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sábado, 2 de junho de 2018

Máximas em mínimas - Correr e Esperar



"Correr sem rumo é esperar em movimento", numa parede de Lisboa.

domingo, 10 de maio de 2015

Máximas em mínimas: António José da Silva, o Judeu




Depois de ler António José da Silva (1705-1739), o tal que foi vítima no mesmo auto-de-fé que acabou com a personagem Baltasar Sete-Sóis de Memorial do Convento, de José Saramago, o tal que foi cognominado "Judeu", ficam algumas verdades retidas a partir de Anfitrião, que tem o subtítulo de "Júpiter e Alcmena" (Col. “Clássicos Inquérito”, 14. Lisboa: Editorial Inquérito, s/d):

Amor – “Amor é como a Fénix que, para renascer mais belo, é preciso que, de quando em quando, se abrase nas chamas de um arrufo.”
Ausência – “Não há pior mal que o da ausência, pois ao mesmo tempo que acrescenta a saudade também acrescenta o tempo.”
Casamento – “Marido sem ser amante é o mesmo que corpo sem alma. Que importa que o matrimónio ligue o corpo se o amor não une as almas?”
Desejo – “Sempre a boca fala tarde quando madruga o desejo.”
Impossível – “Os impossíveis só se fizeram para os que verdadeiramente amam.”
Juiz – “Um juiz, para ser bom, há-de ser como um espelho: aço por dentro e cristal por fora. Aço por dentro para resistir aos golpes das paixões humanas e cristal por fora para resplandecer com virtudes.”

sábado, 17 de janeiro de 2015

Máximas em mínimas - Anselmo Borges




Três recomendações numa citação de Anselmo Borges, todas sobre a vida, sobre um programa de vida. Uma resposta à pergunta "Se tivesse que passar apenas uma mensagem curta a cada homem e mulher, qual seria?", que integra o questionário dirigido por Inês Maria Meneses a este teólogo, padre, filósofo e autor de várias obras, publicado na revista do Expresso de hoje.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Máximas em mínimas - Alexandre Dáskalos


Eu – “O meu íntimo é uma catedral / que ninguém viu.”

Silêncio – “Só no silêncio a vida se descobre.”

Procura – “Sempre haverá o que se busque / embora o que se busque não se encontre.”

Vida – “Só existe / o que amanheceu. / (…) // A vida banhada em Sol é que dá vida.”

Alexandre Dáskalos. Poesia.
2ª ed. Col. “Autores da Casa dos Estudantes do Império”.
Lisboa: União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa – UCCLA, 2015
[colecção em publicação pelo semanário Sol]

sábado, 23 de agosto de 2014

Máximas em mínimas - Manuel Jorge Marmelo numa história da Grande Guerra



Depois de ler A guerra nunca acaba, de Manuel Jorge Marmelo (Lisboa: Glaciar, 2014), na colecção “100 anos da Grande Guerra” (nº 3), que está a ser publicada semanalmente pela revista Sábado:
Certeza – “As certezas da vida são a coisa mais efémera que existe.” (pg. 39)
Felicidade – “A felicidade e o seu reverso são como duas faces da moeda que é a vida.” (pg. 41)
Guerra – “As guerras são quase sempre motivadas pela cobiça desmedida de um grupo muito pequeno de homens, os quais sacrificam os restantes à sua ambição e ao objectivo de subjugar povos e países que consideram inferiores; os impérios são edificados sobre um número incontável de cadáveres, sem que se perceba muito bem para que serve um império; os impérios não duram para sempre e, por isso, constituem de algum modo uma espécie de frivolidade.” (pg. 30)
Guerra – “As guerras nunca acabam. É impossível ganhá-las. Cada guerra e cada um dos seus mortos carregam a semente da guerra seguinte. (…) Desde o primeiro homem que matou o seu semelhante por soberba ou cobiça que estamos a repetir continuamente o mesmo círculo de ódio e vingança.” (pg. 89)
Homem – “O homem é o mais cruel de todos os animais, excepto quando é o mais bondoso dos seres vivos.” (pg. 53)
Morte / Memória – “A morte mais absoluta é esquecer e ser esquecido.” (pg. 38)
Morte (em guerra) – “Numa guerra, qualquer sítio é bom para morrer. Pode-se morrer a lutar, a fugir ou encolhido num buraco como um rato do campo.” (pg. 8)
Perda – “Nada é mais perigoso do que um homem que perdeu alguma coisa que lhe faz falta.” (pg. 83)
Vontade – “Os impulsos e as angústias individuais são uma força tremenda, tão poderosa em certas circunstâncias como a vontade de mil homens. (…) Um único desaire é suficiente para mudar para sempre o destino de alguém e até, se calhar, o rumo da História.” (pg. 33)

