sábado, 26 de janeiro de 2013

Ramalho Eanes: entre o consenso, a indignação e a esperança


Uma entrevista de saber, de ponderação, de responsabilidade. Uma análise que não cala nem omite. Ramalho Eanes em entrevista com Cristina Figueiredo, José Pedro Castanheira e Ricardo Costa, no Expresso de hoje, em duas páginas. A ler. Deixo alguns destaques.

Consenso e futuro – «Na prática, os partidos têm privilegiado as áreas de divergência, de combate e diferenciação, esquecendo as outras. Um país que carece de alterações profundas deve procurar, em determinadas questões essenciais, a concertação e o consenso. E a partir daí estabelecer os seus próprios planos de reforma – o que é completamente diferente de ter de efectuar apressadamente as reformas impostas. Além disso, a interacção dos partidos com a sociedade civil tem sido incorrecta – mas isso também é da responsabilidade da sociedade civil. (…)»

Percursos – «(…) A Expo98 foi um sucesso. Mas seria necessário gastar o que se gastou? Duvido! E os estádios de futebol – para quê? E há aquilo que se devia ter feito e não fez: a ligação de Sines a Espanha e, possivelmente, do Porto à Galiza. (…)»

Reformar o país – «(…) Nunca se faz uma reforma contra os indivíduos que vão dar-lhe realização E nunca se faz uma reforma contra o país. Só se faz uma reforma utilizando um método capaz. (…) Quando o estudo é feito por um grupo que a sociedade civil reconhece e que tem competência e isenção, criam-se condições imediatas de aceitação e de discussão. (…) Não percebo que esse montante [de 4 mil milhões] ou até outro se procure através de uma reforma feita em dois meses. O estudo de uma reforma destas não demora dois meses, nem um ano – demora mais. (…)»

Cortes, desemprego e futuro – «(…) Até podem cortar ainda mais, mas mostrem-me que esses cortes têm resultados positivos. Primeiro, assegurem-me que não haverá ninguém com fome. (…) Segundo, não posso admitir que se olhe para o desemprego como se fosse uma realidade abstracta. O desemprego são desempregados! E um desempregado, sobretudo de longa duração, é um homem que, pouco a pouco, perde a sua autodignidade, perde respeito por si e pelos outros. Num jovem é muito pior: sente que lhe estão a roubar o futuro. E daqui resulta ou a desistência, a passividade, ou a evasão perversa, ou a revolta. Em muitos países as grandes revoltas foram feitas pela juventude, que não aceita que lhe roubem o futuro! (…) A pátria não é a entidade pela qual valerá a pena morrer, mas pela qual vale a pena viver – pelos filhos, pelos netos, nossos e dos outros. (…)»

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Máximas em mínimas (95) - Ler


“Costumo dizer que ler é como namorar: quem acha que não gosta é porque ainda não encontrou o parceiro certo.”
Ana Maria Machado
(in Francisca Cunha Rêgo. “Ana Maria Machado – Sempre as palavras”. JL – Jornal de Letras. Lisboa: nº 1104, 23.Janeiro.2013, pg. 15)

Para a agenda: "As idades do mar"



Está quase a terminar a exposição "As idades do mar", na Fundação Calouste Gulbenkian, que reúne cerca de uma centena de obras sujeitas ao tema do mar, repartidas por seis áreas: "A idade dos mitos", "A idade do poder", "A idade do trabalho", "A idade das tormentas", "A idade efémera" e "A idade infinita". São obras vindas de várias partes do mundo, passando por várias épocas, numa junção rica, forte, intensa. Lá figuram também portugueses, entre os quais o setubalense João Vaz, com duas telas.
Uma boa e plural antologia sobre o mar!
Estive lá ontem. E não pude deixar de me lembrar de uma citação de L. S. Lowry, de 1968, numa entrevista televisiva (Tyne Tees Television): "I have been fond of the sea all my life: how wonderful it is, yet how horrible it is. But I often think:... what if it suddenly changes its mind and didn't turn the tide? And come straight on? If it didn't stop and came on and on and on and on and on... That would be the end of it all." E ainda de um outro momento, de leitura, buscado no livro de um autor muito ligado à Gulbenkian e às suas bibliotecas itinerantes, Branquinho da Fonseca, quando, em Mar santo, pôs o velho lobo do mar "Ti' Bártolo" a dizer: "O mar nã tem amigos... O mar!... Mata a gente e nã tem crime... O mar engana Cristo!... Sabes lá o qu'é o mar!... Ah, mar santo!..." Duas citações sobre o mar, para os quadros das tormentas ou do trabalho, para a imensidão e o fascínio!
Uma exposição a não perder. Nos poucos dias que faltam. Até domingo, 27. 

