sexta-feira, 31 de julho de 2009

Lições a partir dos Açores

“Dá que pensar como é que isso foi possível”, disse o Presidente da República hoje, a propósito da aprovação “por uma larga maioria quer no parlamento açoriano quer na Assembleia da República” do Estatuto Político-Administrativo dos Açores, que teve algumas das suas normas agora declaradas inconstitucionais por um acórdão do Tribunal Constitucional.
Muitas coisas podem ser questionadas a propósito desta história, mas uma delas é evidente: não basta haver uma maioria favorável a uma lei para que essa lei seja verdadeira ou tenha força constitucional. A democracia vai-se aprendendo e torna-se cada vez mais óbvio que as maiorias absolutas não são benéficas em Portugal, isto é, o país não pode andar a reboque de leis fundamentais que só são impostas porque tiveram na sua aprovação a diferença de mais uns quantos votos devidos à maioria absoluta de um partido que não da diversidade parlamentar.
E ficou a lição: “Temos que respeitar as decisões do Tribunal Constitucional e os políticos que não respeitem acho que devem fazer uma reflexão séria para si próprios”, disse o Presidente da República.

Política caseira (42): Independentes para Azeitão (S.Lourenço)

O Setubalense: 31.Julho.2009

Política caseira (41): Bloco de Esquerda apresentou candidatos às Juntas de Freguesia

O Setubalense: 31.Julho.2009

Anne Frank na "Memória do Mundo"

A “Memória do Mundo”, registada pela UNESCO, vai passar a contar 193 documentos, depois de integrar a lista de 35 novos items agora divulgada. No conjunto proposto, integra-se o Diário, de Anne Frank, considerado “um dos dez livros mais lidos no mundo”.

Capa de edição portuguesa do Diário e monumento a Anne Frank (Amesterdão, junto da casa de Anne Frank)

A este propósito, registo o excerto de uma ficha de leitura sobre esta obra, elaborada pela Beatriz Crispim, aluna de 7º ano, há dois anos: «O que é mais valorizado neste livro é a amizade que ela tem pelo diário, que, no fundo, para ela não é um diário, é a sua melhor amiga. Ela escreve sempre, sem obter nenhuma resposta, mas pensa sempre que a amiga comunica com ela. Ela encontra na amiga o grande apoio para as horas mais difíceis, como esperava e como diz no início do livro: “Espero que te possa confiar tudo a ti; o que, até agora, nunca pude fazer a ninguém, e espero que venhas a ser um grande amparo para mim” (12 de Junho de 1942). (…) Gostei deste livro, porque é diferente, não é uma história inventada, mas sim uma história real, escrita por uma menina que não sabia que, um dia mais tarde, a sua história de vida viria a ser contada em todo o Mundo. Só a ler esta história ficamos conscientes do que é não poder ter liberdade e não poder crescer da mesma forma que as outras crianças, por causa da guerra e de alguém que decidiu perseguir outros só porque eram diferentes.»

Além do livro de Anne Frank, outros documentos que integram a lista agora apresentada são a “Magna Carta” («Often described as the foundation of English liberty, law and democracy, the Magna Carta’s influence endures worldwide. The critical importance of the charter lies in the fact that it imposed, for the first time, detailed written constraints on royal authority regarding taxation, feudal rights and justice. It also asserted the power of customary practice to limit unjust and arbitrary behaviour by the king and has become a symbol for freedom and democracy throughout the world.»), o poema medieval “Canção dos Nibelungos” («The Nibelungenlied, the Song of the Nibelungs, is probably the most famous heroic poem in Middle High German and can be compared to epics such as Gilgamesh, the Mahabharata, or the Heike Monogatari. It tells the story of dragon-slayer Siegfried from his childhood and marriage to Kriemhild to his murder and the subsequent story of Kriemhild's revenge, culminating in the extinction of the Burgundians or Nibelungs at the court of the Huns.») e os arquivos da Sociedade das Nações de 1919-1946 («The League of Nations was conceived in 1919 in the aftermath of World War I. Its archives bear testimony to the will to create the world’s first intergovernmental organization for peace and cooperation, which led to a fundamental change towards an “institutionalization” of international relations. These unique archives attest to the efforts of diplomats, officials and the first international civil servants to promote cooperation between nations and guarantee peace and security.»).