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Máximas em mínimas - Luísa Beltrão



Depois de ler Moscas nos olhos – Filippa na Grande Guerra, de Luísa Beltrão (Lisboa: Glaciar, 2014), na colecção “100 anos da Grande Guerra” (nº 2), que está a ser publicada semanalmente pela revista Sábado:
Esperança – “A esperança é o único penhor humano na consciência trágica da nossa imperfeição, é a esperança que nos salva do desespero.” (pg. 75)
Guerra – "A violência da guerra é impossível descrevê-la.” (pg. 36)
Guerra – “Na guerra, tudo se dilui na luta básica pela sobrevivência, mas quando ela acaba, as guerras internas tomam de novo conta de nós, ambíguas, enredadas.” (pg. 91)
Loucura – “Não é fácil manter o estatuto de louco mesmo num mundo enlouquecido.” (pg. 46)
Solidão – “Somos seres isolados, perdidos no espaço, não somos deuses do Olimpo, e até os deuses do Olimpo brigam, embora possam reinventar-se porque são imortais.” (pg. 75)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Máximas em mínimas - Tempo


Tempo – “Na literatura, o tempo suspende-se e deixa marcas; nas fotografias, o tempo passa e deixa rugas.” [Francisco José Viegas. Um gosto pela imperfeição. Col. “100 anos da Grande Guerra” (1). Lisboa: Glaciar, 2014, pg. 12]

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Máximas em mínimas - Moralista



Moralista – “Um moralista é alguém que acha que a sua moral é melhor do que a tua.” [Francisco José Viegas. Um gosto pela imperfeição. Col. “100 anos da Grande Guerra” (1). Lisboa: Glaciar, 2014, pg. 89]

sábado, 28 de dezembro de 2013

Máximas em mínimas - Afonso Cruz


Depois de ler Afonso Cruz, em Os livros que devoraram o meu pai – A estranha e mágica história de Vivaldo Bonfim (Alfragide: Editorial Caminho / Leya, 2010), um percurso por muitas leituras e pelo que delas ficou, eis frases que são marcadores:

Árvore – “Para uns, a raiz é a parte invisível que permite à árvore crescer. Para mim, a raiz é a parte invisível que a impede de voar como os pássaros. Na verdade, uma árvore é um pássaro falhado.”
Consciência – “É dentro da sua cabeça que todos os homens são livres ou condenados.”
Homem – “Nós somos feitos de histórias, não é de a-dê-énes e códigos genéticos, nem de carne e músculos e pele e cérebros. É de histórias.”
Humano – “Se há seres vivos desumanos, só mesmo os humanos. Resultado: os animais humanizados tendem a voltar à sua condição primitiva, a de animais.”
Memória – “As memórias são a perspectiva do passado, mas não são a mesma coisa. Elas mudam com o tempo, não são crónicas postas em papel e descritas objectivamente com rigor. São coisas emotivas que variam a cada vez que são lembradas. As memórias são repensadas e vão-se tornando outra coisa. (…) As nossas memórias nunca são verdadeiras ou absolutamente verdadeiras, são apenas uma interpretação. Existem outras e ao longo dos anos vamos vendo o passado a uma luz diferente. As nossas memórias vão sendo vistas de diferentes perspectivas, conforme aquilo que aprendemos e conforme aquilo que sentimos no instante em que as relembramos.”
Vida – “A vida, muitas vezes, não tem consideração nenhuma por aquilo de que gostamos.”

