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terça-feira, 26 de outubro de 2010

José Mattoso, o Medievalista

A ideia para o título deste postal vem da introdução à entrevista que Anabela Mota Ribeiro fez a José Mattoso, publicada na edição online do Público e parte do conhecimento e da obra que este historiador tem consagrado à Idade Média.
Ler uma entrevista com Mattoso é um poço de revelações, seja pela perspectiva cultural, humana, social, religiosa ou outra que tenha a ver com a nossa identidade. E esta, surgida a propósito da edição de História da Vida Privada em Portugal (de que saiu o primeiro volume, abrangendo o período da Idade Média), dirigida por Mattoso, passa por tudo isso – é biográfica e é intelectual, é humanista e é de saber. Um documento e um testemunho a não perder, num encontro onde passado e presente se conjugam na harmonia de uma experiência em que todos podemos aprender. A ler aqui.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Entre os caminhos e as escolhas, a solução de José Mattoso

"Se há muitas maneiras de cumprir o destino humano, como mostra a variedade de caminhos que o Homem tem seguido através do tempo e do espaço, e se isso é positivo por demonstrar as suas inúmeras virtualidades, é preciso também preservar aquele caminho que consiste em escolher a renúncia ao sucesso, ao ganho imediato, à precipitação, enfim, à ânsia de poder, donde nasce toda a espécie de conflitos. A minha referência, para deixar as coisas claras, é Jesus Cristo. Ele afasta-se da multidão para orar, mas não deixa nunca de pregar, e de pregar a aceitação da realidade e a paz. A minha pregação, se assim lhe posso chamar, é explicar o sentido da História."
José Mattoso, em entrevista a Ana Teresa Ferreira
(a propósito do lançamento da obra História da Vida Privada em Portugal por si coordenada).
Círculo de Leitores. Lisboa: Círculo de Leitores, nº 193, Set.2010.

domingo, 5 de setembro de 2010

Em louvor dos pequenos passos

"Acho que as grandes transformações se dão por pequenos passos. Por outro lado, como sou muito pessimista em relação a estes grandes fenómenos de hoje - a globalização da economia, do domínio tecnológico, etc., e das transformações ecológicas que nos põem cheios de medo diante do futuro -, é nesses pequenos passos que ponho a minha esperança. (...) [Aquelas] são transformações provocadas pelo excesso de poder. Excesso de poder tecnológico, de poder financeiro, de poder político, de poder de controlo sobre a vida das pessoas. Excesso também de domínio ideológico - ou melhor, não é ideológico porque não há ideologia. É alienação. Portanto, os grupos que poderiam evitar as alterações climáticas são aqueles que não querem perder o domínio económico. Não vão alterar tudo o que leva aos detritos poluentes, aos produtos tóxicos. Não vão evitar o recurso à invasão da vida privada das pessoas para se garantir a segurança. Não vão fazer isso e não é lógico que o façam. Só o farão se houver uma catástrofe."
José Mattoso, em entrevista a Carlos Vaz Marques. Ler. Lisboa: Fundação Círculo de Leitores, nº 94, Setembro.2010.

sábado, 6 de março de 2010

José Mattoso e a “ideia para Portugal”

