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sexta-feira, 11 de abril de 2025

Abril, cravos e poesia (2)

 


A permanência dos sonhos que Abril trouxe, como alimento da liberdade e do futuro, ressalta em várias mensagens presentes neste São Cravos, como no poema de Analita Santos, que, no terceto final, deixa o desafio: “Hoje, a cada dia, há um abril a reiterar. / Há outros cadeados e passos a percorrer, / para que o grito de abril continue a renascer.” Incisivo no dever de proteger os cravos de Abril é Artur Ferreira Coimbra, que, na “Carta de um avô aos netos sobre os dias de Abril”, lembra o antes e o depois e exorta os descendentes: “Meus netos: regai em cada hora os cravos da liberdade, para que não / Mirre o vermelho da esperança no coração dos dias que vão nascendo.”

O poema assinado por Maria Manuela Mendes Ribeiro, formado por seis quadras, tem a particularidade de fazer perguntas, usando anaforicamente a expressão “quem sabe hoje em dia” para enaltecer quem fez despertar a luta por um Abril promissor e apresentar um quadro da tristeza do passado (marcado pela perseguição, pelo sofrimento, pela tortura da prisão, pela ousadia da luta de uns tantos), levando o leitor a pensar na responsabilidade de sentir que o “Abril cantado” é muito mais forte do que a alegria resultante de um feriado... É Maria Quintans quem lembra a intensidade da data cinquentenária: “abril será sempre a / varanda aberta / onde nos sentamos a / admirar o sobrenome / da vida.” A mesma emoção de Abril é trazida por Rita Taborda Duarte, num jogo em que não faltam palavras recriadas e cuja última estrofe, pela força da repetição, pretende afirmar o essencial da liberdade: “Dar uma no cravo / outra no cravo / outra cravo / outra no cravo”.

No conjunto dos poetas antologiados, vários nomes estão ligados à região de Setúbal, como Alexandrina Pereira (que poetiza Abril, lembrando que: “Um grito surgiu da alma de um povo. / Ergueu-se um país que nasceu de novo.”), Álvaro Giesta (com um poema de louvor aos que fizeram e sonharam o anúncio de Abril), António Manuel Ribeiro (que traça um retrato do que “era um país em forma de aldeia” até ao momento em que “veio da noite o piparote” que “dobrou o regime por dentro”), Dina Barco (cujo texto nomeia Abril em todos os seus versos, enaltecendo as bandeiras do sonhado e desejado), José-António Chocolate (que põe a expressividade lírica em favor da data: “Era abril e outro mês não podia / ser mais forte, de esplendor e beleza, / ter luz clara e anunciar novo dia.”) e Sara Loureiro (apregoando, num poema que vive do sensorial, que “a liberdade foi um grito não murmúrio” com gosto “a plasma a vida a sonho transparente”). Três outros poetas participantes, como António Canteiro, Luís Aguiar e Xavier Zarco, foram vencedores de prémios literários ligados a Setúbal, designadamente os que têm como patronos os poetas Bocage e Sebastião da Gama.

A participação poética do coordenador desta obra, Luís Aguiar, cifra-se num texto feito de memórias e de aprendizagens, dedicado ao pai, “militar de Abril de 1974”. O seu final é, talvez, a melhor justificação para a existência de um livro como este, associando o conhecidíssimo cartaz concebido por Sérgio Guimarães, a memória e a necessidade da escrita: “Recordo-me do cartaz com um menino de cravo na mão / a silenciar uma G3 - ímpeto de um pássaro livre -, / já que a liberdade a todos pertence, e se alastra, certamente, / às amargas recordações, mas que são imunes ao olvido, / visto que o peso da memória também pode, um dia, habitar um livro.”

* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". O Setubalense: n.º 1507, 2025-04-09, pg. 10.


quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Abril: 50 anos, 100 mulheres, 2 antologias

 


Meio século depois do 25 de Abril de 1974, torna-se imperioso haver testemunhos que contem o antes, revivam o durante e avaliem o depois, num percurso que seja construtivo e se oriente pela permanente edificação da liberdade e pelo contínuo engrandecimento da humanidade que somos. A data foi pretexto para Alexandrina Pereira desafiar uma centena de mulheres (50 do concelho de Palmela e outras tantas do concelho de Setúbal, de grande diversidade de profissões, muitas nascidas a partir de 1974) para testemunharem sobre as suas experiências, memórias e olhares sobre o feminino, registos coligidos em duas antologias, editadas com o apoio dos respectivos municípios — Abril, Nome de Mulher, para o caso de Palmela, e Liberdade no Feminino, para o de Setúbal, ambas publicadas recentemente.

Para Alexandrina Pereira, “esta variedade de testemunhos poderá ser objecto de estudo em vários meios, com enfoque nas escolas, e principalmente nos mais jovens, para que a memória não seja curta e a história não se repita”, intenção registada no volume editado em Palmela. Um segundo propósito, que completa o anterior, surge no título publicado em Setúbal, ao desejar que “cada página deste livro seja um grito de libertação perante quem foi fechando um círculo à volta da condição feminina”, poder responsável por remeter as mulheres para a “ignorância imposta por leis que as submetia às mais humilhantes situações.”

