terça-feira, 31 de maio de 2011

Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama de 2011 já tem vencedor

O Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama 2011 foi atribuído ao trabalho Retrato a Sépia, apresentado sob o pseudónimo Paulo Lódão, correspondente ao autor Paulo Jorge Coelho Carreira, que tem os seus trabalhos publicados sob o pseudónimo de Paulo Assim.

António dos Santos e as histórias do Orfanato Municipal de Setúbal

É o quarto livro que António dos Santos publica contando histórias ligadas à instituição setubalense que foi o Orfanato Municipal Presidente Sidónio Pais, criado em 1919, mais tarde conhecido por Orfanato Municipal de Setúbal. Trata-se de Romagem de Saudade (Setúbal: Centro de Convívio dos Ex-Alunos do Orfanato Municipal de Setúbal, 2011), título que deixa adivinhar o que pretende ser o livro – isso mesmo, um peregrinar pelas memórias, pela saudade, pelas recordações, num trajecto que parte de uma data de aniversário para o calcorrear os arruamentos que decidem o mapa dos cemitérios da cidade.
A história é simples: no dia 18 de Maio, passa o aniversário da criação da instituição e, no domingo que lhe seja mais próximo, ocorre o encontro dos ex-alunos do Orfanato. A efeméride já teve pompa, com espectáculos e intensa actividade cultural; porém, com o desaparecer progressivo das figuras que construíram o Orfanato (extinto na década de 1960), as celebrações passaram a ser mais modestas e um punhado de ex-alunos mantém o costume do encontro anual, preenchido com uma romagem aos dois cemitérios de Setúbal, que passa pelas campas dos “irmãos” criados na instituição e entretanto falecidos, bem como pelas dos fundadores, responsáveis e beneméritos do Orfanato, aí ficando uma flor de saudade.
A memória do Orfanato pode ser vista hoje através da militância que mantém o Centro de Convívio dos ex-Alunos do Orfanato Municipal de Setúbal (criado em 1977), nas traseiras da Casa da Baía, mas para ela têm também concorrido os escritos de António dos Santos, que, acentuados pelo pendor autobiográfico, relatam a experiência do que foi ser “irmão” e aprendiz, do que foi o quotidiano naquela escola, do que foi a relação social e profissional estabelecida, elementos também importantes para a história social e humana de Setúbal.
A narrativa deste livro recolhe impressões dos vários sobreviventes sobre os companheiros, dirigentes e beneméritos falecidos e o leitor vai passeando pelos cemitérios e pelas memórias destes homens e da história, sem que se trate de um percurso melancólico, antes vingando “uma homenagem cheia de alegria”, justificada, nas palavras do autor, pela aprendizagem no Orfanato no sentido de todos crescerem “unidos no amor e na disciplina”.
Assim, em jeito de relato, vamos sendo orientados pelos dizeres de uns e de outros dos “romeiros”, pelos comentários de saudade e gratidão ou pelas apreciações mais jocosas, quase fazendo com que o leitor mergulhe naquele espaço social, na história daquela “família”. A acompanhar o texto, saltam fotografias de tempos diversos, que se misturam com outras que reproduzem lápides e momentos desta homenagem. Ressalta dos dizeres destes homens a solidariedade com os “seus” mortos, o encontro com o seu passado, o respeito por quem os ajudou no crescimento e na aprendizagem de profissões, a veneração pela cidade que os apoiou. Já no final da narrativa, depois de uma manhã em que foram visitados os cemitérios da Piedade e da Paz, antes da ida para o almoço de aniversário, há o desabafo: “Todos deixámos aquele lugar triste e pesaroso, mas reconfortados por ter pago uma dívida para com a Casa que nos fez homens educados e responsáveis, motivando-nos todos os anos a continuar.” O relato conclui com o leitor a saber que esta romagem se manterá para além da escrita, pelos anos, enquanto haja sobreviventes e memória.
A escrita de António dos Santos, que, graças às aprendizagens no Orfanato, seguiu a via profissional ligada às artes gráficas, é simples, directa, apenas com o intuito de escrever sobre a “família” do Orfanato, de registar as histórias da(s) vida(s) dos que foram considerados “os mais desamparados”, assim testemunhando sobre uma faceta importante na história local e reforçando os laços entre aqueles que persistem em alimentar a memória.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Urbano Tavares Rodrigues em "Os Meus Livros"

O mais recente livro de Urbano Tavares Rodrigues – Os Terraços de Junho (Publicações Dom Quixote) – constituiu pretexto para entrevista com João Morales na revista Os Meus Livros (nº 99, Junho.2011), em que o escritor fala da sua obra, de algumas memórias que o tempo de 88 anos permite acalentar. Sempre igual a si mesmo, eis algumas respostas:
Fernando Pessoa – «Ah, caramba!... Ele vai ao fundo, fundo, da mentalidade portuguesa. ‘A Tabacaria’, a ‘Ode Marítima’ são textos fantásticos sobre a nossa realidade. Ou o Bernardo Soares, com ‘O Livro do Desassossego’…»
Universidade – «As faculdades estão em grave crise e há a vontade de as tornar em serviços de fornecimento de quadros para empresas, como se só assim pudessem sobreviver. A cultura humanística está em grave crise, em parte pelo Capitalismo neo-liberal que produz subprodutos e lixo literário. A literatura de qualidade sobrevive com dificuldade… mas isso vai mudar! Não vai ficar sempre assim! Até porque tudo isso está em grande crise.»
Ficção – «Fala-se mais verdade através das máscaras. Eu tenho muitas máscaras nos meus romances e nos meus contos. E acho que dessa forma consigo contar melhor a realidade.»
Público – «Não se escreve para o público, mas não se pode esquecê-lo. Assim como a ideia estruturalista de evacuar o escritor da sua obra também era uma parvoíce, o escritor tem de lá estar.»

