quinta-feira, 30 de junho de 2011

Vinhos para Julho, Agosto e Setembro, com o Sado como cenário

Propostas aliciantes, estas, de Cruzeiros Enoturísticos na Baía de Setúbal, para as sextas-feiras que se avizinham!

Joaquim Azevedo e algumas ideias sobre a escola

A propósito da mais recente obra de Joaquim Azevedo (docente universitário que já teve responsabilidades políticas no Ministério da Educação), o JL – Educação de ontem publicou entrevista conduzida por Francisca Cunha Rêgo. Assunto-chave: a educação é responsabilidade de todos. Dessa entrevista, alguns sublinhados:
Tarefa da Escola - «(…) Em vez de colocarmos na escola todas as tarefas educativas da sociedade, devemos deixá-la apenas com a da educação escolar, criando condições para que desenvolva bem essa missão. Não devemos dar-lhe mais tarefas de carácter social e ocupacional, desfocando-a do seu papel essencial e atribuindo-lhe tarefas que não tem capacidade de cumprir. (…) A escola não pode estar assoberbada com 30 mil actividades a desenvolver. Corre-se o risco de que a educação escolar, estrito senso, acabe por ser uma tarefa menor entre muitas outras. A educação escolar existe, antes de mais, para transmitir a herança cultural do passado às novas gerações e, por essa via, inseri-las socialmente. (…) Grande parte das escolas públicas está a virar-se para uma educação da ocupação dos tempos livres, do tempo social das crianças e dos jovens. Estamos a criar todas as condições para que a escola privada seja o local por excelência da educação escolar. E ‘damos de barato’ que a escola pública não tenha esse foco. (…)»
Avaliação dos Professores - «(…) É inevitável. Deve seguir-se um modelo relativamente simples, semelhante ao de outros quadros superiores da administração pública, que permita apreciar desempenhos e desenvolver a progressão das carreiras. (…) Criou-se um modelo desnecessariamente diferente complicando-se um processo que, a meu ver, não tem complexidade nenhuma. (…)»
Ensinar - «(…) Os professores são quem verdadeiramente tem que ensinar os alunos. Nessa perspectiva, os professores são o centro, o ponto fundamental. Não legislamos sobre quantos bisturis são necessários numa operação. Aos professores quer-se definir tudo. Não deixa de ser caricato, pois é nas escolas que se concentra o maior número de quadros superiores de qualquer organização da sociedade portuguesa. Assim sendo, é preciso deixar os professores trabalharem, responsabilizarem-se, envolverem-se e comprometerem-se com a melhoria do ensino e da aprendizagem. Depois pode-se pedir contas. Mas sem intromissões no seu processo de trabalho todos os dias, todos os anos, a cada cinco anos. Creio que é essa intromissão contínua que traz um desgaste brutal às escolas. Costumo dizer que há mudanças a mais e melhorias a menos no respeitante aos resultados. (…)»

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Golfinho Parade, em Setúbal (20)

"Golfinho Sor"
Clara Garraia (professora) e Equipa Generis
(Escola Secundária de Ponte de Sor)

Golfinho Parade, em Setúbal (19)

Sem título
Ana Filipa Ribeiro (professora), Carlos Pedro, Carlota Alves, Gonçalo Oliveira, Inês Pereira, Lara Rodrigues, Leonor Martins, Maria Felício, Marta Catela, Pedro Mestre, Rafaela Rafael, Rodrigo Silva, Simone Serpa
(Externato Diocesano Sebastião da Gama - Setúbal)

Golfinho Parade, em Setúbal (18)

"Rio Azul"
Sónia Cristina Luz (professora), Ana Rita Furtado, Iuri Emanuel Rosa
(Escola Secundária Sebastião da Gama - Setúbal)

Golfinho Parade, em Setúbal (17)

"A Gala de Neptuno"
Carolina de Melo Pereira (professora), Daniela Filipa Borges, Cristiano Almeida
(Escola Secundária da Amora)

Golfinho Parade, em Setúbal (16)