Os temas que perpassam por esta centena de testemunhos, muitas vezes eivados de reflexão quanto ao presente e quanto ao futuro (mesmo que as aprendizagens advenham do relato transmitido por familiares), são comuns às duas antologias: as condições difíceis de vida antes do 25 de Abril, as memórias da guerra colonial, as lembranças do que era a escola, a falta de liberdade e a prisão, o medo da polícia política, o papel de subserviência atribuído à mulher, o fascínio pelas promessas pressentidas com a Revolução, a força da manifestação no primeiro Primeiro de Maio, o entusiasmo perante uma figura como José Afonso, a influência e aprendizagem vindas das mães e das avós (sobretudo nos testemunhos de mulheres que nasceram após 1970), as referências ao que falta cumprir como direito e garantia de bem-estar social (no âmbito da saúde e da justiça e na afirmação da democracia e da liberdade, tópico que, em alguns casos, reacende a questão do medo e a indignação perante o populismo).

Por muitos dos testemunhos passam momentos de comoção, que foram vividos na primeira pessoa: o ter tido o primeiro cerco da PIDE aos 16 anos (Antonieta Santos), a dureza da vida da conserveira e os cenários de violência doméstica sobre a mulher (Emília Mondim), a vivência da ruralidade (Felisbela Rilhó), o medo da PIDE e dos traidores (Fernanda Pésinho), o castigo infligido na escola por uma professora esposa de um agente da PIDE a uma miúda cujo pai trabalhava em jornal que dava voz à oposição (Isabel Castan), a felicidade das aprendizagens de um percurso de activista (Natividade Coelho), entre outros que constam no volume editado em Palmela; o exemplo vindo da vida em que a mãe disse “não” à humilhação (Cátia Oliveira), a comoção ao ver com o pai a libertação dos presos de Caxias (Dina Barco), a história de família e de afirmação de identidade (Helena de Sousa Freitas), o peso de viver ao pé das instalações da PIDE  e de assistir ao “teatro de sombras” dos informadores (Isabel Victor), a história da mãe que se indignou porque o Estado não assumia a trasladação dos jovens mortos na guerra colonial (Maria Luís Bento), a dura experiência das desigualdades sociais e consequente indignação (Rita Drouillet), entre outros que povoam o livro dos testemunhos de Setúbal.

Quanto ao futuro, as ideias que perpassam são de confiança num regime livre, ainda que muitas vezes exista a apreensão quanto aos perigos — com 40 anos, Ana Pereira, de Palmela, considera: “Agora, crescida, volto a ter medo. Tenho medo de que o fascismo volte embrulhado num papel dourado coberto de populismo. Tenho medo de que as canções de Abril percam as suas palavras e nos esqueçamos de quem lutou e quem morreu pela luta. Tenho medo de que tenhamos perdido o poder da palavra. E o ‘medo’ é das palavras que mais evito usar, mas prefiro ter medo a ser inconsciente.” Helena de Sousa Freitas, de Setúbal, com 48 anos, construiu o seu texto em diálogo com a mãe, Adélia Lino Rapaz, a quem dá a última palavra no testemunho: “Se houver que desenterrar os tempos velhos, que seja para estudar os erros ali cometidos e evitar repeti-los, nunca para matar supostas saudades. E, em seguida, é devolvê-los à sepultura e enterrá-los bem fundo. Sobretudo, enterrá-los bem fundo!”

Convicção e confiança são, assim, dois pilares fortes na sustentação do futuro... construídos sobre a base da memória, que não permite que a história seja traiçoeira.

* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". O Setubalense: n.º 1398, 2024-10-23, pg. 10.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Estranheza dos tempos como pretexto de escrita



Os tempos andam estranhos por causa do que nos agride, do que nos choca. Tais agressões tornaram-se pretexto de escrita para 22 autores ligados à Casa da Poesia de Setúbal sob o título de Diário de Tempos Estranhos - Entre a pandemia e a guerra, obra em duas partes, correspondentes aos dois diferentes momentos vividos - a pandemia, desde 2020, e a guerra na Europa, desde Fevereiro.

O tempo da pandemia foi o tempo da descoberta e da aprendizagem do viver com novas regras, vindas de novos medos. Recorda Alberto Vale Rêgo os tempos em clausura, procurando “coisas boas e com sentido, mas fora do que faríamos normalmente” e vivendo “outras de que não ficará memória, mas que servem para fazer andar as horas à espera da normalidade que tarda.” Mais dramática é a noção de Alexandrina Pereira: “O tempo parou, o tempo é vulcão, / Nele ardem as dores que são sufocadas, / Calcadas, guardadas, na alma sofrida, / Respira-se Morte, procura-se a Vida”.

