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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Ana Teresa Penim: a educação e Sun Tzu



O nome de Sun Tzu anda associado à sua obra A Arte da Guerra, escrito com dois milénios e meio de vida, durante muito tempo entendido como um manual orientador de estratégia e teoria militar, mas trazido para outras áreas do saber, como a gestão, tão ricos e de plurais leituras são os princípios enunciados.
No final do ano passado, uma editora lançou uma colecção de reflexões nas mais diversas áreas, partindo de enunciados de Sun Tzu e incluindo o título da sua obra nos diversos títulos da série, nela entrando temas como a negociação, a gestão, o treinador, a liderança, o serviço ao cliente, entre outros, sempre abordados por diferentes autores. De Ana Teresa Penim é A Arte da Guerra na Educação e Formação (Lisboa: Top Books, 2014), um repositório de dezanove capítulos que constituem outros tantos momentos de reflexão para quem trabalha na área da educação.
Cada um dos capítulos abre com uma citação em jeito de epígrafe (devidas, não só a Sun Tzu, mas também a figuras como Aristóteles, Cocteau, Darwin, Einstein, Erasmo, Gandhi, Mao Tsé-Tung, Paulo Freire, Puig ou Rousseau, aqui entradas por ordem alfabética), a que se segue o relato de uma história vivida pela autora, incluindo curta reflexão que fecha com um lote de perguntas ao leitor no sentido de este pensar sobre os seus procedimentos perante situações relacionadas com a história contada.
A história inaugural poderia ser colada a muitos dos leitores: uma amiga telefona, em desespero, porque o seu filho de 14 anos, no 9º ano, vive “um cenário negro” na escola e “já não sabia o que fazer” com ele, com resultados catastróficos que estavam ainda a condicionar a sua auto-estima, ainda por cima tendo o pai sido também aluno do mesmo colégio, com um, percurso feliz. O pedido final era o previsto: como “encontrar novas estratégias para o percurso escolar do filho”?
Está assim esboçado o caminho para que o livro aborde as “competências para a vida” (“life skills”), mesmo pelos exemplos que, mais adiante, são invocados e não constituem nenhum paradoxo: três nomes indiscutíveis quanto à sua importância na cultura universal como Beethoven, Darwin e Einstein passaram por fases de rejeição e foram rotulados de incapazes – o primeiro, desajeitado com o violino, recusava melhorar a sua técnica e era visto pelo professor como um compositor fracassado; o segundo, desistente de um percurso médico, foi considerado pelo pai como estando abaixo da média por só “ligar à caça e a animais”; o terceiro viveu longamente visto como sonhador, gozado, expulso e recusado em escolas, um “caso perdido” até à construção da sua teoria em 1919.
As relações pessoais e as ligações com os outros saberes, os percursos e os interesses das pessoas, a relação com o quotidiano, a gestão do que corre menos bem e a energia para contagiar positivamente os outros, a cultura organizacional e o protagonismo de todos, a avaliação, a capitalização do medo, a auto-reflexão sobre as práticas educativas, a trilogia que associa os gostos à motivação e à novidade, a capacidade de adaptação, todas estas ondas constituem o conjunto de olhares e de pensamentos que se nos impõem ao longo da pouco mais de centena e meia de páginas deste livro. E, a terminar, nem falta um texto em forma de manifesto em favor da educação e da aprendizagem ao longo da vida, assente em vinte e dois princípios, que culmina, seguindo a linguagem militar, na “conquista”, assim explicitada: “Nesta batalha sem tréguas, a liderança por todos, a 360°, independentemente da patente que possuem, assume uma missão determinante: fomentar o sonho e as práticas para a conquista de um ideal de Aprendizagem”.
Uma forma de desafiar cada um a perguntar-se como melhorar, tendo em vista a acção pedagógica com o outro, o sucesso em que um e outro têm de estar envolvidos.