"Vejo da Minha Janela"
Ana Gabriela Conceição, Inês das Neves Conceição

Golfinho Parade, em Setúbal (15)

"Tempo de Continuar"
Luísa Maria Ribeiro

Golfinho Parade, em Setúbal (14)

"Metamorfose de Rio"
Sara Alexandra Lopes

Golfinho Parade, em Setúbal (13)

"Face iT"
Carlos Pereira da Silva

Golfinho Parade, em Setúbal (12)

"Terceiro Olho"
Svetlana Lvovna Tikhomirova

Golfinho Parade, em Setúbal (11)

"Mar de Cores"
Maria de Jesus Rosa (professora), Joana Duarte Carvalho, Margarida Moreira Monteiro
(Agrupamento de Escolas Fernão do Pó - Bombarral)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Golfinho Parade, em Setúbal (10)

"Já Golfinho Não Sou..."
Jorge Faria, Rute Machado, Inês Silvestre, João Romeu

Golfinho Parade, em Setúbal (09)

"Fragmento Azul"
Hugo André Baptista (professor), José Canilhas
(Escola Secundária António Inácio da Cruz)

Golfinho Parade, em Setúbal (08)

"Qualidade Rara de Sereia"
Raquel Sousa Silva (professora), João Mariano, Tatiana Nunes
(Escola Secundária António Inácio da Cruz)

Golfinho Parade, em Setúbal (07)

"Preservação dos Golfinhos e sua Sobrevivência"
Rita Matos Chaves

Golfinho Parade, em Setúbal (06)

"A Multiculturalidade nas Nossas Mãos"
Vanessa Sequeira
Futuro Segurokids

Golfinho Parade, em Setúbal (05)

"Tributo a Poseidon"
Carolina de Melo Pereira (professora), Sara Sofia Costa, Selma Janine Duarte
(Escola Secundária da Amora)

Golfinho Parade, em Setúbal (04)

"golFadinho do Estudante"
Raquel Sousa Silva (professora), Ana Moura, Ana Margarida Pereira
(Escola Secundária António Inácio da Cruz)

Golfinho Parade, em Setúbal (03)

"Palavras de Amor"
Raquel Sousa Silva (professora), Catarina Amanhada, Rute Sobral
(Escola Secundária António Inácio da Cruz)

Golfinho Parade, em Setúbal (02)

"O Fim das Linhas"
Carlos Pereira da Silva

Golfinho Parade, em Setúbal (01)

"Sado Adentro"
Maria Irene Pereira (professora), Fábio da Silva Leitão, Patrícia Alexandra Guerreiro
(Escola Secundária de Palmela)