A estranheza torna-se tanto maior quanto a peste se aproximou sub-reptícia, operando mudanças bruscas - “o nosso relógio interno já não tem percepção do tempo e a vida está mesmo virada do avesso” (Fernando Pereira); “os povos trabalham em casa, escondidos” (Inácio Lagarto); “o antes som das gentes / deixou de se ouvir” e “nas janelas / as pessoas pareciam sombras chinesas” (Isabel Bastos Nunes); a falta dos abraços aos mais próximos e as ausências, como mencionam Isabel Melo (“Que tempos são estes, Mãe, / Em que tenho medo de ter receio de te abraçar”), José-António Chocolate (“O lugar deserto na mesa é que se sente / (...) / e hoje me dói fundo por estares ausente.”) ou Fernando Alagoa (“Queria tanto dar-te um abraço, / e ficar assim, / em silêncio, / só pelo prazer desse enlace.”). A pandemia chega à metaforização sob o signo do horror por Luís Pinho, denominando-a como “Adamastor”, recurso ao imaginário camoniano da destruição.

Todavia, há também o sinal positivo pela voz de Linda Neto, cuja mensagem sobre o confinamento caminha no sentido do reencontro do eu com a sua identidade, no caminho do autoconhecimento e da renovação.

O segundo grupo de textos, sobre a guerra, pauta-se pelo protesto e pela indignação, em que o mal, pintado com as cores da ambição descontrolada (António Calado), da alimentação do negócio da guerra (António Galrinho) e do caos mostrado nas imagens de violência sobre o homem (Maurícia Teles), vai merecendo o repúdio.

Motivações para este conflito são apontadas por Arnaldo Ruaz, enunciando as cores do “triste quadro” da guerra, uma sinfonia de horrores. O desespero em busca da vida, no meio da conflagração, paira no poema de António Manuel Ribeiro, olhar medonho sobre a rapidez com que a destruição se manifesta: “Se houver tempo / Voltaremos a falar; (...) // Se houver tempo / E uma esquina de pé.” A insensibilidade de quem determina a guerra esbarra com a sensibilidade de quem por ela sofre - Fernando Pereira recorda a infância, num excerto digno de figurar em qualquer antologia sobre os avós: “O meu avô foi à guerra e só voltou quando a minha avó ficou viúva. (...) O colo da minha avó nunca mais foi às cores, ficou sempre preto. Não percebi aquela mudança, porque, vestida de preto, a minha avó ficou mais triste.”

A contrariar este negrume extremo, surgem palavras de esperança, coloridas, como Carlos Fernando Bondoso prevê: “quem me dera / a novidade de uma flor / branca amarela de todas as cores / num campo de guerra”.

Tempos estranhos, estes! Lentos, os primeiros, sob o massacre diário das mortes, números vertidos no conta-gotas dos dias; rápidos, os segundos, desmoronamento vertiginoso, retrato do inferno e do absurdo. Ambos trazidos pela escrita enquanto espaço de reflexão.

* J.R.R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 971, 2022-11-30, p. 20


quarta-feira, 9 de março de 2022

Alexandrina Pereira e Sebastião Fortuna: entre versos e telas



Da junção dos versos de Alexandrina Pereira com os quadros de Sebastião Fortuna (fotografados por Paulo Alexandre Ferreira) nasceu uma obra pintada de palavras e versejada com cores, graças a vinte e seis telas e outros tantos textos que as reinterpretam a partir do título que o pintor lhes deu. O trabalho está reunido sob o título Sebastião Fortuna - O Pintor de Sonhos, acabado de aparecer, em edição de autor apoiada pelas Juntas de Freguesia de Palmela e de Quinta do Anjo.

Entre “Leva-me contigo para ver o mar”, título da primeira imagem e do correspondente poema, e “Coerência”, que baptiza a última tela e respectivo poema, há um itinerário que se cumpre, balizado por símbolos recorrentes como a água, a casa, a árvore, o vento, os animais ou os barcos, sempre num enquadramento espacial em que a Natureza domina. De diferente forma se mostram as flores, outra assídua presença, enquadradas como elemento decorativo, envasadas, a transportarem a Natureza para os espaços interiores.

Os poemas correm atrás das cores e dos motivos pictóricos, quase variações do visível, glosas dos títulos, que assim se afirmam como motes responsáveis pela recriação. Em várias circunstâncias, o universo sugerido apresenta-se como próximo do sonho, um pouco a fazer justiça ao epíteto trazido para título da obra - se dúvidas houvesse, uma designação como “Eu vou nas asas do vento”, puxada para legenda de quadro, provaria esse rumo para uma utopia, logo ajudado pelos versos correspondentes - “o meu sonho / é figura de proa / é rosa dos ventos / e carta de marear / meu norte / que me impede / de vergar”.

O tom lírico sugerido pelas telas, onde vingam a ausência da figura humana e os espaços de afastamento ou de isolamento, pauta a emotividade espelhada em cenários de infinito conducentes a certa dose de introspecção (“Dos meus dedos / caem lágrimas inúteis // gritos que guardo / bem dentro de mim”), embora alguns poemas denotem a presença da segunda pessoa ou de um “nós”, que também pressupõe o outro - “E no alvo caminho / que abraça / o voo dos pássaros / repousamos os lábios / no regato do silêncio”. O trabalho poético, inseparável da labuta do pintor, apresenta-se lento e pessoal - “Borda-se um poema / de sons e matizes / envolto em segredo / e nasce Poesia” -, num percurso que pretende conferir vida, mesmo nas circunstâncias em que ela parece não existir - “Ao chegar o Outono / todas as folhas / adormecem no chão // (...) os dedos esguios / da poesia / erguem-nas de novo / singrando poemas.”

