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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Histórias para lembrar em 2020, em Portugal, em Setúbal e no mundo



O tempo que passa também se faz com a memória. De pessoas e de acontecimentos. Que podem ser muitos, que podem ser escolhidos consoante as nossas vivências, conforme aquilo que nos marca ou o que sabemos.
Eis uma lista de acontecimentos que podem ser assinalados em 2020, um pouco na linha de lembrar os tempos redondos... Lembranças, apenas lembranças. Um grupo apenas: “Em Portugal, em Setúbal, no mundo”.

Em Portugal, em Setúbal, no mundo
1520 (500 anos) - travessia do estreito e entrada no Pacífico por Fernão de Magalhães.
1540 (480 anos) - nascimento de Frei Agostinho da Cruz.
1720 (300 anos) - criação da Academia Real de História; nascimento do setubalense João Henrique de Sousa (14 de Julho), que viria a ser o primeiro Lente da Aula do Comércio (fundada pelo Marquês de Pombal).
1770 (250 anos) - nascimento de Beethoven (17 de Dezembro).
1820 (200 anos) - nascimento de Anne Brontë(17 de Janeiro); golpe de estado no Porto, instaurando-se o regime liberal (24 de Agosto); publicação de Ivanhoe, de Walter Scott; descoberta da Vénus de Milo.
1870 (150 anos) - publicação de Mistério da Estrada de Sintra, de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão.
1920 (100 anos) - nascimento de Isaac Asimov (2 de Janeiro), Federico Fellini (20 de Janeiro), José Mauro de Vasconcelos (26 de Fevereiro), João Paulo II (18 de Maio), Ruben A. (26 de Maio), Mário Sacramento (7 de Julho), Amália Rodrigues (23 de Julho), Mario Puzo (15 de Outubro), Gianni Rodari (23 de Outubro), Paul Celan (23 de Novembro), Clarice Lispector (10 de Dezembro); entra em funcionamento a Sociedade das Nações (16 de Janeiro), que será dissolvida em 1946; é entronizada em Fátima (13 de Junho) a imagem esculpida por José Ferreira Thedim (1892-1971); difusão dos primeiros programas radiofónicos; publicação de Ensaios(1º volume), de António Sérgio, e de Clepsidra, de Camilo Pessanha; greve geral de 24 horas (Abril), afectando serviços de Setúbal, Barreiro e Almada; fundação oficial do Clube Naval Setubalense (6 de Maio); inauguração do troço ferroviário Alcácer-Setúbal (24 de Maio); nascimento de Joaquim José de Campos (futebolista e dirigente do VFC, 15 de Fevereiro).
1970 (50 anos) - Francisco Sá Carneiro e Pinto Balsemão apresentam na Assembleia Nacional projecto de lei de imprensa que prevê o fim da censura prévia (22 de Abril); Salvador Allende eleito presidente do Chile (21 de Janeiro); Soljenitsyn recebe o Prémio Nobel da Literatura; Alvin Toffler publica O Choque do Futuro; pela primeira vez na história da Igreja, duas mulheres recebem o título de “doutoras da Igreja”: Santa Teresa de Ávila (27 de Setembro) e Santa Catarina de Sena (4 de Outubro); falecimento de Bertrand Russell (2 de Fevereiro), Almada Negreiros (15 de Junho), Oliveira Salazar (27 de Julho), Jimi Hendrix (18 de Setembro), Erich Maria Remarque (25 de Setembro), John dos Passos (28 de Setembro) e Charles de Gaulle (9 de Novembro); falecimento dos setubalenses Óscar Paxeco (Fevereiro), de Luís Gonzaga do Nascimento (1 de Setembro) e de João de Castro Osório (Novembro).

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Em dia de Fernando Pessoa (7), 82 anos depois da partida



"Mar Português", um dos mais extraordinários poemas em língua portuguesa. Na loja do "Mundo Fantástico das Conservas Portuguesas", em Lisboa.

domingo, 18 de junho de 2017

Setúbal entre 40 destinos europeus da "Hola - Viajes"