Sublinhados
Aprender – “A aprendizagem e a felicidade são uma batalha constante que não estão isentas de esforço e dor.”
Aprender – “Quem morre na vontade de aprender morre para a vida.”
Emoção – “Por vezes, a guerra em que nos vemos envolvidos é tão forte que a emoção não nos deixa pensar. Nesses casos é melhor abandonarmos o terreno de batalha e dar tréguas às emoções, sem deixar que o pânico se instale nas nossas tropas.”
Medo – “É no lugar onde o medo habita que moram as maiores oportunidades de desenvolvimento e de vitória.”
Negativo – “As emoções básicas negativas boicotam ou paralisam a proactividade, energia, criatividade e capacidade de relacionamento com os outros, pelo que tudo deve ser feito para não se deixar contaminar negativamente.”
Perfeição – “O ser humano tem a beleza de estar irremediavelmente inacabado.”
Simplicidade – “A simplicidade está um passo acima da complexidade. Não há nada mais complexo e que exija mais arte do que ser capaz de simplificar.”
Solução – “Quem quer encontra uma solução; quem não quer encontra uma desculpa.”

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Grandes entrevistas da História, com o "Expresso" (3)



Seis políticos, um cientista e três artistas constituem o leque de conversadores no quarto volume de Grandes Entrevistas da História (em publicação pelo semanário Expresso), cujas peças jornalísticas foram publicadas entre 1952 e 1970: António de Oliveira Salazar (Christine Garnier, Férias com Salazar, 1952), Albert Einstein (Bernardo Cohen, Scientific American Magazine, Julho de 1955), Alfred Hitchcock (Pete Martin, The Saturday Evening Post, 27-07-1957), Humberto Delgado (Artur Inez, República, 10-05-1958), Salvador Dalí (Ana Nadal de Sanjúan, La Vanguardia, 19-11-1958), Fidel Castro (Clark Hewitt Galloway, U.S. News & World Report, 1959), Francisco Franco (Luis de Galinsoga, La Vanguardia, 01-10-1959), Norman Mailer (Eve Auchincloss e Nancy Lybch, Mademoiselle, Fevereiro de 1961), Nelson Mandela (Brian Widlake, Independent Television News, Maio de 1961) e John F. Kennedy (Aleksei Adzhubei, Izvestia, 25-11-1961).
Os dois políticos portugueses, rivais, foram entrevistados com seis anos de diferença. A conversa com Salazar teve lugar em Santa Comba Dão e é extraída do final de obra publicada em França e em Portugal, que permitiu a sugestão de um romance entre o político e a jornalista Garnier. Comentando a visitante que de Portugal levava uma imagem de “excessiva calma”, de “entorpecimento”, Salazar responde: “Essa calma que a impressiona é intencional. Aplicamo-nos em protegê-la contra tudo o que a possa ferir, o que não impede o povo português, que não é inconsciente nem indiferente, de estar atento aos acontecimentos mundiais. (…) Considero esta calma como uma das características do povo português na época actual. A outra, é uma forte tendência para o humanismo.” Ao longo da conversa, Salazar vai passando uma imagem rústica e de relativa suavidade do povo português, de tal forma que Christine Garnier é levada a comentar: “Tal como os apresenta, Sr. Presidente, os portugueses parecem bastante maleáveis.” Esta observação servirá ao político para expor a relação dos lusitanos com a autoridade e com a obediência: “Só têm com a autoridade relações baseadas na desconfiança. A obediência é mais receosa que cívica e sempre discutida.” A questão do medo vai estar presente também na entrevista de Humberto Delgado, publicada um mês antes das eleições presidenciais cujos resultados exactos nunca se saberão e em que o general foi vencido. À pergunta, no final da entrevista, se tinha “mais alguma coisa a declarar ao país” o então candidato a presidente respondeu: “Sim. Que o país deixe de ter medo.” Já ao longo da conversa tinha criticado o regime vigente em Portugal, dizendo: “A Nação asfixiada, mutilada no que de mais belo Deus gerou – a alma dos homens – arrasta-se ignominiosamente brincando às eleições de quando em quando, numa soturna apatia, (…) escondendo dos países sob regime democrático o absolutismo em que nós vivemos sob o título jocoso e insultivo de ditadura paternal.” A solução política que defendia era a de uma democracia para Portugal, porque pensava ser ela, “adentro das imperfeições dos homens, o melhor compromisso para viver com dignidade e felicidade”. Nunca o general Delgado iria ver esse seu desejo cumprido no seu país, porquanto, em meados de Fevereiro de 1965, próximo de Badajoz, foi assassinado.