Os poemas que Alexandrina Pereira constrói para este livro surgem como metáforas do retrato que o texto prefacial por si assinado faz de Sebastião Fortuna, um artista com a “capacidade para criar beleza e arte em tudo o que toca e, com uma permanente naturalidade, dizer aos outros que das coisas mais simples podem nascer maravilhas capazes de tornar as nossas vidas num momento de felicidade.” Afinal, outra forma de explicar aquilo que o pintor afirma de si próprio, ainda que universalizando o sentimento - “É acreditando no nosso sonho e lutando pela sua realização que as coisas acontecem.” De imediato, somos levados a associar aqueles versos de um outro Sebastião, que anunciou: “Pelo sonho é que vamos. / (...) Chegamos? Não chegamos? / (...) Partimos. Vamos. Somos.” De Sebastião da Gama, claro.

Ao conferir-lhe o título de “pintor de sonhos”, Alexandrina Pereira descobre a maneira como Sebastião Fortuna construiu a sua utopia...

* J.R.R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 802, 2022-03-09, pg. 9.


segunda-feira, 19 de março de 2018

Para a agenda: Dia Mundial da Poesia em Setúbal com maratona poética e mais...



Entre as 09h30 e as 23h00 de 21 de Março, Setúbal vai celebrar o Dia Mundial da Poesia num programa bem preenchido, o da "VIII Maratona da Poesia de Setúbal". Apresentação de livros (de Alexandrina Pereira e de Dina Barco), sessões de leitura de poemas, evocação de Bocage (com José Nobre), música (com Manuel Guerra) e uma conferência sobre Miguel Torga (com José Cymbron e Eugénio Lisboa), eis um programa a convidar.


A celebração do Dia Mundial da Poesia vai também ser acontecimento no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS), em sessão prevista para as 21h30, com a presença de Sara Loureiro e António Marrachinho, que dirão poemas, e com uma mini-Feira do livro de poesia.
Para a agenda, inevitavelmente!

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Para a agenda: António Manuel Ribeiro apresenta "És meu, disse ela"



António Manuel Ribeiro conta a sua experiência autobiográfica em És meu, disse ela, obra a apresentar em Setúbal em 16 de Fevereiro, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal. Sobre a obra falarão Manuel Fonseca e Alexandrina Pereira. Uma realização da Casa da Poesia de Setúbal. Para a agenda!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Alexandrina Pereira e Mariana Ricardo - "Somos Setúbal": poemas e desenhos em favor da memória



