Mostrar mensagens com a etiqueta Índia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Índia. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 1 de março de 2017

Para a agenda: José Manuel Graça Dias apresenta Goa na Culsete



A Livraria Culsete, em Setúbal, não chegou a fechar. Ainda bem para todos, ainda bem para a cultura, ainda bem para o livro, ainda bem para Setúbal! As portas mantiveram-se abertas e há uma equipa de trabalho que está disponível, que ajuda e que se esforça nesta saga do que é o livro.
Além do mais (que não é pouco) a Culsete continua disponível para a promoção do livro e a prova é a iniciativa que vai acontecer já no dia 3, sexta-feira: José Manuel Graça Dias, co-autor de Goa - Passado Que Futuro? (edição de Calçada das Letras), vai estar presente em sessão na livraria, pelas 18h00. A obra tem ainda como co-autora Elsa Rodrigues dos Santos e a sua temática goesa passa pelas áreas da História, da geografia, da economia, da cultura e da política. Para a agenda!

sábado, 4 de outubro de 2014

Para a agenda - Flautas tocam a Índia em Palmela



Na tarde de amanhã, pode-se ouvir música clássica do sul da Índia em Palmela. "O canto da flauta", com Shantala Subramanyam, Akkarai Sornalatha e Akshay Ananthapadmanabhan. Nas instalações da Sociedade Filarmónica Palmelense "Loureiros", em Palmela. Para a agenda.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Duarte Ivo Cruz e a Índia no teatro português

Apesar de a Índia ser o grande motivo da epopeia camoniana, a verdade é que ela não constitui uma temática forte na dramaturgia portuguesa, sendo ultrapassada por outros momentos históricos. No entanto, os textos dramáticos portugueses que abordam a Índia pautam-se pela qualidade, ainda que tendo como motivação comemorações ou figuras e com uma visão a partir de Portugal. Este é o ponto de partida de Duarte Ivo Cruz na obra O Tema da Índia no Teatro Português (Col. “Essencial”. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2011).
Facilmente nos recordamos de Gil Vicente, o pai do teatro português e também o responsável pela inserção desta temática no texto representado, haja em vista o Auto da Índia, representado em 1509, em tom crítico e até contundente, “politicamente incorrecto”, dirá Duarte Ivo Cruz. No entanto, o rumo alterar-se-á e o teatro dará primazia às terras de África no que ao fenómeno da Expansão diz respeito.
Ivo Cruz faz a revisão essencial – correspondendo ao desígnio que norteia a colecção, de resto – da dramaturgia ligada à Índia, passando por nomes como Camões (mesmo porque o seu Filodemo foi lá estreado em 1555), António Ferreira (Fanchono, 1554) ou Simão Machado (Comédia do Cerco de Diu, 1601), entre outros, mencionando também o teatro que era feito a bordo ou o que tinha propósitos missionários.
A época romântica, mesmo pela dinâmica que ao teatro incutiu Garrett, dará alguma importância à Índia, mas sem elevado compromisso. Marco importante para o temário da Índia no teatro português é o final do século XIX, aquando da comemoração do quarto centenário da viagem do Gama, com direito a concurso nacional, tendo-se falado das obras de Marcelino Mesquita, Silva Gaio, Lobo de Ávila ou Júlio de Castilho, entre outros nomes. No entanto, algumas das obras não chegaram a ser representadas e outras nem foram publicadas.
Apesar de nesta temática terem investido nomes importantes, como Lopes de Mendonça, Carlos Selvagem ou Ramada Curto, a verdade é que outros dramaturgos de relevo do século XX e mais recentes, como Romeu Correia, Natália Correia, Helder Costa ou Luzia Maria Martins, procuram a Índia apenas através de personagens que por lá passaram, o que leva Ivo Cruz a considerar que “o século XX, e já agora, esta primeira década do século XXI, deixa cair em parte o temário indiano”.
A conclusão só pode ser uma: “A Índia, como realidade concreta e quotidiana, mas sobretudo como expressão histórica, constitui de facto um dos temas centrais da dramaturgia portuguesa: mas (…) fica muito aquém, pelo menos em quantidade, do grande tema da Expansão e da colonização africana”.
A retrospectiva sobre este tema é rápida, mas elucidativa. As obras referidas não são analisadas com delongas, mas ficam as referências para mais aturada leitura. Ivo Cruz consegue provar o essencial da sua tese – a da riqueza do tema, em simultâneo com a pobreza quantitativa da produção. Questão genuína de Portugal? O autor não o diz, mas conclui o seu percurso com uma citação de Luís António de Araújo, de 1779, que, ao analisar as causas da decadência do gosto no teatro, escrevia: “Ah! E de que prejuízos não enchem o público aqueles que só se ocupam em lisonjear-lhes as suas paixões! Por isso vemos mais sujeitos inclinados a ler a história de Carlos e Rosaura do que a de Vasco da Gama!” Será que esta pergunta não tem actualidade, nesta como noutras áreas?