Outros dois entrevistados rivais na política, embora de países diferentes, são Fidel Castro e John Kennedy. A peça que nos traz a mensagem do presidente cubano mostra-nos uma personagem que balança no jogo para impressionar os Estados Unidos, insistindo não ser comunista, bem como outros países de onde possa chegar capital. Por outro lado, vai contornando aquelas que poderiam ser questões mais problemáticas, como a possível oferta de produtos a Cuba por parte de países comunistas ou a base naval americana de Guantánamo… Datada de cerca de dois anos depois da de Castro, a entrevista Kennedy é feita por um jornalista da União Soviética que era mais do que jornalista – a política, a militância partidária, o relacionamento familiar com dirigentes soviéticos, eis os ingredientes que formavam a personalidade de Adzhubei, o entrevistador, que se assume muito mais como um emissário dos pontos de vista do seu país até ao ponto de discordar das opiniões do político americano ou de lhe dizer: “Gostaríamos muito que o Sr. Presidente declarasse que a ingerência nos assuntos de Cuba foi um erro.” Pelo meio, houve as referências ao relacionamento entre as duas potências, à questão da Alemanha e de Berlim, à questão da NATO, com as derradeiras palavras de Kennedy a desejar que a entrevista pudesse contribuir “para melhorar o entendimento e para a paz”, sobretudo no interesse de ambas as frentes.
Em 1959, Franco, em Espanha, tinha como preocupações as dificuldades do povo espanhol e a recuperação que estava a ser feita, a luta contra o comunismo e a união da Europa “contra os perigos” que a ameaçavam. Muito embora a questão da União Soviética ocupe a maior parte da entrevista, é no final que Franco fala do esforço que o seu país está a fazer e dos resultados que estão a ser obtidos no plano do aumento da produção nas áreas da indústria e da agricultura.
O outro político entrevistado neste volume é Mandela, naquela que foi a sua primeira entrevista a um canal de televisão internacional e também a última entrevista que deu antes de ser preso. A conversa é curta e tem como linhas orientadoras a exigência do sufrágio universal, a convivialidade rácica, a possibilidade de organização de campanhas de não-cooperação e termina com uma questão: “Creio que chegou a hora de nos perguntarmos, à luz das nossas experiências (…), se os métodos utilizados até agora são os mais adequados”. Uma dúvida que respondia à pergunta sobre a possibilidade de ocorrerem na África do Sul actos de violência por parte do Congresso Nacional Africano, que, até ali, promovia campanhas de resistência pacífica.
O cinema e os recursos que usa são o tema da conversa com Hitchcock, um realizador cheio de imaginação e de humor. O que diz sobre os seus filmes é uma chave para um novo visionamento, tão calculadas são as situações e os métodos: “O segredo está no modo de articular a história. No meu caso, cada fragmento e cada situação da obra têm de estar planeados e decididos antes de começar a rodagem. Às vezes, planifico mais de seiscentas posições para a câmara antes de começar a filmar. Se tentasse improvisar uma estrutura para o enredo à medida que avançamos, não conseguiria os efeitos nem as reacções que pretendo.” De reacções e efeitos se fala também na entrevista com outro artista, o pintor espanhol Dalí. A jornalista antecipa na apresentação que “em Dalí tudo é pose, excepto o lado temperamental”. O diálogo comprovará a apreciação: “A única coisa que me interessa é que falem de mim”, afirma, considerando-se “o maior génio deste século”. E conta uma situação que comprova até à exaustão essa necessidade de se saber falado: “Tenho agentes em vários pontos de Espanha e do estrangeiro que recolhem tudo o que é publicado sobre mim. Enviam-mo e, quando recebo os envelopes, consigo perceber se as coisas correm bem ou mal. Quanto mais pesados e mais volumosos, mais propaganda contêm. Digo isto porque os atiro para a lareira sem os abrir.” O terceiro artista é escritor, Norman Mailer, que se assume na sua diferença de estilo e de forma de intervir, que se assume como “extremista”, ora falando da sua obra, ora da política. Ao autocaracterizar-se relativamente aos outros homens, diz: “Sou menos forte, mais inquieto, mais decidido, mais inepto, tenho mais sucesso. Não gosto de mim o suficiente para me deixar levar pelos meus instintos como deveria.”
A entrevista de Einstein foi a última que deu, tendo ocorrido duas semanas antes da sua morte, embora só tenha sido publicada posteriomente. Entendendo a dificuldade do jornalista para formular a primeira pergunta, o cientista confessa: “Há tantos problemas para resolver no campo da Física.. Há tantas coisas que não sabemos… As nossas teorias estão muito longe de ser suficientes.” Fala da importância de outros cientistas, como Newton ou Benjamin Franklin, sob o pretexto do conhecimento e do saber do entrevistador, chegando a confessar que “quem pior documenta a forma como se realizam as descobertas é o próprio descobridor”, pois “sempre se tinha considerado a si próprio uma má fonte de informação sobre a génese das suas ideias.” No final da conversa, Einstein ainda vai mostrar a Cohen a experiência para provar o princípio da equivalência a partir de uma oferta que lhe fizera um amigo, Eric Rogers. E o visitante sai comovido desta conversa pela afabilidade e simplicidade que Einstein demonstrara.

