A revista Orpheu vai estar em discussão em Sesimbra na tarde de sábado, 24 de Outubro. O centenário é pretexto, mas os intervenientes e os temas a abordar falam muito alto e são motivadores. Cem anos depois, a revista de que só saíram dois números continua a dar que pensar, tecendo encontros entre Fernando Pessoa, Almada Negreiros e António Telmo, a coberto das leituras de Elísio Gala, António Carlos Carvalho, Rui Arimateia e Miguel Real. Na Biblioteca Municipal de Sesimbra. Para a agenda!
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sexta-feira, 23 de outubro de 2015
sábado, 23 de maio de 2015
"Orpheu" - sublinhados no seu centenário
Em 1915,
surgiu a revista Orpheu, sendo o
primeiro número (alusivo aos meses de Janeiro a Março) dirigido por Luís de
Montalvor e por Ronald de Carvalho e o segundo (referente ao trimestre de Abril
a Junho) por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. O terceiro número não
chegaria a ser publicado e só em 1984 apareceu a edição das respectivas “provas
de página” (em fac-símile) pela mão da revista Nova Renascença e do seu director, José Augusto Seabra.
Neste ano
de centenário, uma revisita às páginas da revista (cuja edição fac-similada dos
dois números editados, em volumes autónomos, saiu recentemente com o diário Público) deixa-nos com a verdade de que a revista
surpreende de cada vez que a ela se volta. Por aqui deixo uns sublinhados de
Orpheu, pela ordem em que aparecem em dada um dos três números (a paginação da
revista foi continuada de número para número, visando a organização em volume).
Eu – “Eu não sou eu nem sou o outro, /
Sou qualquer coisa de intermédio: / Pilar da ponte de tédio / Que vai de mim
para o Outro.” (Mário de Sá-Carneiro. “7”. Orpheu.
Dir.: Luís de Montalvor, Ronald de Carvalho. Lisboa: nº 1, Jan-Fev-Mar.1915,
pg. 14)
Eu – “Por sobre o que Eu não sou há
grandes pontes / Que um outro, só metade, quer passar / Em miragens de falsos
horizontes / Um outro que eu não posso acorrentar…” (Mário de Sá-Carneiro.
“Ângulo”. Orpheu. Dir.: Luís de
Montalvor, Ronald de Carvalho. Lisboa: nº 1, Jan-Fev-Mar.1915, pg. 15)
Tu – “Dentro da água dos teus olhos /
minha alma treme como um lírio…” (Ronald de Carvalho. “Reflexos”. Orpheu. Dir.: Luís de Montalvor, Ronald
de Carvalho. Lisboa: nº 1, Jan-Fev-Mar.1915, pg. 25)
Mar – “Só o mar das outras terras é que
é belo. Aquele que nós vemos dá-nos sempre saudades daquele que não veremos
nunca…” (Fernando Pessoa. “O Marinheiro”. Orpheu.
Dir.: Luís de Montalvor, Ronald de Carvalho. Lisboa: nº 1, Jan-Fev-Mar.1915,
pg. 30)
Sentir – “Custa tanto saber o que se
sente quando reparamos em nós!...” (Fernando Pessoa. “O Marinheiro”. Orpheu. Dir.: Luís de Montalvor, Ronald
de Carvalho. Lisboa: nº 1, Jan-Fev-Mar.1915, pg. 32)
Sonho – “O dia nunca raia para quem
encosta a cabeça no seio das horas sonhadas.” (Fernando Pessoa. “O Marinheiro”.
Orpheu. Dir.: Luís de Montalvor,
Ronald de Carvalho. Lisboa: nº 1, Jan-Fev-Mar.1915, pg. 34)
Sonho – “Só vós sois feliz, porque
acreditais no sonho…” (Fernando Pessoa. “O Marinheiro”. Orpheu. Dir.: Luís de Montalvor, Ronald de Carvalho. Lisboa: nº 1,
Jan-Fev-Mar.1915, pg. 39)
Erro – “Eu fui alguém que se enganou /
E achou mais belo ter errado…” (Mário de Sá-Carneiro. “Poemas sem suporte –
Elegia”. Orpheu. Dir.: Fernando
Pessoa, Mário de Sá-Carneiro. Lisboa: nº 2, Abril-Maio-Junho.1915, pg. 97)
Admiração – “Não admiramos o que a nós
é estranho, sentindo então, o que já não admiramos?” (Raul Leal. “Atelier”. Orpheu. Dir.: Fernando Pessoa, Mário de
Sá-Carneiro. Lisboa: nº 2, Abril-Maio-Junho.1915, pg. 117)
Ideal (em arte) – “O indefinido a que
na arte nós aspiramos, essa ânsia de ideal que mais do que o ideal para nós
vale, essa ânsia, esse desejo infinito e jamais satisfeito, deve encher a nossa
vida que a mais alta expressão se tornará assim da arte pura!” (Raul Leal.
