quarta-feira, 27 de abril de 2011

Portugal ao contrário

Em Lisboa, na Praça dos Restauradores, na tarde de hoje

terça-feira, 19 de abril de 2011

Em Setúbal, livros e amêndoas para o Dia Mundial do Livro, já no sábado

No próximo sábado, 23 de Abril, a partir das 16: 30 horas, a Livraria Culsete (Setúbal: Avenida 22 de Dezembro) vai realizar, a exemplo de anos anteriores, uma tertúlia de leitura, comemorando assim o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor.
Serão perto de duas dezenas os leitores, escritores e não só, frequentadores habituais da livraria, que irão ler vários tipos de textos, numa partilha democrática sem outro limite que não seja o do tempo de leitura.
Para além disso, durante todo o dia 23, a partir das 10 horas, a Culsete vai disponibilizar uma selecção de títulos, de grande qualidade, a preços bonificados, sendo a bonificação de 20%. Os restantes livros à venda na livraria terão uma bonificação de 10%. Passe pela Culsete e veja a nossa escolha. E, se tiver de honrar a tradição pascal de oferecer amêndoas, permita-se este ano dizer como nós: as minhas amêndoas são livros.
Prevê-se, pois, uma muito animada tarde de tertúlia de leitura na Culsete. A entrada é livre, como é habitual. Apareça! Contamos consigo e com os seus amigos.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Em Setúbal, crise mostra-se na saúde e na alimentação

O Setubalense: 18.Abril.2011

Quem é o gajo?

Já não o via há uns dois anos. O encontro foi hoje, casualmente, na cabina de pagamento do parque de estacionamento.
Que é feito? Pergunta dobrada, surgida dos dois lados…. Lá disse da vida, das ideias, dos afazeres, do pensar. Lá me disse que, apesar de aposentado, tinha desistido da intervenção cívica. Gritante!
Participara na vida política a troco de zero durante muitos anos. E também na vida partidária. Mas fartou-se. “Eh pá, sabes o que é estar-se a expor uma ideia e a única preocupação de quem não é da nossa linha é saber: Quem é o gajo? Qual é a cor dele?” Encheu o saco de desprimores e desfeitas. No partido e na vida política local… “A minha vida na política foi por intervenção cívica e nada recebi… Deixei de suportar estar sempre a ouvir para cima de mim as dicas contra os políticos, contra a corrupção e contra os favorecimentos… Eu, que nada tinha a ver com isto, tinha de estar a ser metido no mesmo saco?” Mas o que mais o indignava era essa impossibilidade de se discutirem ideias ou projectos sempre sob o ferrete do “quem é o gajo?”, como se a filiação partidária fosse sinónimo de qualidade ou da sua falta, como se fosse necessário ter um cartão para poder exprimir ideias, para poder apresentar projectos… “Tivesse eu menos idade e ia-me embora daqui para fora…”, rematou.
Bem o entendi. Também já passei por momentos desses do “quem é o gajo?”, ponto de partida para se ser (ou não) aceite numa discussão cívica… Lamentavelmente, é um retrato bem forte da democracia à portuguesa, apesar de todas as maravilhas que dela possam dizer!

sábado, 16 de abril de 2011

Rostos (147)

Lago das Tágides, por João Cutileiro (1998) - Lisboa, Parque das Nações

sexta-feira, 15 de abril de 2011

"A minha vida num livro", de Pedro Sena-Lino

O leitor já pensou em escrever a sua autobiografia, um bocado de si exposto na sua escrita por sua própria vontade? Assim algo como… «Construir a sua própria narrativa: como uma casa onde eu encontro o meu lugar no mundo e na história: na do mundo e na minha própria história. Mais do que uma história de poder é uma história de posse, de mim mesmo por mim mesmo.» A citação transmite o propósito – ou o desafio – deixado por Pedro Sena-Lino no início de A minha vida num livro (Porto: Porto Editora, 2010).
Habituado à escrita criativa, Sena-Lino traça desta vez um roteiro para o leitor-escritor que pretenda escrever-se, numa aprendizagem da escrita autobiográfica que passa por 42 propostas de exercícios, sustentadas em sete capítulos e ainda dois outros capítulos de recomendações e de considerações teórico-práticas.
As propostas de exercícios partem de pequenas reflexões que são outros tantos convites à escrita, alicerçados em sugestões temáticas, muitas delas ilustradas por textos de autores já conhecidos ou de autores que frequentaram os cursos de escrita autobiográfica da “Companhia do Eu”, monitorizados por Pedro Sena-Lino.
Por aqui passam Santo Agostinho e Santo Inácio de Loiola, Sartre, Julien Green, Graham Greene, Neruda, Verlaine, mas também Ruben A., Mariana Alcoforado, Fernanda de Castro, Natércia Freire, Jorge de Sena ou João Gaspar Simões. Por aqui passam a casa e os seus espaços, as perdas e os ganhos da vida, o outro e a imagem que dele fazemos, os relacionamentos e as representações, as amizades, as viagens, as experiências, os amores, as vidas feitas de sons, de odores, de gestos, num itinerário pela memória que se organiza.
No final, o leitor é escritor que correspondeu ao desafio do início. E entrou na essência da escrita autobiográfica: aí, «eu sou de facto quem conta a história, o narrador; quem a viveu, o protagonista; e o que tenho de fazer é perceber se sou eu o autor da minha história – é um exercício de recuperação, de reinvenção, do autor da história, que sou eu. É perceber que eu sou quem me crio, e encontrar a minha história – e a história que eu quero contar com acções do meu percurso de vida.» Philippe Lejeune trocado por miúdos, afinal. A partir daqui… a vida de cada um dá um filme, isto é, um livro!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Umberto Eco na "Ler"

