"Correr sem rumo é esperar em movimento", numa parede de Lisboa.
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sábado, 2 de junho de 2018
domingo, 10 de maio de 2015
Máximas em mínimas: António José da Silva, o Judeu

Depois de ler António José da Silva (1705-1739), o tal que foi vítima no mesmo auto-de-fé que acabou com a personagem Baltasar Sete-Sóis de Memorial do Convento, de José Saramago, o tal que foi cognominado "Judeu", ficam algumas verdades retidas a partir de Anfitrião, que tem o subtítulo de "Júpiter e Alcmena" (Col. “Clássicos Inquérito”, 14. Lisboa: Editorial
Inquérito, s/d):
Amor – “Amor é como a Fénix que, para renascer
mais belo, é preciso que, de quando em quando, se abrase nas chamas de um
arrufo.”
Ausência – “Não há pior mal que o da ausência, pois
ao mesmo tempo que acrescenta a saudade também acrescenta o tempo.”
Casamento – “Marido sem ser amante é o mesmo que corpo
sem alma. Que importa que o matrimónio ligue o corpo se o amor não une as
almas?”
Desejo – “Sempre a boca fala tarde quando madruga o
desejo.”
Impossível – “Os impossíveis só se fizeram para os que
verdadeiramente amam.”
Juiz – “Um juiz, para ser bom, há-de ser como um
espelho: aço por dentro e cristal por fora. Aço por dentro para resistir aos
golpes das paixões humanas e cristal por fora para resplandecer com virtudes.”
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sábado, 17 de janeiro de 2015
Máximas em mínimas - Anselmo Borges
Três recomendações numa citação de Anselmo Borges, todas sobre a vida, sobre um programa de vida. Uma resposta à pergunta "Se tivesse que passar apenas uma mensagem curta a cada homem e mulher, qual seria?", que integra o questionário dirigido por Inês Maria Meneses a este teólogo, padre, filósofo e autor de várias obras, publicado na revista do Expresso de hoje.
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terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Máximas em mínimas - Alexandre Dáskalos
Eu – “O meu íntimo é uma catedral / que ninguém
viu.”
Silêncio – “Só no silêncio a vida se descobre.”
Procura – “Sempre haverá o que se busque / embora o que
se busque não se encontre.”
Vida – “Só existe / o que amanheceu. / (…) // A
vida banhada em Sol é que dá vida.”
Alexandre Dáskalos. Poesia.
2ª ed. Col. “Autores da Casa dos Estudantes do Império”.
Lisboa: União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa – UCCLA, 2015
[colecção em publicação pelo semanário Sol]
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sábado, 23 de agosto de 2014
Máximas em mínimas - Manuel Jorge Marmelo numa história da Grande Guerra
Depois de ler A guerra nunca acaba, de
Manuel Jorge Marmelo (Lisboa: Glaciar, 2014), na colecção “100 anos da Grande
Guerra” (nº 3), que está a ser publicada semanalmente pela revista Sábado:
Certeza – “As certezas da vida são a coisa mais efémera que
existe.” (pg. 39)
Felicidade – “A felicidade e o seu reverso são como duas faces
da moeda que é a vida.” (pg. 41)
Guerra – “As guerras são quase sempre motivadas pela cobiça
desmedida de um grupo muito pequeno de homens, os quais sacrificam os restantes
à sua ambição e ao objectivo de subjugar povos e países que consideram
inferiores; os impérios são edificados sobre um número incontável de cadáveres,
sem que se perceba muito bem para que serve um império; os impérios não duram
para sempre e, por isso, constituem de algum modo uma espécie de frivolidade.”
(pg. 30)
Guerra – “As guerras nunca acabam. É impossível ganhá-las.
Cada guerra e cada um dos seus mortos carregam a semente da guerra seguinte. (…)
Desde o primeiro homem que matou o seu semelhante por soberba ou cobiça que
estamos a repetir continuamente o mesmo círculo de ódio e vingança.” (pg. 89)
Homem – “O homem é o mais cruel de todos os animais,
excepto quando é o mais bondoso dos seres vivos.” (pg. 53)
Morte / Memória – “A morte mais absoluta é esquecer e ser esquecido.”