Para a agenda: "Quanto custa a cultura?"



"Quanto custa a cultura?" Di-lo-ão André Gago, Pedro Almeida Vieira, José Teófilo Duarte e quem mais queira aparecer e participar. Na Casa da Cultura, em Setúbal, amanhã, pelas 22h00.

sábado, 19 de janeiro de 2013

"Há dias em que me apetece desaparecer... penso sair do país"


Há dias, a propósito do estudo da escrita autobiográfica, convidei os alunos a escreverem um texto sob o título “Quem sou eu?”, género de auto-retrato, lembrando-lhes que só se deviam expor até ao ponto que quisessem.
M. tem 14 anos, frequenta o 8º ano. Acabei de ler o seu trabalho e, quando vi os dois últimos parágrafos, senti um arrepio. Aqui os transcrevo. O leitor perceberá porquê.


(…) Há dias em que me apetece desaparecer, porque as pessoas não percebem que o nosso país vai de mal a pior e se ninguém contribuir para um mundo melhor isto vai ficar mesmo mal, até chegar ao ponto de não existirem crianças no nosso país, mas espero que isto melhore e que fique tudo bem.
Sempre quis ser professora, mas isto está muito complicado cá em Portugal. Por isso, penso sair do país, um dia mais tarde. Todas as pessoas dizem que isto vai melhorar, e eu espero bem que sim, mas de certa forma tenho medo de ficar em Portugal e não ter uma vida digna.

Para a agenda: Sebastião da Gama em concerto



Os versos de Sebastião da Gama, a música e as vozes do grupo e-Vox. Os ecos da Arrábida, a musicalidade da poesia, a poesia da música. Tudo em 26 de Janeiro, pelas 21h30, na Sociedade Filarmónica Perpétua Azeitonense, em Vila Nogueira de Azeitão, com entrada livre, numa realização da Associação Cultural Sebastião da Gama, em parceria com a SFPA. Mais do que uma sugestão, um convite. Para si e para os amigos...

Para a agenda: cartas que Camilo Pessanha escreveu


Camilo Pessanha escreveu, Daniel Pires organizou, Miguel Real apresenta. A sessão é na Biblioteca Nacional de Portugal, em 22 de Janeiro.

Marçal Grilo e Oliveira Martins: o pacto da educação

A propósito de bons resultados obtidos pelos alunos portugueses em estudos internacionais, nas áreas da ciência e da leitura, Eduardo Marçal Grilo e Guilherme d’Oliveira Martins (que já foram ministros da educação) assinam no Expresso de hoje pequeno texto (“A qualidade é notícia”, pg. 30) que contém princípios que deveriam ser orientadores para a educação em Portugal. 

Reproduzo três excertos, a todos valorizando por igual, porque acredito nos princípios neles consignados e porque exigem uma responsabilidade partilhada e vasta e uma coerência e coesão que vão muito para lá dos mandatos parlamentares, dos governos ou do silêncio e dos medos para que vamos sendo remetidos.


Conhecimentos e atitudes – “(.…) No mundo tão complexo em que vivemos, o que importa é que os jovens portugueses sejam preparados numa perspectiva integrada em que os conhecimentos são muito relevantes, mas em que as atitudes e os comportamentos de cada um no tocante ao pensamento autónomo, responsabilidade, liderança e espírito de iniciativa são tão relevantes quanto os saberes e conhecimentos científicos. (…)”

Valores – “(…) Portugal precisa de políticas claras, estáveis e de longo prazo em matéria de educação. A crise e as dificuldades financeiras não devem retirar-nos a capacidade para enfrentar os problemas da educação além dos aspectos meramente quantitativos que resultam dos cortes orçamentais. Famílias, pais, professores, directores das escolas, estudantes precisam de estímulos e de acreditar que só através do estudo, do trabalho e do esforço seremos capazes de vencer a crise e sair da angústia em que o país vive mergulhado. (…)”

Outros rumos – “(…) Portugal sairá da crise, recusando a mediocridade e dando à educação, à cultura e à ciência a prioridade que exigem. O país está cansado dos discursos sem consistência que nos debilitam e nos tiram a esperança. Ninguém pode viver sem esperança e sem ânimo para o dia de amanhã.”

