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domingo, 17 de novembro de 2013

Manuel Carvalho e a escola (pública ou privada)


No Público de hoje (pg. ), Manuel Carvalho escreve sob o título "O vírus da insolvência das escolas públicas". Aqui reproduzo o texto que respeita ao tema da escola.


sábado, 23 de maio de 2009

Um retrato da escola, hoje

Delação na sala de aula
«Numa semana, os professores recebem um manual de instruções para conduzir as provas de aferição que os coloca uns furos abaixo da indigência mental; na outra, ficam a saber que uma aluna pode gravar clandestinamente o que se passa na sala de aula e usar o material ilegalmente obtido como prova de inaptidão para o exercício das suas funções. Depois de dois anos de uma terrível guerra de nervos iniciada com o estatuto e aprofundada pela avaliação, os professores, principalmente do ensino público, têm cada vez mais estímulos para a descrença e a desmotivação. Por muita razão que a ministra tenha em algumas das suas reformas, e tem-na, pelo menos, ao nível da urgência e do conceito de avaliação, a soma de grandes afrontas e de pequenos ataques de que têm sido alvo os docentes ameaça desfazer o que resta de empenho e sentido de serviço público na classe.
Por uma vez, era bom que o caso de Espinho pudesse ser visto de uma forma global e não se resumisse à análise dos devaneios de uma professora que, manifestamente, merece ser punida pelo que disse na aula ou pelo que aí insinuou sobre matérias do foro privado das suas alunas. Encerrado, e bem, este caso com um processo disciplinar, esperava-se que o Ministério da Educação se preocupasse com o outro lado da questão: o método usado pelas alunas e assumido pelas suas encarregadas de educação. Ora, que se saiba, não haverá ao nível da escola nem da direcção regional qualquer diligência, o mínimo gesto, a mínima palavra de censura pelo acto. O que, para os cidadãos e, principalmente, para os professores, quer apenas dizer uma coisa: que a espionagem clandestina do que se passa na aula, o recurso a tecnologias para instigar a delação é um método que não causa o mínimo arrepio à tutela.
Haverá certamente quem se apoie no nexo de causalidade para justificar o emprego de gravadores digitais ocultos nas mochilas. Afinal, os resultados estão à vista: sem as declarações gravadas, jamais alguém poderia acreditar que uma professora, aquela professora, fosse capaz de proferir tantos disparates e tantos insultos à dignidade dos alunos. Mas, resolvida a situação a favor dos pais revoltados e das alunas insultadas, o problema principal que agora se coloca tem a ver com o futuro. Doravante, o recurso a gravações clandestinas que não têm qualquer valor probatório em sede de processo na justiça ordinária (exigem autorização de um juiz), passa a ser legitimado nas salas de aula. Os momentos de descontracção, de diálogo franco e aberto, de proximidade entre professor e aluno estarão condenados a desaparecer das nossas escolas. Nenhum professor deixará de ter medo ao pensar no fantasma da gravação oculta sempre que arriscar sair da matéria oficial para fazer o que lhe compete: abrir horizontes aos seus alunos.
Pode parecer um cenário excessivo, mas o facto é que o episódio de Espinho é mais uma peça de um puzzle que gradual e paulatinamente vai corroendo o amor-próprio e a personalidade da docência. A menos que queiramos professores-funcionários, apenas autorizados a ditar sebentas ou a transmitir sumários, não se pode estar de acordo com as instruções do ministério que os transformam em aprendizes ou a legitimação por falta de censura de gravações ocultas nas salas de aula. Se não for pelo clima de intimidação e medo que pode gerar nos docentes, ao menos haja o bom senso de as condenar por estimularem os alunos a cultivar práticas pidescas. Querer resumir o incidente à condenação da professora é por isso um insulto a todos os que consideram a bufaria um daqueles vírus que a escola tem o dever de extirpar dos hábitos dos jovens.»
Manuel Carvalho. "Delação na sala de aula". Público: 23.Maio.2009.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Afinal, havia mais gente a querer dizer o que o Presidente disse...

«(...) Quem ler a reacção do porta-voz do PS, Vitalino Canas, à mensagem de Ano Novo do Presidente da República fica com a certeza de que com um pouco de rins todos os textos podem ser lidos ao sabor das conveniências. "Foi um discurso importante e realista, que fala dos tempos difíceis que aí vêm, mas também cria confiança. Existe, por isso, uma grande convergência entre o discurso do Presidente da República e o do Governo", afirmou o dirigente socialista. Convergência, quando Cavaco Silva denuncia "vulnerabilidades sérias" na economia portuguesa, enquanto dias antes José Sócrates se esforçara por garantir que o Governo está agora em condições de "responder melhor às dificuldades económicas que nos chegam"? Convergência, quando o Presidente reclama "uma atenção acrescida à relação custo-benefício dos serviços e investimentos públicos", dando suporte aos avisos que chegam via PSD ou de outros sectores da vida pública? Convergência quando (...) o discurso presidencial refere por diversas vezes a necessidade de "falar verdade" sobre a crise?
Apesar do uso ponderado de palavras ou expressões para não alimentar conflitos com o Governo, o discurso de Cavaco Silva trouxe a exigência da verdade para o centro de gravidade da vida política, lembrando que a verdade é uma condição imprescindível para "para a existência de um clima de confiança entre os cidadãos e os governantes". Ou, por outras palavras, "não é com ilusões que os portugueses podem ser mobilizados para enfrentar as exigências que o futuro lhes coloca". Com este argumento, Cavaco cola-se claramente às denúncias que a oposição em bloco, e principalmente o PSD, têm feito em relação ao que consideram ser a "propaganda" do Governo. E desvaloriza os recursos de que José Sócrates diz dispor para "ajudar as famílias, os trabalhadores e as empresas a superarem as dificuldades". (...)
O que o Presidente disse é que o país não pode continuar a viver a normalidade displicente dos últimos anos. Se as crises não surgem nem se sentem de um dia para o outro, estão à nossa frente todos os sinais de que desta vez os seus efeitos vão ser duros e que, pelo menos, todos sentiremos os efeitos do agravamento do desemprego ou da exclusão social. Por muito que o Governo nos tente tranquilizar com a folga orçamental - que é verdadeira -, saibamos também pela voz do Presidente que a vulnerabilidade do país impõe a recuperação de níveis de endividamento aceitáveis para a nossa realidade. Convergência nos discursos? Só se for nos apelos à energia e coragem dos portugueses para lidar com a dureza dos tempos que se anunciam. Apelos que fazem falta, desde que não nos levem a acreditar que, com a mão do Governo e uma boa dose de improviso, a crise será uma miragem. Falar verdade é responder a esta crença com um rotundo não.»
Manuel Carvalho. "Falar verdade". Público: 03.01.2009

