sábado, 22 de maio de 2010

Obrigado, São!

Na noite de ontem, foi o jantar a propósito da aposentação da colega Conceição. É costume: de cada vez que um(a) colega se aposenta, a gente reúne-se, partilhando o momento, que vive em torno de lembranças e de encontros que trazem também outros colegas que, entretanto, também já deixaram a Escola, enveredaram pela aposentação e seguiram as suas vidas...
Pois a Conceição entrou nessa via e segue agora o seu caminho, isenta de tudo o que não seja a sua vontade, a sua força e o seu tempo. Sempre a conheci como uma mulher interessada na última palavra no seu ramo - a Biologia -, munindo-se das mais recentes bibliografias, dos mais recentes documentários, que adquiria e levava para a Escola. Nuns casos, partilhava esses seus recursos com os alunos e com a Escola; noutros, aconselhava que a Escola os adquirisse. Certo era que a área da Biologia estava sempre actualizada, o que até levava a que alunos que, entretanto, dali saíam para o ensino superior pediam para, nos anos lectivos subsequentes, frequentar a biblioteca da Escola para pesquisa naquela área, porque sabiam ter lá adequados recursos. Em grande parte devidos à perspicácia e sentido de actualização que eram apanágio da Conceição.
Ora, dias antes, nesta semana, vi a Conceição na Escola, numa sua visita breve. E só ontem fiquei a saber porquê: é que a Conceição, sempre preocupada com as condições do laboratório, sempre a apostar na experimentação, fora à Escola entregar à Direcção um cheque (de quantia bem interessante, mas que não vou revelar) com vista ao equipamento dos laboratórios de Ciências, pormenor que, apenas no jantar de ontem, a Directora revelou. E todos ficámos a olhar esta insistência da Conceição no fazer dos caminhos da educação... E todos ficámos um pouco gratos à Conceição porque o seu contributo vai, por certo, enriquecer as possibilidades de exercício da Escola e da aprendizagem... E todos ficámos a pensar que, para lá daquelas imagens circunstanciais que muito têm contribuído para o abaixamento do reconhecimento do que é ser professor, o gesto da Conceição ria-se dessa sociedade que despreza a Escola e via na Escola um caminho de futuro e de ligação à vida - à sua vida, é certo, mas também à vida de todos.
O gesto da Conceição - que, agora, ainda vai fazer algum voluntariado na Escola, a ajudar a organizar esses laboratórios - enterneceu-nos a todos. Obrigado, São!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

"Já não há dinheiro!"

David Laws, o novo Secretário do Tesouro britânico, revelou o conteúdo de uma carta que o seu antecessor, Liam Byrne, lhe deixou no gabinete, que dizia muito laconicamente o seguinte: “Caro Secretário, lamento informá-lo que já não há dinheiro.”
Novidade? Ou já há muito tempo que não há dinheiro e a história do pagamento por cartões ou por outras formas tem sido o adiar dessa constatação, numa operação de engenharia? Sim, onde está o dinheiro, que a gente vê cada vez menos? Onde está o dinheiro, que adquire valores de insignificância quando ouvimos falar de números astronómicos de euros que nem sabemos o que significam? O que anuncia verdadeiramente esta revelação de Byrne para Laws, ao dizer-lhe que… “já não há dinheiro”? Cada vez mais, uma expressão como “dinheiro vivo” faz parte da arqueologia da língua e só serve para memória… dos tempos em que ainda havia dinheiro, sobretudo numa altura em que a economia virtual (!) é que nos governa, venha ela pela Bolsa ou pelas “dicas” das frentes que se reúnem para comandar a economia mundial!

domingo, 16 de maio de 2010

A propósito dos 60 anos sobre a escrita do "Diário", de Sebastião da Gama

“Uma leitura do Diário 60 anos depois” foi o tema que Fernando António Baptista Pereira trouxe ao Museu Sebastião da Gama, em Azeitão, nesta noite, actividade integrada na “Noite dos Museus”.
Foi uma leitura pessoal do Diário de Sebastião da Gama, obra escrita no período 1949-1950 (apenas publicada em 1958), justificada por se poder “encontrar nas páginas de Sebastião da Gama a paixão de ser professor”. Como ideias fortes, Baptista Pereira deixou a da pedagogia do Diário, em que “o grande segredo reside em gostar daquilo que se faz, em gostar dos outros”, a da actualidade desta obra e a da leitura do Diário como complemento da obra poética ou desta como complemento daquele, já que Sebastião da Gama “era poeta, homem e professor em todo o lado”.
Para Baptista Pereira, os vectores inovadores principais do Diário são: a modernidade pedagógica (não-directividade; recusa da punição em favor da consciencialização, da lealdade e da responsabilização), educação para a liberdade e para a cidadania, acompanhamento individual dos alunos dentro e fora da sala de aula e não esquecimento dos alunos durante as férias.
Ao longo da comunicação, houve excertos da obra, a comprovarem a actualidade da sua mensagem, bem como a valorização do Sebastião da Gama pedagogo e poeta, que se retratou nos poemas “O menino grande” e “Carta de guia”, ambos datados de 1946 e ambos publicados postumamente, em Itinerário paralelo (1967), focagens que cantam a alegria permanente, visível também nas entradas do Diário como ingrediente necessário para se educar.
No final, ficou a sensação da necessidade de esta obra dever ser de leitura e estudo obrigatório na formação de professores. Na prática dos professores, acrescento, e, já agora, leitura recomendada para quem tenha preocupações na área da educação, independentemente da função que desempenha.

