sexta-feira, 30 de junho de 2017

Filatelia evoca participação portuguesa na Grande Guerra



A participação portuguesa na Grande Guerra (1914-1918) é tema de uma emissão filatélica promovida pelos CTT com data de hoje.
Esta evocação é constituída por três selos, cada um deles homenageando um dos ramos das forças armadas que, em nome de Portugal, intervieram nas operações: um, de 0,50 €, evocando a força aérea, em que se destacam a figura do tenente Lello Portela (que participou no maior número de missões de combate e teve maior tempo de permanência no "front") e a imagem do aeroplano SPAD VII; um, de 0,63 €, lembrando a participação da marinha, mostrando o comandante Afonso de Cerqueira (que chefiou o Batalhão Expedicionário da Marinha do Sul de Angola) e o NRP Adamastor; um, de 0,85 €, destacando o exército, pondo em relevo a figura do soldado Aníbal Milhais (conhecido por "Milhões", herói do 9 de Abril) e um momento da instrução do CEP.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Para a agenda - Elmano Amaral apresenta poemas



Poemas sob o título Maresia, de Elmano Amaral, têm apresentação marcada para sábado, 1 de Julho, na Biblioteca Municipal de Setúbal, pelas 16h00, em actividade organizada pela Casa da Poesia de Setúbal. Para a agenda!

domingo, 25 de junho de 2017

Memória: Isidoro Fortuna (1932-2017)



Conheci Isidoro Fortuna há não sei quantos anos. Quase trinta, talvez. Terá sido através do seu irmão António Matos Fortuna? Terá sido por via do seu amigo António Rodrigues Correia? Não sei, mas qualquer um deles poderia ter sido o amigo que nos aproximou...
Conversei com ele muitas vezes. Sobretudo para saber e para resolver coisas da minha ignorância e das minhas possíveis descobertas. E nunca Isidoro Fortuna se recusou a atender-me.
Ouvi-o para fazer reportagens, para aprender, para perceber o que é “ser montanhão” (nesta Quinta do Anjo, no concelho de Palmela, isso é importante e é causa de identidade), para saber o que é a raça da ovelha saloia, para aprender como se fazia o queijo de Azeitão e o queijo fresco, para conversar sobre a história e as histórias de Quinta do Anjo. E o que aprendi foi muito mais do que aquilo que eu alguma vez lhe poderia dar ou, pelo menos, agradecer.
Um dia, meus pais, vindos do Minho, estiveram por aqui num fim de semana. Tendo feito a sua vida na agricultura, achei sensato levá-los a conhecer Isidoro Fortuna. Vieram entusiasmados. E, sempre que eu os visito lá no Minho vianense, ainda perguntam por “aquele senhor que falou das ovelhas com o coração chamado Isidoro”... Lá lhes terei de dar a notícia, claro.
No sábado, dia em que Isidoro Fortuna foi levado para o cemitério da aldeia, fiz-lhe a derradeira visita. E não pude deixar de falar com a esposa, Maria Amália. Quando lhe apresentei os sentimentos, logo ela me respondeu: “Que são de paz!”. Exactamente como foi Isidoro Fortuna, que nunca vi zangado, mas sempre disponível, mesmo naquilo que poderia ser mais crítico. Que me contou da sua acção em prol da paróquia; em defesa da raça, do apuramento e da preservação das ovelhas; em afecto pelas coisas da Quinta do Anjo... sempre numa linguagem próxima, prática e pragmática, boa! Sobretudo boa. Porque a imagem que dele guardo é a de um “bom” homem, daqueles que são capazes de iluminar as vidas, daqueles que achamos que são umas bibliotecas de saber e de sentimentos. Ficar-lhe-ei sempre grato por isso!

