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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Máximas em mínimas (96) - amar (no Dia dos Namorados)


“A excentricidade nos afectos mais tarde ou mais cedo sai cara.” (Adília Lopes. “Uma espécie de conto de Natal”. Resumo – A poesia em 2009. Lisboa: Assírio & Alvim / FNAC, 2010, pg. 14)

“Amar é sentirmos o desejo de nos esquartejarmos para nos darmos aos pedaços um ao outro.” (Urbano Tavares Rodrigues, Filipa Nesse Dia, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1988)

“Amo-te tanto que te não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro, se sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne de que és feita.” (António Lobo Antunes, Memória de Elefante, Lisboa, Editorial Vega, 1981)

“Nós somos pré-históricos na forma de saber amar; há em nós uma aprendizagem que está perfeitamente no início e nós só temos experiências fugazes da absoluta felicidade.” [Lídia Jorge, entrevista, in Tempo (supl. Tempo-Mulher), nº 508, 01.Fev.1985]

“O amor é tão necessário à vida dos mancebos como o chá de marcelas às afecções do estômago.” (J. Mascarenhas. Tragédias do Minho – O laivo de sangue. Lisboa: J. G. Sousa Neves, 1877)

“O amor só conhece uma regra: amar sempre.” (Maria Teresa Maia Gonzalez. Sempre do teu lado – Carta de um cão. Lisboa: Verbo, 2008 reimp)

“O que faz com que o amor seja tão perturbador e tão excitante são a suspeita e a dúvida.” (José Leon Machado. Memória das estrelas sem brilho. Braga: Edições Vercial, 2008)

“Quem ama não deve pedir nada em troca desse amor.” (Alice Vieira. Leandro, rei da Helíria. 12ª ed. Alfragide: Editorial Caminho / Leya, 2011)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Na sequência do dia "histórico" para o acordo entre o Ministério da Educação e os sindicatos de docentes

Na edição online do Público de hoje, pode ler-se a peça “O futuro do sistema educativo português na ressaca do conflito com os professores”, que inicia com um leque de perguntas, nenhuma delas a mais, todas elas preocupantes pelas respostas desconhecidas que podem surgir e porque revelam aqueles que são alguns dos problemas (destaco: alguns) que se vivem na escola, causados por um tempo de polarização e de teimosia: “A tranquilidade vai voltar às escolas? As perdas de qualidade do ensino, por via do prolongado conflito agora encerrado, são irreparáveis? Ou, pelo contrário, existem agora mais e melhores condições para inverter o caminho?”
Das várias respostas – o jornal recolheu depoimentos de Joaquim Azevedo, Ana Maria Bettencourt, Maria do Rosário Gama, Marçal Grilo, Paulo Guinote e Lídia Jorge –, gostaria de destacar a que foi apresentada por Lídia Jorge, ao justificar o porquê de o acordo obtido entre Ministério da Educação e sindicatos de professores ser “histórico”: “Este acordo é histórico porque ele permite salvar da humilhação alguns milhares de professores e restabelecer um clima de paz num momento em que a escola pública portuguesa precisa de proceder a uma revolução nos métodos de trabalho. Ele permite salvar a escola dum inferno burocrático incompatível com uma boa convivência entre colegas e um ensino livre e feliz. Além disso, regressar a uma carreira única, mas em que se progrida por mérito, era indispensável e esse princípio manteve-se. Mas é preciso ter em conta - e nem sempre a população está bem informada - que os professores e os médicos são as classes mais directamente escrutinadas da sociedade. Cada dia, em cada hora, o professor passa pelo escrutínio cerrado de dezenas de crianças e adolescentes. Basta imaginar uma sala de aula. Não é pouca coisa. É por isso que este acordo histórico ainda não terminou. Ele só ficará selado quando Isabel Alçada verificar a que professores, durante estes dois anos, foram atribuídas as notas de excelente, e tirar daí as suas conclusões. Talvez resolva anular os seus efeitos. É que os professores duma escola constituem uma família. Experimentem criar um escalão de avaliação entre os membros duma mesma família que se autovigia.
Quem não quiser perceber estas observações de Lídia Jorge não quer entender uma parte dos problemas que agitam as escolas. E seria bom que houvesse a coragem para aceitar os desafios apontados neste depoimento, mesmo porque, se o modelo não serviu pelas razões conhecidas, então também não deveria ser permitido que o seu produto tivesse efeitos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O texto de Lídia Jorge sobre a escola situado entre o racionalismo e o humanismo...

