alma encontrava para fazer esquecer as trevas em que o Destino a mergulhara para sempre.”
O terceiro capítulo contém já um olhar do apreciador e estudioso de música e do percurso de Luísa Todi, procurando revelar ao leitor quais os dotes que permitiram a chegada da cantora tão longe, com delirantes públicos e impressionantes actuações. “A voz da Todi era de contralto, embora um tudo-nada mais extensa que de uso. Subia mais um bocadinho e, nas notas agudas, adquiria um timbre velado, que lhe era peculiar e que a artista aproveitava sabiamente para conseguir certos efeitos.” O temperamento artístico da cantora é sublinhado, associando o prodígio do seu canto à capacidade de representar, de tal forma que conclui Sampaio Ribeiro: “O cantar da Todi criava ambiente de êxtase e de encanto tais que o auditório como se não lembrava de aplaudi-la. Só depois de desvanecida essa como embriaguez as palmas irrompiam e então, a partir desse momento, a multidão electrizada devinha como possessa e aclamava com delírio a artista privilegiada”.
Quase metade do livro é composto por cerca de meia centena de notas, eivadas de um discurso em que pesa mais o tom documental e de investigação, ainda que comprovando e seguindo a par a narrativa que foi sendo construída. Por aqui passam informações documentadas sobre a sua biografia (desde o seu nascimento em Setúbal), sobre os recursos utilizados, sobre a investigação levada a cabo pelo autor, sobre os retratos que em honra de Luísa Todi foram criados, sobre a recepção havida às suas interpretações, sobre os desaires que afectaram a protagonista (a morte do marido, o desastre portuense da “ponte das barcas”, a cegueira), sobre a memória que dela ficou e sobre as homenagens que muitos apreciadores lhe prestaram ainda em vida.
Quanto a reconhecimento póstumo, também o autor o não esquece, tal como se pode ler numa nota em que aborda a questão do centenário da morte da cantora, ocorrido em 1933, aí destacando o papel desempenhado pela cidade onde ela nasceu: “No 1º de Outubro de 1933, ao completar-se o centenário da morte, foi inaugurada em Setúbal, no chamado Parque das Escolas uma pequena glorieta (desenho de Abel Pascoal, escultura de Lepoldo de Almeida e construção de Abílio Salreu) em honra da cantora. O busto da Todi é obra digna de apreço e o pequeno monumento (actualmente deslocado para a avenida Luísa Todi) foi descerrado por Leopoldo Tomás Todi Gonçalves, trineto da artista. Lisboa ficou de levar a efeito a sua comemoração. Projectaram-se, como sempre, coisas espaventosas, mas… não se fez nada. A única celebração – tardia e desluzida – foi a minha conferência na tarde de 8 de Julho de 1934, a meio da rua Luísa Todi.” É interessante este reconhecimento da iniciativa sadina perante a discussão e incumprimento da capital…
A capa do livro reproduz o perfil de Luísa Todi, traçado numa gravura anónima veneziana de 1790, evocativa do desempenho da cantora na obra Didone abbandonata, justamente a mesma imagem que serviu para modelo da recente escultura devida a Sérgio Vicente, exposta no exterior do Forum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, desde Setembro passado.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Para a agenda - Luísa Todi em palco



Em 9 de Janeiro, passa o aniversário do nascimento da cantora lírica setubalense Luísa Todi (1753), atingindo o número redondo do 260º aniversário. Que melhor homenagem do que vê-la em palco?
Pois a oportunidade vai surgir no Forum Municipal Luísa Todi através do espectáculo Luísa Todi - O Musical, peça que chegou a estar pensada para a reabertura do Forum em 15 de Setembro. Com texto de Rui Mesquita, letras de Alexandrina Pereira, música de Carlos Pinto e encenação de Miguel Assis, o espectáculo pode ser visto em Janeiro, nos dias 10, 11 e 12, pelas 21h30, e no dia 13, pelas 16h00. Boa prenda para a memória sadina e para a memória da cantora!
Abaixo se reproduz a apresentação da obra, constante no roteiro de programação do Forum Municipal Luísa Todi para o primeiro quadrimestre do ano.