(pg. 38)
Morte (em
guerra) – “Numa guerra, qualquer
sítio é bom para morrer. Pode-se morrer a lutar, a fugir ou encolhido num
buraco como um rato do campo.” (pg. 8)
Perda – “Nada é mais perigoso do que um homem que perdeu
alguma coisa que lhe faz falta.” (pg. 83)
Vontade – “Os impulsos e as angústias individuais são uma
força tremenda, tão poderosa em certas circunstâncias como a vontade de mil
homens. (…) Um único desaire é suficiente para mudar para sempre o destino de
alguém e até, se calhar, o rumo da História.” (pg. 33)
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sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Máximas em mínimas - Luísa Beltrão
Depois de ler Moscas nos olhos – Filippa
na Grande Guerra, de Luísa Beltrão (Lisboa: Glaciar, 2014), na colecção “100
anos da Grande Guerra” (nº 2), que está a ser publicada semanalmente pela
revista Sábado:
Esperança – “A
esperança é o único penhor humano na consciência trágica da nossa imperfeição,
é a esperança que nos salva do desespero.” (pg. 75)
Guerra – "A
violência da guerra é impossível descrevê-la.” (pg. 36)
Guerra – “Na
guerra, tudo se dilui na luta básica pela sobrevivência, mas quando ela acaba,
as guerras internas tomam de novo conta de nós, ambíguas, enredadas.” (pg. 91)
Loucura – “Não é
fácil manter o estatuto de louco mesmo num mundo enlouquecido.” (pg. 46)
Solidão – “Somos
seres isolados, perdidos no espaço, não somos deuses do Olimpo, e até os deuses
do Olimpo brigam, embora possam reinventar-se porque são imortais.” (pg. 75)
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quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Máximas em mínimas - Tempo
Tempo
– “Na literatura, o tempo suspende-se e deixa marcas; nas fotografias, o tempo
passa e deixa rugas.” [Francisco José Viegas. Um gosto pela imperfeição. Col.
“100 anos da Grande Guerra” (1). Lisboa: Glaciar, 2014, pg. 12]
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segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Máximas em mínimas - Moralista
Moralista
– “Um moralista é alguém que acha que a sua moral é melhor do que a tua.”
[Francisco José Viegas. Um gosto pela imperfeição. Col. “100 anos da Grande
Guerra” (1). Lisboa: Glaciar, 2014, pg. 89]
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sábado, 28 de dezembro de 2013
Máximas em mínimas - Afonso Cruz
Depois de ler
Afonso Cruz, em Os livros que devoraram o
meu pai – A estranha e mágica história de Vivaldo Bonfim (Alfragide: Editorial
Caminho / Leya, 2010), um percurso por muitas leituras e pelo que delas ficou, eis frases que são marcadores:
Árvore – “Para uns, a raiz é a parte
invisível que permite à árvore crescer. Para mim, a raiz é a parte invisível
que a impede de voar como os pássaros. Na verdade, uma árvore é um pássaro
falhado.”
Consciência – “É dentro da sua cabeça
que todos os homens são livres ou condenados.”
Homem – “Nós somos feitos de histórias,
não é de a-dê-énes e códigos genéticos, nem de carne e músculos e pele e cérebros.
É de histórias.”
Humano – “Se há seres vivos desumanos,
só mesmo os humanos. Resultado: os animais humanizados tendem a voltar à sua
condição primitiva, a de animais.”
Memória – “As memórias são a
perspectiva do passado, mas não são a mesma coisa. Elas mudam com o tempo, não
são crónicas postas em papel e descritas objectivamente com rigor. São coisas
emotivas que variam a cada vez que são lembradas. As memórias são repensadas e
vão-se tornando outra coisa. (…) As nossas memórias nunca são verdadeiras ou
absolutamente verdadeiras, são apenas uma interpretação. Existem outras e ao
longo dos anos vamos vendo o passado a uma luz diferente. As nossas memórias vão
sendo vistas de diferentes perspectivas, conforme aquilo que aprendemos e
conforme aquilo que sentimos no instante em que as relembramos.”