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Para a agenda - Cartazes de Setúbal



A história de cartazes feita. A partir da colecção de José António Marques. Convidantes: Museu de Arqueologia e Etnografia dos Distrito de Setúbal e Câmara Municipal do Barreiro.

Para a agenda - Arrábida de outros tempos



Uma outra visão sobre a Arrábida feita por quem a tem estudado até às entranhas do tempo. O Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal e Synapsis convidam.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Para a agenda - Concerto em Palmela



A banda de música da Sociedade Filarmónica Humanitária e o grupo "Corvos" convidam para a noite de 18 de Janeiro no Cine-Teatro S. João, em Palmela...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Máximas em mínimas (94) - A escola e a casa

«Eu, durante todo o meu percurso escolar, esforcei-me por manter separados o mundo da escola e o da minha casa.  Se um dos mundos começasse a verter-se no outro, o mundo da minha casa ficaria contaminado. Deixaria de ter um lugar de refúgio. Ainda hoje me sinto contrariado quando se fala em 'colaboração entre os pais e a escola'. Também entendo que esta minha separação dos dois mundos conduziu, por sua vez,  a uma diferenciação de princípio entre a esfera privada e a sociedade. (...) O que vivemos na escola projecta-se numa imagem da sociedade.»
Tomas Tranströmer, in As minhas lembranças observam-me (Porto: Sextante Editora, 2012)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Máximas em mínimas (93) - Sabedoria e polimatia

“Vivemos tempos de muita informação, mas de escassa sabedoria. Tempos de polimatia. Neles assistimos, demasiadas vezes, a decisões insensatas, portadoras de consequências negativas para o longo prazo, apoiadas na ilusão arrogante de um conhecimento incapaz de compreender os seus limites e insuficiências.»

O parágrafo que transcrevo é a abertura do texto de Viriato Soromenho-Marques na última edição do JL (“O saber do mar”. JL – Jornal de Letras: nº 1103, 09.Janeiro.2013, pg. 33). Essa colaboração versa a questão do mar e da atenção que Portugal lhe deveria dar e vale a pena ser lida para que não se ande sempre a desprezar o óbvio. Mas esta abertura é oportuna também pelo momento em que estamos, porque ela vale para os cenários que nos têm sido apresentados, de contínuo desgaste, de desaproveitamento, de inconsistência, de arrogância... de falta de sabedoria. O mar será, apenas, um exemplo...

Máximas em mínimas (92) - Bom professor e bom aluno


Bom professor - «Um dos problemas básicos das Ciências da Educação foi querer transformar o acto de ensinar em ciência, padronizando tudo. A maneira de ensinar História tornou-se semelhante à de ensinar Português, Física… As funções cognitivas e intelectuais que a História desenvolve não têm que se reproduzir noutra disciplina. Um bom professor vai à procura dos lugares-comuns da História: do rei que gostava de comer, dos amores deste com aquele… A sala de aula deve ser mais ou menos como um palco, onde a palavra do professor tem que ser vital. As últimas décadas de ensino, centradas no aluno, mataram a auto-confiança dos professores na palavra. É preciso repensar a formação dos professores neste sentido. Infelizmente, quando um professor sai da faculdade, logo no início de carreira, alguém decide se ele é bom ou mau. Mas um mau professor no início da carreira pode ser óptimo no fim, e o inverso também pode acontecer. A ideia de avaliar professores é errada. Um professor constrói-se ao longo de uma vida.»

Bom aluno - «Criámos a ideia de que o aluno que está sempre a participar é um bom aluno, mas, na verdade, é-o quem está intelectualmente activo, o que muitas vezes só se manifesta a prazo. Mais do que com o professor, o bom aluno deve mostrar empatia com o conhecimento. Durante mais de uma geração tivemos uma ditadura que impôs o silêncio. Gostava que pensássemos na possibilidade de democratizar o silêncio. (…) Essa democratização tem de vir de uma adesão voluntária da sociedade. Era fundamental para se repensar a própria ideia de escola. A escola carece de silêncio.»