O nº 25 da revista espanhola Hola - Viajes, recentemente saído, é dedicado ao tema “40 Escapadas desconocidas a lugares únicos por Europa en bici, en barco, a pie, en coche”. A estas propostas são acrescentadas mais “10 Viajes increíbles por el resto del mundo”.
Fixemo-nos nas 40 primeiras, em que Portugal obtém três propostas de itinerários e de visitas: às adegas e vinhedos do Douro, aos arredores de Lisboa (“De Belém a Mafra”) e a Setúbal (“Avistar delfines en el estuário del río Sado”).
A cada proposta de visita são atribuídas quatro páginas, incluindo texto e fotografias. No caso do roteiro para o estuário do Sado, assinado por Andrés Campos (que subscreve as outras duas propostas lusitanas), a referência começa com a Arrábida, mais especificamente com o palácio da Comenda (“En 1964, pocas semanas después de que asesinaran al presidente Kennedy, su viuda Jacqueline decidió retirarse al lugar más discreto e insospechado del mundo, donde nada ni nadie le recordaran constantemente quién era y lo que acababa de suceder. Ese lugar no estaba en la Polinesia, ni en el Índico, ni en la Patagonia, sino en Setúbal, a solo 50 kilómetros al sur de Lisboa. Medio siglo después, el palacio da Comenda, donde Jackie se refugió con sus dos hijos, es una ruina melancólica que no encuentra comprador porque custa 45 millones de euros y también porque la gente que podría pagarlos prefiere fondear su yate en parajes exclusivos más que un cala que, a diario, es un paraíso solitario de agua esmeralda, donde nadan confiadamente los delfines.”
Assim iniciada a rota, a proposta faz o viajante seguir pelo Parque Natural da Arrábida, com visita às suas praias, incluindo a Lapa de Santa Margarida e a prática de vários desportos e actividades radicais. Lembra ainda a observação de aves no estuário, os golfinhos e, na gastronomia, o choco frito, que, com ironia, refere da seguinte forma: “en realidad, lo extraño no es que haya delfines, sino que aún queden chocos, porque entre los que devoran estos cetáceos y los que comen a todas horas los setubalenses, sobre todo, fritos, debían de haberse extinguido en la bahia hace siglos.” E termina com esta tirada, talvez irónica, talvez mágica: “Ciertamente, estas aguas son milagrosas.”
A proposta segue ainda pelo moinho de maré da Mourisca, onde pode ser feita a prova do queijo de Azeitão e respectivo moscatel e onde o visitante pode avistar aves. Entre os monumentos, a revista chama a atenção para o Mercado do Livramento, o Convento de Jesus, a Galeria Municipal (no edifício do Banco de Portugal), a fortaleza de S. Filipe.
As propostas podem ser lugares comuns, mas figurar ao lado de recomendações de visita às baleias na Islândia, aos ursos selvagens na Finlândia, às abadias de Lovaina na Bélgica, à magia da Cornualha em Inglaterra, entre muitas outras, vale bem a pena esta promoção de Setúbal. Entre os 40 destinos europeus, apenas Portugal, França e Áustria surgem com três propostas; com duas, há a Islândia, a Escócia, a Itália, a Alemanha, a Finlândia, a Croácia, a Noruega, a República Checa e a Grécia; com um itinerário surgem países como Inglaterra, Geórgia, Montenegro, Chipre, Roménia, Holanda, Polónia, Suíça, Eslovénia, Malta, Bélgica, Irlanda e Eslováquia.

domingo, 14 de maio de 2017

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

ONU - O senhor que se segue - António Guterres



António Guterres, português, é o senhor que se segue na lista e na história como secretário-geral da ONU. Parabéns, engenheiro António Guterres!
Fotos: Quadros em tapeçaria dos SG da ONU (sede da ONU, Nova Iorque)

terça-feira, 12 de julho de 2016

No desporto, parabéns, a todos os títulos... (mesmo que custe aos franceses)



Dizia Rogério Alves há minutos na SIC-Notícias que "Descartes é francês, mas o futebol não é cartesiano". Eis uma lição que muita gente não percebeu, a começar pelos comentadores que eram pró-França no Europeu de Futebol!...
Claro que, no Domingo, Portugal mereceu todos, mas todos, os parabéns no desporto: no atletismo, pelo primeiro lugar de Sara Moreira (meia maratona feminina, em 1h10'19'') e de Patrícia Mamona (triplo salto, de 14,58 m), e pelo terceiro lugar de Jéssica Augusto (meia maratona feminina, em 1h 10'55'') e de Tsanko Arnaudov (lançamento de peso, com 20,59 m); no futebol, com o título de Campeões Europeus, obtido pela Selecção Nacional no Stade de France, com um golo de Eder aos 109'. Tudo, depois de Ana Dulce Félix, ter sido a segunda classificada nos 10 mil metros...
Quanto aos comentários... volte-se ao cartesianismo de que Rogério Alves falou.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Sobre "Os últimos marinheiros", de Filipa Melo