Sublinhados
Ciência – “A História é menos objectiva do que a Ciência. Por exemplo, se dois homens tivessem de estudar o mesmo tema histórico, cada um destacaria o aspecto que mais lhe interessa ou chama a atenção.” [Albert Einstein. Entrevista a Bernard Cohen, em Scientific American Magazine (Julho de 1955). Grandes Entrevistas da História 1952-1970. Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 30]
Coragem – “A coragem é algo que implica um enorme risco, sem se ter a certeza de que se vai sair vitorioso.” [Norman Mailer. Entrevista a Eve Auchincloss e Nancy Lynch, em Mademoiselle (Fevereiro.1961). Grandes Entrevistas da História 1952-1970. Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 106]
Democracia – “Adentro das imperfeições dos homens, penso que a Democracia é o melhor compromisso para viver com dignidade e felicidade.” [Humberto Delgado. Entrevista a Artur Inez, em República (10 de Maio de 1958). Grandes Entrevistas da História 1952-1970. Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 58]
Vaidade – “Quem afirma que não é vaidoso demonstra também uma forma de vaidade, ao orgulhar-se da sua declaração.” [Albert Einstein. Entrevista a Bernard Cohen, em Scientific American Magazine (Julho de 1955). Grandes Entrevistas da História 1952-1970. Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 32]
Vontade – “A vontade sem ternura é uma das coisas mais perigosas do mundo. A vontade sem a capacidade de reconhecer nada para além da própria vontade é algo que deve ser erradicado.” [Norman Mailer. Entrevista a Eve Auchincloss e Nancy Lynch, em Mademoiselle (Fevereiro.1961). Grandes Entrevistas da História 1952-1970. Lisboa: “Expresso”, 2014, pg. 107]
[Com a próxima edição do Expresso sai o volume 5 desta obra]

sábado, 21 de dezembro de 2013

Máximas em mínimas - Almada Negreiros

Depois de reler Almada Negreiros, em Nome de guerra (escrito em 1925 e só publicado em 1938)...