domingo, 26 de junho de 2011

"A última entrevista de José Saramago", por José Rodrigues dos Santos

“José Saramago, cidadão do mundo e escritor universal, é nosso; nosso, da lusofonia. A sua casa, a verdadeira identidade que o moldou e fez dele o que ele foi, é, afinal, a língua portuguesa.” É este o parágrafo que remata A Última Entrevista de José Saramago, de José Rodrigues dos Santos (Lisboa: Gradiva / RTP, 2011), agora publicada em edição autónoma, mas que já integrou o livro Conversas de Escritores (Lisboa: Gradiva, 2010) do mesmo autor. O parágrafo vem a propósito da casa Saramago em Lisboa e por causa de um plátano, mas singra por essa afirmação que conjuga identidade e lusofonia…
O pretexto desta edição será o primeiro aniversário da morte de Saramago, momento adequado para que as palavras de Saramago, numa reflexão sobre a sua obra, sejam iluminadas. A entrevista ocorreu oito meses antes da morte do autor de Memorial do Convento na biblioteca do Palácio Galveias, em Lisboa, local escolhido por Saramago, que o próprio justificou: “Foi nesta biblioteca que descobri a literatura. A minha família era muito pobre e não havia livros lá em casa, de maneira que, quando eu tinha os meus dezassete ou dezoito anos, descobri esta biblioteca e vinha para aqui ler sem que ninguém me guiasse na leitura. Descobri a literatura sozinho.”
A entrevista passa pelo conjunto da obra saramaguiana desde Terra do Pecado (de 1947) até Caim (2009), com revelações sobre a importância dos seus títulos, como faz, ao responder à observação de que Memorial do Convento (1982) será a obra do reconhecimento público: “Há um outro livro que, no fundo, é parente directo do Memorial e do Levantado do Chão [1980], mas talvez mais do Memorial, que é a Viagem a Portugal [1981]. Esse livro de viagens, que parece ser só isso, não podia ter sido escrito noutra altura nem ter outros companheiros de viagem que não fossem aqueles.”
Interessante é a resposta de Saramago quando Rodrigues dos Santos lhe fala da actividade de tradutor e das possíveis influências que as obras traduzidas por Saramago (cerca de 60) poderão ter tido na sua obra: “O autor é um tradutor. É alguém que traduz um sistema de sinais: emoções, pensamentos, sonhos, devaneios. Isto é um trabalho de tradução, porque tudo isso constitui uma linguagem que, se não encontrar uma forma comunicável de transmissão, fica cá dentro da cabeça de cada um de nós.” Esta interpretação vai encontrar eco mais adiante, no momento em que Saramago defende o valor da linguagem na construção literária – “Uma história bem construída é indispensável; aquilo tem de estar estruturado, tem de manter-se de pé. Mas eu costumo dizer que, da mesma maneira que o corpo humano tem setenta por cento de água, a literatura é setenta por cento de linguagem.”
Homem de criação e de ideias, Saramago esmera-se na comparação da construção de um romance com o crescimento de uma árvore – um e outra têm um limite que se impõe em certa fase do crescimento. Fiel às convicções, justifica a importância da palavra “não”, pela sua simbologia associada à revolução, ainda que se corra sempre o risco de uma revolução se tornar num novo “statu quo”, “num novo sim”.
A questão da pontuação – uso das vírgulas, transgredindo a norma do registo do discurso directo, ou dos nomes próprios com minúsculas – usada por Saramago nas suas obras tinha de estar presente. E a resposta teria de ser artística: “Há uma razão básica que é uma tentativa, talvez nem sempre lograda, de aproximação do discurso escrito ao discurso oral”, afirmação justificada com o ritmo da linguagem e da vida – “Nós falamos como quem faz música; toda a fala e toda a música se constrói com sons e pausas.”
Merece ainda uma referência a observação de Saramago quanto à oportunidade de, no ensino secundário, ser estudado o Memorial, “que levanta uma infinidade de problemas para os quais os alunos com essa idade não estão nada preparados”. Em alternativa, propõe que seja estudada uma obra como A Escola do Paraíso (1960), de José Rodrigues Miguéis, “onde se fala de coisas mais próximas deles”. O leitor que tenha viajado até ao volume de Correspondência 1959-1971 entre Miguéis e Saramago (organizado por José Albino Pereira e publicado em 2010 – Lisboa: Caminho) poderá ver que a admiração e o reconhecimento de Saramago por Miguéis constituem uma marca genuína.
Este trabalho de José Rodrigues dos Santos é ainda um modelo de construção de entrevista. Nela, o entrevistador vai ao encontro «do» e «com o» entrevistado, sabendo muito sobre ele, conhecendo a sua obra, tentando suscitar explicações, deixando que o entrevistado se manifeste a colaborando numa espécie de leitura da entrevista (ou do entrevistado), tal como acontece no momento em que Saramago explica que, para um romance, tem necessidade de que se lhe apresente uma “ideia provocadora” que reflicta uma preocupação, ainda que, inicialmente, pareça fugir à lógica – nesse momento, intervém Rodrigues dos Santos, observando que, “de um ponto de partida inverosímil, cria uma situação que depois é verosímil nas suas consequências”, exultando Saramago: “Exactamente, exactamente! Você definiu isso muito bem!”