"Vale a pena?" - Inês Fonseca Santos em conversa com escritores



“Este livro é o resultado de uma série de conversas que tive com escritores sobre os seus modos de olhar o mundo, de o imaginar, sobre os seus modos de criar e sobre as condições em que criam. Não é, por isso, um estudo sobre o funcionamento do mercado editorial, nem um esboço sobre o panorama da situação actual portuguesa no que à publicação de livros diz respeito.” Assim começa a “Nota Prévia” de Inês Fonseca Santos ao seu livro Vale a Pena? - Conversas com Escritores (Col. “Retratos da Fundação”. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2017), em que a palavra “pena” surge em itálico, a chamar a atenção para o jogo de ideias que a palavra permite, entre o trabalho e o instrumento de escrita.
Parceiros de conversas foram Luís Quintais (n. 1968), António Mega Ferreira (n. 1949), Álvaro Magalhães (n. 1951), Mário de Carvalho (n. 1944), António Cabrita (n. 1959), Afonso Cruz (n. 1971), Helder Macedo (n. 1935), Paulo José Miranda (n. 1965), Catarina Sobral (n. 1985), Miguel Real (n. 1953) e Patrícia Portela (n. 1974), com entradas de Manuel António Pina, Eduardo Lourenço e de Alexandra Lucas Coelho e referências a muitos nomes do universo da escrita (Virginia Woolf, Paul Valéry, Jorge Luis Borges, Arturo Pérez-Reverte, Fernando Pessoa, Quino, Italo Calvino, José Cardoso Pires, Saramago, entre outros).
Poderá o leitor esperar resposta à pergunta que configura o título deste resultado de conversas, em género de reportagem desenvolvida? No final, é a própria autora que responde: “Não se espere, neste último capítulo, uma resposta. Para compor este livro, escolhi conversar com escritores que respondem às perguntas com outras perguntas. Por isso, se peço que me digam o motivo que os levou a escrever ou o motivo por que continuam a escrever, uns falam-me de revoluções e leituras, outros de rimas adolescentes e acasos... Recolho, portanto, a circunstância, não tanto o motivo, que todos sabemos insondável.”
Em 1985, o Libération publicou, em número excepcional (Março), a revista “Pourquoi écrivez-vous?” (retomando a ideia que a revista Littérature já tinha feito em 1919), reunindo as respostas recebidas de 400 escritores de 80 países, aí se contando os portugueses Augusto Abelaira, António Alçada Baptista, Almeida Faria, Agustina Bessa-Luís, José Cardoso Pires, Vergílio Ferreira, Lídia Jorge, António Lobo Antunes, Fernando Namora e José Saramago. Se a pergunta era simples, a resposta não o era tanto assim - e, por isso, os organizadores, Daniel Rondeau e Jean-François Fogel, concluíam a sua nota de abertura desta maneira: “La question n’est pas simple. La plupart des écrivains ont voulu faire plus qu’y répondre: la dominer. C’est pourquoi cette enquête est plus qu’un atlas littéraire ou un autre état des lieux. C’est un exceptionnel auto-portrait de la littérature d’aujourd’hui. Les écrivains s’écrivent. Tout va bien.” Na publicação francesa, não houve mediação nem filtros e os escritores tiveram via aberta (apenas cerca de uma vintena de depoimentos não tiveram publicação integral por se aproximarem mais do ensaio sobre literatura); no trabalho de Inês Fonseca Santos, a selecção dos segmentos e a montagem do “puzzle” ficou a cargo da autora. Contudo, a pergunta - como foi feita em francês ou como foi apresentada em português - nunca encontrará uma resposta óbvia, muito embora as justificações dadas possam permitir a construção de retratos; assim, o Libération concluiu que “les écrivains s’écrivent” e Inês Fonseca Santos remete-nos para o “insondável” do motivo - respostas mais próximas do que parece...
A matéria recolhida deu para cinco capítulos (e conclusão), todos eles abordando questões tão pertinentes quanto o papel e o reconhecimento do intelectual, as condições para se ser escritor, a leitura e a formação do escritor, a necessidade de uma “vida dupla” do escritor (a profissão de que viver e a criação), o mercado livreiro e os prémios literários e o papel dos leitores. No seu conjunto, uma visão multifacetada sobre a condição e a situação do escritor em Portugal. Ou de alguns escritores.
Há, pelo menos, duas certezas nesta teia que Inês Fonseca Santos construiu, ambas dadas por textos literários citados: a primeira, logo no início do livro, com o poema “A mão”, de Wislawa Szymborska (1923-2012, Nobel da Literatura em 1996), a propósito da criação e dos efeitos da escrita («Vinte e sete ossos, / trinta e cinco músculos, / cerca de duas mil células nervosas / em cada uma das pontas dos cinco dedos. / É quanto basta / para escrever Mein Kampf / ou A Casinha do Ursinho Puff.»); a segunda, ainda relacionada com a criação e também com a obra, poema devido a Manuel António Pina (1943-2012), que encerra o livro - «Senhor, permite que algo permaneça, / alguma palavra ou alguma lembrança, / que alguma coisa possa ter sido / de outra maneira, / não digo a morte, nem a vida, / mas alguma coisa mais insubstancial. / Se não para que me deste os substantivos e os verbos, / o medo e a esperança, / a urze e o salgueiro, / os meus heróis e os meus livros?» Bela forma de concluir um livro que, a partir de perguntas, deixa perguntas para que cada qual construa as suas respostas ou apenas porque a resposta é uma outra pergunta...