É a segunda personalidade a reflectir sobre uma “ideia para Portugal”, não sob a forma de entrevista, mas num texto-depoimento que saiu na edição do Público de hoje. Escrito poderoso, sem rodeios, assente na cultura, de que transcrevo alguns excertos, alinhados nos subtítulos originais:
História e previsão – “(…) Na verdade, não podemos cultivar ilusões. O mundo será sempre o mesmo: com hegemonia americana, europeia ou chinesa, com globalização ou sem ela, com revoluções ou governos estáveis, com guerras ou com a paz, teremos sempre de contar com o sofrimento, a desigualdade social, a luta pela vida, a morte. (…) Se me perguntam o que espero para Portugal nos próximos anos, devolveria a pergunta aos economistas e sociólogos. Sem ilusões, é claro. Em tempos de crise, como a actual, as suas previsões podem traduzir probabilidades, mas também a intenção oculta de influenciar a opinião pública para tranquilizar os investidores, beneficiar o funcionamento normal da máquina financeira ou favorecer os sectores políticos a que estão ligados. Raramente revelarão informações seguras, ou seja, estatísticas exactas, completas e significativas. A manipulação estatística é uma arma poderosa. (…) As previsões 'científicas' ignoram o inesperado, como aconteceu no 11 de Setembro. (…)”
Identidade nacional – “(…) Que se pode, então, esperar do futuro próximo de Portugal em virtude de factores identitários ou estruturais? (…) Notemos a diferença entre o Portugal atlântico e o interior, o densamente povoado e o desertificado, o citadino e o que resta do rural. (…) Um país feito de bocados que nada consegue unir. Acontece não só nas estruturas socioeconómicas, mas também na produção cultural, cuja 'norma' é a 'descontinuidade de saltos geracionais' (Eduardo Lourenço, citado por Miguel Real), e a esterilidade institucional das obras geniais (Fernão Lopes, Nuno Gonçalves, Vieira, Pessoa, Amadeu, Antero...). Daí o 'irrealismo', acentuado por Eduardo Lourenço, tanto do discurso patriótico alimentado pela epopeia dos Descobrimentos e assumido pelo Estado Novo, como do pessimismo decadentista dos Vencidos da Vida, ambos resultantes do complexo de inferioridade nacional. (…)”
Desencanto – “(…) Depois dos entusiasmos criados pelas expectativas da integração na Europa, os portugueses descobrem que os níveis de vida, a educação elementar, a cultura, as capacidades técnicas, a competitividade económica, o funcionamento das instituições, o desempenho da justiça, a eficiência do regulamento jurídico, continuam tão longe dos níveis da Europa como sempre foram. O "atraso" português é uma dura realidade. (…)”
Saber durar – “(…) Uma das descobertas mais simples e mais irrecusáveis do após 25 de Abril é que Portugal é um país como os outros. Sem missão providencial, sem Quinto Império, sem realizações espectaculares, sem lugar especial no mundo, apesar dos Descobrimentos. Com alguns génios, reais, mas não muito numerosos. Não é provável que para ele se desloque o centro do mundo, ou venha a desempenhar um papel de relevo na confrontação das civilizações. (…) A aceitação do quotidiano pode também significar a libertação tanto dos complexos de inferioridade como da paranóia colectiva. (…) Deve, ser tomado não como programa pessoal sustentado a qualquer preço, mas como convite à resistência quotidiana, à inteligência na busca de soluções possíveis, à busca da solidariedade social, de partilha do bom e do mau, de honestidade e persistência no trabalho, de aceitação da responsabilidade, de sabedoria. (…) O que os nossos antepassados nos ensinam, é isso mesmo - não proclamar glórias quinhentistas que não são nossas, mas de quem as viveu; não declinar responsabilidades inerentes à vida em sociedade; não lamentar vícios nacionais, mas combatê-los; não cultivar utopias enganadoras ou esperanças vãs, mas ser realista e pragmático. Por mais moralista que este discurso pareça (ou seja!), não creio que possamos dispensar-nos de pensar assim, nesta época de dúvidas tão radicais acerca do nosso futuro como as que resultam da globalização, da comunicação em 'tempo real', do domínio da técnica sobre a biologia, da facilidade com que se compra o armamento, da irresponsabilidade com que se agride a natureza. (…)”
O lugar dos justos – “(…) Não acredito numa ideia para Portugal senão baseada no respeito pelo Homem e pela sua dignidade. (…) O que a vida me tem ensinado é que existem mais 'justos' neste mundo do que se pode saber através dos jornais. Há muitas formas de santidade oculta, nem que seja por meio do sofrimento assumido, do apaziguamento, da noção do dever. A religião católica aliada ao individualismo atrofiou o conceito de 'justo'. (…) Os 'justos' são a porção viva e sã, mas escondida, da comunidade a que pertencem. Garantem a sua capacidade de regeneração. (…) Talvez isso sirva de antídoto contra a desilusão que nos causam os poderosos da finança, da política ou do espectáculo. (…)”