“Atelier”. Orpheu. Dir.: Fernando
Pessoa, Mário de Sá-Carneiro. Lisboa: nº 2, Abril-Maio-Junho.1915, pg. 119)
Arte – “Toda a obra de arte é a
justificação de si própria.” (Nota da redacção sobre os poemas assinados por
Violante de Cisneiros. Orpheu. Dir.:
Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro. Lisboa: nº 2, Abril-Maio-Junho.1915, pg.
122)
Vida – “A vida é só o Espaço / Que vai
da própria Linha / À sombra dela num traço. // Quando a Morte for vizinha, /
Fundidas no mesmo Espaço / Será tudo a mesma Linha.” (Violante de Cisneiros.
“Poemas – A Álvaro de Campos”. Orpheu.
Dir.: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro. Lisboa: nº 2,
Abril-Maio-Junho.1915, pg. 123)
Presente – “Só sensações são Presente,
/ Só nelas vive a Verdade.” (Violante de Cisneiros. “Poemas – A Álvaro de Campos”.
Orpheu. Dir.: Fernando Pessoa, Mário
de Sá-Carneiro. Lisboa: nº 2, Abril-Maio-Junho.1915, pg. 124)
Infância – “Não poder viajar pra o
passado, para aquela casa e aquela afeição, / E ficar lá sempre, sempre cirança
e sempre contente!” (Álvaro de Campos. “Ode Marítima”. Orpheu. Dir.: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro. Lisboa: nº 2,
Abril-Maio-Junho.1915, pg. 147)
Longe – “Viajar ainda é viajar e o
longe está sempre onde esteve – / Em parte nenhuma, graças a Deus.” (Álvaro de
Campos. “Ode Marítima”. Orpheu. Dir.:
Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro. Lisboa: nº 2, Abril-Maio-Junho.1915, pg.
149)
Eu – “Contemplo o meu destino em mim.”
(Luís de Montalvor. “Narciso”. Orpheu.
Dir.: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro. Lisboa: nº 2, Abril-Maio-Junho.1915,
pg. 156)
Vida – “Atapetemos a vida / Contra nós
e contra o mundo.” (Mário de Sá-Carneiro. “Poemas de Paris – Sete Canções de
Declínio”. Orpheu 3 – Provas de Página.
Porto: Edições “Nova Renascença”, 1984, pg. 167).
Tempo – “Passar tempo é o meu fito, /
Ideal que só me resta: / Pra mim não há melhor festa, / Nem mais nada acho
bonito.” (Mário de Sá-Carneiro. “Poemas de Paris – Cinco Horas”. Orpheu 3 – Provas de Página. Porto: Edições
“Nova Renascença”, 1984, pg. 174).
Deus – “Olho o Tejo, e de tal arte /
Que me esquece olhar olhando, / E súbito isto me bate / De encontro ao
devaneando – / Que é ser rio, e correr? / O que é está-lo eu a ver? // Sinto de
repente pouco, / Vácuo, o momento, o lugar. / Tudo de repente é oco – / Mesmo o
meu estar a pensar. / Tudo – eu e o mundo em redor – / Fica mais que exterior. //
Perde tudo o ser, ficar, / E do pensar se me some. / Fico sem poder ligar /
Ser, ideia, alma de nome / a mim, à terra e aos céus… // E súbito encontro
Deus.” (Fernando Pessoa. “Além Deus – Abismo”. Orpheu 3 – Provas de Página. Porto: Edições “Nova Renascença”,
1984, pg. 186).
Política – “E vós também, nojentos da
Política / que explorais eleitos o Patriotismo! / Maquereaux da Pátria que vos
pariu ingénuos / e vos amortalha infames!” (José de Almada Negreiros. “A Cena
do Ódio”. Orpheu 3 – Provas de Página.
Porto: Edições “Nova Renascença”, 1984, pg. 200).
Jornalismo – “E vós também, pindéricos
jornalistas / que fazeis cócegas e outras coisas / à opinião pública!” (José de
Almada Negreiros. “A Cena do Ódio”. Orpheu
3 – Provas de Página. Porto: Edições “Nova Renascença”, 1984, pg. 201).
Portugal – “E ainda há quem faça
propaganda disto: / a pátria onde Camões morreu de fome / e onde todos enchem a
barriga de Camões!” (José de Almada Negreiros. “A Cena do Ódio”. Orpheu 3 – Provas de Página. Porto: Edições
“Nova Renascença”, 1984, pg. 202).
Homem – “Quanto mais penso em ti, mais
tenho Fé e creio / que Deus perdeu de vista o Adão de Barro / e com pena fez
outro de bosta de boi / por lhe faltar o barro e a inspiração! / E enquanto
este Adão dormia / os ratos roeram-lhe os miolos, / e das caganitas nasceu a
Eva burguesa!” (José de Almada Negreiros. “A Cena do Ódio”. Orpheu 3 – Provas de Página. Porto: Edições
“Nova Renascença”, 1984, pg. 202).
Vida – “Vivemos tão pouco / que ficamos
sempre a meio caminho do Desejo.” (José de Almada Negreiros. “A Cena do Ódio”. Orpheu 3 – Provas de Página. Porto: Edições
“Nova Renascença”, 1984, pg. 205).