Sublinhados
Reconhecimento - “Qualquer chefe cozinheiro ou qualquer modista ou coisa parecida é mais importante do que um professor, e os professores são um dos aspectos da representação social do saber; o professor tem saber, mas é desvalorizado. E não são só os professores a serem desvalorizados; são desvalorizados os escritores, os cientistas, os pintores, os artistas das mais diversas áreas... Isto porquê? Porque o predomínio é o do negócio, o da traficância, que joga com o recurso aos impulsos mais básicos, mais primários, mais simples.” (Mário de Carvalho)
Surpreender o leitor - “As boas narrativas são aquelas em que o final desvia uns milímetros a expectativa do leitor. Não desvia completamente para não defraudar o leitor, mas desvia o suficiente para o surpreender, para o intrigar, para o espantar.” (Catarina Sobral)
Leitura e escrita - “A leitura é a grande escola da escrita. O que não quer dizer que não tenha havido notáveis escritores que tenham lido pouco. (...) É no acumular da leitura que vamos encontrando, e não é racionalmente, a nossa voz, feita de uma pluralidade de vozes. (...) A escrita é sempre tudo aquilo que lemos mais a diferença.” (António Mega Ferreira)
Ser escritor - “O escritor é, por essência, o herdeiro do intelectual dos séculos XVIII e XIX. Não é um profeta, mas, não raro, intui os caminhos negativos atravessados pela sociedade, denunciando-os, contribuindo para os corrigir. Não é um justiceiro, mas revolta-se contra desigualdades gritantes e apresenta alternativas sociais mais justas. Não é um sonhador, mas sofre de profundas doses de lirismo que humanizam as leis sociais.” (Miguel Real)
Literatura - “Precisamos da literatura, ou não continuaremos a ser humanos. Em tudo, encontramos linguagem. Talvez o apocalipse anunciado seja só uma provocação e uma orientação para se discutir o seu novo lugar na contemporaneidade, se é que ainda lhe resta algum lugar; e, ao mesmo tempo, apontar-lhe uma saída, a de uma outra forma de existir, nem que seja apenas resistindo.” (Álvaro Magalhães)

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Para a agenda: Manuel Ribeiro de Pavia na Festa da Ilustração 2017



A Festa da Ilustração, que ocorre em Setúbal, é um acontecimento. Mesmo. Manuel Ribeiro de Pavia é o artista e ilustrador evocado na galeria da Escola de Hotelaria (antigo Quartel do 11, na Avenida Luísa Todi). Amanhã, sábado, pelas 19h00, a exposição com os desenhos e o traço de Pavia terá visita guiada por Jorge Silva. Um evento a não perder, com certeza. Para a agenda!