Vida – “A vida, muitas vezes, não tem
consideração nenhuma por aquilo de que gostamos.”
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sábado, 21 de dezembro de 2013
Máximas em mínimas - Almada Negreiros
Depois de reler Almada Negreiros, em Nome de guerra (escrito em 1925 e só publicado em 1938)...
Amar – “Quando se gosta de alguém,
gostar, gostar a valer, a gente não sabe mais nada neste mundo senão que gosta
dessa pessoa. (…) Vão os dois para toda a parte, com ou sem dinheiro, andam
juntos. Gostar é gostar.”
Autobiografia – “O trabalho para a
autobiografia não é mais do que evitar aquilo a que outros nos quiseram
forçar.”
Família – “Temos todos as nossas
árvores genealógicas do mesmo tamanho. Lá no tamanho das árvores somos todos
iguais. Mas é precisamente nas árvores que está a nossa diferença. Vê-se
perfeitamente que a cada um aconteceu qualquer coisa que não se passou com mais
ninguém. E aconteceu-nos antes ainda de nós termos nascido. É a árvore
genealógica. Esse segredo do nosso segredo. Esse mistério do nosso mistério.
Nós somos hoje o último fruto dessa árvore secular, secularmente secular!”
Lealdade – “Quando os inimigos se
igualam, e igualadas as forças dos adversários, já não há outras esperanças
senão as que ficam fora do terreno da lealdade.”
Mulher – “A mulher sabe perfeitamente
melhor o efeito que produz nos homens do que o homem nas mulheres.”
Palavra – “O número de palavras não é
infinito, mas é infinito o número de efeitos, conforme a disposição das
palavras. Com vinte e seis letras do alfabeto escrevem-se todos os idiomas e não
ficam escritas todas as palavras nem definitivos os dicionários.”
Realidade – “Não há mestre mais categórico
do que a realidade a seco.”
Separação – “Quando duas pessoas
separam as suas coisas que estiveram juntas, o que é de cada um é tão pouco que
ainda é menos do que antes de conhecer aquele de quem se separa.”
Sinceridade – “Ninguém no mundo se pode
queixar de ter sido vítima da sua sinceridade. O que pode é cada um ficar
surpreendido com o facto de a sua sinceridade o ter levado mais longe do que
lho permite a sociedade.”
Solidão – “O horror de estar só no
mundo apenas o podem sentir aqueles que já perderam o melhor que tinham e não
conseguem a certeza de nada.”
Verdade – “Aqueles que pretendem ver a
verdade e não tiram os olhos de cima dela acabam por esquecer-se que a querem
ver e ficam só a olhar para ela; mas os que fazem por esquecê-la, quanto mais
se esforçam por distrair-se mais a verdade os agarra pelos pulsos e lhes fala cara
a cara.”
Verdade – “Quem pensa sozinho não quer
senão a verdade, as justificações são por causa dos outros.”
Vida – “Há vidas que é preciso encher
com qualquer coisa de vez em quando.”
Vida – “São tão diferentes as idades da
vida de cada um que quem não vai por essa diferença é porque parou numa delas. As
idades da vida não se passam por alto; ou se vivem ou ficam por viver.”
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sábado, 2 de novembro de 2013
Máximas em mínimas - Katherine Mansfield
Partilho
algumas máximas, depois de ler o Diário,
de Katherine Mansfield, em tradução de Fernanda de Castro (Col. “Contemporâneos”.
Porto: Livraria Tavares Martins, 1944).