António Teodoro e o que o PS diz sobre educação no programa

Público: 31.Julho.2009

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Máximas em mínimas (49)

"I read because one life isn't enough!" é frase de Richard Peck, conforme documenta o painel fotografado, que isola as obras de aumento da Biblioteca de Harrogate, em Inglaterra. Bom elogio da leitura!...

terça-feira, 28 de julho de 2009

Política caseira (37): As promessas de Teresa Almeida para Setúbal

O Setubalense: 24.Julho.2009 (só agora lido)
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Política caseira (36): PSD apresentou lista para a Câmara de Setúbal

O Setubalense: 24.Julho.2009 (só agora lido)
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Política caseira (35): Teresa Almeida e os pequenos gestos

O Setubalense: 22.Jul.2009 (só agora lido)
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Política caseira (34): Rendimentos e lista da socialista Teresa Almeida

O Setubalense: 20.Jul.2009 (só agora lido)
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Política caseira (33): Intenções de Jorge Santana para Setúbal

O Setubalense: 20.Julho.2009 (lido agora)
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Política caseira (32): Carlos Calçada é candidato PSD a Santa Maria

O Setubalense: 20.Julho.2009 (lido agora)
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Política caseira (31): Albérico Afonso critica entrevista de Maria das Dores Meira

O Setubalense: 20.Julho.2009 (só agora lido)
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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Memória: Henry Allingham (1896-2009) e Harry Patch (1898-2009)

Uma semana separou os falecimentos de dois dos mais idosos homens, ambos ingleses e combatentes na Primeira Grande Guerra: Henry Allingham (06.Jun.1896 – 18.Jul.2009) e Harry Patch (17.Jun.1898 – 25.Jul.2009), o primeiro tendo sido mecânico-aviador na Força Aérea da Armada Britânica e o segundo tendo combatido nas trincheiras como soldado na Infantaria Ligeira do Duque de Cornualha. Já em Janeiro falecera Bill Stone (1900-2009), também combatente, que completava o trio inglês dos sobreviventes da guerra de 1914-1918.
Deles fica o terem sido testemunhas participantes num evento histórico marcante do século XX, mas ficam também as palavras. Quando, em 2005, Max Arthur publicou os testemunhos dos combatentes da Primeira Grande Guerra – na obra Last Post, que, em 2008, foi traduzida para português sob o título Palavra de Veterano (Colares: Pedra da Lua) –, não faltaram as memórias destes dois combatentes, de que reproduzo um excerto de cada:
Henry Allingham: “Pensando na primeira guerra, acho que não sabia o que esperar. Pensava que havíamos de ganhar – mas nunca esperei que tivéssemos de voltar a combater daquela maneira nos cem anos seguintes. Nunca esquecerei os meus camaradas, mas uma pessoa não pode deixar-se afundar nas coisas terríveis que aconteceram. Não se poderia continuar a viver, se fosse assim. Porém, em dias como o do Armistício, rezo por eles. No Cenotáfio, em 2004, estava a pensar nos tipos que conheci e foram cremados. Vi-os a serem abatidos – homens que eu conhecia, cujos aviões eu conhecia – a esmagarem-se no chão. Há coisas boas para recordar: a camaradagem e a certeza de se poder confiar no nosso companheiro, mas as outras coisas não. Não tenho pensado muito no que se passou, mas agora as pessoas querem falar comigo acerca da guerra porque sou um dos poucos que restam. Por isso, agora, sou obrigado a pensar mais naquilo. Porém, há coisas em que prefiro não pensar. De facto, muitas vezes me parecem coisas que aconteceram a outras pessoas e não a mim.”
Harry Patch: “Porque é que o governo britânico me chamou e me levou para um campo de batalha para matar um homem que nunca conheci, cuja língua nem sequer falo? Todas aquelas vidas perdidas para uma guerra que se resolveu a uma mesa. Diga-me lá se isto faz algum sentido. Era só uma discussão entre dois governos. (…) Não penso que seja possível explicar o laço forjado entre um soldado e os seus camaradas de armas numa trincheira. Na trincheira, estão todos, independentemente do que a nossa vida civil foi, cobertos dos mesmos piolhos, esfomeados, a dividir desesperadamente as mais pequenas coisas – a onça de tabaco, o biscoito. Apoias-te no teu camarada e ele apoia-se em ti, sem pensares na verdade que o teu inimigo está a passar pelo mesmo. Mas estava. Foi tão mau para eles como para nós.”