Gabriel Mithá Ribeiro (em entrevista a Francisca Cunha Rêgo).
“O presente da História”. JL – Jornal de Letras (supl. “JL – Educação”, pg. 2): nº 1103, 09.Janeiro.2013.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Luísa Todi num soneto com 220 anos



Facsimile de folha volante distribuída em Madrid em 1793, que, com um soneto de autor desconhecido, louva Luísa Todi e o seu mérito [reproduzido por Mário de Sampaio Ribeiro, em Luísa de Aguiar Todi (Lisboa: Revista "Ocidente", 1943)]

Luísa Todi vista por Mário de Sampaio Ribeiro há 70 anos




O livrinho já carrega umas décadas em cima de si. Tanto como 70 anos, que passarão em 12 de Junho deste ano. É uma biografia de personagem ligada a Setúbal e lê-se em pouco mais do tempo que leva uma palestra. Refiro a obra Luísa de Aguiar Todi, de Mário de Sampaio Ribeiro (Lisboa: Revista “Ocidente”, 1943), inserida numa colecção dedicada à cultura artística, cerca de 90 páginas de história com notas e gravuras.
Formado por três capítulos, este estudo inicia-se com um olhar para o mundo que nos envolve, numa viagem pela cidade quotidiana, desta vez com olhar menos distraído. É que, “normalmente, qualquer de nós, ao calcorrear na parte de Lisboa, que tem pergaminhos, não atenta nas coisas por que adrega de passar, alheado que vai, se não divorciado, do cenário que o rodeia”. O pretexto pode ser o nome de uma rua, por exemplo. E aquela antiga Travessa da Estrela fora rebaptizada, recebendo o nome de Luísa Todi (n. 9.Janeiro.1753) por edital camarário de Junho de 1917, uma vez que, no número 2 daquela artéria, vivera a artista e aí falecera no primeiro dia de Outubro de 1833.
Quase um século depois do desaparecimento da cantora, em 1934, Mário de Sampaio Ribeiro foi convidado para palestrar em Lisboa sobre esta setubalense, conferência que retomaria oito anos mais tarde, em 24 de Julho de 1942, ao repeti-la a convite do grupo “Amigos de Lisboa”. Cerca de um ano depois, saía o livrinho, que o autor apresenta como “refundição parcial” da comunicação de 1934, enriquecida com gravuras e notas. Um pretexto para a repetição da palestra foi o facto de, poucos dias antes, o governo ter sido autorizado a adquirir a uma descendente de Luísa Todi o “célebre quadro que a Vigée-Lebrun pintou, em Paris, no ano de 1785”, retratando a lírica setubalense, tela que importou em “vinte e cinco contos” e se destinava a “ser incorporada no futuro museu do Conservatório Nacional de Música”.
No segundo capítulo, o autor imagina o filme que permite o encontro com Luísa Todi, a biografada, “em dia canicular”, saindo manhãzinha rumo à igreja, amparada no braço de uma outra personagem feminina, sua filha. Cerca de uma hora depois, regressavam as duas a casa e da mais velha se voltaria a saber apenas no dia seguinte. Era este o quotidiano daquela “velhinha, de aspecto tão grave e respeitável”, que passava os dias recolhida no lar, depois que perdera a visão, a recordar os tempos passados.
E assim estava dada a entrada para o mais extenso dos capítulos, em que o leitor revê, pelos olhos da memória da biografada, a sua vida de glória e de arte, de uma carreira internacional, não isenta de invejas, em salões nobres, na presença de régias figuras e de outros artistas de próximo gabarito, num processo de recuo no tempo. Mário de Sampaio Ribeiro faz uso intenso de bibliografias, de notícias da imprensa e de outros testemunhos para que a narrativa seja credível, nunca esquecendo o acompanhamento emocionado da história pela sua personagem – chegada a biografia ao final, “fundo suspiro rematava tão longo desfiar de saudades, que, a despeito de seu amargo travo, eram o consolo que sua atribulada alma encontrava para fazer esquecer as trevas em que o Destino a mergulhara para sempre.”
O terceiro capítulo contém já um olhar do apreciador e estudioso de música e do percurso de Luísa Todi, procurando revelar ao leitor quais os dotes que permitiram a chegada da cantora tão longe, com delirantes públicos e impressionantes actuações. “A voz da Todi era de contralto, embora um tudo-nada mais extensa que de uso. Subia mais um bocadinho e, nas notas agudas, adquiria um timbre velado, que lhe era peculiar e que a artista aproveitava sabiamente para conseguir certos efeitos.” O temperamento artístico da cantora é sublinhado, associando o prodígio do seu canto à capacidade de representar, de tal forma que conclui Sampaio Ribeiro: “O cantar da Todi criava ambiente de êxtase e de encanto tais que o auditório como se não lembrava de aplaudi-la. Só depois de desvanecida essa como embriaguez as palmas irrompiam e então, a partir desse momento, a multidão electrizada devinha como possessa e aclamava com delírio a artista privilegiada”.
Quase metade do livro é composto por cerca de meia centena de notas, eivadas de um discurso em que pesa mais o tom documental e de investigação, ainda que comprovando e seguindo a par a narrativa que foi sendo construída. Por aqui passam informações documentadas sobre a sua biografia (desde o seu nascimento em Setúbal), sobre os recursos utilizados, sobre a investigação levada a cabo pelo autor, sobre os retratos que em honra de Luísa Todi foram criados, sobre a recepção havida às suas interpretações, sobre os desaires que afectaram a protagonista (a morte do marido, o desastre portuense da “ponte das barcas”, a cegueira), sobre a memória que dela ficou e sobre as homenagens que muitos apreciadores lhe prestaram ainda em vida.
Quanto a reconhecimento póstumo, também o autor o não esquece, tal como se pode ler numa nota em que aborda a questão do centenário da morte da cantora, ocorrido em 1933, aí destacando o papel desempenhado pela cidade onde ela nasceu: “No 1º de Outubro de 1933, ao completar-se o centenário da morte, foi inaugurada em Setúbal, no chamado Parque das Escolas uma pequena glorieta (desenho de Abel Pascoal, escultura de Lepoldo de Almeida e construção de Abílio Salreu) em honra da cantora. O busto da Todi é obra digna de apreço e o pequeno monumento (actualmente deslocado para a avenida Luísa Todi) foi descerrado por Leopoldo Tomás Todi Gonçalves, trineto da artista. Lisboa ficou de levar a efeito a sua comemoração. Projectaram-se, como sempre, coisas espaventosas, mas… não se fez nada. A única celebração – tardia e desluzida – foi a minha conferência na tarde de 8 de Julho de 1934, a meio da rua Luísa Todi.” É interessante este reconhecimento da iniciativa sadina perante a discussão e incumprimento da capital…
A capa do livro reproduz o perfil de Luísa Todi, traçado numa gravura anónima veneziana de 1790, evocativa do desempenho da cantora na obra Didone abbandonata, justamente a mesma imagem que serviu para modelo da recente escultura devida a Sérgio Vicente, exposta no exterior do Forum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, desde Setembro passado.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Alcindo Bastos - o 1º centenário do nascimento do poeta azeitonense