sábado, 21 de dezembro de 2013

Máximas em mínimas - Almada Negreiros

Depois de reler Almada Negreiros, em Nome de guerra (escrito em 1925 e só publicado em 1938)...

Amar – “Quando se gosta de alguém, gostar, gostar a valer, a gente não sabe mais nada neste mundo senão que gosta dessa pessoa. (…) Vão os dois para toda a parte, com ou sem dinheiro, andam juntos. Gostar é gostar.”
Autobiografia – “O trabalho para a autobiografia não é mais do que evitar aquilo a que outros nos quiseram forçar.”
Família – “Temos todos as nossas árvores genealógicas do mesmo tamanho. Lá no tamanho das árvores somos todos iguais. Mas é precisamente nas árvores que está a nossa diferença. Vê-se perfeitamente que a cada um aconteceu qualquer coisa que não se passou com mais ninguém. E aconteceu-nos antes ainda de nós termos nascido. É a árvore genealógica. Esse segredo do nosso segredo. Esse mistério do nosso mistério. Nós somos hoje o último fruto dessa árvore secular, secularmente secular!”
Lealdade – “Quando os inimigos se igualam, e igualadas as forças dos adversários, já não há outras esperanças senão as que ficam fora do terreno da lealdade.”
Mulher – “A mulher sabe perfeitamente melhor o efeito que produz nos homens do que o homem nas mulheres.”
Palavra – “O número de palavras não é infinito, mas é infinito o número de efeitos, conforme a disposição das palavras. Com vinte e seis letras do alfabeto escrevem-se todos os idiomas e não ficam escritas todas as palavras nem definitivos os dicionários.”
Realidade – “Não há mestre mais categórico do que a realidade a seco.”
Separação – “Quando duas pessoas separam as suas coisas que estiveram juntas, o que é de cada um é tão pouco que ainda é menos do que antes de conhecer aquele de quem se separa.”
Sinceridade – “Ninguém no mundo se pode queixar de ter sido vítima da sua sinceridade. O que pode é cada um ficar surpreendido com o facto de a sua sinceridade o ter levado mais longe do que lho permite a sociedade.”
Solidão – “O horror de estar só no mundo apenas o podem sentir aqueles que já perderam o melhor que tinham e não conseguem a certeza de nada.”
Verdade – “Aqueles que pretendem ver a verdade e não tiram os olhos de cima dela acabam por esquecer-se que a querem ver e ficam só a olhar para ela; mas os que fazem por esquecê-la, quanto mais se esforçam por distrair-se mais a verdade os agarra pelos pulsos e lhes fala cara a cara.”
Verdade – “Quem pensa sozinho não quer senão a verdade, as justificações são por causa dos outros.”
Vida – “Há vidas que é preciso encher com qualquer coisa de vez em quando.”
Vida – “São tão diferentes as idades da vida de cada um que quem não vai por essa diferença é porque parou numa delas. As idades da vida não se passam por alto; ou se vivem ou ficam por viver.”

sábado, 2 de novembro de 2013

Máximas em mínimas - Katherine Mansfield


Partilho algumas máximas, depois de ler o Diário, de Katherine Mansfield, em tradução de Fernanda de Castro (Col. “Contemporâneos”. Porto: Livraria Tavares Martins, 1944).