Os três veteranos ingleses da Primeira Grande Guerra Henry Allingham, Harry Patch e Bill Stone, nas cerimónias de Novembro de 2008 em Londres, quando passavam os 90 anos sobre o Armistício (revista Hello, 1048, 25.Nov.2008)

sábado, 18 de julho de 2009

Rostos (124)

Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Aldrin - Há 40 anos, entre 16 e 24 de Julho de 1969, estes senhores integravam a missão "Apollo 11", que chegou à Lua, através da alunagem do módulo "Eagle", que ali poisou em 20 de Julho. Armstrong foi o primeiro humano a pisar a Lua, numa expedição que teve mais de 195 horas de voo para cerca de 21 horas em solo lunar. Enquanto Armstrong e Aldrin pesquisavam a Lua, Collins, a bordo do módulo de comando "Columbia", esperou-os, fazendo 31 órbitas lunares. Se, na altura, muita gente não acreditou no feito, hoje há ainda quem continue a não acreditar...
Cerca de um ano antes, em Março, falecera Yuri Gagarin, com 34 anos, o primeiro homem que viajou no espaço, depois de, em 1961, descrever uma órbita à Terra em 108 minutos a uma altitude média acima dos 200 km.

Avaliação de professores, OCDE e coisas vindas a público

Segundo o jornal Público, um relatório da OCDE tece vários comentários ao modelo de Avaliação de Desempenho Docente criado por este governo, considerado como "uma base sólida para futuros desenvolvimentos" a carecer de ajustamentos. E transcrevo do jornal:
«Em concreto, a OCDE constatou a necessidade de "aligeirar o modelo" ("em particular através da redução da frequência dos momentos de avaliação e da simplificação dos critérios e instrumentos"); de incluir uma componente externa na avaliação; e ainda de "estabelecer critérios e indicadores padronizados ao nível nacional", isto para "reforçar a equidade das avaliações dos professores em todas as escolas".
Os autores do relatório admitem que muitas das propostas feitas "levariam pelo menos dois anos para serem concretizáveis" e defendem que, para o Governo, "a tarefa mais premente é planear e calendarizar o processo de ajustamentos".
Sublinham, ainda, que "para uma reforma bem-sucedida é necessário o envolvimento e a motivação dos professores". "Uma avaliação de professores com consequências e a prestação de feedback, a reflexão e o desenvolvimento profissional subsequentes só acontecerão se os professores se sentirem motivados para fazerem o processo funcionar", escrevem os peritos, que consideram "essencial encontrar formas" de fazer com que os docentes "se identifiquem com os objectivos e os valores dos processos e práticas de avaliação".»

Entretanto, o Ministério da Educação entende que a designada versão “simplex” do modelo que criou deve continuar “por tempo indeterminado”. Mas, neste período indefinido, são elucidativas as palavras do Secretário de Estado que o Público reproduz: «Já Jorge Pedreira, secretário de Estado adjunto e da Educação, admitiu que no próximo ciclo de avaliação (os professores são avaliados a cada dois anos e só assim progridem na carreira), que se inicia em Setembro e se prolonga até 2012, pode começar com o modelo Simplex e terminar com outro.»
Estas coerências prometem. Fica-se sem perceber se, de facto, um dos erros que o Primeiro-Ministro admitiu ter existido nesta governação foi a forma como este modelo foi concebido, instalado e apresentado aos professores e à sociedade. Fica-se sem perceber se, de facto, as recomendações da OCDE são para valer ou não. Uma coisa se percebe: era necessário ter-se chegado até aqui, sobretudo depois de tanta gente ter dito o que a OCDE veio dizer? Foi. Infelizmente, porque o diálogo foi coisa que não existiu. Mas também parece que não houve aprendizagem nenhuma…

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Rostos (123)

"Deixa-me procurar...", de Maria José de Brito (na exposição "Ver Palmela", no Cine-Teatro S. João, em Palmela)

Rostos (122)

O saxofonista, Palmela (promoção ao 3º Festival Internacional de Saxofone de Palmela)

