terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

"Dicionário de newspeak empresarial"

"Excerto do Pequeno guia para uso dos trabalhadores durante a marcha gloriosa das vitórias da produtividade
O bem-estar dos trabalhadores é importante para nós: Vamos instalar vending machines no hall para não terem desculpas para ir ao café.
A segurança dos nossos trabalhadores é uma prioridade: Se essa porta não estivesse fechada vocês passavam o dia todo na rua a fumar.
A mobilidade é um imperativo da produtividade: Devemos ir para onde a mão-de-obra seja mais barata.
A deslocalização é um imperativo logístico: Os albaneses trabalham mais barato que vocês e ficam mesmo ao pé de Itália.
Na era da Internet a localização geográfica de uma empresa é irrelevante: Os chineses ainda trabalham mais barato que os albaneses.
Nesta empresa, o mais importante são as pessoas: Custa-me imenso despedi-los a todos.
Precisamos de libertar uma parte da nossa mão-de-obra: Vamos despedir 200 tipos.
Precisamos de reduzir os custos fixos: Vamos despedir 200 tipos.
Temos de apostar na flexibilidade: Vamos despedir 200 tipos e contratar uns brasileiros a recibo verde.
As promoções têm de ser fruto do mérito: As mulheres que engravidem podem esquecer a promoção.
Os imigrantes têm óptima formação e forte espírito de equipa: Como os ucranianos não estão legalizados não podem apresentar queixa.
Precisamos de apostar no outsourcing: Não temos dinheiro para pagar aos nossos técnicos.
Precisamos de vestir a camisola: Este ano não vai haver aumentos.
O esforço de reengenharia está apenas a dar os primeiros passos: Ainda não sabemos quantos empregados vamos despedir.
Vamos iniciar um processo profundo de reestruturação: É provável que sejam quase todos despedidos.
Estamos a encarar a possibilidade de downsizing nalguns sectores: A única maneira de continuarmos a ter dinheiro para pagar os salários dos gestores é fazer alguns despedimentos.
Precisamos de sangue novo: Como é que se chama aquela rapariga de mini-saia e óculos vermelhos que estava a sorrir para mim?
Temos uma forte consciência do papel social da nossa empresa: Estamos a tentar obter uns subsídios.
Precisamos de ideias novas: Vamos despedir as pessoas com os salários mais altos...
Precisamos de renovar a lógica de organização da empresa: Vamos mudar o nome dos departamentos.
Estamos a repensar a missão da empresa: Pagámos uma fortuna a uns consultores para desenhar um novo logótipo.
Devíamos fazer um brain storming: Não faço ideia.
Estou só a lançar ideias para cima da mesa: Não li o dossier.
Temos de pensar out of the box: Alguém tem uma ideia?
Temos de repensar o nosso core business: Tecnicamente estamos na falência.
Precisamos de aumentar o share of mind da nossa empresa: Ninguém sabe que nós existimos.
Fizemos um realinhamento estratégico: Pagámos uma fortuna a uns consultores que nos provaram que os consultores anteriores a quem tínhamos pago uma fortuna se tinham enganado redondamente.
"
O texto é de José Vítor Malheiros e vem no Público de hoje. Pode servir para alguém que não saiba como dizer coisas desagradáveis, mas deve servir para se entender o que alguém que se sirva desta cábula (ou de outra semelhante) quer dizer. Pertinente, pela actualidade e pelas metáforas que nos vão invadindo (muitas delas com intenção de nos ludibriarem)...

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado por nos dar a possibilidade de chegar às suas ideias.