Criação – “Serei eu capaz de exprimir algum dia o meu amor pelo trabalho, o meu desejo de perfeição, a minha ânsia de um labor mais consciencioso? Serei eu capaz de dizer esta paixão que sinto – esta paixão que substitui a religião, porque é a minha religião… que substitui a companhia dos outros, porque sou eu que crio os meus companheiros… que substitui a vida, porque é a própria vida? Sinto-me às vezes tentada a joelhar diante do meu trabalho, a adorá-lo, a prostrar-me, a ficar um tempo infinito em êxtase ante a ideia da criação. (31 de Maio de 1919)”
Diário – “Tenho de pôr o meu diário em andamento e depois tenho de conservá-lo em dia. Mas serei eu capaz de ser honesta? Se mentir, esse diário não servirá para nada. (Fevereiro.1921)”
Honestidade – “A honestidade (porque será?) é a única coisa que me parece mais preciosa do que a vida, do que o amor e do que a morte. Só ela permanece. Acreditem-me! Feitas as contas, a verdade é a única coisa que merece ser possuída… A verdade é mais comovente, mais alegre e mais ardente do que o próprio amor… Tudo acaba por nos abandonar mas ela não pode trair-nos. (Setembro de 1919)”
Mal – “Quando um mal está diagnosticado, qualquer demora que atrase o esforço para curá-lo causa um enfraquecimento fatal. (…) Quando se é negligente, as más ervas pululam. (18 de Outubro de 1920)”
Mar – “O mar, aqui, é mar verdadeiro. Encapela-se, levanta-se e torna a cair com um barulho estrondoso, seguido de um longo rolar macio; por vezes, dir-se-ia que tenta escalar o céu e vêem-se os barcos empoleirados nas nuvens como querubins voadores. (22 de Maio de 1918, em Looe, Cournouailles)”
Morte – “Como seria intolerável morrer deixando apenas fragmentos, esboços, nada de verdadeiramente acabado! (19 de Fevereiro de 1918)”
Partir – “Cada vez que abandonamos um sítio qualquer deixamos atrás de nós qualquer coisa de precioso que não deveríamos matar mas que morre. (9 de Fevereiro de 1922)” (Katherine Mansfield. Diário. Col. “Contemporâneos”. Porto: Livraria Tavares Martins, 1944, pg. 256)
Representar – “Todos nós começamos por representar um papel e, quanto mais perto estamos do que desejaríamos ser, mais perfeito é o nosso disfarce. Por fim chega o momento em que já não representamos; este momento pode mesmo colher-nos de surpresa. Então, contemplamos, talvez com espanto, a nossa bela plumagem, que já não é de empréstimo. Os dois aspectos confundiram-se: o primitivo e este; representar, agora, é agir. (24 de Novembro de 1921)”
Ser – “Para fazermos seja o que for, para sermos seja o que for, precisamos de ser inteiros, de fortificar a nossa fé. Um ser desunido não pode fazer nada de jeito. (1 de Fevereiro de 1922)”
Sofrimento – “Não há limites para o sofrimento humano. Quando se pensa ‘Agora toquei o fundo do abismo, agora não posso descer mais fundo…’ – eis que descemos mais, ainda mais e assim até ao infinito. (…) O sofrimento não tem limites, é a própria eternidade. (…) O sofrimento pode ser vencido. (…) Temos de nos submeter. De não resistir. De o acolher. De nos deixarmos submergir. De o aceitar plenamente. De fazer da dor uma parte da vida. Tudo o que na existência verdadeiramente aceitamos sofre uma transformação. Assim, o sofrimento deve transformar-se em amor. (14 de Dezembro de 1920)”

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Máximas em mínimas (101) - Rosa Lobato de Faria


Depois de ler Os três casamentos de Camilla S., de Rosa Lobato de Faria (1997), seis máximas que dizem muito sobre o que somos.