Comecemos pelo título – Somos Setúbal. Duas palavras apenas, mas fortes e intensas, a oporem-se àquilo que o filósofo José Gil chamou o “medo de existir”, característica comum em Portugal, recanto que foi de nevoeiro e de “não inscrição”. Duas palavras que afirmam e intensificam a identidade – se, por um lado, remetem para os valores de uma cidade, de uma comunidade, por outro, essas mesmas palavras assumem neste título que “ser Setúbal” não é uma questão apenas dos outros, mas de um “nós”, em que entram, não só as figuras que vão ser tratadas, mas também os leitores, mas também as autoras, uma pela escrita, outra pelo desenho. Uma certeza: ambas se afirmam como fazendo parte desse universo que é o de haver uma maneira de “formar Setúbal”, isto é, uma marca colada a estas margens do Sado, que passa pelas pessoas.
Na nota que abre o livro, assinada pelas autoras, este pormenor da identidade não é esquecido, lá sendo dito que se trata de um “modesto contributo para a memória futura da história desta cidade”. Então, este é um livro de comemoração, em que são memoradas figuras que se identificam com Setúbal, independentemente do tempo em que por cá andaram ou do tempo que as continua a fazer estar entre nós.
E, quanto ao conteúdo, ele é feito de imagens e de palavras. O traço é de Mariana Ricardo, fotografado por Paulo Alexandre Ferreira, traço que se passeia pelos rostos de personagens desta cidade, quase todos eles com um sorriso esboçado, muitos deles conotados com a fotografia que conhecemos, com a imagem que temos. Visualizar as personagens é uma forma de as actualizar, de lhes dar consistência, de as tornar presentes no nosso tempo e nos nossos momentos, de as incorporar na nossa vida, com entradas pelas janelas das páginas, a contemplarem as palavras, os retratos escritos que delas são feitos, num jogo de espelhos – ora a imagem, ora a impressão dada pela escrita.
As palavras são de Alexandrina Pereira, autora bem conhecida em Setúbal, sempre dada a estas marcas de identidade e de afecto à terra e às gentes, para o que põe ao serviço a sua veia poética. Como referem as autoras na nota introdutória, trata-se de um livro “em que as palavras organizadas poeticamente se entrelaçam com a imagem de cada pessoa aqui incluída”, duas formas de arte e de expressão, ambas se congregando na busca e no enlevo de uma maneira de “ser Setúbal”.
Entra o leitor por estas páginas e encontra vinte nomes, vinte imagens, vinte poemas, vinte curtas biografias, constituindo esses nomes o tema de cada um dos poemas e de cada um dos registos biográficos, abrangendo os universos da música, do teatro, da poesia, da intervenção social e cívica, do desporto e alguns que, pela sua singularidade, podem ser entendidos como “únicos”. Falamos de um livro que é um itinerário de visita à memória de catorze nomes e de convívio com meia dúzia de outras figuras do nosso presente, que povoam o nosso quotidiano, todos alinhados por ordem alfabética, de A a Z, qual chave que abre e fecha um universo de referências, num horizonte temporal que viaja entre o século XVIII, protagonizado por Luísa Todi e por Bocage, e se despenha sobre o século XXI, num encontro com Eugénio da Fonseca (o de data de nascimento mais recente), Carlos Rodrigues, Fernando Tomé, Georgete de Jesus, Manuel de Jesus e Odete Santos. O trilho é ainda alicerçado em Álvaro Félix, António Maria Eusébio (o que alcançou maior longevidade, com quase 92 anos), Carlos César, Fernando Guerreiro, Francisco Finura, Mário Regalado, Sebastião da Gama (o que teve menos tempo de vida), Xico da Cana, Xico Jorge, Zé dos Gatos, Zeca Afonso e Zeca Gregório.
Marcas fortes trazidas para todas estas personagens são a capacidade de sonhar, a humildade e uma filosofia de vida. O livro abre com uma expressão do universo do teatro, como se fosse um espectáculo aquilo a que o leitor vai assistir – “Sobe o pano, entra o actor”, uma forma de apresentar a personagem do poema, o actor Álvaro Félix, mas também de partilhar o palco da escrita com esta assistência que somos nós, por ali desfilando a história e as histórias, os afectos, os trabalhos, as recordações de momentos, as pessoas.
Os poemas contêm aguarelas de apreciação, que vão desde a personalidade à obra produzida, todos assentando numa base que pretende ser também uma homenagem. Esta aspiração revela-se no prazer de serem mostradas as características, usando marcas de proximidade e mensagens que ligam a poesia à figura, muitas vezes se socorrendo de um tratamento por “tu”, como se se tratasse de uma carta, de uma conversa a dois. Nessas mensagens vão sendo apontados os indicadores das vidas, os traços de personalidade, os efeitos das obras e dos percursos, a admiração partilhada. Mas também flui o testemunho, veiculado pela memória de quem escreve ou desenha, num vaivém entre o passado e o presente, entre as histórias contadas e as revividas.
As escolhas que deram origem a este livro vão sendo marcadas pela admiração e pela amizade, é certo, mas também pelos princípios seguidos na vida, correspondendo os valores apontados também a um perfilhar desses mesmos valores. Por esse facto, também aqui se joga no tabuleiro dos princípios, naquilo que pode constituir um conjunto de referências para a sociedade – o “não fazer mal a ninguém” (apanágio do poeta Calafate), a busca e a luta pela liberdade (linhas de força em Bocage, Odete Santos e Zeca Afonso), a ousadia e a determinação (como no caso de Carlos César), a partilha de alegrias e de sonhos (relevado de Manel Bola), a solidariedade contra o esquecimento e a pobreza (resultante de Eugénio da Fonseca), a capacidade criativa para representar a vida (decorrente de Álvaro Félix e de Fernando Guerreiro), a humildade (marca de Fernando Tomé), o assumir a diversidade e a afirmação da diferença (presente em Francisco Finura e em Zé dos Gatos), o respeito pela tradição (visível na paixão pelo fado apresentada em Georgete e Manuel de Jesus), o trabalho necessário ao sucesso (pairando em Luísa Todi), o convívio e o respeito pela inspiração (emergente em Mário Regalado), o afecto pela Natureza (testemunhado em Sebastião da Gama), o culto de capacidades (simbolizado em Xico da Cana e em Zeca Gregório), a felicidade no que se faz (patente em Xico Jorge). Enfim, um programa de humanidade, uma multiplicidade de caminhos que ajudam à afirmação da vida, de um povo.
Somos Setúbal é, por isso, um espelho que reflecte imagens e exemplos edificadores e edificantes de uma comunidade, de uma identidade. Assim haja vontade para descobrir naqueles que nos rodeiam os dotes e as marcas que podem ajudar a que uma sociedade se afirme, desde que esses traços se revistam em favor da humanidade. Por isso… somos Setúbal!
[na apresentação da obra, em 13 de Fevereiro, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal]

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Alexandrina Pereira: a Arrábida em forma de poema