Para a agenda - Arrábida, afectos & artes várias em Setúbal



A Arrábida, os afectos, a arte, a estética, os gostos. "Arrábida - Roteiro de Afectos" é o título de uma colectiva que reúne pintura, desenho, escultura e fotografia, manifestações devidas a Acácio Malhador, Ana Lima-Neto, Andreas Stocklein, Emília Nadal, Maria Gabriel, Misé P. e Rosa Nunes. A partir de sábado, 24 de Junho, no MAEDS (Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal), em Setúbal. Inauguração da exposição pelas 18h30. Para ver até meados de Outubro. Na abertura, haverá música de Bach e de Vivaldi e poemas de Sebastião da Gama, com os contributos de Beatriz Campaniço (música) e de Mafalda Pires da Silva (voz). Para a agenda!

domingo, 18 de junho de 2017

Pedrógão Grande - da metáfora do inferno à dor e ao pesar


Perante o que aconteceu em Pedrógão Grande e pelo sofrimento que envolve e vai envolver, dificilmente diria melhor do que Miguel Esteves Cardoso no Público, que pode ser lido aqui.
Três dias de luto nacional em memória e em solidariedade, num pesar que nos toca a todos.

Setúbal entre 40 destinos europeus da "Hola - Viajes"



O nº 25 da revista espanhola Hola - Viajes, recentemente saído, é dedicado ao tema “40 Escapadas desconocidas a lugares únicos por Europa en bici, en barco, a pie, en coche”. A estas propostas são acrescentadas mais “10 Viajes increíbles por el resto del mundo”.
Fixemo-nos nas 40 primeiras, em que Portugal obtém três propostas de itinerários e de visitas: às adegas e vinhedos do Douro, aos arredores de Lisboa (“De Belém a Mafra”) e a Setúbal (“Avistar delfines en el estuário del río Sado”).
A cada proposta de visita são atribuídas quatro páginas, incluindo texto e fotografias. No caso do roteiro para o estuário do Sado, assinado por Andrés Campos (que subscreve as outras duas propostas lusitanas), a referência começa com a Arrábida, mais especificamente com o palácio da Comenda (“En 1964, pocas semanas después de que asesinaran al presidente Kennedy, su viuda Jacqueline decidió retirarse al lugar más discreto e insospechado del mundo, donde nada ni nadie le recordaran constantemente quién era y lo que acababa de suceder. Ese lugar no estaba en la Polinesia, ni en el Índico, ni en la Patagonia, sino en Setúbal, a solo 50 kilómetros al sur de Lisboa. Medio siglo después, el palacio da Comenda, donde Jackie se refugió con sus dos hijos, es una ruina melancólica que no encuentra comprador porque custa 45 millones de euros y también porque la gente que podría pagarlos prefiere fondear su yate en parajes exclusivos más que un cala que, a diario, es un paraíso solitario de agua esmeralda, donde nadan confiadamente los delfines.”
Assim iniciada a rota, a proposta faz o viajante seguir pelo Parque Natural da Arrábida, com visita às suas praias, incluindo a Lapa de Santa Margarida e a prática de vários desportos e actividades radicais. Lembra ainda a observação de aves no estuário, os golfinhos e, na gastronomia, o choco frito, que, com ironia, refere da seguinte forma: “en realidad, lo extraño no es que haya delfines, sino que aún queden chocos, porque entre los que devoran estos cetáceos y los que comen a todas horas los setubalenses, sobre todo, fritos, debían de haberse extinguido en la bahia hace siglos.” E termina com esta tirada, talvez irónica, talvez mágica: “Ciertamente, estas aguas son milagrosas.”
A proposta segue ainda pelo moinho de maré da Mourisca, onde pode ser feita a prova do queijo de Azeitão e respectivo moscatel e onde o visitante pode avistar aves. Entre os monumentos, a revista chama a atenção para o Mercado do Livramento, o Convento de Jesus, a Galeria Municipal (no edifício do Banco de Portugal), a fortaleza de S. Filipe.
As propostas podem ser lugares comuns, mas figurar ao lado de recomendações de visita às baleias na Islândia, aos ursos selvagens na Finlândia, às abadias de Lovaina na Bélgica, à magia da Cornualha em Inglaterra, entre muitas outras, vale bem a pena esta promoção de Setúbal. Entre os 40 destinos europeus, apenas Portugal, França e Áustria surgem com três propostas; com duas, há a Islândia, a Escócia, a Itália, a Alemanha, a Finlândia, a Croácia, a Noruega, a República Checa e a Grécia; com um itinerário surgem países como Inglaterra, Geórgia, Montenegro, Chipre, Roménia, Holanda, Polónia, Suíça, Eslovénia, Malta, Bélgica, Irlanda e Eslováquia.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Para a agenda: Palmela Wine Jazz, com Mário Laginha à mistura