Criação – “Serei eu capaz de exprimir
algum dia o meu amor pelo trabalho, o meu desejo de perfeição, a minha ânsia de
um labor mais consciencioso? Serei eu capaz de dizer esta paixão que sinto –
esta paixão que substitui a religião, porque é a minha religião… que substitui
a companhia dos outros, porque sou eu que crio os meus companheiros… que
substitui a vida, porque é a própria vida? Sinto-me às vezes tentada a joelhar
diante do meu trabalho, a adorá-lo, a prostrar-me, a ficar um tempo infinito em
êxtase ante a ideia da criação. (31 de Maio de 1919)”
Diário – “Tenho de pôr o meu diário em
andamento e depois tenho de conservá-lo em dia. Mas serei eu capaz de ser
honesta? Se mentir, esse diário não servirá para nada. (Fevereiro.1921)”
Honestidade – “A honestidade (porque
será?) é a única coisa que me parece mais preciosa do que a vida, do que o amor
e do que a morte. Só ela permanece. Acreditem-me! Feitas as contas, a verdade é
a única coisa que merece ser possuída… A verdade é mais comovente, mais alegre
e mais ardente do que o próprio amor… Tudo acaba por nos abandonar mas ela não
pode trair-nos. (Setembro de 1919)”
Mal – “Quando um mal está
diagnosticado, qualquer demora que atrase o esforço para curá-lo causa um
enfraquecimento fatal. (…) Quando se é negligente, as más ervas pululam. (18 de
Outubro de 1920)”
Mar – “O mar, aqui, é mar verdadeiro. Encapela-se,
levanta-se e torna a cair com um barulho estrondoso, seguido de um longo rolar
macio; por vezes, dir-se-ia que tenta escalar o céu e vêem-se os barcos
empoleirados nas nuvens como querubins voadores. (22 de Maio de 1918, em Looe,
Cournouailles)”
Morte – “Como seria intolerável morrer
deixando apenas fragmentos, esboços, nada de verdadeiramente acabado! (19 de
Fevereiro de 1918)”
Partir – “Cada vez que abandonamos um sítio
qualquer deixamos atrás de nós qualquer coisa de precioso que não deveríamos
matar mas que morre. (9 de Fevereiro de 1922)” (Katherine Mansfield. Diário. Col. “Contemporâneos”. Porto: Livraria
Tavares Martins, 1944, pg. 256)
Representar – “Todos nós começamos por
representar um papel e, quanto mais perto estamos do que desejaríamos ser, mais
perfeito é o nosso disfarce. Por fim chega o momento em que já não
representamos; este momento pode mesmo colher-nos de surpresa. Então,
contemplamos, talvez com espanto, a nossa bela plumagem, que já não é de empréstimo.
Os dois aspectos confundiram-se: o primitivo e este; representar, agora, é
agir. (24 de Novembro de 1921)”
Ser – “Para fazermos seja o que for,
para sermos seja o que for, precisamos de ser inteiros, de fortificar a nossa fé.
Um ser desunido não pode fazer nada de jeito. (1 de Fevereiro de 1922)”
Sofrimento – “Não há limites para o
sofrimento humano. Quando se pensa ‘Agora toquei o fundo do abismo, agora não
posso descer mais fundo…’ – eis que descemos mais, ainda mais e assim até ao
infinito. (…) O sofrimento não tem limites, é a própria eternidade. (…) O
sofrimento pode ser vencido. (…) Temos de nos submeter. De não resistir. De o
acolher. De nos deixarmos submergir. De o aceitar plenamente. De fazer da dor
uma parte da vida. Tudo o que na existência verdadeiramente aceitamos sofre uma
transformação. Assim, o sofrimento deve transformar-se em amor. (14 de Dezembro
de 1920)”
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sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Máximas em mínimas (101) - Rosa Lobato de Faria
Depois de ler Os três casamentos de Camilla S., de Rosa Lobato de Faria (1997), seis máximas que dizem muito sobre o que somos.
Prazer - "Os prazeres e a capacidade de os apreciar acontecem desencontrados no tempo. Não se conjugam no momento certo o acto perfeito e a sabedoria da fruição."
Juventude - "Na juventude, com toda a vida pela frente, nunca há tempo. A cabeça foge, ligeira, para outros lugares, os pés partem, ágeis, para outros caminhos. Nunca se está onde se está, nunca se tem o que se tem."
Raiz - "A raiz é o que te está no sangue, o que sentes para lá de tudo o que aprendeste, aquilo que te vem do chão, aquilo que vem das estrelas que te viram nascer."
Errar - "Porque é que não percebemos que erramos quando estamos a errar e só mais tarde o remorso nos cai em cima com uma força esmagadora e nos amargura o resto da existência?"
Amor - "O amor tardio é o melhor."