Magnífica reportagem, é o mínimo que se pode dizer do livro Os últimos marinheiros, de Filipa Melo (Col. “Retratos da Fundação”. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2015), uma reportagem que mistura o retrato, a informação, o sentimento, as vozes, a opinião, em que não se apagam os afectos de quem narra. Lê-se o título e percorre-nos uma sensação de fim de ciclo ou de final de história, não porque um ou outra se cumpram, antes porque os tempos são o que são, antes porque a relação de Portugal com o mar, sendo geográfica, tradicional e histórica, é também paradoxal. É assim que sucede com Os últimos marinheiros, título a cheirar a nostalgia, a barcos no cais, a contemplação do mar e das vidas.
O contado resulta de duas viagens a bordo: uma, em 2009, no “Port Douro”, navio de carga da Portline Bulk International, em circuito entre Lisboa, Leixões, Caniçal e volta; outra, em 2015, no “Neptuno”, navio de pesca de arrasto, ao largo da Figueira da Foz. Ao longo das duas viagens, Filipa Melo conta as especificidades de cada um dos navios, esclarece muito do vocabulário náutico, ouve as personagens reais com quem viajou, conta-lhes e deixa que elas contem as suas histórias, dá nota das dificuldades e da camaradagem na companha, enquanto o leitor vai entrando nesse universo, quase integrando a tripulação ou, pelo menos, com ela confraternizando também.
São retratos de descrição do estado das coisas ou que favorecem uma leitura quanto a esse estado das coisas, essa (suposta, talvez obrigatória, talvez frágil) ligação de Portugal com o mar. Logo no início do livro, uma verdade que nos flagela os sonhos: “Em Portugal, os homens do mar estão em vias de extinção, ou quase”. E, dois parágrafos adiante, a crueza: “Inclinados perante a Europa, virámos as costas ao mar. País de marinheiros? A actualidade do nosso imaginário mítico marítimo dissolve-se no desprezo colectivo pelo mar. Estendidos nas praias, vemos passar navios, ao longe, cada vez mais ao longe. O mar não existe nem sequer como conceito do poder da nação.” Fortes estas imagens! Logo associo ao nome de um restaurante lisboeta que, perante a vista que se esparrama sobre o Tejo, não foi baptizado de forma estranha: “A ver navios”. Afinal, a poesia da saudade e dos longes que uma frase contém também pode esconder a face do desprezo… Quarenta páginas andadas, depois de relatos e de vivências, a mesma conclusão: “O declínio do nosso sector das pescas acompanha a tendência da maioria dos países com tradições piscatórias. Mas a falta de interesse dos portugueses pelo mar como activo nacional importante diz mais da difícil gestão dos nossos imaginário simbólico-poético e herança histórica e da ainda mais difícil distribuição de estatuto social. Se a nação fosse de marinheiros, com certeza a mais-valia das pescas ficaria no sector. Não é de todo o que acontece por cá.” Que dura conclusão para António Nobre, que, hoje, não poderia convidar Georges a vir visitar o seu “país de marinheiros”!
Ao longo de setenta páginas, vamos convivendo com portugueses “cuja principal fonte de sustento ainda é a navegação no mar”, homens e mulheres que “estão acostumados ao horizonte que se eleva, permanece em cima por segundo e volta a mergulhar. Uma vez, outra, outra, outra. Alguns, mesmo nos momentos mais difíceis, mantêm a placidez da gaivota, pousada sobre a imensidão da água como se de um banco de jardim se tratasse.”
Pelas histórias reais que Filipa Melo vai registando vai passeando também a literatura, com incursões de Conrad, de Pierre Loti, de Fernão Mendes Pinto, de Hemingway, de Camões, de Antero de Quental, de Sérgio Godinho, de Raul Brandão, de Baudelaire, de António Vieira, de Álvaro de Campos, de Yukio Mishima, de Ternazi, de Jorge Amado e de Júlio Verne, havendo ainda lugar para o romanceiro chegado através da “Nau Catrineta”, segmentos de obras de ficção, de poesia ou de relatos, que sustentam a grandeza do que é a relação do homem com o mar (com pena de que não tenha sido trazido também o nome de Bernardo Santareno a partir das suas crónicas de Nos mares do fim do mundo). Nessas histórias reais, os entrevistados falam do que sabem – da família, do mar, dos seus sonhos e de como chegaram ao mar, das aventuras e perigos passados, das suas leituras, das epopeias de que eles são heróis. E dão-se-nos, entre muitas, as experiências de Cristina Alves, a mulher que tem histórias bem dispostas para se inserir numa comunidade que era apenas masculina, ou a do sesimbrense António Rocha, cozinheiro de bordo, com uma história de vida que dava um livro…
Viajando num navio de carga ou num navio de pesca de arrasto, Filipa Melo é sobretudo sensível à experiência humana perante os oceanos – “O denominador comum das histórias e casos de vida que reproduzo ao longo deste livro é a necessidade de ajuste, mais ou menos voluntário, mais ou menos violento, do homem ao ritmo do mar.” E, mesmo depois de realizadas as viagens, a vida das personagens foi seguida, havendo a preocupação de localizar no presente mesmo aqueles com quem viajou em 2009.
Neptuno, o deus romano dos mares que dá nome ao navio da experiência de 2015, terá recebido bem este retrato em que o mar se destaca não só pela matemática da lonjura e do infinito, mas também por ser respeitado, pois, como confidencia Telma Cunha (que era oficial-imediato em 2009 e agora é capitã e também tem o hábito de frequentar o festival poveiro “Correntes d’Escrita”) sobre o mar: “Pode estar num momento muito calmo e, logo a seguir, ficar todo trapalhão. Dentro do navio, sente-se sempre, a toda a hora, a imensidão dele à nossa volta. É esmagador, não nos podemos fiar.”