sábado, 15 de maio de 2010

Duas histórias com professoras, sem proveito para a educação

Duas notícias de ontem tratam da imagem dos professores. A primeira: a propósito do livro 365 piadas novas (Civilização), que contém uma anedota em que uma professora pergunta a um aluno o que dá a vaca, respondendo-lhe o petiz que “a vaca lhes dá trabalhos de casa”. A segunda: em Mirandela, uma professora de Actividades Extra-Curriculares posou para a Playboy, contracenando nua com outra mulher e, como conclusão, a revista esgotou na zona, a sociedade falou e a professora vai mudar de ramo.
Toda a gente sabe que a sociedade é muito pouco púdica e que, frequentemente, quer dar de si uma imagem que não corresponde ao que na realidade sente. Coisas que todos sabemos, claro! Sempre houve anedotas sobre profissões, como sobre povos ou sobre regiões. E, com franqueza, nunca apreciei aquelas que têm como propósito a humilhação, independentemente de se referirem a profissões, povos ou terras. Parece que a alegria de nos rirmos só se satisfaz com o azar dos outros ou com a humilhação dos outros e isso é lamentável. Tal como é lamentável a inserção da tal anedota no dito livro, que só prova a falta de sentido de humor e a banalização das referências.
Quanto à jovem transmontana, pode ser que ela tenha decidido o seu futuro (e só desejo que seja a seu contento). Estou longe de subscrever as opiniões que isentam a jovem de responsabilidades e que peroram em favor de classificar a sua atitude como algo de normal, num tempo em que o corpo significa isto ou aquilo, porque são argumentos fáceis. Obviamente que a liberdade foi toda sua e a sua exposição na revista não merece reprovação. Mas, provavelmente, a sua área não seria a da educação no 1º Ciclo. Educar também exige referências, queira-se ou não, goste-se ou não. E as que se relacionam com o corpo não serão provavelmente as do explícito ou da exposição… da estética da professora!
Relacionadas com a educação – em face dos seus protagonistas –, nenhuma destas histórias abona a seu favor. Muito embora ambas possam aproveitar por outras talvez interessantes razões…

terça-feira, 11 de maio de 2010

Bento XVI visto por Eduardo Lourenço

Na edição online do Público, está hoje publicado um texto de Eduardo Lourenço a propósito da vinda de Bento XVI a Portugal. Análise fina, sem enleios ou falsos enredos, recheada de identidade e de reflexão, a não perder. Aqui a reproduzo.

Um Papa alemão na tormenta

"... compreendamos, acima de tudo, que o Evangelho fala sempre da Igreja como de uma Igreja de pecadores, o que é justamente o seu rasgo específico" - cardeal Ratzinger in Deus Existe?

Que apenas meio século após o holocausto a Santa Igreja católica, apostólica e, sobretudo, romana, tenha eleito um papa de nacionalidade alemã, ainda espantou um mundo onde ninguém se espanta com coisa nenhuma. Muitos se escandalizaram, então, menos por considerações duvidosas, quase racistas, do que pelo perfil e reputação teológico-pastoral do novo eleito, o cardeal Ratzinger, com vinte anos de chefia à frente do dicastério, guardião da ortodoxia, da Propaganda Fide.

Quando se pensa que desde os tempos de Carlos V, até João Paulo II, só um Papa não fora italiano (Adriano VI), esta nova eleição de um "estrangeiro" era, já em si, uma surpresa e quase um milagre. A opinião católica e a do mundo tinham de lhe reservar um acolhimento e uma atenção à altura de uma tal surpresa.

Em breve o lado teutónico foi esquecido. Suave, delicado, grande intelectual, o novo Papa que sabia não poder contar com o efeito mediático de João Paulo II, nem fazer esquecer "o bom" Papa João XXIII, mau grado algumas intervenções no tabuleiro político, ou assim tido na óptica profana, que suscitaram reacções ofuscadas, conseguiu fazer esquecer que era alemão e tivera o magistério da disciplina e vigilância da Igreja. Duas encíclicas encontraram um eco atento nos meios intelectuais católicos e, para além deles, em gente que não esperaria dele textos teológico-proféticos, como os de alguns dos seus famosos predecessores. Tranquilamente, esse grande teólogo e filósofo, a par do movimento de ideias da sua pátria, relembrou na ordem da exegese, e em termos originais relativamente à tradição, a leitura da mensagem cristã como Amor, renovando-a na sua semântica, ao ter em conta os laços estruturais entre Eros e Agape. Sem audácias provocantes, um pouco na senda e como eco a um célebre ensaio de Anders Nygren, com esse título. O mesmo fará na revisitação e explicitação da doutrina social da Igreja, o que surpreendeu - dentro e fora dos meios católicos - gente que há muito o tinha catalogado - nessa matéria em particular, mas também nos domínios da ética e dos costumes - como um dos Papas mais conservadores, uma espécie de Pio IX redivivo. O que é totalmente inexacto.

E de súbito, como em simetria com a crise do Ocidente na ordem profana (economia, política e ética), sofrida pelo comum dos mortais como uma ameaça e um desafio ainda em curso ao tipo de civilização que é a nossa, abate-se sobre a Igreja uma espécie de vendaval ético-histórico, ampliado pelo mediatismo planetário, senão de todo inédito (antes pelo contrário), o mais apto para atingir a Igreja instituição e a feri-la, não no coração da sua mensagem, mas na imagem que a define e caracteriza a sua missão "exemplar".

Em nada, a título pessoal, Bento XVI tem a ver com esse escândalo, por ele mesmo descrito e sofrido como tal, mas foi sobre ele, sucessor de Pedro, que caiu o reflexo profano, mundano, desse fait-divers que não se parece com nenhum outro. É uma injustiça objectiva e ninguém o saberá melhor do que ele. A Igreja não é nenhuma barca angélica. Está no mundo e pertence ao mundo. Não existe para impedir o mundo de passar mas para santificar o mundo que passa. De resto, já tem no seu fundador o mais incontornável dos juízes.