Autobiografia - "Nenhuma autobiografia verdadeiramente o é: alindam-se os pecados próprios, ensombram-se os dos outros, corrige-se ou contorna-se a verdade, procura-se uma lógica de crime e castigo que a vida não tem. Não fica claro à luz de que moral nos penitenciamos (...). E, acima de tudo, permitimo-nos apontar o comportamento dos outros, avaliar as suas consequências, julgar."
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quarta-feira, 3 de julho de 2013
Máximas em mínimas (100) - Rui Zink
Depois de ler A instalação do medo, de Rui Zink
(Lisboa: Teodolito, 2012), alguns sublinhados, mesmo porque se prende com uma
desconstrução (mais ou menos parodística) do que tem sido o discurso político
que nos tem embalado (ou que nos tem sido inoculado), apresentadas por ordem
alfabética do tema.
Crise – “A ‘crise’ é sempre ‘económica’. As ‘reformas’ são sempre ‘estruturais’.
O ‘futuro’ é sempre ‘melhor’. Ou ‘para os nossos filhos’. As ‘medidas’ são
sempre ‘necessárias’. Se não fossem necessárias não seriam medidas. Não há
alternativa. (…) Os outros fazem política. Nós não fazemos política. A nossa
política é a virtude. A nossa política é o trabalho. A nossa política é o medo.”
Espectáculo – “Todo o espectáculo, por melhor que seja, tem um
prazo de validade e não devemos fatigar o auditório com encores. O artista que sai de cena deixando a plateia a implorar só mais uma, só mais uma é sensato, ao
contrário do que se deixa levar pela ilusão do aplauso e acaba a saturar os
ouvidos das pessoas que, minutos antes, pareciam enlouquecidas pelo desejo.”
Ignorância – “A ignorância por vezes pode ser uma excelente camada
protectora.”
Medo – “Um dos muitos efeitos do medo é deixarmos de controlar os
intestinos, é por aí que o medo primeiro nos apanha.”
Mundo (em mudança) – “O mundo mudou e as pessoas não percebem isso.
Já não há pessoas nem há mundo e as pessoas (talvez por já não existirem) não
percebem isso. E quem tentar compreender o mundo é idiota. Qual o sentido de
tentar entender uma coisa que já não existe? O mundo mudou. Mas como pode o
mundo mudar se as pessoas não mudam? Ou como pode o mundo mudar se as pessoas não
o sentem? O certo é que factos são factos e contra factos não há mundo ou
pessoas que resistam.”
Suplício – “Até o mais breve dos suplícios dura uma eternidade.”
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terça-feira, 2 de julho de 2013
Máximas em mínimas (99) - "Granta", nº 1
O primeiro número da edição portuguesa da revista Granta saiu em Maio (Dir.: Carlos Vaz Marques. Lisboa: Tinta-da-china), logo na abertura da Feira do Livro de Lisboa. Algumas máximas deste número ficam aqui registadas, por ordem alfabética do tema, que não por outra ordem.
Ajuda – “Uma pessoa que ajuda é alguém que desempenha tarefas fora
da sua própria esfera de responsabilidade, por bondade, porque tem coração. A
ajuda é perigosa porque existe fora da economia humana: o único pagamento para
a ajuda é a gratidão.” (Rachel Cusk. “Rescaldo”).
Doença – “Adoecer fecha-nos mais sobre nós próprios, tornamo-nos
menos capazes de compor as máscaras com que nos escondemos. Talvez, então, ao
ficarmos doentes deixemos de ter grande parte da capacidade de mascarar de
forma original o facto de sermos todos uma e a mesma coisa. Uma e a mesma coisa
disfarçada por um amontoado de memórias diferentes. Cada um de nós com o seu
amontoado de memórias e, por isso mesmo, com a sensação de ser único. Parece-nos
tanto que somos únicos que nos dói a ideia de podermos ser todos uma e a mesma
coisa. Mas a verdade é que não temos como saber se, em vez de indivíduos, não
somos apenas uma ilusão criada por excesso de memórias acumuladas e excesso de
composição de personagem. Apenas disfarces de um mesmo mecanismo que uma doença
pode, em menos de um piscar de olhos, desmascarar.” (Dulce Maria Cardoso. “Em
busca d’eus desconhecidos”).