sábado, 25 de junho de 2011

Nuno Júdice em entrevista

A revista “Única”, que saiu com o Expresso de hoje, traz uma entrevista com Nuno Júdice feita por Clara Ferreira Alves, que vale a pena ler. Por lá perpassa o mundo e o compromisso do escritor, o papel das livrarias na leitura, a literatura actual, os valores da literatura portuguesa e os seus nomes esquecidos, o acordo ortográfico… São palavras de poeta, de professor, de teórico, de leitor e de pensador aquelas que Nuno Júdice nos deixa e de que destaco alguns exemplos.
Livrarias – «As livrarias perderam a função de estimular o leitor, encaminhá-lo para a escolha apropriada, pela qualidade do livro. Os livreiros dantes tinham esse conhecimento da vida literária.»
Liberdade – «Nunca vivemos tão livres, mas o pensamento é hoje muito pouco livre.»
Cânones – «Hoje, o cânone é o do mercado. O que obedece a uma construção a que o leitor estará habituado. Se o escritor quiser vender (…) embora muitos desses livros até possam ser bem construídos. Coerentes. São superficialmente obras literárias, mas estarão para a literatura como o McDonald’s está para a gastronomia. O que estamos a consumir como literatura são produtos em série. Nada a ver com a invenção, a criação literária. O que o escritor tem de fazer é romper com as normas, ir além das normas. Como aconteceu antes.»
Leitura e literatura – «A literatura desapareceu da terminologia do português. Tem de haver um mínimo de leitura obrigatória que corresponda a uma ideia de história da literatura. Ler só contemporâneos não faz sentido, porque se perde o que está por detrás, o fio condutor.»

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Em Paris, com Julien Green

No conjunto de 22 crónicas sob o título Paris (Lisboa: Tinta da China, 2010), Julien Green (1900-1998) faz a sua escrita deambular pela Paris luminosa ou nocturna, em paz ou sofredora, num encontro com a história, com episódios quotidianos, numa despedida ou num reencontro, antes ou depois da guerra.
Nestes textos, traduzidos por Carlos Vaz Marques, surgem marcas do tempo de escrita, firmadas por referências de alteração da cidade ou por convulsões da história. E o leitor percorre os becos, as escadas, os espaços abertos, as zonas mais frequentadas ou as ruelas de uma cartografia quase particular, ora sentindo o chão calcorreado pelo viandante que testemunha e sente, ora sobrevoando telhados e contemplando artérias que vão dar aqui ou ali, que se encontram.
É uma escrita de afectos aos lugares, desviando o leitor das turísticas peregrinações, mas levando-o a ouvir praças, monumentos tempos. E convidando-o ainda a incursões cronológicas, com recuos a outras eras, através do abrir de uma porta ou da visita a um templo.
Green localiza-se na cidade e revisita o espaço em que também fez viver algumas das suas personagens. Preocupa-se com as imagens que guarda do passado e alerta para o futuro, sentindo as ameaças sobre a cidade, que é também o seu ninho de afectos.
Não é um roteiro para seguir, é um roteiro seguido, experimentado, vivido, pessoal, que ensina a olhar, a viver, a sentir a cidade. É Paris na sua magia, com apelos para a memória, para o equilíbrio, para a natureza da cidade em que se passeia, se deambula. E mesmo numa capital como esta pode haver lugar para uma carta que é declaração de amor às árvores, como é o caso do texto “Escuta, lenhador…”, em que elas, as árvores, mostram as suas vantagens: têm a seu favor “o silêncio dos amantes, as brincadeiras das crianças, as divagações dos solitários e um povo livre e sem constrangimentos, ou seja, os pássaros.”
Deixando-se levar por uma escrita onde não falta o pendor memorialístico e uma observação apurada, o leitor é sub-repticiamente levado a agarrar ou a deixar-se agarrar pela cidade.