Umberto Eco foi a personalidade que Carlos Vaz Marques entrevistou para o número da Ler de Abril (Lisboa: Fundação Círculo de Leitores, nº 101). O pretexto foi o mais recente livro de Eco, O Cemitério de Praga, mas a entrevista vale por tudo quanto este académico, romancista, leitor, semiólogo italiano nos diz. Ficam alguns passos…
Linguagem – «É esse o poder da linguagem: serve para dizer a verdade mas também para criar coisas que não existem, fazendo crer que têm existência real.»
Realidade – «A realidade é muito mais romanesca do que a imaginação. É por isso que em todos os meus romances sempre recorri a fontes científicas verdadeiras. Porque elas eram mais cómicas, mais dramáticas, mais surpreendentes do que aquilo que pudesse inventar.»
Mentir e fazer de conta – «Mentir é dizer o contrário daquilo que se sabe ser verdade. Digo-lhe, por exemplo, que não está mais ninguém cá em casa. Como sei que a minha mulher está ali dentro, estou a dizer-lhe o contrário da verdade e o contrário daquilo que sei que é verdade, de modo a que você acredite em qualquer coisa falsa. Isto é uma mentira. Outra coisa é dizer o que é falso: seria dizer-lhe que ela não está cá mas sem saber que afinal está. (…) A narração é fazer de conta. E o que é fazer de conta? (…) É um jogo em que, por exemplo, eu digo que vou dar-lhe um murro. Faço de conta que vou dar-lhe o murro mas não lho dou. (…) Fazer de conta é, portanto, o modo de falar a alguém dizendo-lhe: ‘Tu sabes que aquilo que te vou contar não é verdadeiro, mas deves aceitar o meu jogo e fazer de conta que ele é verdadeiro.’ (…) É uma característica da narração, em geral. Da arte narrativa, que nos propõe mundos possíveis, mas nos quais vivemos como se fossem reais. Começamos mesmo a considerar verdadeiros certos personagens, de tal maneira que eles emigram para fora do livro. Quer dizer, D. Quixote existe entre nós. Não temos de ir à procura dele no livro de Cervantes. (…) Por um lado tomamos o mundo narrativo da literatura como se fosse verdadeiro e por vezes tomamos o mundo real como se fosse uma narração.»
Romance histórico – «Os romances históricos são assim: colocam em cena personagens históricos. Habitualmente, as grandes figuras aparecem como pano de fundo. (…) A verdadeira História é representada por personagens de ficção.»
Sábio – «Um sábio que passou a vida a estudar borboletas não quer tornar-se uma borboleta. Porque como borboleta teria uma vida demasiado curta.»
Prémios literários – «São uma forma de fazer publicidade ao livro. A um livro em particular e ao livro em geral. Tornam as pessoas sensíveis à existência de livros. São como uma campanha publicitária para a preservação das árvores. As pessoas, assim, pouco a pouco, habituam-se à ideia de que não devem derrubar as árvores.»
Enciclopédia – «O que é a enciclopédia? É o conjunto das notícias controladas pela comunidade científica que nos diz que vale a pena saber isto e não vale a pena saber aquilo.»
Computador e automóvel – «A chegada do computador foi o que houve de mais espantoso. Mudou realmente a vida de toda a gente e mais rapidamente do que qualquer outra coisa. Os primeiros computadores pessoais apareceram em 1981. Portanto, no espaço de 30 anos, mudaram a nossa vida. O automóvel demorou um século a mudar as coisas.»