Sublinhados
Mar – “O mar tanto oferece, tanto ruge, segundo leis desconhecidas. Despreza mitificações e romantismos, faz pagar caro os despiques, exige submissão absoluta. Se ele é a religião da Natureza, a poucos homens é concedida a verdadeira graça do culto.”
Descobrir – “Só se descobre aquilo que já existe.”
Olhar – “Cada um olha para o mar da maneira como olha para dentro de si mesmo.”

sábado, 20 de setembro de 2014

Para a agenda - Dia Mundial do Mar



O Dia Mundial do Mar, em Setúbal. Seminário, visitas a embarcações (e que embarcações!!!), exposição de bd... Quando tanto se fala do mar e do alargamento do território português sobre o mar; quando se sabe que o mar é parte indispensável da identidade lusitana... A não perder!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Para a agenda: "Deuses, túmulos e sábios" em Setúbal



Mais um evento com a assinatura Synapsis. Victor Gonçalves falará sobre vida, morte e magia nas antigas sociedades camponesas do Centro e Sul de Portugal. Entrada livre.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A batalha do 9 de Abril de 1918 vista por Ferreira do Amaral



A batalha do Lys, conhecido feito militar em que os portugueses participaram em Abril de 1918, no decurso da Primeira Grande Guerra, quando estavam em campanha na Flandres, nem sempre reuniu o consenso na interpretação, sobretudo dentro de Portugal. Prova disso é a obra de João Maria Ferreira do Amaral (1876-1931) intitulada A batalha do Lys, a batalha de Armentières ou o 9 de Abril (Lisboa: Tipografia do Comércio, 1923), escrita quando o autor estava em Benguela, por 1920, inicialmente publicada “em folhetim no Jornal de Benguela”, depois em separata de um milhar de exemplares pelo mesmo periódico e, posteriormente, em volume autónomo, em Lisboa.
As razões para tal publicação, surgida no jornal logo dois anos depois do acontecimento da La Lys (e em livro cinco anos depois), refere-as o autor em “Explicação prévia”: “nunca será demais marcar factos que tão deturpados têm sido pela confusão política, que sobre tudo o que respeito diz à nossa participação na Guerra, se tem dito e escrito”. Assim, pisando um caminho em que é dada a voz justamente ao homem que coordenou o ataque à frente portuguesa, o general Erik Ludendorff (1865-1937, através da sua obra Souvenirs de guerre, de 1920), e ao general Gomes da Costa (1863-1929), que estivera nas funções de comando do Corpo Expedicionário Português na Flandres (através do seu escrito Batalha do Lys), Ferreira do Amaral insiste nas preocupações que o orientaram: elaborar “um vulgaríssimo trabalho de compilação e sobretudo um relato de pessoas, lugares, factos e datas, que a actual geração portuguesa não pode nem deve ignorar” e “apresentar os factos sem paixão, colocando-me tanto quanto possível como árbitro”. Assinalar essa ausência de paixão esbarra com o percurso do próprio autor, que esteve na Flandres e que, num outro livro, A mentira da Flandres e… o medo! (Lisboa: Editores J. Rodrigues & Cª, 1922), redigiu curta nota biográfica logo na página de rosto, dizendo que, enquanto esteve em França, “nunca quis vir de licença a Portugal” e que “marchou para França sem lhe competir por escala ou por escolha, mas simplesmente coagido por motivos de ordem pessoal e razões de ordem puramente militar”… No entanto, Ferreira do Amaral mostra-se coerente, pois não fala da ausência de paixão sem reconhecer também que desempenhará o papel de árbitro “tanto quanto possível”.
A primeira frase da sua monografia retoma o que vem da “explicação”: “Como é do conhecimento de todos, ninguém em Portugal chegou até hoje a ter uma noção aproximada do que foi o 9 de Abril”. Mas não é apenas esta ignorância que preocupa o autor, porque, umas linhas adiante, a acusação tem destinatário: “Toda a política do meu país, dos últimos seis anos, caiu [itálico do autor] sobre os soldados de Portugal, que na Flandres receberam um dos muitos e vários ataques com que os alemães procuraram vencer os aliados”. Uns parágrafos depois, o humor e a ironia de Ferreira do Amaral não perdoam as diferentes interpretações atribuídas aos democráticos e aos sidonistas, uns e outros culpando-se quanto à responsabilidade do que se passou na Flandres: por um lado, esqueceram-se ambas as ideologias “de que o general alemão Ludendorff não consultou nenhum dos partidos políticos de Portugal para tomar a deliberação de forçar o caminho de Calais nesse dia”; por outro lado, “ambos os adversários chamam desastre ao que se passou nesse dia com os portugueses, que procuraram evitar o avanço alemão até onde o seu máximo esforço o permitia”, sendo “caso para notar uma falta que ambos os partidos cometeram para se poderem acusar mutuamente – foi a de não terem enviado a tempo delegados especiais para assistirem ao desastre!”