O primeiro centenário do nascimento do poeta azeitonense Alcindo Bastos passou ontem. A sua terra natal não o esqueceu e dedicou-lhe uma exposição no Museu Sebastião da Gama. Sítio ideal, mesmo porque os dois poetas foram amigos…
De seu nome completo Alcindo Porfírio de Sousa Bastos, nasceu em Aldeia Rica (Azeitão) em 5 de Janeiro de 1913 e faleceu em Cruz de Pau em 24 de Agosto de 1986.
Ainda na infância, seus pais tiveram de mudar-se para o Alentejo, ficando Alcindo Bastos a viver a cargo dos avós e ajudando o avô na tarefa da carpintaria. No entanto, logo que pôde, optou por se alistar na Marinha de Guerra, mudando-se, mais tarde, para a Marinha Mercante, com prestação de serviço em vários navios do trajecto da África Oriental.
Entretanto, depois de uma história de amor contrariada, casou com Júlia da Conceição Carvalho, união de que nasceram dois filhos, Viliane e Edite.
Nas viagens a Moçambique, alguns amigos acabaram por o influenciar, designadamente o marido de Amália Rodrigues, tendo Alcindo Bastos decidido radicar-se na Beira, onde viveu por um período de três anos ausente da família, a trabalhar numa serração como capataz ou na Trans Zambézia Railway, onde foi fogueiro e, depois, maquinista.
Em 1949, chamou a família para junto de si e por Moçambique viveu até 1968. A partir daqui, a sua vida decorreu entre Moçambique e Azeitão, até ao seu regresso definitivo em 1974. Por razões de saúde, os últimos tempos da sua vida foram passados na casa da filha, em Cruz de Pau.
Apesar de os seus estudos terem ficado pela instrução primária, o seu gosto pela poesia e pela música levaram-no a versejar, tendo sido autor de variados poemas, com algumas adaptações a fado. A figura de Alcindo Bastos ficou ainda conhecida pela sua dedicação à actividade teatral (na Sociedade Filarmónica Perpétua Azeitonense) e pela sua intervenção em várias campanhas de solidariedade.
Postumamente, a família decidiu dar à estampa a obra O livro da vida de Alcindo Bastos (1989), onde surge reunida a sua obra poética, dominada pelo cunho autobiográfico e pelas evocações dos afectos e das paisagens da sua vida. Na sua obra perpassam também algumas telas de ironia, como se pode verificar no poema “Auto-retrato”, que se reproduz.