Amar – “Quando se gosta de alguém, gostar, gostar a valer, a gente não sabe mais nada neste mundo senão que gosta dessa pessoa. (…) Vão os dois para toda a parte, com ou sem dinheiro, andam juntos. Gostar é gostar.”
Autobiografia – “O trabalho para a autobiografia não é mais do que evitar aquilo a que outros nos quiseram forçar.”
Família – “Temos todos as nossas árvores genealógicas do mesmo tamanho. Lá no tamanho das árvores somos todos iguais. Mas é precisamente nas árvores que está a nossa diferença. Vê-se perfeitamente que a cada um aconteceu qualquer coisa que não se passou com mais ninguém. E aconteceu-nos antes ainda de nós termos nascido. É a árvore genealógica. Esse segredo do nosso segredo. Esse mistério do nosso mistério. Nós somos hoje o último fruto dessa árvore secular, secularmente secular!”
Lealdade – “Quando os inimigos se igualam, e igualadas as forças dos adversários, já não há outras esperanças senão as que ficam fora do terreno da lealdade.”
Mulher – “A mulher sabe perfeitamente melhor o efeito que produz nos homens do que o homem nas mulheres.”
Palavra – “O número de palavras não é infinito, mas é infinito o número de efeitos, conforme a disposição das palavras. Com vinte e seis letras do alfabeto escrevem-se todos os idiomas e não ficam escritas todas as palavras nem definitivos os dicionários.”
Realidade – “Não há mestre mais categórico do que a realidade a seco.”
Separação – “Quando duas pessoas separam as suas coisas que estiveram juntas, o que é de cada um é tão pouco que ainda é menos do que antes de conhecer aquele de quem se separa.”
Sinceridade – “Ninguém no mundo se pode queixar de ter sido vítima da sua sinceridade. O que pode é cada um ficar surpreendido com o facto de a sua sinceridade o ter levado mais longe do que lho permite a sociedade.”
Solidão – “O horror de estar só no mundo apenas o podem sentir aqueles que já perderam o melhor que tinham e não conseguem a certeza de nada.”
Verdade – “Aqueles que pretendem ver a verdade e não tiram os olhos de cima dela acabam por esquecer-se que a querem ver e ficam só a olhar para ela; mas os que fazem por esquecê-la, quanto mais se esforçam por distrair-se mais a verdade os agarra pelos pulsos e lhes fala cara a cara.”
Verdade – “Quem pensa sozinho não quer senão a verdade, as justificações são por causa dos outros.”
Vida – “Há vidas que é preciso encher com qualquer coisa de vez em quando.”
Vida – “São tão diferentes as idades da vida de cada um que quem não vai por essa diferença é porque parou numa delas. As idades da vida não se passam por alto; ou se vivem ou ficam por viver.”

sábado, 19 de janeiro de 2013

Marçal Grilo e Oliveira Martins: o pacto da educação

A propósito de bons resultados obtidos pelos alunos portugueses em estudos internacionais, nas áreas da ciência e da leitura, Eduardo Marçal Grilo e Guilherme d’Oliveira Martins (que já foram ministros da educação) assinam no Expresso de hoje pequeno texto (“A qualidade é notícia”, pg. 30) que contém princípios que deveriam ser orientadores para a educação em Portugal. 

Reproduzo três excertos, a todos valorizando por igual, porque acredito nos princípios neles consignados e porque exigem uma responsabilidade partilhada e vasta e uma coerência e coesão que vão muito para lá dos mandatos parlamentares, dos governos ou do silêncio e dos medos para que vamos sendo remetidos.


Conhecimentos e atitudes – “(.…) No mundo tão complexo em que vivemos, o que importa é que os jovens portugueses sejam preparados numa perspectiva integrada em que os conhecimentos são muito relevantes, mas em que as atitudes e os comportamentos de cada um no tocante ao pensamento autónomo, responsabilidade, liderança e espírito de iniciativa são tão relevantes quanto os saberes e conhecimentos científicos. (…)”

Valores – “(…) Portugal precisa de políticas claras, estáveis e de longo prazo em matéria de educação. A crise e as dificuldades financeiras não devem retirar-nos a capacidade para enfrentar os problemas da educação além dos aspectos meramente quantitativos que resultam dos cortes orçamentais. Famílias, pais, professores, directores das escolas, estudantes precisam de estímulos e de acreditar que só através do estudo, do trabalho e do esforço seremos capazes de vencer a crise e sair da angústia em que o país vive mergulhado. (…)”

Outros rumos – “(…) Portugal sairá da crise, recusando a mediocridade e dando à educação, à cultura e à ciência a prioridade que exigem. O país está cansado dos discursos sem consistência que nos debilitam e nos tiram a esperança. Ninguém pode viver sem esperança e sem ânimo para o dia de amanhã.”

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Primeiro-Ministro citou "Os Lusíadas"...