Ficção – “A ficção – certa ficção – talvez seja a forma mais
poderosa de exercitar o pensamento, de acelerar a realidade lenta do
quotidiano. Escrita ou lida, a ficção escava-nos por dentro, rasga novos canais
para o eu. Desacerta-nos com o que éramos. E tanto faz que sejamos nós a
escrever ou a ler.” (Dulce Maria Cardoso. “Em busca d’eus desconhecidos”).
Guerra – “Há certas partes da vida de que não podemos ter presciência
– a guerra, por exemplo. O soldado que parte para a guerra pela primeira vez não
sabe como se comportará quando for confrontado com o exército inimigo. Não
conhece essa parte de si mesmo. É um matador ou um cobarde? Quando confrontado,
reagirá, mas não sabe a priori qual será a reacção.” (Rachel Cusk. “Rescaldo”).
História – “A vida é um tédio quando não há histórias para ouvir
nem nada para ver.” (Orhan Pamuk. “Gente famosa”).
Intolerância – “Há mais de uma maneira de se ser paciente e a
intolerância pode ter várias formas.” (Rachel Cusk. “Rescaldo”).
Lucidez – “Manter-[se] lúcido é o que mais importa perante a
estranheza.” (Saul Bellow. “Memórias do filho de um contrabandista”).
Mentira – “Despida, a verdade pode tornar-se vulnerável,
desajeitada, chocante. Vestida de mais, transforma-se numa mentira.” (Rachel
Cusk. “Rescaldo”).
Música – “Não há nada que crie mais comunhão do que a música. Podemos
ter milhares embrulhados na mesma melodia, no mesmo ritmo. A música chega às
multidões muito mais rápido do que outra coisa qualquer. Não há discurso que se
lhe compare nesse aspecto.” (Afonso Cruz. “Jazz, rosas e andorinhas”).
Sonho – “É sempre além de mim o indescoberto / Porto ao luar com
que se o sonho engana.” (Fernando Pessoa. “Sossego enfim”).
Tom – “O tom é uma coisa chata porque não se controla. Controlamos
as palavras, a custo, o volume, a custo, mas não o tom. O tom é como os olhos,
não engana.” (Ricardo Felner. “Mar negro”).
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quarta-feira, 19 de junho de 2013
Máximas em mínimas (98) - Afonso Cruz
Depois de ler Jesus Cristo bebia cerveja, de Afonso Cruz (Carnaxide: Santillana Editores / Editora Objectiva, 2012 – já com 3ª edição, de 2013), uma história bem contada pelo Alentejo dentro, um lote de máximas, organizadas por ordem alfabética e não pela ordem por que aparecem no livro.
Conhecimento – “O auto-conhecimento é uma coisa muito difícil, é
como os cães, que roem ossos mas não roem os seus próprios ossos.”
Dor – “As nossas dores acompanham-nos até morrermos, como cães fiéis
atrás dos donos.”
Espaço – “Quando o espaço comum é demasiado pequeno, surgem inúmeros problemas. Numa sociedade, se houver
espaço, nunca há conflito.”
Futuro – “Conhecer o futuro dá cabo do presente.”
Idade – “A idade de uma criança ainda é um fenómeno mitológico. Fenómeno
que se perde com a adolescência. A partir de certa altura a cronologia passa a
ser um número sem qualidades metafísicas. Os deuses greco-romanos perdem
protagonismo e acabam por ser substituídos por leis físicas, por sebentas aos
quadrados e, fatalmente, por um bilhete de identidade.”
Instinto – “O instinto é um processo admirável que se sobrepõe a
todas as virtudes, mesmo às mais celestiais, castas e abençoadas.”
Morte – “A morte come muita coisa, mas deixa os ossos.”
Natureza – “A natureza é um lugar sem higiene nenhuma, cheia de
bichos e de terra e de coisas desorganizadas. É o oposto dos jardins e das
cidades e das hortas e do cimento. A natureza é o maior inimigo do homem
civilizado.”