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«A cidade, efectivamente, sorri apenas àqueles que se aproximam dela e que deambulam pelas suas ruas; a esses, ela fala numa linguagem tranquilizadora e familiar.»
«A não ser que se tenha perdido realmente tempo numa cidade, ninguém poderá considerar que a conhece bem. A alma de uma grande cidade não se deixa apreender facilmente; é preciso, para se comunicar com ela, termo-nos aborrecido, termos de algum modo sofrido nos lugares que a circunscrevem.»
«O viajante, por mais que fale, parece, quando termina, não ter dito nada. Isto porque quereríamos que ele nos oferecesse a cidade inteira, que ela nos fosse entregue com o murmúrio das suas ruas e o sol sobre as casas e o alvoroço das crianças nas praças; ele não nos traz mais do que uns ecos disso.»
«Um dos segredos das grandes cidades é proporcionarem aos flâneurs passeios cujo encanto se torna por vezes inexplicável, e por muito que me digam que a minha satisfação resulta do facto de as casas serem belas, as alamedas longas e as pedras antigas, há algo mais a que as palavras não podem senão fazer uma vaga alusão: uma certa ligeireza íntima que nos é dada pela presença de uma árvore perto de um telhado, ou por uma rua ensolarada, pela súbita frescura de uma cúpula negra sob as arcadas altivas de um palacete de outrora.»
«Há na paisagem parisiense qualquer coisa de tão perfeitamente indefinível como na expressão de um rosto humano.»
«[As estátuas] são um pouco como que sentinelas desse mundo de pedra, de bronze, de mármore, espiando de perto, em certo sentido, as nossas atitudes incompreensíveis, tal como é incompreensível para o homem comum a agitação dos insectos.»
«Enquanto jovem, eu só tinha um desejo quando chegava o bom tempo: partir, ir passear para longe com os meus desejos e os meus sonhos, que por vezes se misturavam, mas, com o passar dos anos, apercebo-me de que todos os horizontes longínquos se reúnem e de que os percorremos muto melhor intimamente.»
«Vivemos, à beira do século XXI, com ideias absolutamente retrógradas, em particular na forma de construir as nossas cidades. Não se trata de querer abolir o passado, mas de o usar como memória, e o inventário que o futuro fará é antes de mais o de tudo aquilo que as várias gerações nos ofereceram de mais belo desde a primeira pedra talhada pelo homem.»
«Desde que nasci, no XVII bairro, perto da porta des Ternes, depois das guerras e dos anos de exílio, e mesmo depois de todas as viagens que me levaram a quase todo o lado onde queria ir, vim reencontrar a minha cidade-natal com uma admiração igualmente intensa de cada vez que regressei.»

terça-feira, 21 de junho de 2011

Do exame de Língua Portuguesa de 9º ano

No exame de Língua Portuguesa de 9º ano, que ontem aconteceu, Camões e a sua epopeia foram metidos de forma inteligente no enunciado, através de um excerto de José Saramago, de Que Farei com este Livro?.
Houve, no entanto, duas questões que poderiam ter sido mais pensadas, talvez retiradas: uma, que, remetendo para o óbvio, destoa um pouco do nível da prova – a nº 6, da Parte B, do I Grupo: “Relê as linhas 17 a 20. Indica a razão pela qual Luís de Camões dirige ao conde de Vidigueira o pedido de protecção.” Ora, nas linhas 17 a 20, a personagem Camões diz ao Conde: “A carta pedia a vossa protecção para as oitavas que por cópia estão em vossas mãos e para as irmãs delas que em minha casa ficaram. Disse-vos que é uma obra composta sobre os feitos dos portugueses e a navegação para a Índia, em que esteve vosso avô como capitão-mor.” Resposta óbvia, com tão reduzido grau de dificuldade que dá (terá dado) para os alunos desconfiarem… De acordo com o cenário de resposta constante nos critérios de correcção, a solução é: “Indica que Luís de Camões dirige ao conde de Vidigueira o seu pedido, uma vez que há uma relação de parentesco entre o conde e Vasco da Gama, personagem da obra para a qual Camões pede protecção.”
A segunda observação relaciona-se com o último item da pergunta 9 da Parte C do I grupo, em que é solicitado um texto expositivo, que deverá seguir vários pontos, designadamente o de referir uma “semelhança entre [o episódio da partida das naus de Lisboa] e o episódio do Adamastor”. A gente pensa e lá vai encontrando umas aproximações, quais sejam as advindas de algum aventureirismo que se confronta com o desconhecido e com o perigo, por exemplo. Fica a sensação de que só se perceberá o que quer o autor da prova quando os critérios de correcção forem lidos. E eles aí estão: “Refere uma semelhança. Por exemplo: tanto «Despedidas em Belém» como «O Adamastor» são episódios da viagem para a Índia.”
Com tão banal semelhança, que dizer deste tipo de critérios?
Quanto ao resto, uma prova equilibrada, abrangente, valorizando a competência da leitura, mas também a cultura geral, ainda que podendo ter um grau de dificuldade mais considerável!...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Direito ao copianço