sábado, 9 de abril de 2011

Sobre o 9 de Abril [de 1918], em La Lys, na I Grande Guerra

«França, 11 de Abril de 1918
Minha muito querida Helena
(...) Quando receberes esta carta já saberás decerto que os boches fizeram um grande ataque à frente da nossa divisão da linha e de mais duas divisões inglesas. Executaram-no com 5 divisões sobre 3 divisões aliadas. A nossa estava no meio. Iniciaram-no com um bombardeamento brutal. A nossa gente aguentou-se lindamente, mas os ingleses cederam nos flancos, de um e de outro lado das nossas forças, e a nossa não se podendo aguentar mais teve de retirar. A luta foi épica; os homens portaram-se como leões. O terreno disputado palmo a palmo, a baioneta em luta corpo a corpo. As peças de artilharia disputadas a tiro de espingarda. (...)
Perante a superioridade esmagadora do número, as nossas tropas retiraram e estão agora concentrando-se cá muito à retaguarda. Outras divisões inglesas e escocesas de reserva é que estão agora lá disputando o terreno aos alemães.
As nossas tropas estavam para sair nesse mesmo dia das trincheiras e virem todos descansar à retaguarda. Foi pena que não tivessem saído um dia antes ou o ataque não tivesse sido um dia mais tarde. Todos os nossos batalhões tinham efectivos reduzidíssimos, pois de Portugal não vêm reforços desde o fim de Novembro. Se tivessem vindo, estou certo que não recuaríamos nem um passo e teríamos repelido os alemães. Mas, para protegerem meia dúzia de meninos que não querem vir como é seu dever, sacrificam-se todos os que cá estão. O não mandarem reforços é o maior crime que essa gente tem cometido. (...)»

Quem assim escrevia a partir da Flandres era o então major Manuel Maia Magalhães, em carta dirigida à esposa. No dia seguinte, em nova carta para Helena Bravo Torres, corrigia os números, escrevendo: «Disse-te que eles atacaram com 5 divisões contra uma nossa e duas inglesas, mas não foi: atacaram com 8, isto é, com 80 000 homens de infantaria além de muita artilharia as 3 de cá.»
Estas cartas, bem como as restantes enviadas a sua mulher, tiveram publicação recente, em edição organizada por Vitorino Magalhães Godinho - Manuel Maia Magalhães. Correspondência da Grande Guerra. Col. "Biblioteca de Autores Portugueses". Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2010.

Só um aparte: vi alguns jornais de hoje; nem uma palavra sobre a efeméride. A memória tem destas coisas!...

terça-feira, 5 de abril de 2011

Luísa Borges, leitora do Diário de Sebastião da Gama

Num mail hoje recebido, a Luísa Borges, professora e autora de literatura juvenil, deu-me conta da sua leitura do Diário de Sebastião da Gama a partir da edição que preparei e coordenei para abrir a colecção das "Obras Completas" de Sebastião da Gama, em vias de publicação pela Editorial Presença. Partilho um excerto dessa mensagem.

«Estou a gostar muito da nova edição do Diário. Era justamente a edição que faltava. Para já a capa é soberba e amiga do ambiente. A introdução é excelente. Contém imensa informação relevante sobre a época, o autor e a sua vida e círculo de amigos mais próximos. E depois creio que coloca, finalmente, o autor no lugar que merece, não só em termos de literatura, como, o que é fundamental nos tempos de desnorte educativo que correm, no lugar ímpar que deveria ter há muito, no que à reflexão sobre pedagogia da literatura portuguesa respeita. As notas são fundamentais e tornam o livro e a informação acessível e extremamente válida para todos os que o lerem, quer sejam eruditos, quer sejam professores ou alunos. O facto de incluir, finalmente, os textos dos alunos, sem cortes nem censuras confere ao Diário uma frescura renovada. Porque não teriam sido incluídos nas outras edições? Opção editorial relacionada com os custos? Forma de proteger a identidade dos alunos? E isso não poderia ter sido feito recorrendo a siglas, como é de uso em estudos de carácter psicológico? O que interessa é que o Diário aparece agora em toda a sua autenticidade e infinitamente melhor e, eu diria até, comovente, na sua teia de afectividades. Veja-se não só a relação emocional entre o professor e os alunos mas também a relação entre Sebastião da Gama e o seu orientador. Muito mais autêntica do que qualquer coaching, agora tão na berra na mais recente pedagogia norte-americana.
Em vez de andarmos todos tão ocupados com grelhas, taxas, nomenclaturas, avaliações e estatísticas, era o tempo e a hora de lançarmos uma discussão séria sobre pedagogia e formação de professores. Essa reflexão, se algum dia for feita, terá de passar obrigatoriamente por este livro. Mas para isso seria necessário que a educação em Portugal voltasse a ter um rosto e uma voz humanas ou que ambos fossem devolvidos ou tomados - de assalto - pelos seus protagonistas: os professores e os alunos. A opção de publicar os textos dos alunos do poeta devolve a voz a todos os protagonistas do acto educativo. Esse "pequeno passo", aparentemente tão simples, torna esta edição verdadeiramente "revolucionária" e única. Por que obscura razão destratamos tanto os nossos educadores? Que raio andamos a ensinar nas didácticas? Quais são as nossas referências? quando temos aqui, tão à mão, os modelos que devíamos ler, ensinar, seguir... e... seguramente, amar.»