O drama - humano, social, ético e simbólico -, com que a Igreja se viu e vê confrontada e a que o actual Papa teve de fazer frente com determinação e humildade possível, pertence justamente àquele domínio do "oculto", para não dizer do recalcado, que conferiram precisamente à mesma Igreja onde ela foi - e é ainda - a instância não apenas religiosa e ética condicionante e sancionante dos desvios ostensivos dessa ordem, um papel capital. Em termos simples, e antes da era Freud - curiosamente também em vias de contestação clamorosa - esses entorses à prática ética, subdeterminada pelo continente submerso ou visível daquilo que é tido como "pecado" numa perspectiva que, sendo religiosa, é mais do que isso, fez da Igreja durante séculos "o confessionário" colectivo diante de quem se exorcizavam os "pecados" do mundo, os dessa ordem e sobretudo e, ao mesmo tempo, a instância do perdão e da remissão.

Claro que hoje e, em particular, neste Ocidente descristianizado as coisas não se passam assim. Como a Igreja, os confessionários conhecem os efeitos dessa desertificação religiosa. A massa indiferente dos cidadãos até pode receber com alívio ou júbilo este percalço espectacular da velha Igreja, instituição impecável que perdoa os pecados do mundo, revestindo à força, e dolorosamente, o estatuto de "pecaminosa", ela que é, histórica e simbolicamente, a expressão sublimada da consciência da humanidade como pecadora e ao mesmo tempo instrumento da sua redenção.

Numa óptica assumidamente profana, tudo se passava (ou passa) como se a Igreja julgasse o mundo e o mundo não a pudesse julgar. Ainda - pelo menos para quem nasceu e foi educado no seio da Igreja e com referência aos seus valores míticos - ou mitificados - não se é facilmente indiferente e menos ainda cinicamente espectador de um drama tão doloroso como o que engloba ao mesmo tempo as vítimas dele e os que dela abusaram sendo os guardiões não apenas de uma fé, como da sua mera dignidade humana. Claro que esse "drama" é universal, porventura o terá sido sempre. Mas desse "drama", sem sujeito próprio, o que importa no contexto cultural do Ocidente em especial - e não só - é que uma instituição tão singular - e para muitos de nós referência única na luta pelo combate pela definição do destino espiritual e cultural da humanidade - como a Igreja esteja vivendo esse vexame e essa agonia com uma provação misteriosa. E quem sabe como uma revisitação e rasura futurante de clamorosas quedas históricas da sua vocação redentora que continuam como um espectro a ensombrar a mensagem de luz onde o Evengelho nasceu. Em visita a este velho país cristão, Bento XVI, no centro de um drama que tem exorcizado, não sem coragem, não terá aqui, como o poderia ter em outros espaços, nem comentários sarcásticos, nem exaltações perversas de quem contempla a barca de Pedro outrora em excesso triunfalista, num mau passo. Apenas votos para que essa barca passe para a outra margem de si mesma, como o Mestre a convidou.

Lisboa, 9 de Maio de 2010 - Eduardo Lourenço

Só é pena ter demorado 9 anos!

A notícia que transcrevo tem a assinatura da LUSA e está divulgada em vários sítios da net. Os únicos comentários merecidos têm a ver com o tempo que se demorou a ser feita justiça e com o teor das desculpabilizações apresentadas e feitas para constar. Bem podem argumentar com cumprimentos de prazos e com voltas e reviravoltas, mas não está certo que se espere tanto tempo, não é justo que se espere tanto tempo; quanto aos argumentos utilizados para explicar as reacções havidas, só provam que tudo vale para justificar o injustificável e que a sociedade é assim porque se pensa que pode ser assim, sem respeito. Ainda bem que a justiça foi no sentido em que foi, apesar de ter tardado!

Almada - Pai de aluna condenado a pagar 10 mil euros a professora por injúrias

O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a condenação do pai de uma aluna da Escola Secundária Anselmo de Andrade, em Almada, a pagar uma indemnização de 10 mil euros a uma professora, por injúrias.

Os factos remontam a 7 de Março de 2001, quando, numa reunião naquela escola, o encarregado de educação apelidou a professora de História da Arte e Oficina de Artes de "mentirosa", "bandalho", "aberração para o ensino" e "incompetente".

A reunião fora solicitada pelo encarregado de educação, alegadamente para obter esclarecimentos acerca das muitas faltas da professora. Num trimestre, a docente faltara onze vezes por ter fracturado uma perna.

Além daqueles insultos, o pai acusou ainda a professora de falta de profissionalismo, de "mandar bocas" à filha, de terminar as aulas "10 minutos antes do toque e pedir aos alunos para dizerem aos funcionários que estavam a sair de um teste" e de na véspera dos testes dizer aos alunos "ipsis verbis" a matéria que iria sair. Aconselhou ainda a professora a procurar tratamento psiquiátrico "urgente".

A professora, com 20 anos de profissão, pôs uma queixa-crime em tribunal, acabando o encarregado de educação por ser condenado pelo crime de injúria agravada. A docente avançou também com uma acção cível, pedindo uma indemnização de quase 19 mil euros por danos patrimoniais e de 15 mil por danos não patrimoniais.

O tribunal decidiu fixar a indemnização em 10 mil euros, mas o arguido recorreu, alegando que as expressões foram proferidas por "um pai preocupado e protector", num contexto de "nervosismo e tensão". Alegou ainda que "não era previsível que as suas palavras desencadeassem um processo contínuo de sofrimento, stress e tristeza além do sentimento de desvalorização pessoal e da dignidade e reputação" da professora. Defendeu igualmente que as consequências das suas palavras para a professora "devem mais ser consideradas como incómodos ou contrariedades do que verdadeiros danos".