Na disciplina de Investigação Criminal e Gestão do Inquérito ministrada no Centro de Estudos Judiciários, terá havido copianço no teste e houve a decisão de a todos os candidatos ser atribuída a nota 10, segundo os jornais de ontem.
Depois disto, vemos as justificações: “não fazer nada e branquear a situação não era razoável”, “repetir o teste era praticamente impossível”, “houve um conjunto extenso de alunos que não copiou”, “excluir toda a gente do curso era inimaginável”. Quatro razões para a atribuição de 10, devidas a um responsável do CEJ, reproduzidas no Jornal de Notícias.
A decisão colheu adeptos. E um representante da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, ainda segundo o mesmo jornal, explicou que esta opção “equivaleu a anular a função classificativa do teste e não deixou de obrigar as pessoas a prepararem-se para o teste.”
Com estes argumentos, nem valeria a pena haver testes! Só pelo facto de os formandos estarem inscritos e irem às sessões já deviam ter, no mínimo, 15 (na escala de 0-20), imagina-se! É por argumentos destes que apetece não insistir na honestidade ou na verticalidade, sob pena de sermos considerados retrógrados… e é o convite a este facilitismo que domina a sociedade, ainda que, paradoxalmente, depois se não acredite em quem se formou à custa destes esquemas…
Afinal, copiar num teste ou num exame é ou não é fraudulento? E a fraude é ou não é punível?
O mais curioso é isto passar-se justamente no âmbito da justiça, onde nem devia ser imaginado! Com tais exemplos, qualquer aluno de 9º ou de 12º ano que, a partir do dia 20, esteja em exames tem direito a reclamar o direito ao copianço a troco da positiva mínima. É a lei da analogia… Ah, mas esses não podem, porque a norma dos Exames Nacionais diz que…
Por outro lado, o argumento do representante da ASJP, segundo o qual “pode ter havido algum equívoco, da parte [dos candidatos], sobre a natureza individual do teste”, também não colhe – é que até os jovens do 9º e do 12º anos têm de saber que os testes são individuais (tenham ou não cruzinhas) e não se confundem com trabalhos de pares ou de grupo!

domingo, 12 de junho de 2011

"Retrato a Sépia", de Paulo Assim

Retrato a Sépia, de Paulo Assim (Azeitão: Associação Cultural Sebastião da Gama, 2011), é título que reúne as características do que diz – a fotografia revestida com a cor da memória. É, aliás, o próprio poeta quem abre essa porta da interpretação e da imaginação logo no início: “Saio para a rua, / esse lugar chamado infância.”
Fica, assim, evidente esse peregrinar pelo passado, com ligações simbólicas fortes à família e a outras marcas como a árvore, a ave, a casa, a aldeia, etc., elementos intensos nessa busca de identidade através da poesia – ao evocar o pai, escreve o poeta: “Ainda o ouço dizer: nós, seres humanos, somos uma mistura / de árvore e de pássaro: / precisamos de raízes, mas também de asas para irmos mais longe.”
A linguagem metafórica em Retrato a Sépia é intensa, haja em vista exemplos como a recomendação maternal de “estender os poemas na varanda”, porque as palavras, quando aprisionadas, podem levar a que, “em vez de leres amor lês bolor”, ou aquele do gato “que nos lambia o sol das mãos” e “caçava histórias de aves brancas fugidias” ou ainda aquela imagem da avó que “emprenhava o alguidar” que daria a massa para um forno que “mais não era do que o útero da humanidade”.
Da infância ficam ainda os sons, os aromas, os sabores, os objectos, as pessoas. Algo que jamais se perderá, algo que contribuirá com as suas marcas para o fenómeno da identidade, chegada mesmo através da poesia. E, por isso, o poeta conclui a sua mensagem com o recurso à arte de retratar, sem a imposição da cor porque os vários matizes lhe são dados pela memória: “Estamparam-nos as marcas de água na textura maleável do corpo: / seremos sempre como papel genuíno de um retrato ainda por tirar.”
Obra linda de por ela entrar é este Retrato a Sépia, que fica próxima de excelentes obras de poesia que têm sido conformadas pela contemporaneidade, em que o registo numa linguagem simbólica e metafórica é o responsável por uma bela escultura da memória.
Paulo Assim tem assinados os trabalhos A Quinta-feira dos Pássaros (Ponta Delgada: Veraçor, 2010) e Celulose (Lugar da Palavra Editora, 2010). Com o trabalho Retrato a Sépia, foi o vencedor da 13ª edição do Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama (2011).