terça-feira, 14 de julho de 2009

Adão Rodrigues com 50 anos de pintura em Setúbal

Na tarde de sábado, foi inaugurada em Setúbal a exposição que celebra os 50 anos de pintura de Adão Rodrigues.
Na intervenção que improvisou, duas coisas lembrou o pintor, de que quero dar conta. A primeira, sobre as suas memórias da Setúbal da infância, em que recordou os dois professores da Escola João Vaz que mais o impressionaram – Alberto Fialho e Sebastião da Gama, um e outro pela expressão, pela dedicação, pelo exemplo, pela descoberta que nele fizeram de que se deveria dedicar à pintura. Apesar de não ter sido aluno de Sebastião da Gama, Adão Rodrigues recordou o professor da boina cuja presença era desejada pelos alunos.
Alberto Fialho (1917-1984), casado com Maria de Lurdes Fialho (1921-2003), também professora, teve forte relação de amizade com Sebastião da Gama (1924-1952). Um testemunho dessa ligação é a dedicatória que Sebastião da Gama registou no livro Nós – Os finalistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa fomos assim… de 1942 a 1946, o seu livro de curso: “Para a Lurdinhas e para o Alberto – porque são meus amigos do coração e porque lhes pago na mesma moeda – 9/XII/1947”.
A segunda referência interessante de Adão Rodrigues nessa apresentação foi para Setúbal, terra de adopção a que sempre tem estado ligado. Sendo um homem do Norte, procura a paisagem nortenha quando se sente alegre, mas busca a luminosidade de Setúbal quando o estado de espírito é mais fechado, registando que a luz sadina sempre o marcou.
A acompanhar esta exposição, que reúne cerca de sete dezenas de obras, há o catálogo, com texto de José-Luís Ferreira, que assim define a obra de Adão Rodrigues: “é, essencialmente, originária de uma intuição estética de pronunciadíssima raiz intimista, envolvida na prospecção permanente das expressões inovatórias, no desenho, na colagem, na gravura e, a partir da pintura convencional, introduz a consequência dos seus resultados, numa semântica de conteúdo e ritual poético, dotando a sua arte de uma identidade de linguagem, onde se valorizam os processos visuais da leitura intuitiva”.
Nascido no Porto, em 1935, o pintor veio para Setúbal ainda criança, com 2 anos, aqui tendo vivido até à sua juventude, frequentando a Escola Industrial e Comercial João Vaz. Depois, foi estudar para Lisboa, para a Escola de Artes Decorativas António Arroio. Por Lisboa ficou, mas a sua primeira exposição individual aconteceria em Setúbal, corria o ano de 1959. Voltou em exposições individuais a Setúbal em 1984, 1986 e 1994. Meio século depois da sua mostra inaugural, é também em Setúbal que ocorre uma sua exposição individual, que pode ser vista nas antigas instalações do Banco de Portugal (Av. Luísa Todi) até 29 de Agosto.
[Na foto: Adão Rodrigues e Maria das Dores Meira, Presidente da Câmara Municipal de Setúbal]

sábado, 11 de julho de 2009

Hoje, no "Correio de Setúbal"

... a crónica do "Diário da Auto-Estima" que aqui publiquei em 27 de Junho. Sobre os exames de Língua Portuguesa de 9º ano e reacções dos alunos à prova. A propósito: na segunda-feira, já vamos ver os resultados desse exame... que me merecem preocupação, como já expliquei.

Política caseira (26): Jorge Santana e a Feira de Sant'Iago

O Setubalense: 10.Julho.2009. (para ler, clicar sobre imagem)

Política caseira (25): BE setubalense com campanha interactiva

O Setubalense: 10.Julho.2009.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Exames do Ensino Básico: a Língua Portuguesa do 9º ano

Sou um deles. Já aqui deixei em aberto essa possibilidade (em 27 de Junho). Uma prova aparentemente equilibrada, onde pesaram muitas coisas e outras – que deveriam lá ter entrado – estiveram ausentes. No enunciado da prova, além das questões, os alunos podiam saber quanto valia cada resposta. No entanto, não sabiam – ninguém sabia, porque os critérios só foram divulgados depois da prova – o que era necessário para chegarem às cotações máximas ou o que os poderia levar a não terem sequer cotação nas respostas dadas. Três exemplos:
1º) As maiúsculas – uma resposta integralmente escrita em maiúsculas submete a cotação final a uma desvalorização de três pontos; o uso indevido de maiúscula inicial em qualquer resposta leva ao desconto de um ponto (se ocorrer até 2 vezes) ou de dois pontos (se ocorrer 3 ou mais vezes).
2º) No item sobre o episódio de Inês de Castro d’Os Lusíadas, a resposta deve contemplar um texto em que o examinando integra seis elementos, sendo um deles a indicação das personagens históricas mencionadas nas estrofes camonianas; no domínio dos conteúdos, se a resposta não identificar “inequivocamente as três personagens históricas mencionadas”, vale zero.
3º) No grupo de “funcionamento da língua”, a primeira questão pede ao aluno que indique, de uma lista de dez palavras, as cinco palavras graves (quanto à acentuação); o que o aluno não sabe é que só tem pontos nessa resposta se acertar em 5, em 4 ou em 3 das palavras graves (sendo necessário que, neste último cenário de resposta, não indique mais nenhuma palavra que esteja errada).
Naturalmente, gostaria que os meus alunos tivessem resultados que os compensassem pelo esforço que fizeram. Mas reconheço que critérios destes (que duvido que algum professor aplique ao longo do ano lectivo, sobretudo no domínio dos descontos) dificultam a resolução de uma prova com sucesso, havendo ainda a questão (que não é de somenos) de não terem sido divulgados previamente no que à tipologia da resposta respeita. Os critérios estão disponíveis na página do GAVE.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Santana Castilho faz 8 propostas para a paz nas escolas e era bom que os partidos se pronunciassem atè às eleições