Quando Alexandrina Pereira escolheu a Arrábida como objecto do seu amor, do seu poema (Arrábida, meu amor, meu poema. Setúbal: ed. Autor, 2013), abriu as portas para um passeio de mãos dadas com a serra, enveredando por ecos que nos chegam de poemas já ouvidos, já cantados, todos eles celebrantes da maravilha com que a serra se apresenta.
Vai o leitor contemplando este poema em que a serra está vestida de flores e as sensações visuais acumulam-se num espraiar de versos, ao mesmo tempo que as emoções respiram a tradição literária em torno da Arrábida.
Ponto em que o vento “sibila segredos” ou onde “a Primavera é infinita”, ao poeta (ou ao leitor) resta o pasmo perante a maravilha que sucede à maravilha (como algures registou Sebastião da Gama), em frente de um universo de beleza tornada espanto e admiração.
No meio de todo este silêncio sugerido, distingue-se o rumor que nos chega de Frei Agostinho, mas também o cântico emergente da tela de palavras com que Sebastião aureolou a Arrábida, não só por a ter elevado ao estatuto de mãe, que é como quem diz fonte da vida, mas também porque a conheceu como ninguém e partilhou os segredos que ela própria lhe revelou. Um deles é esta possibilidade de a Arrábida ser poesia, de ser corpo vivo que nos enleva e se nos mostra, assim cada um queira ser seu confidente. Alexandrina Pereira foi por esse caminho…
E, neste tempo em que passam 60 anos sobre a ida de Sebastião da Gama para o infinito das estrelas e da memória e em que se fala da Arrábida como esperança de vir a ser um elemento integrante do património mundial (que já o é, de facto), é pertinente lembrar o tom de felicidade que jorra da sempre doce Arrábida.
Arrábida, meu amor, meu poema. Arrábida, razão de ser e de cantar. Arrábida, feliz Arrábida!
[Nota prefacial ao livro, que foi apresentado publicamente
em 27 de Abril, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal.]

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Para a agenda - Alexandrina Pereira em poemas sobre a Arrábida


Um conjunto de poemas em louvor da Arrábida, com algumas traduções em castelhano, francês, inglês e alemão. Um canto de amor à paisagem, à serra, à poesia, com a Arrábida por fundo, no ano em que se efectuou a sua candidatura a património mundial. Em 27 de Abril, surgirá Arrábida, meu poema, meu amor, de Alexandrina Pereira, edição que mereceu o patrocínio das Câmaras Municipais de Setúbal, Palmela e Sesimbra, da Associação Cultural Sebastião da Gama, da Secil e do Finisterra Arrábida Film Festival. Para a agenda!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Para a agenda - Luísa Todi em palco



Em 9 de Janeiro, passa o aniversário do nascimento da cantora lírica setubalense Luísa Todi (1753), atingindo o número redondo do 260º aniversário. Que melhor homenagem do que vê-la em palco?
Pois a oportunidade vai surgir no Forum Municipal Luísa Todi através do espectáculo Luísa Todi - O Musical, peça que chegou a estar pensada para a reabertura do Forum em 15 de Setembro. Com texto de Rui Mesquita, letras de Alexandrina Pereira, música de Carlos Pinto e encenação de Miguel Assis, o espectáculo pode ser visto em Janeiro, nos dias 10, 11 e 12, pelas 21h30, e no dia 13, pelas 16h00. Boa prenda para a memória sadina e para a memória da cantora!
Abaixo se reproduz a apresentação da obra, constante no roteiro de programação do Forum Municipal Luísa Todi para o primeiro quadrimestre do ano.


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Setúbal antologiada em poemas


A poesia para ser bonita não precisa de grandes espaços; num livro de formato quadrado, com dez centímetros de lado, cabe muita poesia, mesmo que seja em duas dúzias de páginas… tal como acontece em Setúbal em poemas, recentemente posto à venda (Setúbal: Liga dos Amigos do Forum Luísa Todi, 2012), projecto coordenado por Alexandrina Pereira e pelo franciscano Frei Miguel.
Pela referência bibliográfica percebe o leitor a finalidade desta edição – um contributo para a conclusão das obras do Forum Luísa Todi, em Setúbal, cuja inauguração está prevista para 15 de Setembro, dia da cidade e feriado municipal devido ao nascimento de Bocage, ele próprio homem de poesia intensa.
Onze são os autores antologiados – Fernando Paulino, José Raposo, Alexandrina Pereira, Maria do Carmo Branco, Eduarda Gonçalves, Ilídio Gomes, Maria Fernanda Reis Esteves, Linda Neto, Carlos Rodrigues, Manuel Raimundo e Manuela Matos Silva, quase todos eles com obra já publicada em livro próprio, alguns deles apenas tendo passado por antologias poéticas.
Outros tantos são os poemas, que passam por marcas tão distintas quanto o Sado (“Escrevo com o teu olhar o rio”, diz Fernando Paulino, ou “Olho-o / das muralhas do castelo / correndo para o mar / muito mansinho”, na serenidade dos versos de Maria do Carmo Branco), a cidade (“Tens razão quando dizes / Que os teus filhos são felizes / Por viverem junto ao Sado / Cidade de encantos tais / de frondosos laranjais / Rainha do peixe assado”, desabafa José Raposo), a aguarela da paisagem (“Balouçam suavemente / os barquinhos multicores / dançando ao sabor da vida / são a promessa cumprida / no olhar dos pescadores”, matiza Alexandrina Pereira), as recordações (“A luz revela a miragem do sonho / Ternos laranjais / Guardados na memória”, lembra Eduarda Gonçalves), a Arrábida (“A serra dá-lhe o cheiro a rosmaninho”, no deslumbramento de Carlos Rodrigues).
O leitor passa por estes versos que povoam tão diferentes escritas e não tem a certeza se é Setúbal que se vê em poemas ou se são cantos de amor a Setúbal coados por poetas atentos, felizes numa paisagem feliz.
Uma iniciativa de solidariedade com uma obra necessária para a cidade. Um gesto que o Forum merece. E o agradecimento numa mão-cheia de versos e de poesia.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Núcleo de Poesia de Setúbal acabou