Depois de acompanhar as leituras apresentadas por Ludendorff e Gomes da Costa, Ferreira do Amaral tenta desfazer os equívocos, apresentando os acontecimentos do 9 de Abril de 1918 como um episódio de um projecto mais vasto, ligado à estratégia militar e bélica germânica, de uma ofensiva que se iniciara em 21 de Março e teve conclusão em 18 de Julho (quando os franceses passaram a “muralha” dos alemães, assim se iniciando uma ofensiva dos aliados): “Não se julgue que o 9 de Abril se resumiu a um ataque isolado contra os portugueses, que estavam nesse dia a defender 12 quilómetros de frente. Até 25 de Abril, houve todos os dias… um 9 de Abril para ingleses e franceses, isto é, a batalha começou em 9 de Abril e acabou em 25 de Abril. (…) A anterior batalha [de Amiens] começara a 21 de Março e terminara a 4 de Abril. À batalha começada a 21 de Março chamaram os alemães a batalha da França. À que começou em 9 de Abril chamaram aliados e alemães a batalha de Armentières. Nós tomámos parte em um dia dessa batalha, o começo, e o general Gomes da Costa chama-lhe a batalha do Lys reservando assim um justo título para o nosso esforço entre os aliados, pois que nós não defendíamos Armentières, mas sim parte da bacia da ribeira de La Lys.” Se ainda assim se mantivessem os detractores da coragem portuguesa, Ferreira do Amaral deixava a lembrança: “de 18 de Julho em diante, tivera Ludendorff muitos 9 de Abril, tal qual ingleses e franceses os tiveram de 21 de Março até essa data”. E, para que dúvidas não restassem, uma citação do amigo e camarada Gomes da Costa enaltecia a participação lusa: “a 2ª Divisão Portuguesa com os seus 7500 homens perdidos, dos quais 327 oficiais, demonstrou à evidência que se bateu com bravura e com honra e que, se mais não fez, foi porque era humanamente impossível”.
O plano alemão de, através desta ofensiva, conseguir chegar a Calais e assim dominar o Norte de França não começou favoravelmente para os seus autores e, em Julho, teria o seu termo. Pelo caminho, muitos momentos semelhantes aos do sofrimento e luta dos portugueses ficaram: “que a ninguém fiquem dúvidas sobre o destino que uma divisão francesa, inglesa ou americana teria no dia 9 de Abril se estivesse onde esteve a 2ª Divisão Portuguesa – quem lá estivesse seria esmagado, atropelado e… varrido.”
Para atestar o feito português, o autor não hesita em convocar excertos de reconhecidíssimos órgãos de informação (Reuter, Times, Daily Mail, Matin) que foram elogiosos na classificação da atitude lusa. Mas o humor de Ferreira do Amaral avança, questionando os maldizentes: “Que situação resta agora aos mortos, feridos e sobreviventes da batalha do Lys?” A resposta é longa, sugerindo que talvez todos tenham de “pedir desculpa ao cidadão português”, uns porque não resistiram “à caqueirada de ferro”, outros por “não lhes ter sido possível morrer” e outros “por não terem fugido logo de manhã”…
O próprio comandante do CEP, o general Tamagnini de Abreu (1856-1924), não é poupado, sendo invectivado de forma contundente: “O que diz do 9 de Abril o general português Tamagnini de Abreu, comandante do CEP? Até agora não disse nada nem dirá nunca, porque as maçadas estão proibidas”. E os políticos também não escapam a acusações e ironias: “Ludendorff nesse dia atacou os soldados de Portugal que encontrou pela frente e deixou em paz todos os nossos políticos”.
É, pois, sugerido ao leitor que aqueles que foram heróis estão isolados e desprezados, mesmo quando o valor lhes é reconhecido por alguns. No entanto, este livro quer repudiar essa ideia transmitida pela depreciação e conclui com uma lição sobre o mérito, depois de mais um libelo contra quem desprestigia uma condecoração como a Cruz de Guerra Portuguesa, contra os comentários depreciativos movidos pela inveja e pela mesquinhez: “em qualquer dos países que se bateu nesta guerra, vencido ou vencedor, [o soldado português] sentiria que era duas vezes cidadão: primeiro porque tinha uma bandeira que representava para todos (…) um símbolo de tradições honrosas (…); segundo, porque os seus compatriotas se sentiram honrados por Eles e pelo Seu Esforço Particular e Pessoal no campo aberto aos maiores sacrifícios”.
Em pouco mais de sessenta páginas, Ferreira do Amaral pretendeu chamar a atenção para o estado do CEP, para as dificuldades que lhe tinham sido criadas e para a singularidade do combatente português. Foi uma maneira de dar azo a que a verdade saltasse e a que a história fosse reconstruída.
[Esta obra está disponível no formato e-book]