«(...) No que à Educação respeita, a próxima legislatura tem uma tarefa: apanhar os cacos e trazer paz às escolas e aos professores. Para isso tem, entre outras, oito acções incontornáveis, a saber:
a) Assumir, finalmente, a autonomia das escolas. O paradigma tradicional de gestão do sistema está esgotado. O poder tem de confiar nos professores e entregar-lhes a responsabilidade efectiva de gestão das suas escolas. Como corolário óbvio, devem ser extintas as direcções regionais de Educação e proceder-se à adequação consequente da estrutura orgânica do Ministério da Educação. As valências centrais devem limitar-se à definição das políticas de natureza nacional, à supervisão, ao controlo da qualidade e aos instrumentos de avaliação e relativização dos resultados. Deste enunciado genérico emana a imperiosa necessidade de despolitizar todos os serviços técnicos. Há que ganhar uma estabilidade de funções, que persista para lá das mudanças dos políticos, protegendo a administração superior da volatilidade política.
b) Conceber um verdadeiro estatuto de carreira docente, em que os professores portugueses se revejam, que seja instrumento de desburocratização da profissão, fixador de claro referencial deontológico, gerador de estabilidade profissional e indutor de uma verdadeira autonomia responsável, de natureza pedagógica, didáctica e científica. Naturalmente que o fim da divisão da carreira em duas é obrigatório. Naturalmente que a adequação das necessidades das escolas à dimensão dos quadros é desejável.
c) Definir um modelo de avaliação do desempenho útil à gestão do desempenho, isto é, que identifique obstáculos ao sucesso e se oriente para os solucionar, que tenha muito mais peso formativo que classificador. Que se preocupe mais com a apropriação, por parte dos professores, dos valores que intrinsecamente geram sucesso e melhoram o desempenho, que com os instrumentos que extrinsecamente o pretendam promover. Que reflicta a evidência da complexidade do acto educativo, que não pode ser alvo dos mesmos instrumentos que se aplicam à medição de bens tangíveis. Que assente no reconhecimento de que a actividade docente tem uma natureza eminentemente colaborativa e dispensa instrumentos geradores de competição malsã. Que seja exequível e proporcional à sua importância no cotejo com outras vertentes da profissão.
d) Alterar o modelo de gestão das escolas, compatibilizando-o com o novo paradigma de autonomia, devolvendo-lhe a democraticidade perdida, adequando a natureza dos órgãos às realidades sociais existentes e abandonando a lógica concentradora do poder num só órgão.
e) Alterar o estatuto do aluno, orientando-o como instrumento promotor de disciplina e gerador de responsabilidade, rigor e trabalho. Deve ser abandonada a promoção estatística do sucesso e retomada a seriedade dos instrumentos de certificação dos resultados.
f) Redefinir globalmente os planos de estudo e os programas disciplinares, articulando-os vertical e horizontalmente. Cabe aqui a aceitação de que há limites institucionais e pessoais, uma hierarquização de importância das diferentes disciplinas, em função de faixas etárias, ciclos de estudo e orientação vocacional, e um papel nuclear de outras, que se deve reflectir na composição dos curricula.
g) Reorganizar as actividades de resposta a necessidades educativas especiais, com expresso abandono de utilização, em contexto pedagógico, da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e retorno dos professores especializados ao trabalho exclusivo com crianças portadoras de necessidades especiais.
h) Devolver aos professores espaço e tempo para reflexão sobre a prática profissional e autoformação e promover o debate sobre conceitos educacionais não suficientemente apreendidos pela sociedade. Com efeito, a insuficiente tentativa de obter consensos possíveis sobre esses temas e o fomento de climas de quase ódio entre correntes doutrinárias opostas e ideologias políticas diversas têm impedido que as decisões perdurem para além dos tempos políticos e mudem em função do livre arbítrio de sucessivos governos e ministros.»
Santana Castilho. "A caixa negra do PS e a educação". Público: 08.Julho.2009.