O Núcleo de Poesia de Setúbal acabou. Pelo menos como organização com estatutos reconhecidos. Surgido em Agosto de 2005 no interior do Grupo Desportivo “Independente”, em Setúbal, teve como seus primeiros directores Henrique Mateus, Viriato Horta, Ivone Vilares e Maria Adelaide Palmela.
Logo no bimestre de Setembro-Outubro do ano da fundação, começou a publicar a revista O Canto dos Poetas, cujo número zero teve entrevista com a poetisa Alexandrina Pereira e coleccionou textos assinados por Ivone Vilares, Adelaide Palmela, Viriato Horta, Henriqueta Lisboa, Henrique Mateus e Alexandrina Pereira, além de transcrições de poemas de Sebastião da Gama, António Aleixo e João de Deus.
Em Maio de 2010, com o nº 21 do boletim O Canto dos Poetas, chegava a informação de que o Núcleo de Poesia de Setúbal tinha adquirido a sua autonomia jurídica, constituindo-se como associação cultural. Como membros da Mesa da Assembleia Geral, constavam os nomes de Rui Serodio, Maria das Dores Silva e Maria Clementina Pereira; na Direcção, constavam Henrique Mateus, Luís Chaínho e Viriato Horta; no Conselho Fiscal, estavam José Francisco Gonçalves, Arnaldo Ruaz e José Manuel Rodrigues.
No entanto, a indisponibilidade, por razões particulares ou por falecimento (como foi o caso de Rui Serodio), viria a pesar no funcionamento do Núcleo, que, em Dezembro, resolveu a sua dissolução. O último boletim publicado, com o nº 26, teve a data do derradeiro trimestre de 2011 e o poeta entrevistado era Henrique Mateus, que lamentava a dificuldade de encontrar dirigentes disponíveis para assegurar a continuidade da associação, mas que manifestava alguma esperança numa saída airosa para a colectividade. Tal desejo não teve saída feliz e, em 10 de Dezembro, uma Assembleia Geral extraordinária decidiu pelo fim do Núcleo.
Para trás, fica a edição dos 27 números do boletim O Canto dos Poetas, a organização de quatro sessões dos Jogos Florais de Setúbal, a realização de diversas tertúlias poéticas em Setúbal e a divulgação dos poetas sadinos através de sítio na internet.
Finda a associação, mantém-se a intenção de continuidade da publicação de poesia, ainda que a título particular. Às figuras que, ao longo de meia dúzia de anos, aguentaram este projecto fica a satisfação do cumprimento de uma missão: "Trabalhámos em prol do colectivo, privámo-nos de descanso, do convívio com os nossos familiares e, principalmente, de fazer coisas que adorávamos fazer, fizemo-lo galhardamente, sem esperar nada em troca. Não estamos arrependidos, pelo contrário, estamos gratos.", conforme consta na carta de despedida aos associados.