sábado, 19 de janeiro de 2013

"Há dias em que me apetece desaparecer... penso sair do país"


Há dias, a propósito do estudo da escrita autobiográfica, convidei os alunos a escreverem um texto sob o título “Quem sou eu?”, género de auto-retrato, lembrando-lhes que só se deviam expor até ao ponto que quisessem.
M. tem 14 anos, frequenta o 8º ano. Acabei de ler o seu trabalho e, quando vi os dois últimos parágrafos, senti um arrepio. Aqui os transcrevo. O leitor perceberá porquê.


(…) Há dias em que me apetece desaparecer, porque as pessoas não percebem que o nosso país vai de mal a pior e se ninguém contribuir para um mundo melhor isto vai ficar mesmo mal, até chegar ao ponto de não existirem crianças no nosso país, mas espero que isto melhore e que fique tudo bem.
Sempre quis ser professora, mas isto está muito complicado cá em Portugal. Por isso, penso sair do país, um dia mais tarde. Todas as pessoas dizem que isto vai melhorar, e eu espero bem que sim, mas de certa forma tenho medo de ficar em Portugal e não ter uma vida digna.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

No estado a que Portugal chegou, é difícil encontrar melhor...

Concordo com Henrique Monteiro na sua crónica "Vamos falar a sério do próximo governo". Com efeito, já basta de falta de habilidade política, de massacre sobre as consciências dos portugueses, de derivas e desnortes, de incompetência na liderança, de avanços e recuos, de soluções impensáveis porque impraticáveis, de demagogia (seja ela oriunda da política, da finança ou de outra área qualquer). Já fizeram terramotos que chegassem. Já desmotivaram e desmoralizaram qb. Há que optar por outra solução porque a presente já não merece que se acredite.
Das várias encenações inventariadas por Henrique Monteiro, a última parece-me também a menos má. Por isso, a transcrevo:
«Remodelação do Governo atual - É, claramente, a minha opção preferida. Melhor ainda se o Presidente da República conseguir um acordo entre os três partidos subscritores da troika para a reforma do Estado (extinção de autarquias, institutos, observatórios e etc.), a relação com as PPP, revisão constitucional e uma política orçamental estruturada naquilo que foi aprovado (2/3 pelo lado da despesa e 1/3 pelo lado da receita). Para isto, apenas basta que saiam do Governo alguns ministros (como Relvas) que são mais problema do que solução, entrando outros com mais peso político. Seria também necessário que o Presidente usasse a sua influência positivamente, que o primeiro-ministro soubesse governar sem impor e que o líder do PS se sentisse à vontade para entrar neste jogo, controlando a deriva demagógica de alguma esquerda do seu partido. Devido a estas exigências de responsabilidade, é provavelmente a solução mais difícil.»