O Museu Sebastião da Gama, em Azeitão, organizou, a propósito deste centenário, exposição evocativa (em que se inclui o cartaz com o poema transcrito), inaugurada em 14 de Dezembro, que pode ser vista até 26 de Janeiro.


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Para a agenda - Luísa Todi em palco



Em 9 de Janeiro, passa o aniversário do nascimento da cantora lírica setubalense Luísa Todi (1753), atingindo o número redondo do 260º aniversário. Que melhor homenagem do que vê-la em palco?
Pois a oportunidade vai surgir no Forum Municipal Luísa Todi através do espectáculo Luísa Todi - O Musical, peça que chegou a estar pensada para a reabertura do Forum em 15 de Setembro. Com texto de Rui Mesquita, letras de Alexandrina Pereira, música de Carlos Pinto e encenação de Miguel Assis, o espectáculo pode ser visto em Janeiro, nos dias 10, 11 e 12, pelas 21h30, e no dia 13, pelas 16h00. Boa prenda para a memória sadina e para a memória da cantora!
Abaixo se reproduz a apresentação da obra, constante no roteiro de programação do Forum Municipal Luísa Todi para o primeiro quadrimestre do ano.


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Efemérides 2013


O ano de 2013 vai inaugurar o desaparecimento (ou suspensão) de feriados comemorativos de momentos marcantes da história portuguesa, como o 5 de Outubro e o 1 de Dezembro. São machadadas na memória, embora as datas se devam continuar a assinalar.
Mas 2013 é também um ano em que passam diversos centenários de figuras da cultura portuguesa a merecerem o registo, tais como Egar Cardoso, Ilse Losa, Álvaro Cunhal ou Calvet de Magalhães, todos nascidos em 1913. Do mundo da lusofonia, chegam-nos ainda os centenários do nascimento de Vinicius de Moraes e de Rubem Braga, e do estrangeiro, os de Albert Camus e Paul Ricoeur, também nascidos em 1913.
A onda dos centenários dos nascidos em 1913 é também forte em Setúbal, pois foi o ano em que surgiram os nomes dos pintores Celestino Alves e Le Mattre de Carvalho, da musicóloga Maria Adelaide Rosado Pinto, do poeta azeitonense Alcindo Bastos e do jornalista Eduardo Machado Pinto. O jornalismo setubalense tem, aliás, mais nomes que podem ser evocados em 2013 à conta dos números redondos, haja em vista o 50º aniversário do falecimento do jornalista Luís Faria Trindade e os dez anos sobre a morte de Rogério Severino.
A propósito de números redondos, se quisermos recuar mais, podemos lembrar o 260º aniversário do nascimento de Luísa Todi ou o 180º do nascimento de Manuel Maria Portela. Evocando nomes importantes para a cultura sadina, pela mesma razão dos números redondos e assinalando os seus desaparecimentos, podemos lembrar o arqueólogo António Inácio Marques da Costa (f. 1933), o cronista da história setubalense Manuel Envia (f. 1963) e o pintor Lima de Freitas (f. 1998).
Mas Setúbal tem ainda outros motivos intensos para lembrar em 2013: os 150 anos da inauguração da iluminação da cidade por meio de gás, os 100 anos da criação do Asilo Bocage e do Campo dos Arcos e os 60 anos da publicação da obra Pelo sonho é que vamos, de Sebastião da Gama (que constituiu a sua primeira obra póstuma sob o título de um dos seus mais conhecidos versos).
Entretanto, 2013 será também, por decisão da ONU, o Ano Internacional da Cooperação pela Água.