sábado, 30 de maio de 2009

Uma sessão sobre Sebastião da Gama

Na tarde de quinta, estive em Azeitão, no Museu Sebastião da Gama (que completa, em 1 de Junho, os 10 anos de vida) para promover uma sessão sobre o poeta patrono do Museu, natural de Azeitão (freguesia de S. Lourenço), destinada a um grupo da Universidade Sénior de Setúbal (Uniseti).
Foi uma hora e tal de passeio pela vida, pelo tempo e pela obra de Sebastião da Gama, numa tarde quente, com as atenções presas, embaladas no interesse de mais contactar com o poeta. Antes, a visita ao pequeno núcleo sobre Sebastião da Gama fora guiada por Joana Luísa, a viúva do poeta, e por Nicolau da Claudina, um dos seus alunos de Setúbal.
Depois desta navegação, notei o prazer das pessoas em mais saberem sobre o poeta e o pedagogo, sensação que não me é nova, pois a tenho experimentado em várias outras sessões a propósito do poeta.
Que fascínio podem as pessoas encontrar numa visita a Sebastião da Gama? A poesia, claro; a mensagem educativa, também; a história de uma vida de 27 anos que muito deixou para contar, evidente; a fusão do poeta, do homem e do professor num sentir único, impossível de segmentar, talvez; um trajecto de alegria pela e com a vida, apesar da rapidez com que passou… Talvez um pouco de tudo isto seja verdade ou molde essa verdade, talvez. Mas tem-me sensibilizado que a história deste poeta tanto comova jovens como adultos, mais novos como mais velhos.
E, depois, vêm os testemunhos. Há sempre alguém que se cruzou com Sebastião da Gama. Num poema, numa citação, numa lembrança. Na tarde de quinta, havia a característica comum de quase todo o público ser sadino, com interesse pela poesia e com empenho cultural assinalável, trazido pela animação de uma oficina de poesia orientada por Alexandrina Pereira e por Fernando Paulino, ambos poetas, com obra publicada e prémios obtidos. E houve ainda a presença de Julieta Ferreira, que foi professora, que é escritora, leitora e emigrante na Austrália há quase três décadas, que se emocionou com a história e pareceu encontrar-se com uma das suas referências enquanto pedagogo e poeta. Coincidências. E momentos felizes. A Julieta testemunhou, lendo um excerto de um dos seus livros, num passo autobiográfico em que, a propósito de um olhar sobre o monumento a Camões, em Lisboa, regista: “O poeta cujos sonetos me encantavam e eram motivo de suplício para os meus alunos dedicados aos estudos das matemáticas ou ciências, para quem era um desperdício o estudo da nossa língua e literatura. Nunca desistia nas minhas tentativas de incutir neles o apreço pelas letras, o que resultava em tarefa bem árdua, na maior parte das vezes. Contudo, sempre munida de um entusiasmo redobrado, enfrentava a classe todos os dias, lembrando-me das palavras de Sebastião da Gama que tanto me inspirava e com quem partilhava a mesma paixão. A aula de Português acontece… Acontece na sala… Não sou, junto de vós, mais do que um camarada… Sei coisas que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar, não: falar delas. E eu falava com os meus alunos acerca da minha paixão pela língua portuguesa e pelos escritores que a trabalharam e enobreceram.” (Julieta Ferreira. Regresso a Lisboa – Confissões proibidas. Linda-a-Velha: DG edições, 2006, pp. 62-63).
Foi uma das coisas boas na tarde de quinta, só agora escrita, mas desde logo inscrita.
[fotos: na direita, Joana Luísa da Gama e Nicolau da Claudina; na esquerda, Julieta Ferreira]

domingo, 19 de abril de 2009

"Setúbal em tons de poesia", uma antologia de versos e de cor

Setúbal em tons de poesia é o título do livro hoje apresentado publicamente na cidade do Sado, reunindo trabalhos poéticos e coloridos da Oficina de Poesia e Pintura dos alunos da UNISETI (Universidade Sénior de Setúbal), sob a orientação das professoras Alexandrina Pereira e Maria Eduarda Gonçalves (para a área da poesia) e Lurdes Pólvora D' Cruz (no domínio da pintura). A antologia é justificada por Alexandrina Pereira ao registar que “escrever sobre a cidade em que nascemos, ou apenas onde moramos, é sempre uma declaração de amor” e que a obra contém as formas de amor “dos filhos e daqueles que adoptaram” a cidade, cabendo também a M. Eduarda Gonçalves referir que, “ao percorrer as páginas deste livro, sentir-nos-emos a folhear as ruas, as praças, as avenidas” de Setúbal.
Os poemas surgem agrupados em dezassete subtemas – castelo de S. Filipe, cidade, convento da Arrábida, docas, festa brava, jardins, laranjais, miradouros, personalidades, pescadores, pregões, profissões, rio Sado, serra da Arrábida, Setúbal, Tróia e Vitória Futebol Club –, cada um deles iniciado pela reprodução de uma aguarela alusiva.
A poetar, surgem os nomes de Alexandrina Pereira, Anna Netto, Arnaldo Ruaz, Beatriz Estrela, Berta Duarte, Conceição Portela, Custódia Pereira, Custódia Procópio, Delmira Gil, Filomena Lopes, Florival Carmo, Henrique Mateus, Idalece Rocha, João Santiago, Lucinda Neves, Maria Adelaide Palmela, Maria Célia Peixinho, Maria de Fátima Santiago, Maria de Lourdes Nascimento, Maria de Lourdes Silva, Maria de Lurdes Pinto Alves, Maria do Carmo Branco, Maria Eduarda Gonçalves, Maria Elvira Cevadinha, Maria Helena Barata, Maria Helena Freire, Maria Joaquina Viegas, Maria Sol, Natália Monteiro, Pólvora d’Cruz, Sara Monteiro, Suzete Pereira e Viriato Horta. As telas são assinadas por Aida Franco de Sousa, Ana Pelicano, Beatriz Estrela, Claudete Matias, Maria de Lurdes Labareda, Maria Francisco Neves, Maria José Alves, Maria Virgínia Valido Correia, Sara Monteiro e Vitalina Azevedo.
A título de amostra, aqui deixo o poema de Sara Monteiro que toma a Arrábida por tema:

Sara Monteiro. "Serra, Serra Mãe". Setúbal em tons de poesia. Setúbal: UNISETI, 2009, pg. 110.