Em 9 de Janeiro, Lídia Jorge escreveu no Público um texto sobre a escola e os professores, que transcrevi para este blogue. Passados dias, a 13, um leitor do mesmo jornal escreveu uma "carta ao director", que foi publicada na rubrica respectiva e que também aqui transcrevi por concordar com o seu teor e porque gostei do texto de Lídia Jorge. Obviamente, o assunto não ficava fechado. Um leitor e bloguista deixou-me na caixa de comentários a recomendação para ler a sua apreciação ao texto de Lídia Jorge. Fui ler e quero partilhar. A análise é desapaixonada, tem pontos certeiros, concordo com algumas observações. Vale a pena ler para que vejamos as várias faces e não embarquemos na teimosia com que outros nos incentivam...

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A propósito do texto de Lídia Jorge sobre a excelência da educação que (não) se tem discutido

Há dias, no Público, Lídia Jorge escreveu um texto excelente (a meu ver e, por isso, aqui o reproduzi) sobre a escola e os critérios de excelência, bem elucidativo sobre o que se tem passado nas escolas portuguesas quanto a esse fenómeno (porque assim o têm tratado) que vai sendo a avaliação de desempenho docente. Hoje, nas cartas dos leitores, o Público editou a opinião de António Reis, de Santa Maria da Feira, que eu perfilho. Também por isso, aqui a transcrevo.
«Estas palavras que aqui escrevo são motivadas pelo texto de Lídia Jorge publicado neste jornal, página 38, no dia 9 de Janeiro. Aí Lídia Jorge escreve sobre a política educativa do Ministério da Educação e, particularmente, sobre as medidas ministeriais relativas ao estatuto e carreira profissional dos professores, e, simultaneamente, sobre a função desempenhada por estes profissionais na escola de hoje. Depois de ler e ouvir tantas opiniões, mais ou menos informadas, alternadas com escritos desprovidos de sentido e de propósito, muitas vezes veículo de mentiras de tão desinformados, eis que leio um texto bem escrito, como só uma grande escritora o poderia escrever, mas, para mim mais premente, fundamental, um texto sensato e razoável, não porque ataque figuras do Governo e as suas políticas, como se ser-se "do contra" justifique, só por si, a crítica, mas porque o faz argumentando com razões e factos, transmitindo, assim, uma crítica fundamentada. Estou certo de que Lídia Jorge deixou muita gente perturbada; muitos, até, amantes da sua escrita literária. Num instante ocorre-me lembrar esse outro escritor que, quando opina sobre os professores, despeja, descontroladamente, críticas e adjectivos azedos, sem tino nem razão. Nunca lhe ouvi, nem li, uma crítica onde demonstrasse conhecer a realidade da escola e do trabalho do professor e um qualquer conhecimento teórico ou prático que o autorizasse, pelo saber, a falar e escrever, a pensar até, dessa forma sobre os professores. Que diferença, então, para estas palavras que Lídia Jorge nos deixou.Com este contributo, Lídia Jorge mostra-nos que os escritores, pensadores pela palavra escrita, ao escreverem sobre a sociedade real, devem usar essa arma com saber, razão, sensatez, enfim, com argumento válido e a propósito. Ela ensina-nos a sermos cidadãos da única forma que se pode ser: colaborarmos com as nossas capacidades para a a construção de um país e de uma sociedade onde se viva com dignidade.»