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Em Setúbal, golfinhos enchem Doca dos Pescadores



A Doca dos Pescadores, em Setúbal, foi invadida por duas dezenas de golfinhos multicores, pretextos para imaginações variadas e para mensagens entre a cidadania e a arte. É a exposição “Golfinho Parade”, inaugurada na tarde de ontem, que vai colorir aquele espaço até Setembro.
De cerca de três centenas e meia de projectos que apareceram no concurso para esta exposição foram seleccionados vinte, apresentados por escolas, por grupos ou por artistas individuais, originários de uma geografia entre Bombarral, Ponte de Sor, Grândola, Amora, Palmela e Setúbal.
A iniciativa envolve a Câmara Municipal de Setúbal e diversos parceiros e pretende chamar a atenção para um dos símbolos sadinos – o golfinho roaz – e animar a frente ribeirinha, propósitos que se associam ao facto de a baía de Setúbal integrar o Clube das Mais Belas Baías do Mundo. Esta exposição pode, de resto, ser conjugada com uma visita à Casa da Baía, na Avenida Luísa Todi, onde estão expostos todos os projectos que se candidataram à “Golfinho Parade”.
Os títulos dados à vintena de golfinhos saltitantes pela Doca dos Pescadores são: “Sado Adentro”, “O Fim das Linhas”, “Palavras de Amor”, “golFadinho do Estudante”, “Tributo a Poseidon”, “A Multiculturalidade nas Nossas Mãos”, “Preservação dos Golfinhos e sua Sobrevivência”, “Qualidade Rara de Sereia”, “Fragmento Azul”, “Já Golfinho Não Sou…”, “Mar de Cores”, “Terceiro Olho”, “Face it”, “Metamorfose do Rio”, “Tempo de Continuar”, “Vejo da Minha Janela”, “A Gala de Neptuno”, “Rio Azul”, “Sem Título” e “Golfinho Sor”.
O visitante pode contemplar a harmonia e a elegância do que são os saltos dos golfinhos, estando as peças nas diversas fases do salto dos roazes, e dará o tempo ali gasto a contemplar a arte e a natureza por bem utilizado.