Mas o tribunal manteve a condenação ao pagamento de 10 mil euros, considerando que a professora, face às "graves ofensas" de que foi alvo, ficou afectada na sua dignidade e reputação, o que lhe veio a causar um "rol de enfermidades", dele resultando "um quadro clínico de acidente vascular cerebral, acompanhado de síndrome depressivo grave, com oclusão da vista esquerda, com risco de cegueira". O STJ considera mesmo que a indemnização de 10 mil euros "é um nada", já que "a dor de alma é, sem receios de exageros, incomensurável". 11.05.2010 - 15:48 Por Lusa

Propostas para a Noite dos Museus

É já no próximo fim-de-semana que acontece a "Noite dos Museus", acção integrada no Dia Internacional dos Museus. Aqui está um lote de sugestões para uma noite cultural.
Há boas propostas, mas, por afinidades, que são minhas, destaco a palestra de Fernando António Baptista Pereira, no dia 15, pelas 21h30, no Museu Sebastião da Gama, em Azeitão, intitulada "Uma leitura do Diário de Sebastião da Gama 60 anos depois".

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A visita de Bento XVI vista por Marcelo Rebelo de Sousa

Não valerão a pena mais comentários sobre a visita papal que, dentro de dias, vai ocorrer no nosso país. O que mais tem impressionado têm sido os fundamentalismos, que se têm colado a toda a situação por que a Igreja tem estado a passar. A questão da tolerância de ponto veio enaltecer mais as críticas, quando todos sabemos que qualquer que fosse a composição política do governo a decisão iria no mesmo sentido... Entretanto, vai havendo umas histórias, como a da Ministra da Educação dizer que o encerramento das escolas no dia 13 dependerá de decisão das direcções das Escolas... Nenhuma novidade, porque, teoricamente, o mesmo é válido para todos os outros serviços do Estado; só que era escusado transferir as despesas dessa decisão para as direcções das Escolas quando todos sabemos o que, na prática, significa uma tolerância de ponto, independentemente de concordarmos ou não com ela.

Só hoje li a edição de sábado do Jornal i, que publicou uma entrevista com Marcelo Rebelo de Sousa, assinada por Maria João Avillez. Naturalmente, a vida política e as tensões do momento entraram na conversa, mas quero aqui destacar o que o entrevistado disse e considerou sobre Bento XVI, por me parecer oportuno. A entrevista pode ser lida na íntegra aqui, mas transcrevo essa última parte, que respeita à visita papal e a algumas vias de transição que se abrem à Igreja.

«(...) Vem aí o Papa, o que não o deixa indiferente. Que reflexão lhe suscita esta visita? É uma grande oportunidade para uma palavra de esperança numa Europa sem norte e desesperançada e num país com pouco norte e muitos desesperançados. Em segundo lugar, é importante que o Papa dê uma palavra de solidariedade à igreja portuguesa. Tem tido um papel de que se não fala, mas sem o qual não seria possível em muitos aspectos aguentar a crise social do país. É a Igreja que ampara muitas das IPSS no domínio da educação, da saúde, da solidariedade social. Quem faz esse trabalho, das crianças aos mais velhos, é uma rede de instituições de inspiração cristã. O comum das pessoas dá esse amparo como adquirido, confundindo-o com o Estado, mas justamente como nem sempre o Estado o pode fazer - e vai poder cada vez menos - quem está presente é a Igreja. Há ainda o facto de a visita ocorrer num momento em que o Papa e a Igreja são objecto de um conjunto de críticas - aqui e no mundo. Umas devido ao estilo de Bento XVI, outras ao caso da pedofilia.

Quer parar numas e noutras? A comunicação social, que gostava particularmente de João Paulo II, gostou sempre menos de Bento XVI. Sucede porém que o Papa é atacado por ter cão e por não ter e insuspeitamente o digo: como católico acho que o Papa é escolhido pelo Espírito Santo e que vale a sua escolha e não a minha. Isto dito, teria preferido que o Espírito Santo tivesse escolhido outro. Mas antes mesmo da questão da pedofilia já se dizia que era um homem primitivo, reaccionário. Queria recorrer ao catolicismo irracional - quando é a racionalidade em pessoa. Por outro lado acusam-no de ser demasiado frio, racional, sem capacidade para entender as pessoas e sem criar empatia com elas. Atacava-se por ele ser anticonciliar quando foi determinante a sua acção no Concílio Vaticano II; atacava-se por ser "direitista" porque terminou com alguns movimentos omitindo que acabou com outros, com essa conotação mas que mereciam ser extintos. Sendo conservador em questões de princípio e da disciplina interna da Igreja, é geralmente omitido que numa das últimas encíclicas atacou o capitalismo internacional, a crise financeira, sublinhando nela a culpa dos banqueiros, defendeu a reforma das Nações Unidas, uma nova ordem económica internacional, manteve as posições em relação à Palestina. E então, de repente, ai que afinal era progressista...

E no outro caso? O santo padre pediu desculpa na sua carta às vítimas irlandesas, recebeu outras vítimas em Malta. Já várias vezes pediu desculpa, aceitou a culpa, aceitou que há uma responsabilidade que não é só religiosa... Mas de cada vez que diz qualquer coisa que devia ser "lida" como um reconhecimento do que é inaceitável no comportamento da Igreja, caem-lhe em cima dizendo " é preciso muito mais"!