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Gonçalo M. Tavares, “Uma Viagem à Índia” dez cantos depois

A obra de Gonçalo M. Tavares Uma Viagem à Índia (Alfragide: Leya / Caminho, 2010) é daquelas que se começa a ler e não se descansa enquanto se não chega ao fim (aí incluindo o prefácio de Eduardo Lourenço), apesar de o seu autor, há dias, ter dito em Palmela que não seria necessário ler esta obra continuada, antes se podia começar num qualquer dos cantos que a alimentam.
O livro conclui com o verso “Bloom, o nosso herói”, em jeito de síntese do que foi toda a narrativa, uma apresentação das vivências de Bloom no seu itinerário pela vida e na sua viagem à Índia. Herói do século XXI, Bloom ruma para a Índia em busca da purificação. E, quando se pensa que tudo vai ser grandioso, vemos o herói a concluir a sua viagem em Lisboa, ofertando a sua mala com um exemplar raro do Mahabarata a um idoso desconhecido, na rua, e sabendo que é procurado pela polícia devido a dois crimes cometidos – assassínio do pai (imagem edipiana), que tinha assassinado Mary (mulher que Bloom amava, qual história de Pedro e Inês), e assassínio de uma prostituta em Paris.
O percurso de Bloom, numa narrativa várias vezes apelidada como epopeia, tem dois momentos importantes: a crença na perfeição e na purificação, buscada algures na Índia, depois de sentir a culpa do primeiro assassinato, e a desilusão trazida, depois de verificar que o mestre supostamente purificador era feito da matéria de todos os homens, roubava e conspirava. A decepção é forte, pois foi o resultado inesperado num destino onde era desejado o paraíso ou a utopia.
Bloom acaba perto do suicídio, impedido pela intervenção de uma mulher, aparente anjo salvador, apesar de ficar dito que “nada que aconteça poderá impedir o definitivo tédio de Bloom”. Com ele, apenas dele, só o velho rádio que pertencera ao pai, que “nem com a viagem voltou a funcionar”, imagem de uma purificação e de uma comunicação impossível, ironia sobre a solidão e a falta de companhia.
Neste trajecto sobre o homem só, há espaço para a reflexão sobre o mal e a maldade, numa viagem frequentemente pelo escabroso, pelas pedras que salpicam a vida. Se o texto se conclui com o termo “herói”, algo que rivaliza com a “inveja” que finaliza Os Lusíadas, certo é que, na lista de palavras que surge no final da obra como “Melancolia contemporânea – um itinerário”, a partir de pistas lançadas nas várias partes da história, a primeira é “razão”, mas a última é “tédio”, termo que, juntamente com “natureza”, tem o maior número de ocorrências nesse itinerário. Irónico, como o destino.
A epopeia de Bloom lembra a epopeia de Os Lusíadas, não apenas pela organização em dez cantos, em que cada um deles tem o mesmo número de estrofes que o poema camoniano, mas também porque o leitor consegue associar passos entre os dois poemas narrativos: os enganos e conspirações para atingir o herói, a ilha dos Amores parisiense, a existência de aliados, o feito “épico” várias vezes assinalado, as reflexões sobre o homem, a viagem, a história de Pedro e Inês (ou de Bloom e Mary), as reflexões sobre a guerra…
Livro de aprendizagem, num percurso repleto de máximas, bem se pode dele dizer que acaba por ser a epopeia do homem do século XXI, que não corre por grandes feitos, que sobrevive no meio de agressividades várias, que se desorienta por falta de pontos de ancoragem.