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Entre os avanços e os recuos... e o respeito que merecemos

Avançar e recuar... Avançar e recuar...
Percebo que, como truque de jogo, possa funcionar para ludibriar o adversário. Não entendo que os governantes o andem a fazer com os governados. É certo que os "erros" se devem corrigir; mas não é menos certo que haver Primeiro-Ministro e Ministros que anunciam coisas publicamente, em hora de grande audiência, com as implicações e os pesos conhecidos, para, no(s) dia(s) seguinte(s), retrocederem... ou é trabalho de casa mal feito ou é imaturidade ou é levar o descrédito ao máximo ou é querer gerar instabilidade social ou é banalizar as comunicações oficiais ou é tudo junto. Os governantes não se podem pôr na pele de comentadores nem conjugar os verbos do "achismo"; exige-se-lhes outra responsabilidade e outra forma de sentir que seja para os governados que lhes pagam e que os mantêm lá.
O pior é que esta crise dos "avanços" e "recuos" tende a alastrar a muitas áreas. Veja-se o que aconteceu, por exemplo, com as matérias dos exames do 12º ano!... Não eram necessários mais grãos de areia na engrenagem, não eram!
Tantas coisas que os governantes têm dito e que, depois, desdizem, ainda que sob a forma de "recuo", de "progressão", de...
Esta mania de tornar o sério banal; esta falta de pensar, de sentir os portugueses, de amadurecer, de decidir contando com o número máximo de variantes... tudo tem feito naufragar a confiança ou que resta (ou podia restar) dela!
Somos um povo que, como os outros povos, merece respeito! Só!
 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Segunda carta de Eugénio Lisboa - desta vez "aos governantes de Portugal"

Eugénio Lisboa reincidiu nos destinatários de mais uma carta aberta, ontem publicada por Eduardo Pitta no blogue "Da Literatura". Cáustico (como só se pode ser neste tempo), irónico (como só se pode ser neste tempo), lúcido (como se precisa de ser neste tempo), Eugénio Lisboa recorre a Swift (sécs. XVII-XVIII), o criador de Gulliver, que cita abundantemente, para incentivar os governantes na prossecução dos cortes. Na sequência da carta que já ontem aqui mencionei, vale a pena ler esta segunda... não tão cheia de ensinamentos quanto a primeira, mas demolidora. Cáustica, irónica e lucidamente demolidora!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Eugénio Lisboa escreve carta aberta ao Primeiro-Ministro

Corre na net uma carta aberta dirigida ao Primeiro-Ministro português, subscrita por Eugénio Lisboa. É um documento a ler - pela qualidade literária, é certo; mas, sobretudo, por essa transmissão que resulta do saber ("de experiência feito"), da sensibilidade, da cultura, da humanidade e também pela ausência de todas essas referências neste período que nos vai invadindo.
Muitos de nós subscreveríamos aquela carta, independentemente dos efeitos de Cronos; muitos de nós aplaudimos o gesto de Eugénio Lisboa, que partilhou o sentir, num acto de cidadania e de verticalidade, sem as amarras justificadas pelas globalizações, venham elas de onde vierem.
É comovente a carta. Vale a pena lermos e vale a pena comovermo-nos.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Entre o dia "não" e o futebol que nos cega...


Não sou propriamente um adepto da Selecção Nacional na medida em que também não sou um adepto do futebol. Acompanho estas competições na medida do possível e o possível é pouco.
Vi o primeiro jogo de Portugal (com a Alemanha), mas não vi o jogo de ontem (de Portugal com a Dinamarca). Fui acompanhando o resultado porque me iam noticiando os golos por sms. Não tenho, pois, opinião sobre o jogo.
Hoje, na rádio, ouvi intervenções do público ouvinte sobre o jogo de ontem; ouvi também os títulos das primeiras páginas dos jornais. E, de facto, Camões tinha razão, muita razão, ao ter começado a sua obra maior – Os Lusíadas – com a glória dos portugueses e ao acabá-la com a palavra “inveja”, evolução (!) que ilustra bem, ainda hoje, o que é esta nossa maneira de ser…
A Selecção Nacional merece ser apoiada, incentivada e até criticada; não merece ser insultada. Os jogadores, colectiva ou individualmente, merecem ser apoiados, incentivados e até criticados; não merecem ser insultados. Muitas das vozes que hoje ouvi invectivaram Cristiano Ronaldo com frases próximas do insulto pelo dia de azar que terá tido no jogo de ontem. Se, no próximo jogo, Ronaldo for um bom marcador, as mesmas vozes cantarão hinos de glória ao atleta madeirense. Ou, pela mesquinhez, continuarão a dizer mal, porque o dever dele é… porque lhe pagam para…, etc., etc. Não gostava de ver toda esta gente de palavra desbocada em dia “não”!
Cristiano Ronaldo, como os seus companheiros, merece o nosso apoio, o nosso entendimento humano. Uns e outros têm dado alegrias em momentos diversos aos adeptos. Não se está sempre na mó de cima, todos o sabemos. Porque é que só aceitamos esta verdade para nós e não para os outros?
É este espírito mesquinho, de raiva e de ódio (frequentemente), que nos mata. E que me leva a não nutrir paixão pelo futebol. Mas a Selecção Nacional, pelos altos e baixos que tem tido, merece o meu aplauso. Mesmo sabendo que ganhar o campeonato pode ter a configuração da utopia…