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Rostos (182) - Luísa Todi no Forum Municipal

Luísa Todi, por Sérgio Vicente, no Forum Municipal Luísa Todi (com abertura agendada para amanhã), em Setúbal (escultura doada pela Fundação Buehler-Brockhaus)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Hoje é dia de Luísa Todi

Luísa Todi (glorieta na avenida com o nome da cantora, em Setúbal)
09.Janeiro.1753 / 01.Outubro.1833

terça-feira, 16 de novembro de 2010

As árias (com) que Luísa Todi (en)cantou

O grupo “Os Músicos do Tejo”, dedicado à música antiga, teve a sua primeira apresentação há cinco anos, em Setúbal. Passado este tempo, uma figura da cultura setubalense deu o mote ao mais recente trabalho discográfico do grupo: falo do cd As árias de Luísa Todi, que reúne algumas das peças que a cantora lírica sadina interpretou quando corria o último quartel do século XVIII.
O texto introdutório do booklet que acompanha esta obra é da autoria de Mário Moreau, estudioso da biografia e da obra de Luísa Todi (1753-1833), que considera ter este trabalho enriquecido “de modo significativo o património musical português”, uma vez que ele dá a conhecer, “pela primeira vez, nove árias e duas aberturas de óperas do repertório da nossa grande cantora”.
A justificação para a importância de Luísa Todi dá-a Moreau nos seguintes termos, em que evidencia a força da dupla que cruza o canto e a cena, marcas fortes da artista lírica de Setúbal: “Outros cantores e cantoras houve, no decurso desse século, que possuíram dotes vocais de excepção, alguns, porventura, até nalguns aspectos superiores aos de Luísa Todi. Mas o artista lírico, no sentido mais lato da palavra, não se deve limitar a cantar, por muito bem que o faça. Ao pisar o palco para interpretar uma personagem, ele terá também de ter dotes cénicos condizentes com a sua interpretação musical. Era essa componente histriónica que a Todi possuía no mais elevado grau, sobejamente reconhecida e enaltecida pela crítica de toda a Europa e numa época em que o aspecto cénico da interpretação operática era considerado de importância secundária. (…) Mas não se infira destas palavras que ela era uma intérprete cénica máxima mas que vocalmente era apenas ‘suficiente’. Pelo contrário, a sua técnica vocal era igualmente superlativa e só teria, talvez, equivalente numa Mara, numa Bastardella, numa Saint-Huberti e em muito poucas mais. Foi, pois, este binómio canto-cena que colocou a Todi no lugar mais elevado da arte lírica da sua época e que nenhum outro artista conseguiu então igualar.”
O projecto apresentado pel’ “Os Músicos do Tejo”, patrocinado pela Amarsul, tem a direcção musical de Marcos Magalhães e a soprano Joana Seara empresta a voz à interpretação de Luísa Todi. As dezasseis faixas do cd contêm interpretações de Florian Gassman (1729-1774), Bernardino Ottani (1736-1827), Niccolò Pissinni (1728-1800), Giovanni Paisiello (1740-1816), Antonio Sachinni (1731-1786) e David Perez (1711-1779).

sábado, 6 de novembro de 2010

Luísa Todi - Ouvir as suas árias

O leitor nunca ouviu Luísa Todi cantar, mas sabe que ela foi importante cantora lírica do seu tempo (1753-1833), sendo apreciada nos salões europeus, de Madrid até S. Petersburgo, ainda que ostracizada em Portugal. A memória tem tratado de manter o nome de Luísa Todi, seja em Setúbal (com registo em monumento, na toponímia, num espaço de espectáculos, num prémio de canto), seja em bibliografia adequada (podendo referir-se, além do clássico de Joaquim de Vasconcelos, as biografias elaboradas por Mário Moreau – Lisboa: Hugin, 2002 – ou por Victor Luís Eleutério – Lisboa: Montepio Geral, 2003).
Ouvir Luísa Todi vai ser possível, ainda que por interpostas vozes – em 13 de Novembro, no Teatro Municipal de Almada, vai ser apresentado o cd As árias de Luísa Todi, numa realização do grupo “Músicos do Tejo”, com a soprano Joana Seara e a direcção musical de Marcos Magalhães. Para já, alguns números correm no You Tube.