Os vinhos de Palmela estão em grande promoção, uma questão que não é apenas de publicidade, mas que é sobretudo de qualidade. Entre 23 e 25 de Junho, o evento "Palmela Wine Jazz" vai animar o castelo de Palmela com música, prova e feira de vinhos. A não perder! Em 23, a programação tem ainda a presença de Mário Laginha. Mais uma razão para se estar! Para a agenda!


quinta-feira, 15 de junho de 2017

Para a agenda: Mozart em Sesimbra



Mozart vai estar em Sampaio (Sesimbra), no Centro de Estudos Culturais e de Acção Social Raio de Luz, em 17 de Junho, pelas 15h30, através de Carlos Otero - "Conversando com Mozart" é o título da palestra, que tem entrada livre. Para a agenda!

Ler prazer, ler pra ser - Aluna de Palmela ganha prémio - intervenção



Ontem, pelas 15h00, no auditório da APEL, na Feira do Livro, em Lisboa, aconteceu a entrega dos prémios do concurso "Ler prazer, ler pra ser", promovido pelo Plano Nacional de Leitura (PNL), em cerimónia presidida pelo Ministro da Cultura (Luís Filipe Castro Mendes), pela Comissária do PNL (Teresa Calçada) e por representante da Rede de Bibliotecas Escolares.
A vencedora do prémio no escalão do 3ª Ciclo do Ensino Básico foi Adriana Martins Ferreira da Costa Rodrigues, aluna do 8º ano na Escola Secundária de Palmela, que, ao agradecer, referiu que um livro pressupõe sempre uma diversidade de leituras e que a escola não pode incentivar a leitura com uma visão única sobre um livro, porque "uma história nunca é a preto e branco".
Adriana Rodrigues esteve acompanhada pelos pais, pela professora responsável da Biblioteca da Escola (Maria José Ribeiro) e por mim (por delegação da Direcção). Aqui reproduzo a intervenção que fiz no momento de atribuição do prémio à jovem palmelense (era suposto cada professor representante intervir num tempo máximo de três minutos):

Deixem-me começar com três versos sobre poesia: “A poesia é uma conversa / que só tem lugar quando ninguém está a ouvir. / É talvez uma dança ante o silêncio de Deus.” Estes versos, do livro Outro Ulisses Regressa a Casa, são de Luís Filipe Castro Mendes e creio que não os despersonalizamos se aplicarmos a magia que deles irradia à leitura, ao prazer de ler. Todos os livros esperam por leitores para se afirmarem, para com eles dialogarem, para nos acompanharem.
A leitura deve ser um imperativo de cidadania, algo que contribui para a nossa autonomia e para a construção de um mundo mais aprazível. Ler prazer, ler p’ra ser. Não por acaso, Sebastião da Gama, poeta e professor, no seu Diário, registou as experiências que considerava fundamentais com os seus alunos nas aulas de Português – além da questão do relacionamento, intensa era a relação com a escrita e com a leitura. Levar os alunos ao ato de ler, de saberem ler, era uma forma de ajudar o bem-estar deles, de os fazer descobrir valores, de os levar à descoberta do mundo.
Foi o mesmo Sebastião da Gama que, nesse Diário, transcreveu um magnífico poema do chileno Rafael Heliodoro Valle, intitulado “Oração ao Livro”, em que, a dado passo, diz: “Dá-nos, Senhor, o livro que todos podem ler, que seja para todos como o sol e todos o entendam como a água, que nos ilumine neste longo caminho que se chama vida – queremos luz –, que nos levante desta terra em que nos arrastamos – queremos asas.”
A história que a Adriana da Costa Rodrigues, aluna de 8º ano da nossa Escola, nos conta em 14 segundos consegue transmitir toda esta magia, toda esta capacidade que a leitura tem. E é por esse caminho que tentamos ir – o de incentivar a leitura (mesmo sabendo que a concorrência é difícil) e o de levar os alunos a experimentarem a literatura nos seus trabalhos de escrita (e é por isso que editamos anualmente uma antologia dos melhores textos dos nossos alunos). O contributo da Adriana dará, por certo, uma ajuda neste caminho. Por isso, parabéns, Adriana, em nome da Escola! E parabéns também ao Plano Nacional de Leitura pela missão de ajuda que tem tido com as escolas ao longo dos tempos!