Sonho – “As coisas que imaginamos que irão ser o futuro, e jamais o
serão, existem mesmo, mas num universo ao lado deste, coladinho a este. (…)
Tudo o que pensamos acaba por acontecer, mas noutro lado a que não temos
acesso.”
Tempo – “O tempo, nas relações, não anda necessariamente de trás
para a frente, do passado para o futuro. É fácil verificar que uma mulher nova
pode ser muito mais velha do que um velho e que um homem de idade
impressionante pode ser uma criança. Nas relações, o tempo comporta-se de
maneira diferente. O único relógio que mede o passar destes tempos são os
sentimentos.”
Trabalho – “Se o trabalho desse dinheiro, os pobres seriam ricos.”
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sábado, 4 de maio de 2013
Máximas em mínimas (97) - João Tordo
Depois de ler O bom inverno (Dom Quixote, 2010), de João Tordo, um lote de máximas, organizadas por ordem alfabética e não pela ordem em que aparecem no livro.
Cronologia – “Existem, na verdade, razões para explicar como as
coisas [acontecem] e, se existem razões, é possível ordená-las numa cronologia.
Porém, tal como no funcionamento do universo, o todo raramente corresponde à
soma das partes.”
Desgraça – “Talvez, no fundo, toda a gente leve a desgraça no
rosto. (…) Alguns de nós andam por aí com as marcas da sua finitude à mostra e
outros, embora pareçam não as ter, estão tão condenados como os primeiros.”
Destino – “Pergunto-me muitas vezes como é possível que o destino
nos pareça um conceito plausível quando este mundo é uma panóplia de erros que
conduzem aos piores horrores. Usamos o destino como álibi, crendo, ingénuos,
que as coisas acontecem de certa maneira porque não poderiam acontecer de
outra; essa crença, tão válida como a crença em Deus ou na imortalidade da
alma, tem consequências terríveis para o espírito que, mais cedo ou mais tarde,
se vê corrompido pela dúvida que tem origem na impossibilidade de sabermos, com
qualquer grau de certeza, se as nossas decisões nos trarão paz ou, pelo contrário,
irão acordar as bestas do Inferno; se, doravante, teremos de caminhar pelo
mundo com a cabeça voltada ao contrário como um contrapasso de Dante.”
Dor – “Mesmo imaginada, uma dor continua a ser uma dor; está lá
quando nos deitamos à noite, está lá antes do pequeno-almoço.”
Existir – “Se não estivermos muito preocupados com a existência,
tendemos a ser mais racionais. Ou menos sujeitos aos nossos impulsos. A vida
torna-se menos dolorosa.”
Imundície – “Há sempre quem compre coisas imundas, embora não haja
sempre quem compre coisas belas.”
Inveja – “Não existe pior mistura de sentimentos neste mundo do que
o ciúme, a inveja e a admiração; é uma trindade tão perigosa que pode levar um
homem a ascender ao Céu ou a lançar-se de um penhasco até ao mais profundo dos
Infernos.”
Medo – “O medo transforma-nos, faz de nós presas fáceis,
mergulha-nos num torpor pesado e ruminante.”
Palavra – “As palavras têm o seu poder sobre as pessoas. Se forem
as palavras certas, podem mover montanhas. Ou transformar a água em vinho.”
Saber – “Não é possível saber tudo. Existem certos momentos que, se
não os vivermos, são impossíveis de resgatar através de outros.”
Sarilhos – “Há um limite para a quantidade de sarilhos em que uma
pessoa se pode meter.”
Solidão – “A ausência, a solidão e o esquecimento [são] coisas terríveis,
tão terríveis como a mutilação ou a morte de um filho, tão terríveis como um
velho amigo ao qual nunca mais ouviremos a voz nem conheceremos o cheiro nem
saberemos a cor dos olhos, tão terríveis que, mesmo nos livros, até nos
romances mais pessimistas, não devemos chamar por elas, não devemos enaltecê-las
ou tentar transformá-las em beleza.”
Surpresa – “A última coisa que uma besta espera é que a presa se
meta no seu covil.”