Prazer - "Os prazeres e a capacidade de os apreciar acontecem desencontrados no tempo. Não se conjugam no momento certo o acto perfeito e a sabedoria da fruição."
Juventude - "Na juventude, com toda a vida pela frente, nunca há tempo. A cabeça foge, ligeira, para outros lugares, os pés partem, ágeis, para outros caminhos. Nunca se está onde se está, nunca se tem o que se tem."
Raiz - "A raiz é o que te está no sangue, o que sentes para lá de tudo o que aprendeste, aquilo que te vem do chão, aquilo que vem das estrelas que te viram nascer." 
Errar - "Porque é que não percebemos que erramos quando estamos a errar e só mais tarde o remorso nos cai em cima com uma força esmagadora e nos amargura o resto da existência?"
Amor - "O amor tardio é o melhor."
Autobiografia - "Nenhuma autobiografia verdadeiramente o é: alindam-se os pecados próprios, ensombram-se os dos outros, corrige-se ou contorna-se a verdade, procura-se uma lógica de crime e castigo que a vida não tem. Não fica claro à luz de que moral nos penitenciamos (...). E, acima de tudo, permitimo-nos apontar o comportamento dos outros, avaliar as suas consequências, julgar."

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Máximas em mínimas (100) - Rui Zink


Depois de ler A instalação do medo, de Rui Zink (Lisboa: Teodolito, 2012), alguns sublinhados, mesmo porque se prende com uma desconstrução (mais ou menos parodística) do que tem sido o discurso político que nos tem embalado (ou que nos tem sido inoculado), apresentadas por ordem alfabética do tema.

Crise – “A ‘crise’ é sempre ‘económica’. As ‘reformas’ são sempre ‘estruturais’. O ‘futuro’ é sempre ‘melhor’. Ou ‘para os nossos filhos’. As ‘medidas’ são sempre ‘necessárias’. Se não fossem necessárias não seriam medidas. Não há alternativa. (…) Os outros fazem política. Nós não fazemos política. A nossa política é a virtude. A nossa política é o trabalho. A nossa política é o medo.”
Espectáculo – “Todo o espectáculo, por melhor que seja, tem um prazo de validade e não devemos fatigar o auditório com encores. O artista que sai de cena deixando a plateia a implorar só mais uma, só mais uma é sensato, ao contrário do que se deixa levar pela ilusão do aplauso e acaba a saturar os ouvidos das pessoas que, minutos antes, pareciam enlouquecidas pelo desejo.”
Ignorância – “A ignorância por vezes pode ser uma excelente camada protectora.”
Medo – “Um dos muitos efeitos do medo é deixarmos de controlar os intestinos, é por aí que o medo primeiro nos apanha.”
Mundo (em mudança) – “O mundo mudou e as pessoas não percebem isso. Já não há pessoas nem há mundo e as pessoas (talvez por já não existirem) não percebem isso. E quem tentar compreender o mundo é idiota. Qual o sentido de tentar entender uma coisa que já não existe? O mundo mudou. Mas como pode o mundo mudar se as pessoas não mudam? Ou como pode o mundo mudar se as pessoas não o sentem? O certo é que factos são factos e contra factos não há mundo ou pessoas que resistam.”

Suplício – “Até o mais breve dos suplícios dura uma eternidade.”

terça-feira, 2 de julho de 2013

Máximas em mínimas (99) - "Granta", nº 1


O primeiro número da edição portuguesa da revista Granta saiu em Maio (Dir.: Carlos Vaz Marques. Lisboa: Tinta-da-china), logo na abertura da Feira do Livro de Lisboa. Algumas máximas deste número ficam aqui registadas, por ordem alfabética do tema, que não por outra ordem.