sábado, 9 de janeiro de 2010

Rostos (139) - Luísa Todi

Luísa Todi
(medalhão na casa em que se diz que nasceu, em 9 de Janeiro de 1753, na Rua da Brasileira, em Setúbal)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Morgado de Setúbal, dois séculos depois, em Setúbal

Até 28 de Novembro, o visitante tem a possibilidade de poder admirar 24 obras do Morgado de Setúbal, provenientes de várias colecções, numa exposição patente na Casa da Baía, em Setúbal, intitulada "Pintura e quotidiano - O Morgado de Setúbal, um pintor do tempo de Bocage". A acompanhar a mostra, há um roteiro contendo textos de Fernando António Baptista Pereira, Joaquim Oliveira Caetano e Ana Maria Fernandes, bem como reproduções fotográficas de obras do pintor.
No décimo-primeiro capítulo de Viagens na Minha Terra, quando ainda está para começar a história da personagem Joaninha, escreveu Almeida Garrett, descrevendo um cenário que apresentava o movimento da dobadoira junto da qual estava a avó da protagonista: "Era o único sinal de vida que havia em todo esse quadro. Sem isso, velha, cadeira, dobadoira, tudo pareceria uma graciosa escultura de António Ferreira ou um daqueles quadros tão verdadeiros do Morgado de Setúbal". O romance começou a publicar-se em revista em 1843 e o Morgado de Setúbal tinha falecido em 1809. À distância de pouco mais de três décadas sobre a sua morte, o génio de Garrett invocava para a pintura do Morgado a qualidade da fidelidade do retrato em relação ao objecto.
Muito embora tendo ficado conhecido por "Morgado de Setúbal", o certo é que José António Benedito Soares da Gama de Faria e Barros nasceu em Mafra por meados do século XVIII, em 21 de Abril de 1752, na altura em que seu pai, António José Bernardo Soares da Gama e Barros, casado com Josefa Antónia Caetana Perpétua de Ossuna, exercia as funções de síndico no convento mafrense dos frades arrábidos.
Mais tarde, viria para Setúbal, onde administrou o morgado dos Soares, que veio a herdar. Na cidade do Sado, acabaria o Morgado os seus dias, quando ainda não tinha 57 anos, solteiro, com uma filha que não conseguiu legitimar ("pela ter havido em mulher casada"), deixando os bens a José Augusto Maria Lopes Soares de Faria Mascarenhas de Barros e Vasconcelos, seu sobrinho, e sendo sepultado em túmulo de família na Igreja de Santa Maria.
O nome do Morgado de Setúbal consta na toponímia sadina, em rua da freguesia de S.Sebastião. No entanto, a cidade prestou-lhe já outra homenagem, colocando lápide evocativa na casa em que viveu e faleceu. Porém, entrado o edifício em ruína e definitivamente demolido, a evocação pública desapareceu também. A imagem do Morgado foi reabilitada para Setúbal em 1957 pelo pintor Luciano dos Santos, que o integrou no painel dos artistas do seu "Tríptico", desde essa data exposto no Salão Nobre da Câmara Municipal.
a lápide e a casa
Apesar da importância que a obra do Morgado de Setúbal teve, o primeiro centenário do seu falecimento, ocorrido em 12 de Fevereiro de 1909, não teve grandes manifestações, talvez pela situação de instabilidade que o país vivia e por razões particulares que afectaram vários prováveis intervenientes nessas comemorações. No entanto, houve esforços para que a efeméride fosse assinalada, sobretudo da parte de António Maria de Faria, bisneto do sobrinho a quem o Morgado deixara os seus bens, que contactou conhecidos e jornais de Mafra, de Lisboa e de Setúbal, a fim de promoverem a data, tendo ele mesmo organizado uma antologia com os vários artigos publicados e alguma correspondência a que deu o título de Primeiro Centenário da Morte do Célebre Pintor Morgado de Setúbal, editado em Milão em 1909.
Em 22 de Outubro de 1908, o periódico Revista de Setúbal publicara longo texto, lembrando que, em Fevereiro do ano seguinte, passaria o primeiro centenário do falecimento do Morgado de Setúbal e propondo quatro manifestações: uma exposição da obra, a publicação de um jornal em número evocativo e único, a realização de um sarau literário e a aposição de uma lápide na casa em que vivera o Morgado. Contudo, na véspera da data evocativa, em 11 de Fevereiro de 1909, o mesmo jornal lamentava-se: "A nossa voz ficou quase sem eco; e, se não fora as referências deste jornal, é possível mesmo que o dia passasse despercebido, o que realmente não seria muito lisonjeiro para os apregoados brios desta cidade".