O Primeiro-Ministro citou ontem Os Lusíadas numa homenagem a Adriano Moreira, dizendo que há “ventos favoráveis” a soprar nas velas portuguesas. A metáfora é bonita, mas não sei se haverá muita gente convencida disso…
É que, mesmo n’Os Lusíadas, os ventos favoráveis são atribuídos à ajuda de Vénus, a deusa protectora dos Portugueses. Questão de literatura, como se sabe, artística, pois! Nem os navegadores acreditavam em Vénus; pediam, isso sim, a protecção da “divina guarda”; o resto – o pormenor dos ventos, das calmas, das tempestades – era um assunto da Natureza.
Talvez o Primeiro-Ministro tenha lido o Público de ontem, que iniciou uma série de artigos sobre a relação dos Portugueses com o mar. E justamente o texto ontem publicado expunha como título “Continuamos esmagados pelos Descobrimentos?” Hoje, estaremos mais esmagados por todo este cenário de crise sobre crise que nos invade – e não me parece que seja só uma questão de vento…
No referido artigo ontem saído no Público, Vasco Graça Moura, um dos entrevistados sobre o tema, lembrava que “no discurso político há sempre um macaquear do discurso cultural”, pois fica sempre bem demonstrar a ligação das orientações políticas à identidade cultural de um povo. Resta saber se a viagem ajudada pelos ventos vai ser apenas uma aventura… É que o momento histórico que o Primeiro-Ministro escolheu para citar também teve muito de aventura e – é sabido! –, mesmo apesar dos “ventos favoráveis” que nos levaram ao Oriente nessa altura, Portugal não ficou economicamente mais rico depois dos Descobrimentos (e é de economia ou de dinheiro que se tem andado a falar)… 

sábado, 24 de março de 2012

Máximas em mínimas (78) - Luis Sepúlveda

Dor – “As cicatrizes são monumentos à dor.”
Escrita – “A palavra escrita dá forças, une.”
Leitura – “As feridas dos heróis da literatura são rapidamente curadas com o bálsamo da leitura.”
Marginal – “Uma formidável lei da vida faz com que os lixados deste mundo se encontrem.”
Medo – “As sociedades que crescem no medo aceitam como legítimo tudo aquilo que provém da força, seja das armas, seja do capital.”
Pobreza – “A grande verdade solidária dos pobres nunca oxida.”
Ternura – “A ternura tem que ser protegida com dureza e a dor não nos pode paralisar.”
Luis Sepúlveda. As rosas de Atacama (2000, trad. portuguesa)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Eduardo Lourenço: a Europa, a esperança, a aldeia

A propósito da atribuição do Prémio Pessoa, a revista “Atual”, do Expresso saído na 6ª feira, publicou entrevista a Eduardo Lourenço, conduzida por Rosa Pedroso Lima e por Valdemar Cruz. Nos seus 88 anos, Eduardo Lourenço continua a reflectir sobre o nosso mundo, sobre o nosso mundo que nos cerca. São excertos dessa entrevista que se reproduzem.
Crise – “A Humanidade tem muitas maneiras de se definir. Ninguém pode viver sem esperança. A esperança é uma componente do que é cada ser humano. Sempre tivemos uma visão muito eurocêntrica, mas agora estamos a entrar num pessimismo em relação à Europa. É a famosa crise. Todo o discurso, na componente económica ou financeira, é da ordem do apocalíptico. Estamos à beira do abismo. É verdade que a situação não é boa, mas este continente ainda hoje é o de maior bem-estar em todo o globo. Não há razão para que os europeus desatem a autoflagelar-se.”
Europa – “A Europa comunitária foi construída sob pressupostos negativos: a ideia de servir de tampão entre os EUA e o Bloco de Leste. Uma ideia dos EUA que nos deixou entre parêntesis. No dia em que Muro de Berlim saltou, a Europa ficou sem projecto. (…) A Europa não tem nenhuma espécie de ideologia que a mova para que lhe possa fornecer um sentido do seu próprio projecto.”
Virtual – “Pela primeira vez, vivemos num mundo ao mesmo tempo mais materialista no sentido antigo do termo e mais virtual. A novidade, agora, é que a virtualidade é mais importante que a materialidade. Nesse capítulo, continua a ser um mundo humano. Só os homens são capazes de inventar algo que não existe.”
Juventude – “Neste momento, o problema crucial do mundo é que uma parte da juventude, pela primeira vez, não tem esperança. Não chega a entrar na vida. Pode sair dela sem ter entrado na vida. Isto é novo no Ocidente. Isto é espantoso.”
Aldeia – “Só há aldeias. Porque mesmo as pessoas que vivem nos grandes meios escolhem sempre um canto que lhes serve de aldeia. A aldeia é um conjunto de casas. E no meio das casas há a casa. E nós só precisamos de viver numa casa. O problema é aqueles que sabem isso e que não têm casa.”