Exames do Ensino Secundário: o rol dos "culpados"

«"Menos investimento, menos trabalho e menos estudo" do lado dos alunos, comentou a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues,a propósito dos resultados no exame de Matemática A, realizado por 38.303 estudantes. A média dos alunos internos (os que frequentam as aulas todo o ano lectivo, que são a maioria) desceu de 14 para 11,7 e a percentagem de retenções mais do que duplicou (de sete para 15 por cento), o que, segundo a ministra, se deve à difusão, pela comunicação social, "da ideia de que os exames eram fáceis". Em conferência de imprensa, o secretário de Estado Valter Lemos alargou o leque de responsáveis, juntando a Sociedade Portuguesa de Matemática e "partidos e pessoas com responsabilidades políticas". "É um desincentivo ao estudo e ao trabalho", sublinhou.»
Público: 08.Julho.2009

terça-feira, 7 de julho de 2009

Máximas em mínimas (48)

O tempo exacto
"Nada há inútil debaixo do sol; o caso é saber quando e onde se deve aproveitar."
Ana de Castro Osório. "Meio de fazer fortuna". Contos maravilhosos (2ª série).

segunda-feira, 6 de julho de 2009

"Então o senhor o que faz?"

Numa pausa da montagem dos móveis, o homem perguntou-me: “então o senhor o que faz?” Disse-lhe que sou professor. E, na sua apreciação de quem trabalha com móveis, fazendo-os, e de quem vê e ouve o que se passa, observou: “Deve ser bonito! Mas, hoje, nota-se muita falta de respeito pelos professores… Isto foi um processo a crescer. Tem-se dado cabo do sentido da autoridade… E daí até à falta de respeito na sociedade ou até à sociedade que não se respeita a si mesma… é um passo!” Fiquei a ouvir. “É pena que os professores tenham sido desrespeitados…” E voltou ao trabalho. Não, não tem familiares ligados ao ensino; preocupa-se com o que vê, ouve e vive; comenta e aprecia. Ao mesmo tempo que trabalha na pequena empresa, quase exclusivamente familiar, lá para Paços de Ferreira, onde gera móveis por encomenda.

"Começaria por dar computadores aos professores"

Stephen P. Heyneman, professor de Política Educativa Internacional na Universidade de Vanderbilt (Tennessee, nos EUA), segundo notícia do Público de hoje, não se deixa convencer pelo computador "Magalhães", dizendo que "é um computador colorido" e que o "perturba ter sido dado às crianças como se elas pudessem ter autonomia para trabalhar sozinhas". Como estratégia, "começaria por dar computadores aos professores para trabalhar. Era isso que recomendaria à vossa ministra da Educação", disse, a contrariar o hábito instalado, porque, ainda segundo o jornal, «o que viu foi crianças a brincar com o Magalhães, "como se fosse uma máquina de jogos e não como se tivessem um computador para trabalhar". "Não deve ter sido para isso que os computadores foram distribuídos. Certamente não eram esses os objectivos do Ministério da Educação", conclui.»

domingo, 5 de julho de 2009

Rostos (121)

Monumento à mondadeira, em Águas de Moura, por Fernando Quintas (2001)
Na base, contém a seguinte inscrição: "As mulheres da minha terra / Mondadeiras de profissão / Trabalho com início na Primavera / E se prolongava pelo Verão."

sábado, 4 de julho de 2009

Política caseira (24): Maria das Dores Meira (CDU) acredita que vai ganhar Setúbal

Sem Mais Jornal: 04.Julho.2009.
(para ler, clicar na imagem)