Certo foi, no entanto, que a lápide, pelo menos, chegou a ser colocada, contendo os seguintes dizeres: "O célebre pintor Morgado de Setúbal - José António Benedito Soares da Gama de Faria e Barros - senhor que foi desta casa, aqui residiu e faleceu solteiro a 12-2-1809". Uma fotografia de Américo Ribeiro, datada de 1939, publicada em Setúbal d'Outros Tempos, reproduz o café "Casa das Águas", com a lápide ao nível do primeiro andar. Numa outra fotografia datada de 1952, publicada na mesma obra, já o prédio estava parcialmente destruído, sem o primeiro andar. Acabaria o mesmo por ser demolido para naquele espaço ser construída a sede da Caixa Geral de Depósitos, na Avenida Luísa Todi.
Em 11 de Fevereiro de 1952, véspera de mais um aniversário da morte do Morgado, o jornal O Setubalense informava que a lápide, "em mármore branco, por sinal já partida numa ponta", se encontrava num casarão que arrecadava forragens, propriedade do industrial Henrique Gomes, "ao fim da rua José Carlos da Maia, quase à entrada do Bairro dos Olhos de Água". Dois dias depois, o jornal acrescentava que Henrique Gomes adquirira a lápide "a um indivíduo que, por sua vez, nada soube dizer sobre a proveniência dela".
entre as flores e S. Pedro
As resenhas biográficas do Morgado de Setúbal rapidamente começaram a ser difundidas. Logo em 1815, José da Cunha Taborda fez o seu retrato em Regras da Arte da Pintura, sucedendo, em 1823, uma outra da autoria de Cyrillo Volkmar Machado, que sobre o artista escreveu: "pôs-se a pintar toda a sorte de objectos que lhe pareciam pinturescos, como aves, animais, utensílios de cozinha, frutos, labregos notáveis, hortaliças, etc., e, apesar da extrema secura e dureza do seu pincel e da composição dos seus painéis, há em muitos deles coisas tão naturais que agradam".
Em 6 de Fevereiro de 1858, o periódico O Curioso de Setúbal apresentava uma nota biográfica, relatando que a inclinação do Morgado para a arte lhe vinha desde a infância: "sem mestre, começou desde logo, extraindo do suco das flores, a imitar com as próprias cores a natureza". Um pendor de "naturalidade" foi aposto às obras do Morgado de Setúbal, contando-se histórias como a que, "pintando um gato em um quadro, foi necessário retirar este da vista de alguns cães, que se arremessavam ao animal pintado, julgando agredir um gato natural", como registou Almeida Carvalho nos seus apontamentos. Curiosa também é a história do modelo para pintar a figura de S.Pedro: tendo-se comprometido com uma encomenda de um quadro sobre o santo, andava o Morgado a passear pela praia de Tróino quando reparou num pescador, de cabelo desgrenhado e barba crescida, que logo contratou para ir ao seu gabinete; cioso do seu aspecto, o pescador, com o dinheiro recebido, tratou do cabelo e fez a barba, vestiu-se melhor e apareceu ao Morgado na data combinada... Foi o desgosto do Morgado, porque o aspecto que o pescador apresentava já não servia para modelo! O que há de verdadeiro nestas histórias? Pouco, provavelmente, uma vez que há quem as conte, com ligeiras variações, sobre outros artistas. No entanto, serviram também para rechear a biografia do pintor de Setúbal.
Aquando da celebração do primeiro centenário da morte de Bocage, em 1905, foi organizada em Setúbal uma exposição, promovida pela Associação Setubalense de Socorros Mútuos das Classes Laboriosas, onde estiveram presentes vários quadros do Morgado de Setúbal. Cerca de meia centena de obras suas voltariam a estar expostas na cidade do Sado na primeira quinzena de Agosto de 1964 (com 600 visitantes só na primeira semana). Em texto para o catálogo, Glória Guerreiro escrevia sobre o traço do Morgado: "há nas suas pinturas um cunho tipicamente nacional, que é o seu maior mérito; nas suas telas reflecte-se a ingenuidade do nosso povo, aliada a um certo lirismo", apreciação bem diferente daquela que lhe fez o polaco Rackzynski, que, no século XIX, considerou o Morgado de Setúbal um "fraco desenhador", de um "colorido terroso".
Com uma obra dispersa por muitos particulares e por museus (Museu Nacional de Arte Antiga, Museu de Évora, Museu Carlos Machado, de Ponta Delgada), o Morgado de Setúbal foi contemporâneo de Bocage, de Luísa Todi e de Santos Silva, formando, com os três, um grupo bem interessante para a cultura sadina da centúria de Setecentos.
João Reis Ribeiro. Histórias da região de Setúbal e Arrábida - I.
Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos, 2003, pp. 77-82