Falou de João Paulo II. Os seus desafios não são os mesmos de hoje... Não. O Papa anterior enfrentou um grande desafio - que venceu. Eram os marxismos, que estavam na moda quando ele chegou ao Vaticano, nos anos 70, podendo assistir à implosão da União Soviética e dos marxismos. O desafio deste Papa é muito mais difícil: o ressurgir dos racionalismos iluministas de há mais de um século, para os quais a razão explica tudo. Mas ao mesmo tempo que explica tudo, porque a razão é individual, também é relativista: não há valores absolutos. O Papa assumiu o combate a esses racionalismos relativistas, o que é lógico na óptica de quem entende que há valores absolutos, mas isso tornou-o "incompreensível", por um lado, e "inaceitável" por outro. Repare que até a comparação com João Paulo II é injusta: João Paulo II era relativamente novo quando foi eleito, o que não ocorreu com o seu sucessor. A minha leitura é que este Papa é obviamente de transição: a transição entre João Paulo II e o primeiro Papa não europeu.

América Latina? ... e se Deus quiser Brasil. E mais: vou dizer-lhe uma coisa que por enquanto, poucos sabem: o actual Papa trabalhou para não ser Papa. Ele mais o arcebispo de Paris e um cardeal muito próximo, o austríaco Schönborn. Trabalharam muito para que fosse eleito um Papa não europeu. Justamente não houve eco dos cardeais europeus, particularmente dos italianos, para quem isso seria uma ruptura demasiado brutal. O que é inevitável é que depois de Bento XVI surja um Papa da nova cristandade.»

domingo, 9 de maio de 2010

Máximas em mínimas (57) - de Ana de Castro Osório

INIMIGOS
"Já é coisa sabida: quanto melhor é uma pessoa mais inimigos tem; e quanto maior é o seu merecimento maior o ódio dos ignorantes e dos maus."
* Ana de Castro Osório. "História do Príncipe encantado no palácio de ferro no reino da escuridão".
Contos Maravilhosos (2ª série).

sábado, 8 de maio de 2010

Natércia Fraga, "Asas do Desassossego"

Para que nos serve o desassossego? “Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir.” Quem assim se justificou foi Bernardo Soares, um dos actores da criação pessoana, num dos excertos do seu Livro do Desassossego. Esta escrita do desassossego passa por uma justificação para vencer a indiferença ou o vazio, para agarrar a vida e construir a biografia, porque, como escreveu Fernando Gandra, só o conformista vive “tranquilo, banalizado”, a ocupar uma “biografia de que não é protagonista, a troco da calma certeza da sua estabilidade” (O sossego como problema, 2008).
Estes considerandos levam-nos a Asas do Desassossego, conjunto de poemas de Natércia Fraga (Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos, 2010), por onde passam fragmentos de vida e de tempo, onde a poesia reflecte a tal “febre de sentir” de que falava Pessoa e onde um eu se constrói a partir das inconstâncias e dos momentos, assumindo o seu retrato feito de tempos e de palavras.
Cinquenta e três poemas surgem agrupados em sete partes, que recebem os títulos “Da Amizade”, “Do Amor”, “De Macau”, “Do Mar”, “De Outros Cânticos”, “Da Solidão” e “Dos Sonhos e das Memórias”. Do conjunto de poemas, cinquenta e dois são datados, pormenor que não pode ser minimizado por causa da relação do poeta com o tempo. Será apenas uma questão numérica e de curiosidade esta dos números, mas, mesmo que não tenha sido intencional, uma organização que passa por estes números não pode deixar de indiciar uma ligação ao tempo (a quantidade de dias da semana – sete partes – ou a das semanas de um ano – o total de poemas), sobretudo porque o tempo determina os poemas, haja em vista que apenas um não é datado (e este servirá para dizer que o eu constrói o seu tempo, na medida em que um poema a mais desconstrói a identificação do número de poemas com a referência das semanas), e porque o próprio tempo é motivação de escrita – “Do tempo vivo num tempo / Que não é o dos relógios / Nem aquele que se conta”, ou, por outras palavras, é o tempo aquele que eu faço, que construo no meu desassossego, marcado por mim ou por aquilo que me marcou, como é dito no final do texto “Do Tempo, poema a Camões”: “Do meu tempo (…) / Sei apenas sabores, odores, tactos, / Sentimentos, pensamentos, / Que forram a transitoriedade do / Tempo mortal e finito / E o fazem sentir vago, etéreo, transcendente…” E lá se justifica o poema sem data, elemento necessário para desfazer a ordem e os números do tempo…
É esta marcação individual do tempo que permite o manuseamento do próprio tempo dos poemas e que eles nem sempre sejam apresentados por ordem cronológica, quase respeitada dentro de cada grupo, mas que em cada grupo recomeça.
Abrangendo um período que se desenrola entre Outubro de 1979 e Agosto de 2008, estes poemas vão marcando também um percurso autobiográfico, como podemos ver através de alguns indicadores que se sobrepõem ao percurso da autora: pelas entradas das dedicatórias (a amigos, a familiares); por um pendor memorialístico presente em alguns dos textos (recuos ao tempo da infância, com memórias à mistura, invocando tempos com o pai, a mãe ou com os avós); pelas referências a uma geografia de vida (que passa pelas ilhas, por Macau, pelo Sado e pela “Serra-Mãe”); pela existência de um grupo dedicado à temática da solidão, cenário indispensável para o encontro do eu consigo, no seu espelho, em busca da sua singularidade, como é visível quando justifica esse mesmo tempo de solidão – “É o preço que pago por ser singular / E conversamos demoradamente / Silenciosamente / Sem rancor nem dor / Como personagens que se desdobram…”; finalmente, pelo próprio texto seleccionado para fechar o livro, em jeito de auto-retrato, que é também assinatura e que novamente insiste no papel que o tempo desempenha: “Sou assim uma espécie de vagabunda / Que se encontra onde os outros se perdem / Vagueando por tempos inexistentes / Todavia tão claros e luminosos / Como fogo de artifício / Desenhado em mil formas e mil cores / Valsando nos espaços siderais…”
Imagens fortes nesta poesia de Natércia Fraga são ainda as que resultam de símbolos como a água – fonte geradora no espaço uterino ou força indomável que abraça a ilha ou emergência da paixão (“venho de noivar com o Mar…”); a ilha – na sua inconstância, oscilando entre a presença e a ausência, o longe e o perto, com a imponência descrita por escarpas e pintada por magma, rochas e flores; o entardecer e a noite – momentos que permitem ao eu entrar dentro do tempo, acordando “adormecidos sons e langorosas tristezas / De trazer por casa”; a infância – tempo de imaginações aconchegadas (“adormecia, sonhando com marés, céus, viagens, / fantasias…”); o amor – nas suas vestes de paixão, frequentemente associado à brevidade e à Natureza, deixando registo em poema feito tela.
Asas do Desassossego surge, assim, para assinalar o equilíbrio do eu, que rejeita a passividade e o sossego. É com um olhar inconformado que são pintados os “Velhos no Jardim”: “O tempo cai gota a gota / Sobre as suas vidas gastas / Sem que nada os espere / Senão as sombras do jardim / Onde tentam ludibriar a morte / Nos baralhos com que jogam / As cartas / Dos dias.” Em Asas do Desassossego, o eu constrói-se pelas memórias constantes, perdendo-se “nos interstícios do tempo” e valorizando espaços “quase inexistentes / (…) / desenhados nas paisagens interiores”, num fulgor em que se diz a própria vida e em que se passeia pelo tempo, algo que é intrínseco ao próprio poeta.
[Na apresentação do livro, hoje, na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal]