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Para a agenda: Para uma história do teatro em Setúbal



Há uma história do teatro em Setúbal? É claro que sim e já vem desde longe. Em 20 de Junho, uma fatia dessa história vai passar pelo Arquivo Distrital de Setúbal no colóquio "O Teatro em Setúbal - Artistas, Agentes e Espaços do Séc. XVIII". Um dia de comunicações, por onde passarão os contributos de Glória Santos, Anísio Franco, Mart Brites Rosa, Daniel Pires, Victor Eleutério, Licínio Rodrigues Ferreira, José Camões, Paulo Roberto Masseran e Heitor Pato. Uma história que vai desde o espaço sadino até ao Cabo Espichel. A não perder. Para a agenda!

terça-feira, 13 de junho de 2017

Das palavras de António Vieira à efeméride de hoje, com Pessoa, Vieira da Silva e Santo António


Hoje, 13 de Junho, é dia comemorativo: do nascimento de Fernando Pessoa (1888), poeta maior; do nascimento da pintora Helena Vieira da Silva (1908); da morte de Santo António de Lisboa (1231). Uma trilogia de peso na cultura portuguesa, claro!

Fernando Pessoa (campanha "Abre Portugal", da Coca-Cola)


Maria Helena Vieira da Silva, Le Désastre ou La Guerre (1942)

"Sermão de Santo António às Sardinhas" (2017) (via FB)

Mas deixo o destaque em nome do jesuíta António Vieira, por ter sido neste dia de 1654 que, no Maranhão, proferiu o célebre Sermão de Santo António aos Peixes, uma peça de retórica que contém muito mais do que aquilo que parece - sobre a condição humana, sobre o bem e o mal, ainda que uma reflexão centralizada na crítica ao comportamento dos colonos do Brasil. E o pretexto é o comportamento dos peixes, com as suas vantagens e os seus desprimores, uma autêntica alegoria sobre o que é isto de interagirmos, de estarmos, de sermos.
Deixo três excertos, a merecerem reflexão ainda hoje, como se poderá ver pelo teor.

COMER OS OUTROS - “Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer e como se hão de comer. Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários, comem-no os acredores; comem-no os oficiais dos órfãos e os dos defuntos e ausentes; come-o o médico, que o curou ou ajudou a morrer; come-o o sangrador que lhe tirou o sangue; come-o a mesma mulher que de má vontade lhe dá para a mortalha o lençol mais velho da casa;  come-o o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos, e os que, cantando, o levam a enterrar; enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra. Já se os homens se comeram somente depois de mortos, parece que era menos horror e menos matéria de sentimento. (...) Vede um homem desses que andam perseguidos de pleitos ou acusados de crimes, e olhai quantos os estão comendo. Come-o o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivão, come-o o solicitador, come-o o advogado, come-o o inquiridor, come-o a testemunha, come-o o julgador, e ainda não está sentenciado, já está comido. São piores os homens que os corvos. O triste que foi à forca, não o comem os corvos senão depois de executado e morto; e o que anda em juízo, ainda não está executado nem sentenciado, e já está comido.”
PEQUENOS E GRANDES - “Os pequenos são o pão quotidiano dos grandes; e, assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem.”
VAIDADE - “A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto e que mais facilmente engana os homens. E que faz a vaidade? Põe por isco na ponta desses piques, desses chuços e dessas espadas dois retalhos de pano, ou branco, que se chama hábito de Malta, ou verde, que se chama de Avis, ou vermelho, que se chama de Cristo e de Santiago; e os homens, por chegarem a passar esse retalho de pano ao peito, não reparam em tragar e engolir o ferro. E depois que sucede? O que engoliu o ferro, ou ali, ou noutra ocasião ficou morto; e os mesmos retalhos de pano tornaram outra vez ao anzol para pescar outros.”