Para memória futura

Na edição do jornal Metro de ontem, Manuel Falcão assinou o artigo “Para Memória futura”, que se inicia desta forma: “As eleições de domingo foram o reflexo de um país cansado de mentiras e promessas vãs”.
Não sei se as “mentiras” eram compulsivas ou deliberadas; não sei tão-pouco se não eram mais fantasias do que qualquer outra coisa. Sei que cheguei ao ponto de evitar ouvir na rádio ou na televisão os discursos de José Sócrates, não porque tivesse receio de acreditar, mas para zelar por alguma paz de espírito pessoal. O frenesim de promessas associadas à esperança e a outros galanteios que, noutras circunstâncias, poderia contribuir para a autoestima dos portugueses gastou a imagem e tornou o discurso cada vez mais oco e opaco.
Não me admirei, por isso, com o discurso final de José Sócrates na noite das eleições. O único pormenor que me despertou a atenção foi a convicção com que Sócrates se remeteu para o seu direito de ser feliz como qualquer outra pessoa nos próximos tempos. Oxalá! Já agora, desde que essa felicidade não colida com ninguém… Acho mesmo que o direito à felicidade deve passar pelos mais íntimos projectos de vida.
Mas, “para memória futura”, ficaram-me também duas ou três histórias ouvidas – involuntariamente ouvidas, asseguro – durante a campanha eleitoral.
Um dia, almoçava num restaurante da capital quando, ao meu lado, uma cliente rapa do telemóvel e põe-se a dizer à sua interlocutora que estava farta da secretaria de estado (não sei qual), que estava desejosa de voltar (à terra ou ao antigo serviço, supus), que já não suportava aquela vida, mas que… no dia 5, ia votar no PS, mas adorava que o PS perdesse… Quase me ia engasgando! Quando se está sozinho à mesa do restaurante, não há outro remédio senão ouvir o que se passa ao lado… e, ainda por cima, a senhora falava alto qb!
Uns dias depois, um amigo que não é partidariamente filiado mas que trabalha numa estrutura socialista dizia-me que estava tão farto das exigências associadas ao exercício do poder que achava que os socialistas deviam perder as eleições. “Eles têm de aprender”, garantia-me.
No último dia de campanha, um amigo liga-me e diz-me: “Sabes que me ligou a X…, dizendo que ia votar no PS, mas que levava duas rennies para tomar logo a seguir para digerir o que ia fazer?”
As três historietas valem o que valem. E valerão pouco, acredito. Mas fui buscá-las por causa da tal “memória futura”… É que estas pessoas, se não estavam a representar papéis, estavam pelo menos a ser vítimas de um sistema que deixou muita gente à beira da incredulidade, agindo contrariamente às mais profundas convicções, despersonalizando-se mesmo.
Haverá algum sistema ou partido político que valha isto, seja ele qual for?
Hoje, ao ouvir a notícia da candidatura possível de Francisco Assis para o lugar de Sócrates no partido, lembrei-me novamente da “memória futura”: é que, depois do que aconteceu, aparecer o mito do “devolver a esperança aos portugueses” como tarefa do partido, precisamente pela força e pelos agentes que contribuíram para o que estamos a viver… não faz sentido. Ou será que “devolver a esperança” é uma metáfora politicamente correcta apenas?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Legislativas 2011 - Deputados eleitos pelo distrito de Setúbal

O Setubalense: 06.Junho.2011

Legislativas 2011 - Resultados do concelho de Setúbal

O Setubalense: 06.Junho.2011

Legislativas 2011 - Resultados do distrito de Setúbal

O Setubalense: 06.Junho.2011

Máximas em mínimas (67) - Dulce Maria Cardoso

Tempo – "O tempo perde importância à medida que escasseia. Quanto mais escasso menos valioso. Deve ser a única coisa que vale menos à medida que se torna mais rara."

Vida – "Quase todas as vidas dariam maus livros por causa das verdades absurdas de que se fazem.”

Reparar – "Não se repara no que se viu fazer desde sempre."

Passado – "Os passados só se tornam acessíveis se os mapas os assinalarem e se para lá houver caminhos.”

Assinatura – "A nossa letra compromete-nos quase tanto como o nosso sangue. Um nome assinado torna-nos proprietários. Ou desapossa-nos. Riscos feitos por uma mão. Riscos que não valem nada e que afinal são os que os fazem."

Livros – "Os livros oferecem-se sem escolha a todos os que os quiserem ler. E, se redimem, fazem-no de forma tão caótica e tão insondável que ninguém poderá ter nisso qualquer esperança. Talvez os livros escrevam direito por linhas tortas. Como Deus."

Dulce Maria Cardoso. "A Biblioteca". O Prazer da Leitura. Lisboa: Teodolito / FNAC, 2011, pp. 101-119.