quarta-feira, 5 de maio de 2010

No Dia da Língua Portuguesa, entre Pessoa e as provas de aferição

"Minha pátria é a língua portuguesa", escreveu Fernando Pessoa. E esta frase tem feito, como legado, sucesso em tudo quanto seja politicamente correcto sobre a força, a expressão, a vida da língua portuguesa. E poderia haver razões para assim ser, de facto, porque uma língua faz também um povo, porque uma língua é ponte que liga pontos inimagináveis.
Coincidência foi o facto de as provas de aferição de Língua Portuguesa do 6º ano terem ocorrido hoje, com a petizada a preparar-se para o efeito, com preceito. Haja em vista que estas provas não contribuem para a avaliação dos alunos, mas editoras há que publicam uns livros de exercícios com os sugestivos títulos do género de "preparar as provas de aferição"... algo que só pode ser entendido como uma ajuda à imagem que o Ministério da Educação quer ter de si mesmo. E o sistema embarca nisto, mesmo sabendo que os resultados não contam para a avaliação dos alunos, mas para algo como a avaliação do próprio sistema, contribuindo com preparação dos alunos para as provas de aferição, etc., etc.
É claro que a miudagem não pensa nisto, só pensa em alcançar o tão propalado sucesso, pequeno espelho do que pode ter sido o seu trabalho ao longo dos tempos. Mas, apesar de tudo, pensa. Querem ver?
"Ó pai, sabes o que foi uma das perguntas da prova de aferição de hoje? Foi pedido para ordenarmos alfabeticamente uma lista de palavras... Já viste? No 6º ano a fazermos isto!..." E não há palavras. Ou há: com elas se faz a língua portuguesa e hoje era o seu dia. Pena é que com elas também se fazem os padrões de exigência... e, no 6º ano, podia haver perguntas mais interessantes. Ou não?
De qualquer forma... o Pessoa continuará a ter razão: a minha pátria é a língua portuguesa. Mas tratemo-la com um pouco mais de cerimónia, já agora que até celebramos o seu dia!...

Mais um entretenimento...

Mais um caso falado e a continuar... O vice-presidente da bancada socialista da Assembleia da República foi entrevistado pela revista Sábado. Por razões várias, não gostou do curso da conversa e terá ficado com os gravadores dos jornalistas. Entretanto, houve apresentação de queixa por parte dos donos dos aparelhos e, segundo o Público, "Ricardo Rodrigues explica que 'tomou posse', de forma 'irreflectida', de dois gravadores da revista Sábado, durante uma entrevista, porque foi exercida sobre ele uma 'violência psicológica insuportável'."
Ora, esta história não nos admira, porque sabemos como podem actuar os dois lados de uma entrevista. Só é pena que, durante uns tempos, este vai ser o assunto do dia... como se não houvesse mais nada para tratar (pela Assembleia, pelos jornalistas e pelos Portugueses).

Vítor Bento: verdades sobre nós

Em mais uma das entrevistas saídas no Público sobre o futuro, Teresa de Sousa falou com Vítor Bento, presidente da SIBS, economista e conselheiro de Estado. Conversa a ler com atenção, em que se dizem verdades sobre os Portugueses (sobre nós), em que se acredita nas nossas capacidades, em que se apela à reflexão, sem agressividades nem maledicências, apenas com coerência e convidando ao pensamento e à acção. Seleccionei alguns excertos.