José Ruy e Amadeu Ferreira numa história da língua mirandesa

Ana faz pesquisas arqueológicas nas terras de Miranda. Uma chuva intensa que caiu durante a noite alagou as escavações, exceptuando um dos talhões, que apareceu enxuto porque a água da chuva desaparecera. Ana desceu e, ao ver uma abertura, entrou, rumando ao desconhecido, caindo no escuro, onde foi encontrar Atta, uma mulher do passado, que contou a sua história a Ana, uma mulher do presente. Trinta pranchas depois, a narrativa acaba. Tinha passado um quarto de hora na vida de Ana e um dos seus companheiros resgatava-a das profundezas. O que ele não soube foi que esse foi o tempo necessário para Atta conduzir Ana numa viagem pelo passado de um povo e de uma língua.
É este o argumento da obra Mirandés – Stória dua lhéngua i dun pobo (Lisboa: Âncora Editora, 2009), um álbum de banda desenhada de José Ruy, com texto coordenado cientificamente e traduzido para mirandês por Amadeu Ferreira (houve edição simultânea com texto em português).
O traço inconfundível de José Ruy (autor de adaptações para banda desenhada de obras literárias, de biografias e de outras histórias) recua aos tempos pré-romanos, assiste à romanização, convive com os visigodos, acompanha a fundação de Portugal, testemunha a construção do castelo de Miranda no tempo de D. Dinis… viaja na história da região, nas quezílias da vida de fronteira, e vê o desaparecimento e ressurgimento de uma língua como o mirandês, que José Leite de Vasconcelos, em finais do século XIX, trouxe para a comunidade científica. A história acaba fazendo referência à obra mais recente: a edição, na língua mirandesa, da adaptação em banda desenhada d’Os Lusíadas, obra a cargo de José Ruy e de Amadeu Ferreira. Isto, depois de ser lembrado o reconhecimento oficial da língua mirandesa (1999), bem como a existência de um programa para o seu estudo nas escolas.
É uma história de um povo, que tem que coabitar com os sucessivos invasores que o vão alterando; é a história de uma língua, que persiste e vai convivendo com as línguas que a visitam, designadamente com a portuguesa. Epopeia de um povo e de uma língua, ambos se mantêm porque persistem nas suas características, tal como Atta, a pastora, confidenciava à arqueóloga, revelando-lhe como a podia salvar: “Falando la nuossa lhéngua. La lhéngua ye l’alma dun pobo. Anquanto fur falada, l sou pobo nun se muorre.” História de identidade e de cultura, ambas falam pela voz de Atta, ainda, ao explicar a Ana a intensidade dos castros e o papel da memória: “La era an que bibes, Ana, puode tener mais quemodidades, mas estes castros, que ban rejistindo al lhargo de ls seclos, son l mil lhar, cumo la lhéngua mirandesa.” Um livro com uma história da História, pois. E com ensinamentos vários...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Política caseira (23): Bloco de Esquerda e a mobilidade em Setúbal

O Setubalense: 03.Julho.2009 (para ler, clicar sobre a imagem)

Política caseira (22): Jorge Santana, a frente ribeirinha de Setúbal e Tróia

O Setubalense: 03.Julho.2009 (para ler, clicar sobre a imagem)

Que democracia em Portugal?

Público: 03.Julho.2009. (para ler, clicar sobre a imagem)
Um estudo intitulado "A Qualidade da Democracia em Portugal: A Perspectiva dos Cidadãos", dirigido por Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e promovido pela SEDES, com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e da Intercampus, foi divulgado hoje, tendo o Público adiantado as principais conclusões. Os dados técnicos referem que o inquérito foi realizado pela Intercampus entre os dias 13 e 23 de Março de 2009, com 1003 inquiridos, representativos da população com 18 ou mais anos residentes no continente, seleccionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruzou as variáveis sexo, idade (5 grupos), instrução (2 grupos), ocupação (2 grupos), região (7 regiões GFK Metris) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (6 grupos) e que a informação foi recolhida presencialmente na residência.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

E depois dos chifres?

O gesto dos chifres que aqueceu o debate parlamentar de hoje pôs uma pausa na sequência de disparates que têm vindo a envolver a discussão entre políticos no país. Curiosamente quando se discutia o estado do país e a acção governativa destes anos!...
Um episódio apenas e a discussão foi toldada e o seu rumo alterado... já depois de deputados e Primeiro-Ministro terem trocado mimos sobre a mentira que cada um estaria a pregar! De facto, o nível do debate tem descido. E o agora ex-ministro Manuel Pinho deu mais uma ajudinha...
Haja esperança! Pode ser que por esta descambação (e pela demissão imediata) passe a haver mais tento na língua e na linguagem política, reflexos que uma e outra são de todos os sentires. Merecemos (os portugueses, não só os deputados) mais respeito e escusávamos de ter chegado à cena desta tarde.