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

"A educação tornou-se uma fábula", diz Lídia Jorge

Educação: os critérios da excelência
A titularidade foi dada a professores bons, excelentes, maus e muito maus. Não premiou nada, porque baralhou tudo
1.Ficarão por muito tempo célebres os braços-de-ferro que Margaret Thatcher manteve com os sindicatos do Reino Unido, como conseguiu vencê-los, e como à medida que os humilhava, mais ia ganhando o eleitorado do seu país. Na altura a primeira-ministra britânica era a voz da modernidade liberal, criou discípulos por toda parte, e ainda hoje, apesar do negrume da sua era, há quem se refira à sua coragem como protótipo da determinação governativa. Mas neste diferendo que opõe professores e Governo, está enganado quem associa o seu perfil ao de Maria de Lurdes Rodrigues. Se alguma associação deve ser feita - e só no plano da determinação -, é bom que o faça directamente com a pessoa do primeiro-ministro.
De facto, a equipa deste Ministério da Educação tem-se mantido coesa, iniciou reformas aguardadas há décadas, soube transferir para o plano da realidade as mudanças que em António Guterres foram enunciadas como paixão, conseguiu que o país discutisse a instrução como assunto de primeira grandeza, fez habitar as escolas a tempo inteiro, fez ver aos professores que o magistério não era mais uma profissão de part-time, arrancou crianças de espaços pedagógicos inóspitos, e muitos de nós pensámos que a escola portuguesa ia partir na direcção certa. Quando José Sócrates saía com todos os ministros para a rua, nos inícios dos anos lectivos, via-se nesse gesto uma determinação reformista que augurava um caminho de rigor. Não admira que o primeiro-ministro várias vezes tenha falado do óbvio - que era necessário determinar quem eram, na escola portuguesa, os professores de excelência. Era preciso identificá-los, promovê-los, responsabilizá-los, outorgar-lhes credenciais de liderança. Era fundamental que se procedesse à sua escolha. Mas a sua equipa legislou sobre o assunto e infelizmente errou.
2.Errou ao criar, de um momento para o outro, duas categorias distintas, quando a escola portuguesa não se encontrava preparada para uma diferenciação dual. A escola portuguesa tinha o defeito de não diferenciar, mas tinha a virtude de cooperar. O prestígio do professor junto dos alunos e dos colegas não era contabilizado, mas era a medida da sua avaliação. Pode dizer-se que era uma escola artesanal que necessitava de uma outra sofisticação. Mas, para se proceder a essa modificação com êxito, era preciso compreender os mecanismos que a sustentavam há décadas, e tomar cuidado em não humilhar uma classe deprimida, a sofrer dia a dia o efeito de uma erosão educacional que se faz sentir à escala global. Só que em vez da aplicação cuidadosa e gradual de um processo de mudança, a equipa do Ministério da Educação resolveu criar um quadro de professores titulares, a esmo, à força e à pressa. No afã de encontrar a excelência, em vez de se aplicar critérios de escolha pedagógica e científica, aplicaram-se critérios administrativos, de tal modo aleatórios que deixaram de fora grande percentagem de professores excelentes, muitas vezes os responsáveis directos pelo êxito pedagógico das escolas.
O alvoroço que essa busca de um quadro de excelência criou está longe de ser descrito devidamente. Basta visitar algumas escolas para se perceber como a titularidade está distribuída a professores bons, excelentes, mas também a maus e muito maus, e foi negada a professores competentes. Isto é, criou-se um esquema que não premiou nada, porque baralhou tudo. Os erros foram detectados por muita gente de boa fé, em devido tempo, mas o processo avançou, a justiça não foi reposta, nem sequer a nível da retórica política. Pelo contrário, aquilo que a razão mostrava à evidência foi sendo desmentido, adiado, ridicularizado, ou desviado para o campo da luta sindical dita de inspiração comunista.