Verdade – “A verdade é uma miragem tragicamente limitada pela condição humana. Ainda
assim, a verdade é tentada vezes sem conta.”
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Máximas em mínimas (96) - amar (no Dia dos Namorados)
“A
excentricidade nos afectos mais tarde ou mais cedo sai cara.” (Adília Lopes.
“Uma espécie de conto de Natal”. Resumo –
A poesia em 2009. Lisboa: Assírio & Alvim / FNAC, 2010, pg. 14)
“Amar
é sentirmos o desejo de nos esquartejarmos para nos darmos aos pedaços um ao
outro.” (Urbano Tavares Rodrigues, Filipa
Nesse Dia, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1988)
“Amo-te
tanto que te não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu
corpo que não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro, se
sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne de que és feita.” (António Lobo
Antunes, Memória de Elefante, Lisboa,
Editorial Vega, 1981)
“Nós
somos pré-históricos na forma de saber amar; há em nós uma aprendizagem que
está perfeitamente no início e nós só temos experiências fugazes da absoluta
felicidade.” [Lídia Jorge, entrevista, in Tempo
(supl. Tempo-Mulher), nº 508,
01.Fev.1985]
“O
amor é tão necessário à vida dos mancebos como o chá de marcelas às afecções do
estômago.” (J. Mascarenhas. Tragédias do
Minho – O laivo de sangue. Lisboa: J. G. Sousa Neves, 1877)
“O
amor só conhece uma regra: amar sempre.” (Maria Teresa Maia Gonzalez. Sempre do teu lado – Carta de um cão.
Lisboa: Verbo, 2008 reimp)
“O
que faz com que o amor seja tão perturbador e tão excitante são a suspeita e a
dúvida.” (José Leon Machado. Memória das
estrelas sem brilho. Braga: Edições Vercial, 2008)
“Quem
ama não deve pedir nada em troca desse amor.” (Alice Vieira. Leandro, rei da Helíria. 12ª ed.
Alfragide: Editorial Caminho / Leya, 2011)
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Máximas em mínimas (95) - Ler
“Costumo dizer que ler é como namorar: quem acha que não gosta é porque ainda não encontrou o parceiro certo.”
Ana Maria Machado
(in Francisca Cunha Rêgo. “Ana Maria Machado –
Sempre as palavras”. JL – Jornal de
Letras. Lisboa: nº 1104, 23.Janeiro.2013, pg. 15)
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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Máximas em mínimas (94) - A escola e a casa
«Eu, durante todo o meu percurso escolar, esforcei-me por manter separados o mundo da escola e o da minha casa. Se um dos mundos começasse a verter-se no outro, o mundo da minha casa ficaria contaminado. Deixaria de ter um lugar de refúgio. Ainda hoje me sinto contrariado quando se fala em 'colaboração entre os pais e a escola'. Também entendo que esta minha separação dos dois mundos conduziu, por sua vez, a uma diferenciação de princípio entre a esfera privada e a sociedade. (...) O que vivemos na escola projecta-se numa imagem da sociedade.»
Tomas Tranströmer, in As minhas lembranças observam-me (Porto: Sextante Editora, 2012)
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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
Máximas em mínimas (93) - Sabedoria e polimatia
“Vivemos tempos de muita informação, mas de escassa
sabedoria. Tempos de polimatia. Neles assistimos, demasiadas vezes, a decisões
insensatas, portadoras de consequências negativas para o longo prazo, apoiadas
na ilusão arrogante de um conhecimento incapaz de compreender os seus limites e
insuficiências.»
O parágrafo que transcrevo é a abertura do texto de Viriato Soromenho-Marques na última edição do JL (“O saber do mar”. JL –
Jornal de Letras: nº 1103, 09.Janeiro.2013, pg. 33). Essa colaboração versa a questão do mar e da atenção que Portugal lhe deveria dar e vale a pena ser lida para que não se ande sempre a desprezar o óbvio. Mas esta abertura é oportuna também pelo momento em que estamos, porque ela vale para os cenários que nos têm sido apresentados, de contínuo desgaste, de desaproveitamento, de inconsistência, de arrogância... de falta de sabedoria. O mar será, apenas, um exemplo...
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