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Prémio Camões 2017 para Manuel Alegre


A 29ª edição do Prémio Camões teve como vencedor Manuel Alegre. Parabéns ao poeta, romancista, cronista! Parabéns ao militante das causas cívicas e ao cidadão interventivo! Parabéns, Manuel Alegre!


Do Público:
Antes do prémio agora atribuído a Manuel Alegre, o Brasil, com 12 premiados, tinha apenas mais um do que Portugal, que estreou a galeria com Miguel Torga, o primeiro escritor a receber o Camões, em 1989. Nos anos seguintes, o prémio voltou a ficar em Portugal com Vergílio Ferreira (1992), José Saramago (1995), Eduardo Lourenço (1996), Sophia de Mello Breyner Andresen (1999), Eugénio de Andrade (2001), Maria Velho da Costa (2002), Agustina Bessa-Luís (2004), António Lobo Antunes (2007), Manuel António Pina (2011) e Hélia Correia (2015).
A lista de premiados brasileiros começa com João Cabral de Melo Neto, em 1990, e inclui Rachel de Queiroz (1993), Jorge Amado (1994), António Cândido (1998), Autran Dourado (2000), Rubem Fonseca (2003), Lygia Fagundes Telles (2005), João Ubaldo Ribeiro (2008), Ferreira Gullar (2010), Dalton Trevisan (2012), Alberto da Costa e Silva (2014) e Raduan Nassar (2016).
O poeta moçambicano José Craveirinha foi o primeiro autor africano a receber o Camões, em 1991. Em 1997, Pepetela, então com 56 anos, tornava-se simultaneamente o primeiro angolano e o mais jovem autor de sempre a ser galardoado com este prémio, que só voltaria à literatura africana em 2006 para reconhecer a obra do angolano Luandino Vieira, que recusou o galardão. Em 2009, venceu o poeta cabo-verdiano Arménio Vieira, e, em 2013, o escolhido foi o romancista moçambicano Mia Couto.

Ler Prazer Ler P'ra Ser - Aluna de Palmela ganha primeiro prémio



O primeiro prémio do concurso “Ler Prazer, Ler p’ra Ser”, na modalidade “trabalho individual do 3º Ciclo do Ensino Básico”, inserido na 11ª Semana da Leitura, promovido pelo Plano Nacional de Leitura, foi atribuído a Adriana Martins Ferreira da Costa Rodrigues, aluna do 8º ano na Escola Secundária de Palmela, e será entregue em cerimónia a ter lugar em 14 de junho, no pavilhão da APEL, na Feira do Livro de Lisboa.
O trabalho apresentado pela jovem palmelense, intitulado “O prazer de ler em todos os momentos e em todos os lugares”, consiste numa animação de 14 segundos, ilustrativa da descoberta do prazer de ler, resultante de 84 desenhos originais (seis imagens por segundo de animação), contendo fundo musical inspirado em compositores clássicos como Mozart, Schubert e Brahms.
A candidatura do trabalho da Adriana Rodrigues foi acompanhada pela professora Maria José Ribeiro, que, na Escola, dirige o Centro de Recursos e Biblioteca Escolar. Com este galardão, a biblioteca escolar receberá também livros para renovação do seu acervo documental no valor máximo de 500 euros.