3.O segundo instrumento ao serviço da excelência não teve melhor sorte. Era preciso inaugurar nas escolas uma cultura de responsabilidade que até agora fora relegada para determinismos de vária ordem, menos os estritamente pedagógicos, o que era um vício da escola portuguesa, pelo menos até à publicação dos rankings. Mas aí, de novo, a equipa do Ministério da Educação funcionou mal. Se os campos de avaliação do desempenho dos professores estão mais ou menos fixados, e começam a ser universais, os parâmetros em questão foram pensados por mentes burocráticas sem sentido da realidade, na pior deturpação que se pode imaginar em discípulos de Benjamin Bloom, porque um sistema que transforma cada profissional num polícia de todos os seus gestos, e dos gestos de todos os outros, instaura dentro de cada pessoa um huis clos infernal de olhares paralisantes. Ninguém melhor do que os professores sabe como a avaliação é um logro sempre que a subjectividade se transforma em numerologia. Claro que não está em causa a tentativa de quantificação, está em causa um método totalitário que se transforma num processo autofágico da actividade escolar. Aliás, só a partir da divulgação das célebres grelhas é que toda a gente passou a entender a razão da pressa na criação dos professores titulares - eles estavam destinados a ser os pilares dessa estrutura burocrática de que seriam os pivots. Isto é, quando menos se esperava, e menos falta fazia, estavam lançadas as bases para uma nova desordem na escola portuguesa. Como ultrapassá-la?
4.Não restam muitos caminhos. Ultimamente, almas de boa fé falam de cedência de parte a parte. Negociação, bondade, comissões de sábios. A questão é que não há, neste campo, nenhuma justiça salomónica a aplicar. O objecto em causa não é negociável. Tendo em conta uma erosão à vista, só a Maria de Lurdes Rodrigues, que sabe que foi longe de mais, competiria dizer "Não matem a criança, prefiro que a dêem inteira à outra", mas já se percebeu que não o vai fazer. Obcecada pela sua missão, que começou tão bem e está terminando mal, quererá ir até ao fim, mesmo que do papel dos mil quesitos que alguém engendrou para si só reste um farrapo. É pena. Depois de ter tido a capacidade de pôr em marcha uma mudança estrutural indispensável para a modernização do ensino, acabou por não ser capaz de ultrapassar o desprezo que desde o início mostrava ter em relação aos professores. E, no entanto, numa política de rosto humano, seria justo voltar atrás, reparar os estragos, admitir o erro sem perder a face. Ou simplesmente passar o mandato a outros que possam reiniciar um novo processo.
De facto, em Portugal existem vários vícios na ascensão ao poder. Um deles consiste em não se saber entrar no poder. Pessoas sem perfil técnico, ou humano, aceitam desempenhar cargos para os quais não foram talhados. Parece que toda a gente gosta de um dia dizer ao telefone, no telejornal, "Papá, sou ministro!", com o resultado que se conhece. Outro é não se saber sair do poder. Houve um tempo em que Mário Soares ensinou ao país como os políticos saem no tempo certo, para retomarem, quando voltam a ser úteis. Os grandes políticos conhecem a lei do pousio. E o objecto da disputa deve ser sempre mais alto do que a própria disputa. É por isso estranho e desmedido o que está a acontecer.
5.José Sócrates deverá estar a pensar que pode ter pela frente um golpe de sorte - Margaret Thatcher teve a guerra das Falklands - e até pode vir a ter uma maioria absoluta outra vez. Aliás, pelo que se ouve e vê, a frase da ministra da Educação "Perco os professores mas ganho o país", cria efeitos de grande admiração junto duma população ansiosa por ver braços-de-ferro no ar, sobretudo se eles vierem do corpo de uma mulher. Não falta quem faça declarações de admiração à sua coragem, como se a coragem prescindisse da razoabilidade. E até é bem possível que a Plataforma Sindical um dia destes saia sorridente da 5 de Outubro com um acordo qualquer debaixo do braço, como já aconteceu.
Mas a verdade é que, a insistir-se neste plano, despropositado, está-se a fomentar uma cadeia de injustiças e inoperâncias que só a alternância democrática poderá apagar. Se José Sócrates pediu boas soluções e lhe ofereceram estas, foi enganado, e deveria repensar nos seus contratos. Mas se ele mesmo acredita neste processo kafkiano, é uma desilusão, sobretudo para os que confiaram na sua capacidade de ajudar o país a mudar. Neste momento, entre nós, a educação tornou-se uma fábula.
Lídia Jorge. "Educação: os critérios da excelência". Público: 09.01.2009.