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quatro poetas da "Távola Redonda" no Palácio Fronteira

A geração literária ligada à revista Távola Redonda (1950-1954) foi objecto de um ciclo de poesia promovido pela Fundação das Casas de Fronteira e Alorna no mês de Maio, sessões que decorreram no Palácio Fronteira, em Lisboa.
Este ciclo integrou quatro sessões, realizadas em 10, 12, 17 e 19 de Maio, cada uma delas dedicada a um autor que colaborou na revista: Cristovam Pavia (1933-1968), David Mourão-Ferreira (1927-1996), Matilde Rosa Araújo (1921-2010) e Sebastião da Gama (1924-1952), respectivamente. Cada sessão foi composta por uma apresentação do autor em destaque e pela leitura de um leque variado dos seus poemas, alguns deles comentados pelo respectivo apresentador. (...)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Charroque chegou a "O Setubalense"

O “Charroque da Prrofundurra” chegou ao jornal O Setubalense. A primeira crónica com a personagem sadina saiu na edição de hoje e intitula-se “O Chique Zarroulhe”, suposto primo do narrador.
Crónica com humor, imitando o falar setubalense, o seu espírito vem no seguimento do que aconteceu no livro O Charroque da Prrofundurra e do que tem sido o blogue com o mesmo nome.
Prometida está colaboração semanal do Charroque, com vistas e leituras sobre Setúbal, num quase auto-retrato que dispõe bem.
Ora veja-se o início da crónica de hoje: “O mê prrime Chique quié zarroulhe é um ganda maluque por esse famouse tipo de transporte quié os matavélhes, aquelas motas trricicles que só há em países do terrceirre mundo e aqui em Porrtugal.”

quarta-feira, 18 de maio de 2011

“Histórias daqui e dali”, de Luis Sepúlveda

Vinte e cinco crónicas compõem o volume Histórias daqui e dali, de Luis Sepúlveda (Porto: Porto Editora, 2010), numa ponte que nos remete para espaços, para os lugares, que se estende entre a América Latina e a Europa, pontos de fixação do próprio cronista.
Em grande parte dos casos, estas crónicas são visitações a tempos passados, num percurso através da memória, insistentemente mostrando a faceta do exilado. Por elas passam convicções, recordações, amigos, experiências, reencontros, histórias de livros, ironias da vida, chamadas de atenção, não esquecendo um pendor crítico sobre formas de viver de hoje.
Por Portugal e pela literatura em português passam também estas crónicas, havendo uma delas que toma o cenário do “Correntes de Escritas” poveiro e o contador de histórias que é o angolano Nelson Saúte.
Estas crónicas caminham sempre no sentido da procura de pontos de apoio, cimentados por referências comuns, independentemente das latitudes, atitude talvez justificada por esta afirmação de identidade – “Nós, os exilados, somos como os lobos, para onde vamos juntamo-nos às alcateias que não são as nossas, mas convivemos, caçamos juntos, e, no entanto, a lua convida a afastar-nos para uivar de solidão.”
Marcadores
Velhos textos - “Quando nos deparamos com velhos textos é como se nos encontrássemos de novo connosco, e estes reencontros são sempre comoventes.”
Exílio - “Todos os exílios duram demasiado tempo e cada experiência é única.”
Viajar - “O direito de viajar ou de permanecer é inerente ao ser humano. O visto para ir ou ficar é um golpe cruel e planificado na liberdade do indivíduo.”
Alfarrabistas - “As lojas de livros usados são pátrias especiais e necessárias.”
Ficção - “A ficção é sempre um prolongamento da realidade.”
Jornalismo - “A precariedade em que caiu o jornalismo faz com que ninguém seja responsável pelo que se escreve, diz, ou emite, salvo raras excepções, e com que sejam poucos os jornais feitos por jornalistas que, com absoluto rigor, assistem ao funeral de uma profissão tão bela quanto necessária.”

terça-feira, 3 de maio de 2011

Mais um prémio para "O Livro do Sapateiro", de Pedro Tamen

Depois do "Correntes d'Escritas", aqui está mais um prémio para essa obra imperdível de Pedro Tamen que é O Livro do Sapateiro. Desta vez, foi o Grande Prémio de Poesia da APE. Merecido. Indiscutivelmente! Parabéns!

domingo, 1 de maio de 2011

No Dia da Mãe [com a ajuda da poesia de José Simões Dias]


Às Mães

Sacrário de amizades,
Do amor cofre adorável,
Num álbum reverdescem as saudades
Do tempo que passou irrevogável!

Tudo nele é precioso, até um nome,
Se esse nome é de alguém,
Mas o álbum melhor, mais amorável,
O que afectos somente em si contém,
É aquele que o tempo não consome,
- Um coração de mãe!

José Simões Dias (1844-1899)
in: Albano Martins. A Mãe na Poesia Portuguesa. Lisboa: Público, 2006, p. 129.