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Bocage: uma história para jovens leitores

A colecção “Chamo-me…” (Lisboa: Didáctica Editora), destinada a leitores a partir dos 9 anos, apresenta biografias de personalidades célebres, contadas na primeira pessoa. Recentemente, surgiu o título Bocage, com texto de J. M. Castro Pinto e ilustrações de Jorge Miguel.
A vantagem deste livrinho (para o seu público) é a de contextualizar o tempo de Bocage, assim sendo contada outra história para lá da que relata a vida da personagem. No entanto, sendo Bocage de Setúbal, onde viveu a infância e parte da adolescência, natural seria que houvesse alguma contextualização alusiva ao sítio, o que não acontece. O que é caracterizado é o ambiente de Lisboa, restando para a pátria sadina do poeta uma escassa e lacónica apresentação que informa ter sido Setúbal “um próspero porto de pesca e também importante pela exportação de sal e fruta que produzia”. Por outro lado, para caracterizar o ambiente do tempo, também poderia haver uma alusão a Luísa Todi, figura sadina da época, adolescente à data em que Bocage nasceu. E, já agora, na referência à Nova Arcádia, tertúlia frequentada pelo poeta, sendo feita referência a vários dos seus componentes, também teria sido útil que fosse mencionado o nome de Tomás António Santos Silva, árcade (com o pseudónimo de Tomino Sadino) e amigo de Bocage, setubalense como ele.
O percurso biográfico de Bocage é escasso neste livro, sendo possível um pouco mais de informação (mesmo tendo em conta o público a que se destina) e sendo imperioso que o capítulo “Ditos e anedotas” não tivesse sido integrado na biografia como se as anedotas contadas tivessem real fundamento… apesar de, na última página, constar a informação de que “é preciso ter cuidado (…) porque atribuíram-se a Bocage muitas anedotas ou poemas de mau gosto”.

domingo, 29 de março de 2009

Há 200 anos, no "desastre das barcas", Luísa Todi poderia ter sido uma das vítimas

Passam hoje 200 anos sobre o desastre da “Ponte das Barcas” havido no rio Douro, no Porto. A ponte, assente sobre barcaças, fora inaugurada três anos antes. Em 29 de Março de 1809, pareceu ser a salvação de muitos portuenses para passarem para o outro lado, em fuga, quando as tropas de Soult, na segunda invasão francesa, atacavam a cidade. Milhares de vítimas terão perecido.
Na confusão instalada, estava a setubalense Luísa Todi, então a viver no Porto. Ao biografá-la, em 1872, Ribeiro Guimarães evoca o episódio passado com a cantora: “Dirigiu-se à praia para embarcar. Levava consigo um saco com dinheiro e no acto de entrar para o barco, atrapalhada com o saco, escorregou e caiu ao rio. A criada teve a feliz lembrança de imediatamente lhe atirar um remo, a que se agarrou, e assim escapou à morte, perdendo todavia o saco com o dinheiro. Quando iam fugindo, uma bala francesa feriu a filha Maria Clara num joelho. Ela, sua filha e muitas outras pessoas acolheram-se ao lazareto, onde se viam desprovidas de todos os recursos, e a filha da nossa cantora sem nenhum tratamento. Era necessário alguém ir pedir ao general francês, ou a alguma autoridade, socorros e facultativo. Foi a própria Todi, que falava perfeitamente a língua francesa, quem se dirigiu ao general, que a tratou com extrema afabilidade e logo mandou um facultativo e socorros para o lazareto.”, conforme citação por Victor Eleutério, em Luiza Todi – A voz que vem de longe (Lisboa: Montepio Geral, 2003). Luísa Todi viveria ainda por mais 24 anos, até 1833, data em que faleceu com 80 anos.
O acontecimento de há duzentos anos está perpetuado em bronze, nas “Alminhas da Ponte”, na Ribeira do Porto, em obra de Teixeira Lopes, datada de 1897.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Bocage à vista (43) - 2ª série