POBREZA RELATIVA – “(…) Se nada de substancial for invertido em relação ao nosso curso actual, não duvido de que seremos uma região empobrecida da Europa. (…) O que não quer dizer que o país esteja mais pobre, em termos absolutos. A não ser que haja uma catástrofe muito grande, o mundo há-de continuar a melhorar. O empobrecimento é relativo. No Alentejo, as pessoas estão melhor em termos absolutos, mas pior em termos relativos. (…)”
ADESÃO AO EURO – “(…) Ficou-se anestesiado com o boom de consumo que [a adesão ao euro] produziu e descurou-se a transformação estrutural que era necessário fazer. Não quero dizer que seja fácil fazer essa transformação. Se calhar é difícil ou mesmo impossível. Nos grandes espaços nacionais há muitas vezes regiões que são deprimidas e que assim se mantêm por muito tempo. (…)”
DISCUTIR É POSSÍVEL – “(…) Um dos principais aspectos negativos que tenho a apontar à sociedade portuguesa está em que as pessoas não discutem racionalmente, fecham-se em atitudes quase religiosas em relação às suas crenças. Não conseguem discutir a sua verdade e lidam mal com a verdade do outro, acabando por assumir uma atitude quase religiosa e frequentemente jihadista. Não é o argumento do outro que se discute, é o outro enquanto adversário. (…)”
CONSENSO – “(…) Eu tenho sempre a esperança de que vai ser possível um consenso. Só que muitas vezes esse consenso, por ser conseguido por força das pressões circunstanciais, acaba por acontecer tarde de mais. Uma boa parte dos problemas foram antecipados, era uma questão de ter havido vontade. (…)”
PARTIDOS – “(…) Os partidos são hoje, cada vez menos, fontes de produção de ideias, e, cada vez mais, instrumentos de gestão de interesses. (…) Os partidos hoje têm as suas clientelas e têm de lhes dar expectativas, ou seja, dar-lhes os lugares que dão remuneração e poder. (…)”
SOCIEDADE CIVIL – “(…) Falta-nos uma sociedade civil que forneça as ideias e que estabeleça o patamar de exigência a que os partidos tenham de responder. Os partidos têm de ganhar votos e isso percebe-se. Como também se percebe que tendam a oferecer aos eleitores um discurso que é mais facilmente vendável e que muitas vezes é o demagógico. Por outro lado, a disputa eleitoral para ganhar votos custa muito dinheiro. Aquela ideia de que era tudo militância acabou. Os partidos hoje têm de obter dinheiro e o que é que têm para vender? Influência. (…) A nossa sociedade civil vive demasiado encostada ao Estado. Era preciso conseguir a independência do Estado - creio que é um dos aspectos mais importantes, se queremos mesmo mudar as coisas. (…) Só a sociedade civil tem condições para poder exigir uma plataforma de maior exigência aos partidos. Precisamos de ter um enriquecimento das instâncias cívicas que tornem os eleitores mais conscientes sobre as suas decisões, obrigando os partidos a responder a este nível de maior exigência. (…)”
ESTADO LIMITADOR – “(…) A independência é assegurar que a máquina do Estado está ao serviço do direito, em primeiro lugar, depois da decência, e, finalmente, dos partidos políticos. Hoje, é precisamente ao contrário. Isto altera muito as regras do jogo, porque põe o Estado como instrumento de retaliação contra quem não actua de acordo com a orientação política em vigor num determinado momento. Limita muito a capacidade de expressão e de intervenção. Não há nenhuma limitação formal à liberdade de expressão, mas o resultado deste condicionamento que resulta da retaliação do Estado é que quem tem a informação não fala, deixando o terreno livre para que fale quem normalmente não tem informação. (…)”
ESPAÇO PÚBLICO – “(…) O espaço público esteja em grande medida ocupado por ignorantes encartados. Falam do que não sabem e é isso que faz com que nos habituemos a discutir sem argumentos sustentados nem quantificações. (…)”
EMPRESÁRIOS – “(…) Não sei se se pode dizer que a classe empresarial seja fraca. Apesar de tudo, o nível de sucesso que temos deve-se à classe empresarial. (…)”
SERVIÇO PÚBLICO – “(…) Hoje em dia, requer um certo estoicismo trabalhar nos serviços públicos, porque as pessoas correm o risco de ser vilipendiadas por tudo e por nada. Os comentários que se vêem nos jornais ou nos blogues são verdadeiramente extraordinários. (…) A comunicação social lança facilmente insinuações sobre as pessoas, umas vezes por iniciativa própria, outras por encomenda. Isso é relativamente fácil hoje em dia, e as pessoas estão sujeitas a ver o seu bom nome sujo por causa disso. Se o sistema de justiça funcionasse rápida e eficazmente, isso esclarecia-se e portanto o bom nome das pessoas seria protegido e as acusações infundadas seriam castigadas. E isso afasta as pessoas da política, porque tem um custo muito grande para o qual já nem sequer há reconhecimento. (…)”
OPINIÃO, PALPITES E VERDADE – “(…) A democracia tem de ter processos e há certos mecanismos de decisão que não podem ser popularizados. Por outro lado, nesta democracia de opinião não há mecanismos de certificação da opinião, o que não tem nada a ver com diversidades de opinião. Tem a ver com certificação da qualidade. A comunicação social tanto valor dá ao palpite de café como à opinião fundamentada. O palpite até tem mais saída, e se, perante a opinião pública, ambos são certificados no mesmo nível, a opinião pública escolhe sempre o mais fácil. Isto condiciona o decisor político, que tem dificuldade em decidir contra aquilo que são as expectativas da população, porque se não vai perder. (…)”
EDUCAÇÃO – “(…) O ensino não é suficiente exigente. E, por outro lado, creio que existe um problema cultural que é a falta de ambição. Uma das razões por que temos uma das mais elevadas taxas de abandono escolar tem a ver com a falta de ambição. Os miúdos chegam a uma determinada idade, arranjam o emprego com o salário mínimo e não estão para se aborrecer. (…) O ensino [deixou] de valorizar a qualidade para valorizar a quantidade e a igualdade, que são apenas aparentes. (…)”
REDUZIR CUSTOS – “(…) A redução de custos passa, em última instância, pela redução de salários e o simples facto de falar nisso é sacrílego. Vai acabar por acontecer da forma mais violenta, porque as pessoas que forem para o desemprego, quando voltarem ao mercado de trabalho, será com salários mais baixos. (…)”
CENTRO DO TRIÂNGULO E AEROPORTO – “(…) Nós, se nos virmos apenas como europeus, estamos na periferia e as condições são-nos desfavoráveis. Mas podemos vermo-nos como o centro de uma triangulação mais interessante - de que a Europa faz parte. Temos vantagens grandes, a da língua e a dos laços culturais com dois continentes. E, pelo menos em relação ao africano, ainda mantemos um laço de afectividade grande, independentemente das tensões e dos ressentimentos que vão sendo ultrapassados. Basta perceber qual é o futebol que eles vêem em Angola, por exemplo. É essa uma razão pela qual, entre os grandes investimentos, o aeroporto talvez seja o mais importante. Não tem de ser feito todo de uma vez, mas é importante. (…)”
DESTINO PARA PORTUGAL – “(…) Precisamos de reinventar um novo destino - que pode ser este de Portugal como plataforma do mundo. Uma nova plataforma de ligação intercontinental - o que implica o aeroporto, os portos. A primeira entrada atlântica na Europa é aqui. Um destino para actividades de saúde e de terceira idade. Um grande centro universitário nalgumas valências particulares. Precisamos de think tanks e mesmo organismos ligados ao Estado que estivessem a fazer este tipo de reflexão, e isso obrigaria os partidos a olhar para eles e a defendê-los do ponto de vista da sua exequibilidade. Mas as próprias autoridades políticas ouvem pouco e só ouvem o imediatismo. (…)”