sábado, 2 de abril de 2011

Faltas minhas e compensações pela voz dos alunos

Na tarde de hoje, bem me apetecia ter estado presente num de dois acontecimentos (ou até nos dois, ainda que dividindo o tempo): na entrega do prémio de poesia que o Rotary Club de Palmela promoveu e está a acontecer na Biblioteca de Palmela (mesmo porque integrei o júri) ou na tarde que a livraria Culsete está a promover para celebrar o Dia Internacional do Livro Infantil. Por razões de trabalho, não pude estar presente em nenhuma das iniciativas, ambas louváveis.
Tenho estado a avaliar trabalhos dos meus alunos – testes, adaptações de um conto de Mário de Carvalho e fichas de leitura. Estas últimas tiveram como objecto a obra de Maria Alberta Menéres Camões, o Super-Herói da Língua Portuguesa (Alfragide: ASA, 2010).
Tive de parar quando acabei de ler a do D.A., que, a dado passo, diz sobre este livro: «Este foi um livro que apreciei bastante, porque nos mostra uma vida mesmo muito difícil que Camões conseguiu superar, embora muito difícil de o fazer por vezes, e ainda escrever uma das melhores obras alguma vez feita. Também me surpreendeu muito o facto de nunca ter deixado de amar a sua Pátria: “morro com a Pátria”, depois de ter sido preso, mandado para a Índia para combater e de ter ficado na miséria.» E, como se isto não chegasse, um pouco adiante, torna-se mais evidente: «Este foi um livro de que realmente gostei, porque mostrou-me um verdadeiro patriota português, que sofre pelo seu país, que torna o seu legado na divulgação do grande feito do seu País e que perdoa o seu País depois de o ter deixado passar por tanto sofrimento. Este é um livro que recomendo definitivamente para quem acha que Portugal nunca fez grandes feitos ou nunca teve ninguém que fosse importante para a história do mundo. Ao lermos este livro tornamo-nos verdadeiros patriotas.»
A gente lê isto e tem de parar. Os jovens apreciam os grandes exemplos. E, além disso, as situações de justiça e de serviço ao próximo.
Já num teste feito ontem, um aluno do 9º ano, o M.C., na parte final, em que sugeri que cada qual escrevesse uma carta ao herói que Camões foi (temos andado a ler e a estudar Os Lusíadas), registava: «Acho interessante a forma como você valoriza os Portugueses, pois hoje em dia já ninguém se valoriza assim e você valoriza os Portugueses como um pai valoriza um filho». Mais à frente, a propósito da opinião de Júpiter sobre os Portugueses, o mesmo M.C. considerava: «a maneira como Júpiter nos valoriza é inspiradora pois isso faz um verdadeiro português sentir orgulho no seu país e não desprezo, que é o que se sente hoje».
Repito: a gente lê isto e tem de parar. Estes pequenos comentadores sentem o que vai acontecendo, sentem a nossa actualidade e são capazes de pensar. Isto é óbvio, mas nem sempre é tido em consideração…
Estas reflexões compensam-me das ausências que cometi.

No Dia Internacional do Livro Infantil, em Setúbal

Se há terras que têm uma razão adicional para celebrar o Dia Internacional do Livro Infantil... Setúbal é uma delas. A razão é histórica: este Dia Mundial celebra-se no dia em que Hans Christian Andersen nasceu. Quando tinha 61 anos, o escritor dinamarquês esteve durante um mês em Setúbal por aqui passeando, aqui iniciando o conto "O Sapo", aqui deixando plantado um abeto a lembrar os ares nórdicos e a saudade e desta visita dando notícia nas memórias registadas em Uma Viagem em Portugal em 1866.
Na tarde de hoje, na livraria Culsete (ali na Avenida 22 de Dezembro), vai ser assinalada a data e vai haver festa para o livro infantil e os visitantes vão poder contactar com os escritores Luísa Ducla Soares, Fernando Bento Gomes (setubalense) e José Ruy. É a partir das 15h00. A entrada é livre, claro.
E, já que estamos a falar desta data, venha comigo ler o simpático texto "O livro recorda" devido à escritora Aino Pervik, da Estónia, que constitui a mensagem internacional para esta celebração de 2011.