Bocage é um dos símbolos de Setúbal
[painel de azulejo, trabalho colectivo, Escola dos Pinheirinhos (2001), em Setúbal]

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Luísa Todi e mais 29 portuguesas do tempo de Bocage

Assinou o primeiro contrato de trabalho, integrando o elenco dos cómicos, tinha catorze anos. Pouco tempo depois, já o seu nome – Luísa Rosa – figurava no cartaz. Entre o palco e os bastidores, apaixona-se, casa-se aos dezasseis anos de idade com um músico de quase quarenta. Aos dezanove, nasce-lhe o primeiro dos seis filhos que terá até aos vinte e nove anos; um mês depois do parto, estreia-se no Porto. Daqui passará para Espanha, actuará em Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Áustria e Rússia… Ao fim de quase vinte anos, regressa a Portugal; em plena invasão francesa, cai ao Douro, salva-se e refugia-se em Lisboa, onde morrerá cega, com oitenta anos. Eis Luísa Todi, a Euterpe do século XVIII.
Depois deste parágrafo (entre passados, presentes e futuros), que inicia o capítulo biográfico de Luísa Todi no quarto volume de Portuguesas com História, de Anabela Natário (Lisboa: Círculo de Leitores, 2008), a vida da cantora lírica setubalense surge rápida e vertiginosa, numa dezena de páginas de acção, ao sabor do ritmo que consta no parágrafo inicial, em jeito de crónica jornalística, leve e eficaz. À semelhança da escrita épica, temos a história a começar “in medias res”, no momento em que a jovem Luísa Rosa de Aguiar (seu nome de solteira) entra na carreira artística, que haveria de a catapultar para lugar cimeiro no canto e na fama. É esse percurso que aqui se acompanha, ainda que ressalte também alguma amargura e alguma dose de humanidade no retrato que de Luísa Todi é delineado.
Das restantes figuras cujo perfil biográfico é traçado, mais duas tiveram uma relação com Setúbal, ainda que não de uma forma directa. Menciono Luísa Clara de Portugal (n. 1703) e Catarina Lencastre (1749-1824). Quanto à primeira, que ficou conhecida como “Flor de Murta”, foi filha do Governador da Torre do Outão Bernardo de Vasconcelos, casou aos 16 anos com Jorge Francisco de Meneses (quase com o dobro da idade dela e senhor de vários títulos – comendador da Ordem de Cristo, de São Silvestre de Requião e de São Miguel de Alvarães) e depois foi amante de D. João V e do seu sobrinho. Relativamente a Catarina Lencastre, de Guimarães, viveu em Londres e, depois de enviuvar, dedicou-se à poesia, tendo ficado conhecida como a “Safo portuguesa” num meio artístico com o qual nem sempre teve uma relação pacífica, referindo a autora os casos de alguns “amores perdidos” como terá acontecido no relacionamento com Bocage, “mais novo dezasseis anos, com quem há-de zangar-se depois de com ele trocar mimos poéticos.”
Portuguesas com História, de Anabela Natário (n. 1960, jornalista) é obra prevista para seis volumes, tendo já saído os dedicados aos séculos X a XIII (primeiro), XIV e XV (segundo), XVI e XVII (terceiro) e XVIII (quarto). No final, cerca de 180 figuras femininas estarão retratadas pelas suas histórias para a História.