terça-feira, 4 de maio de 2010

Intervalo (18) - Provérbios deste tempo

Desconheço a autoria. Uma amiga enviou-me a lista de provérbios deste tempo, que reproduzo pela imaginação, pela actualidade e também por outras menos geniais razões. Aqui ficam, pois, 32 adaptações de provérbios aos tempos que correm, dominados pelo teclar informático...

01. A pressa é inimiga da ligação.
02. Amigos, amigos, passwords à parte.
03. Antes só do que em chats aborrecidos.
04. A ficheiro grátis não se olha o formato.
05. Diz-me que chat frequentas e dir-te-ei quem és.
06. Para bom fornecedor uma password basta.
07. Não adianta chorar sobre ficheiro apagado.
08. Em briga de namorados virtuais não se mete o mouse.
09. Em terra off-line, quem tem um 486 é rei.
10. Hacker que ladra, não morde.
11. Mais vale um ficheiro no HD do que dois a descarregar.
12. Rato sujo limpa-se em casa.
13. Melhor prevenir do que formatar.
14. O barato sai caro. E lento.
15. Quando a esmola é muita, o santo desconfia que tem um vírus anexado.
16. Quando um não quer, dois não teclam.
17. Quem ama um 486, Pentium 5 lhe parece.
18. Quem clica os seus males multiplica.
19. Quem com vírus infecta, com vírus será infectado.
20. Quem envia o que quer, recebe o que não quer.
21. Quem não tem banda larga, caça com modem.
22. Quem nunca errou, que clique na primeira tecla.
23. Quem semeia e-mails, colhe spams.
24. Quem tem dedo vai a Roma.com.
25. Um é pouco, dois é bom, três é chat ou lista virtual.
26. Vão-se os ficheiros, ficam os back-ups.
27. Diz-me que computador tens e dir-te-ei quem és.
28. Há dois tipos de pessoas na informática. Os que perderam o HD e os que ainda vão perder...
29. Uma impressora disse para outra: Essa folha é tua ou é impressão minha.
30. Aluno de informática não cola, faz backup.
31. O problema do computador é o USB (Utilizador Super Burro).
32. Na informática nada se perde, nada se cria. Tudo se copia... e depois se cola.

sábado, 1 de maio de 2010

Sobre a preguiça e a(s) crise(s)

«O líder parlamentar do CDS-PP, Pedro Mota Soares, afirmou hoje em Ponta Delgada que o Rendimento Social de Inserção (RSI) “está descontrolado”, exigindo uma fiscalização para que o Estado deixe de “financiar a preguiça”. (…) “O rendimento mínimo, um subsídio dado a muita gente que escolheu não trabalhar e conseguiu um salário à custa dos impostos dos contribuintes, está descontrolado”, afirmou o líder parlamentar centrista. (…) “Não é possível haver pessoas que nunca saíram do rendimento mínimo em 10 anos. Isso prova que algo está errado”, afirmou. (…) Para Pedro Mota Soares, “se as pessoas não querem trabalhar, essa é uma opção legítima, mas o Estado não pode financiar a preguiça”. (…)»
«Erro de Portugal “foi ter sido calaceiro”, afirma Passos Coelho. O erro de Portugal, ao aderir à moeda única, “não está em ter sido ambicioso, está em ter sido calaceiro”, afirmou, esta noite, em Coimbra, Pedro Passos Coelho. “Nós fomos ambiciosos ao entrar no euro”, mas, “simplesmente”, depois, “pusemo-nos a dormir durante estes anos todos”, criticou o líder do PSD, que falou em mais uma sessão dos Serões das Províncias, iniciativa do semanário Campeão das Províncias. “A entrada no euro, a adesão à união económica e monetária, foi um projeto extremamente ambicioso”, mas “prejudicou a nossa competitividade” e “transmitiu a todo o país alguma ilusão de dinheiro fácil”, referiu.(…)»