O gesto do ainda ministro Manuel Pinho na tarde de hoje, na Assembleia da República, em foto da edição online do Público

Fernando Mendes lembra o "Jogo sujo"

Fernando Mendes, nome dedicado ao futebol, é, juntamente com Luís Aguilar, o responsável pelo livro Jogo Sujo (Alfragide: Livros d’Hoje / Leya, 2009), título que a editora explicou promocionalmente em capa como sendo a maneira de conhecer “o verdadeiro mundo do futebol português”, ali se aliando “doping, prostituição, favorecimentos financeiros, acidentes de arbitragem e não só”. Um mundo, claro!, e que mundo!...
Quase três décadas andou Fernando Mendes no futebol, passando pelos considerados grandes clubes portugueses. O que sai agora na forma escrita é o testemunho do que de pior enfeita o desporto, de um mundo em que o próprio narrador participou – “Quero salvaguardar que este livro não é nenhum exercício gratuito de desculpabilização. Estou consciente de que, ao longo da minha carreira, participei em situações pouco dignificantes para a minha pessoa e para a verdade desportiva. Mas assumo o que fiz e aceito as minhas culpas no cartório.”
Ao longo do escrito, Fernando Mendes insiste na tecla da honestidade várias vezes, e não esconde ao leitor que a sua intenção é a de “contribuir para informar melhor os que vivem desinformados”. No entanto, a forma como a história é contada, não revelando nomes nem datas precisas, lança o leitor numa onda de suspeição, porque os envolvidos nas histórias contadas podem ser muitos. Questão de defesa, já se vê. Até porque, conforme nota final, numa primeira versão do livro, estavam apontados nomes, locais e datas relativos aos factos relatados, pormenores que saltaram da edição definitiva porque, “infelizmente, o clima de medo e de censura instalado no futebol português tornou impossível juridicamente que essas mesmas pessoas fossem expostas”.
Após a viagem por este testemunho, o leitor pode não ficar com mais informação quanto ao mundo do futebol do que aquela que consta na capa. Mas fica com a palavra de alguém que pretende não esconder e que assume ter aceite o doping enquanto futebolista: “Este livro, cheio de verdades e experiências na primeira pessoa, é um dever cumprido. Um dever para com todos os profissionais e adeptos do futebol. Pode ser que depois do meu relato as pessoas percebem porque é que em determinados momentos em determinados momentos certos jogadores rendem mais ou menos do que se estava à espera. Pode ser que passem a ver o jogador de futebol de uma forma mais humana.” Esta seria uma boa causa para dizer a experiência, embora no leitor possa ficar a dúvida se um testemunho como este (onde nem faltam as manifestações afectuosas para a família, especialmente para as filhas, ou o registo do apreço sentido com “uma boa queca”) conterá os elementos suficientes para esse rosto de humanidade que é necessário dar aos desportistas…
O livro é homenagem a uns tantos homens que com o autor privaram – colegas de jogo, treinadores, dirigentes – mas também uma denúncia do que vai mal no mundo do futebol em que todos esses protagonistas (autor incluído) se movimenta(ra)m.
Coisas que ficam:
De pequenino – “Se há coisa que me faz impressão hoje em dia é olhar para as camadas jovens dos clubes e ver alguns miúdos cheios de manias e balelas. Alguns têm qualidade, mas outros não passam de uns bananas que não sabem fazer nada sozinhos. Actualmente, um miúdo que viva a um quilómetro do campo de treinos precisa que a carrinha do clube o vá buscar a casa.”
Deus e o futebol – “Se Deus um dia resolvesse descer à Terra para vir a Portugal ver um jogo de futebol, esse jogo só poderia ser um Sporting-Benfica. (…) Nada se compara ao sentimento que existe num clássico entre leões e águias. É o derbi de todos os derbies. Faz lembrar as histórias de banda desenhada em que o herói não pode viver sem o vilão.”
Futebol – “O futebol é quase sempre racionalizado pela irracionalidade. (…) Os impropérios são a linguagem natural do futebol.”
Vitória de Setúbal – “Tive oportunidade de assinar o meu nome na história de um dos clubes mais bonitos de Portugal. (…) Serão poucas as equipas que têm uma relação tão afectiva e tão próxima das pessoas da sua terra como a que existe entre o Vitória e a cidade de Setúbal.”
Tudo e nada – “Durante os anos em que andei no mundo da bola, percebi da forma mais cruel que, para ganhar, vale quase tudo. A saúde humana é secundária.”
Retrato(s) – “No futebol, conhecemos muita gente enquanto estamos em alta, mas (salvo raras excepções) a maioria dessas pessoas não vale nada. São falsas, invejosas e perigosas. Além disso, no futebol também somos obrigados a crescer muito depressa. (…) Não aprendemos apenas a jogar futebol, aprendemos tudo o resto: as diversas artimanhas e truques que possamos colocar ao serviço da nossa equipa. Com o passar do tempo, vamos ficando peritos em lidar com colegas, adversários, dirigentes e árbitros.”