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Máximas em mínimas (71)

“[O] mais comum entre nós, Portugueses, [é] que prometemos muito e depressa confiamos na passagem do tempo para encerrar o compromisso assumido mas não satisfeito.”
Mário Ventura. O Reino Encantado, Cruz Quebrada, Casa das Letras, 2005.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Para memória futura

Na edição do jornal Metro de ontem, Manuel Falcão assinou o artigo “Para Memória futura”, que se inicia desta forma: “As eleições de domingo foram o reflexo de um país cansado de mentiras e promessas vãs”.
Não sei se as “mentiras” eram compulsivas ou deliberadas; não sei tão-pouco se não eram mais fantasias do que qualquer outra coisa. Sei que cheguei ao ponto de evitar ouvir na rádio ou na televisão os discursos de José Sócrates, não porque tivesse receio de acreditar, mas para zelar por alguma paz de espírito pessoal. O frenesim de promessas associadas à esperança e a outros galanteios que, noutras circunstâncias, poderia contribuir para a autoestima dos portugueses gastou a imagem e tornou o discurso cada vez mais oco e opaco.
Não me admirei, por isso, com o discurso final de José Sócrates na noite das eleições. O único pormenor que me despertou a atenção foi a convicção com que Sócrates se remeteu para o seu direito de ser feliz como qualquer outra pessoa nos próximos tempos. Oxalá! Já agora, desde que essa felicidade não colida com ninguém… Acho mesmo que o direito à felicidade deve passar pelos mais íntimos projectos de vida.
Mas, “para memória futura”, ficaram-me também duas ou três histórias ouvidas – involuntariamente ouvidas, asseguro – durante a campanha eleitoral.
Um dia, almoçava num restaurante da capital quando, ao meu lado, uma cliente rapa do telemóvel e põe-se a dizer à sua interlocutora que estava farta da secretaria de estado (não sei qual), que estava desejosa de voltar (à terra ou ao antigo serviço, supus), que já não suportava aquela vida, mas que… no dia 5, ia votar no PS, mas adorava que o PS perdesse… Quase me ia engasgando! Quando se está sozinho à mesa do restaurante, não há outro remédio senão ouvir o que se passa ao lado… e, ainda por cima, a senhora falava alto qb!
Uns dias depois, um amigo que não é partidariamente filiado mas que trabalha numa estrutura socialista dizia-me que estava tão farto das exigências associadas ao exercício do poder que achava que os socialistas deviam perder as eleições. “Eles têm de aprender”, garantia-me.
No último dia de campanha, um amigo liga-me e diz-me: “Sabes que me ligou a X…, dizendo que ia votar no PS, mas que levava duas rennies para tomar logo a seguir para digerir o que ia fazer?”
As três historietas valem o que valem. E valerão pouco, acredito. Mas fui buscá-las por causa da tal “memória futura”… É que estas pessoas, se não estavam a representar papéis, estavam pelo menos a ser vítimas de um sistema que deixou muita gente à beira da incredulidade, agindo contrariamente às mais profundas convicções, despersonalizando-se mesmo.
Haverá algum sistema ou partido político que valha isto, seja ele qual for?
Hoje, ao ouvir a notícia da candidatura possível de Francisco Assis para o lugar de Sócrates no partido, lembrei-me novamente da “memória futura”: é que, depois do que aconteceu, aparecer o mito do “devolver a esperança aos portugueses” como tarefa do partido, precisamente pela força e pelos agentes que contribuíram para o que estamos a viver… não faz sentido. Ou será que “devolver a esperança” é uma metáfora politicamente correcta apenas?

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Portugal ao contrário

Em Lisboa, na Praça dos Restauradores, na tarde de hoje

terça-feira, 29 de junho de 2010

Previsões (fáceis) do jogo de hoje

O sítio do Le Monde atribui um título interessante à notícia sobre o jogo do Mundial de Futebol de hoje: “Espanha-Portugal, a festa dos vizinhos”. No entanto, o texto alusivo a este encontro luso-espanhol termina com algo que contraria o tom festivo do título: “O choque da Península Ibérica entre as segunda e terceira nações da classificação FIFA anuncia-se quente.” O que justifica esta pressão é aquilo que, a dada altura, o articulista diz: em causa está o facto de ambas as selecções pretenderem "integrar o círculo fechado das oito melhores equipas do mundo e responder às imensas esperanças nelas colocadas." Pelo meio, vai ficando a classificação de Cristiano Ronaldo neste Mundial como “enigmático” e como “desconhecido”...