sábado, 15 de novembro de 2008

A educação vista a partir do "Público" de hoje

1) Manuel Carvalho, "A reforma impossível nas escolas"
2) Vasco Pulido Valente, "Os professores"

sábado, 13 de setembro de 2008

A propósito do Dia do Diploma, que as escolas viveram ontem

"O mérito na escola e o demérito da encenação"
Não parece haver razões para o alarme catastrófico dos sindicatos, mas a entrega de prémios aos melhores alunos dispensa a feira de vaidades montada pelo Governo
A polémica suscitada pela entrega de um prémio de 500 euros aos melhores alunos do 12.º ano não é apenas mais um episódio do velho debate sobre o que é e para que serve a escola nos dias de hoje. É óbvio que por ali se cruzam as concepções dos filhos de Rousseau e dos adeptos do ensino mercantilista, os crentes do poder de transformação social da escola e os que insistem em vê-la apenas como uma peça no sistema de produção económica, os militantes de uma corrente dominada pela mediania do colectivo e os que apelam à necessidade de se cumprir o potencial individual de cada um dos alunos. Mas além de um debate ideológico condimentado pela propensão maioritária da classe docente para o conservadorismo, o que vale a pena questionar é se o espectáculo que o Governo montou para distribuir os prémios está de acordo com o espírito que justifica a sua existência ou se, pelo contrário, o subverte.
Numa perspectiva crua da realidade, os prémios concedidos aos melhores alunos limitam-se a transportar para as escolas um modelo de emulação que já existe nas empresas e instituições privadas e que, a curto prazo, passará também a vingar nas várias camadas do funcionalismo público. Aqui, em vez de promoções ou de prémios de desempenho, há um cheque para o vencedor absoluto, quadros de honra para alunos que se destacaram pelas mais variadas razões ou quadros de excelência para os que obtiveram melhores notas. Em vez de enquadrar o desempenho no abstracto da turma ou da comunidade escolar, o que o sistema educativo começa também agora a privilegiar é o resultado obtido por um indivíduo numa competição directa com os seus colegas. Pode ser pouco romântico, pode significar a renúncia definitiva do papel transformador da escola na procura de um mundo idílico ou justo, mas o que é facto é que a iniciativa obriga os jovens estudantes a confrontarem-se com a realidade que os espera no mundo do trabalho. E a perceberem que o mérito é devidamente reconhecido e premiado.Não havendo razões de fundo para se censurar o princípio, vale a pena questionar o método como o Governo o aplicou no terreno, com 23 ministros e secretários de Estado a distribuírem cheques a eito pelas escolas. Percebe-se que o Governo veja na medida uma aposta com enorme significado para melhorar os resultados das escolas. Mas o aparato com que a embrulhou ameaça o seu sentido e utilidade imediata. Porque se é bom distinguir os melhores, essa distinção não se deve assemelhar a uma entrega de Óscares que justifica até a presença de tantas e tão altas figuras da governação. Tem de ser feita no quadro de uma reflexão ao nível da comunidade escolar na qual têm de ser considerados também os que lutaram e ficaram perto do prémio ou os que, por diferentes motivos, não têm bases para entrar na competição. Em idades problemáticas como as dos alunos do 12.º ano, a institucionalização de uma elite em galas triunfais pode muito facilmente tornar-se um factor de desinteresse, inveja ou frustração para os que se sentem à partida incapazes de competir com os melhores. Não parecendo haver razões para o alarme catastrófico dos sindicatos, a entrega de prémios aos melhores alunos dispensa a feira de vaidades montada pelo Governo. Num país viciado na mediocridade, é bom que se enalteça o mérito, mas, ao fazê-lo com tantos ministros, jornalistas e televisões, corre-se o risco de se perder o seu poder de exemplo para se entrar numa gala de celebridades onde se cava um fosso entre vencedores e vencidos. Que haja prémios, quadros de honra e de excelência, que se leve os alunos a perceber que o trabalho, a dedicação e o esforço são reconhecidos é uma coisa; que se faça com o seu sucesso uma encenação triunfal é um erro crasso, que se pode reflectir nas estatísticas do insucesso. Que é, afinal, o problema mais grave da educação no país.
Manuel Carvalho. Público (hoje).
O Dia do Diploma, criado no final do ano lectivo passado, teve primeira realização ontem. Visou valorizar a escola através da atribuição de um diploma de mérito e de um prémio pecuniário de 500 euros ao melhor aluno que tenha concluído o ensino secundário ou o seu curso profissional no ano lectivo anterior.