Natureza – “Ouve a Terra, escuta-A. / A
Natureza à vontade só sabe rir e cantar!” (José de Almada Negreiros. “A Cena do
Ódio”. Orpheu 3 – Provas de Página.
Porto: Edições “Nova Renascença”, 1984, pg. 209).
Sonho – “Os sonhos não podem ser incoerentes porque não
passam de pensamentos / Como outros quaisquer.” (C. Pacheco. “Para além doutro
oceano”. Orpheu 3 – Provas de Página.
Porto: Edições “Nova Renascença”, 1984, pg. 221).
terça-feira, 24 de março de 2015
"Orpheu", 100 anos hoje
Com o subtítulo de "Revista
Trimestral de Literatura", o primeiro
número de Orpheu surgiu em Lisboa em
25 de Março de 1915,
dirigido por Luís de Montalvor e
Ronald de Carvalho. Passados três meses, em 28
de Junho, apareceu o número dois, dirigido por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. Editada por António Ferro
(1895-1956), a revista teve capa, nos dois
números, de José Pacheco (1885-1934). Colaboradores dos dois números foram
Alfredo Guisado (1891- 1975), Almada Negreiros (1893-1970), Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), Ângelo de Lima (1872-1921), Armando Côrtes-Rodrigues
(1891-1971), Eduardo Guimaraens (1892-1928,
brasileiro), Fernando
Pessoa (1888-1935), Luís de Montalvor (1891-1947),
Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), Raul Leal (1886-1964), Ronald de Carvalho (1893-1935, brasileiro), Santa Rita
Pintor (1890-1918) e Violante de Cysneiros (pseudónimo de Côrtes-Rodrigues).
Na "Introdução", publicada
no primeiro número, escreveu Luís de Montalvor: "Nossa pretensão é formar,
em grupo ou ideia, um número escolhido
de revelações em pensamento ou arte, que
sobre este princípio aristocrático tenham em Orpheu o seu ideal esotérico e bem nosso de nos sentirmos e
conhecermo-nos".
A reacção aos dois números da
revista (de que há reedições a cargo de Edições ÁticaI pautou-se por
classificações que reflectiam o escândalo provocado: "literatura de
manicómio" e "doidos com juízo", entre outras. Textos para o
terceiro número de Orpheu chegaram a
ser impressos, não tendo, contudo, a revista sido publicada (foi feita edição
das provas de página em 1984, sob a responsabilidade de Edições “Nova
Renascença”). Entre os textos conhecidos para esse terceiro número contam-se
como autores Mário de Sá-Carneiro, Albino de Meneses (1889-1949), Fernando
Pessoa, Augusto Ferreira Gomes (1892-1953), Almada Negreiros, D.Tomás de
Almeida (1864-1932), C. Pacheco (heterónimo de Pessoa) e Castelo de Morais
(1882-1949), sendo o texto mais importante o de Almada ("Cena do
ódio", depois publicado na revista Contemporânea,
em Janeiro de 1923).
Sobre o papel desempenhado por
Orpheu escreveu Fátima Freitas Morna:
"é um caso particularmente interessante entre os muitos que lhe poderiam
constituir paralelo na Europa povoada de 'ismos' e revistas dos anos que rodeiam
a Primeira Guerra Mundial. Em vez de se proclamar como um movimento, ou órgão
de um movimento, Orpheu aceita ser o
lugar de choque e de trabalho de vários movimentos." (A Poesia de 'Orpheu'. Col. "Textos Literários", 26. Lisboa: Editorial Comunicação, 1982).
Ao longo dos tempos, o título Orpheu tem sido apontado como uma das
revistas literárias mais revolucionárias e tem sido alvo de inúmeros estudos
pelo papel desempenhado na expressão futurista em Portugal. Em Bruxelas, chegou
a ser fundada uma livraria vocacionada para a literatura e cultura portuguesas
a que foi dado o nome de “Orpheu”. Já neste ano, a revista tem sido objecto temático
de várias publicações, como JL – Jornal de
Letras, Artes e Ideias (nº 1159, 4.Março.2015) ou Estante (FNAC: nº 4, Inverno.2015). Também recente é a edição
filatélica de um selo desenhado sobre quadro de Almada Negreiros, alusivo ao
centenário da revista (CTT, 2015). Na celebração destes cem anos da revista Orpheu, estão ainda envolvidas
exposições (como a da Biblioteca Nacional) ou edições como 1915 – O ano do Orpheu, organizada por Steffen Dix (Lisboa: Tinta-da-China,
2015).
[foto: selo comemorativo do centenário da revista Orpheu - CTT, 2015]
sexta-feira, 20 de março de 2015
Para a agenda: Nos 100 anos de "Orpheu"
O primeiro centenário sobre o aparecimento da revista Orpheu está por cá. Exposições, colóquio, edições, sessões de poesia. Por cá e além-Atlântico. Por cá e a circular. 100 anos depois, Orpheu continua o seu papel de inquietar. A notícia acima veio na revista "Ipsilon" com o Público de hoje. Várias chamadas de atenção para eventos "orphicos". Para a agenda!
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