Ajuda – “Uma pessoa que ajuda é alguém que desempenha tarefas fora da sua própria esfera de responsabilidade, por bondade, porque tem coração. A ajuda é perigosa porque existe fora da economia humana: o único pagamento para a ajuda é a gratidão.” (Rachel Cusk. “Rescaldo”).
Doença – “Adoecer fecha-nos mais sobre nós próprios, tornamo-nos menos capazes de compor as máscaras com que nos escondemos. Talvez, então, ao ficarmos doentes deixemos de ter grande parte da capacidade de mascarar de forma original o facto de sermos todos uma e a mesma coisa. Uma e a mesma coisa disfarçada por um amontoado de memórias diferentes. Cada um de nós com o seu amontoado de memórias e, por isso mesmo, com a sensação de ser único. Parece-nos tanto que somos únicos que nos dói a ideia de podermos ser todos uma e a mesma coisa. Mas a verdade é que não temos como saber se, em vez de indivíduos, não somos apenas uma ilusão criada por excesso de memórias acumuladas e excesso de composição de personagem. Apenas disfarces de um mesmo mecanismo que uma doença pode, em menos de um piscar de olhos, desmascarar.” (Dulce Maria Cardoso. “Em busca d’eus desconhecidos”).
Ficção – “A ficção – certa ficção – talvez seja a forma mais poderosa de exercitar o pensamento, de acelerar a realidade lenta do quotidiano. Escrita ou lida, a ficção escava-nos por dentro, rasga novos canais para o eu. Desacerta-nos com o que éramos. E tanto faz que sejamos nós a escrever ou a ler.” (Dulce Maria Cardoso. “Em busca d’eus desconhecidos”).
Guerra – “Há certas partes da vida de que não podemos ter presciência – a guerra, por exemplo. O soldado que parte para a guerra pela primeira vez não sabe como se comportará quando for confrontado com o exército inimigo. Não conhece essa parte de si mesmo. É um matador ou um cobarde? Quando confrontado, reagirá, mas não sabe a priori qual será a reacção.” (Rachel Cusk. “Rescaldo”).
História – “A vida é um tédio quando não há histórias para ouvir nem nada para ver.” (Orhan Pamuk. “Gente famosa”).
Intolerância – “Há mais de uma maneira de se ser paciente e a intolerância pode ter várias formas.” (Rachel Cusk. “Rescaldo”).
Lucidez – “Manter-[se] lúcido é o que mais importa perante a estranheza.” (Saul Bellow. “Memórias do filho de um contrabandista”).
Mentira – “Despida, a verdade pode tornar-se vulnerável, desajeitada, chocante. Vestida de mais, transforma-se numa mentira.” (Rachel Cusk. “Rescaldo”).
Música – “Não há nada que crie mais comunhão do que a música. Podemos ter milhares embrulhados na mesma melodia, no mesmo ritmo. A música chega às multidões muito mais rápido do que outra coisa qualquer. Não há discurso que se lhe compare nesse aspecto.” (Afonso Cruz. “Jazz, rosas e andorinhas”).
Sonho – “É sempre além de mim o indescoberto / Porto ao luar com que se o sonho engana.” (Fernando Pessoa. “Sossego enfim”).
Tom – “O tom é uma coisa chata porque não se controla. Controlamos as palavras, a custo, o volume, a custo, mas não o tom. O tom é como os olhos, não engana.” (Ricardo Felner. “Mar negro”).

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Máximas em mínimas (98) - Afonso Cruz


Depois de ler Jesus Cristo bebia cerveja, de Afonso Cruz (Carnaxide: Santillana Editores / Editora Objectiva, 2012 – já com 3ª edição, de 2013), uma história bem contada pelo Alentejo dentro, um lote de máximas, organizadas por ordem alfabética e não pela ordem por que aparecem no livro.

Conhecimento – “O auto-conhecimento é uma coisa muito difícil, é como os cães, que roem ossos mas não roem os seus próprios ossos.”
Dor – “As nossas dores acompanham-nos até morrermos, como cães fiéis atrás dos donos.” 
Espaço – “Quando o espaço comum é demasiado pequeno, surgem  inúmeros problemas. Numa sociedade, se houver espaço, nunca há conflito.”
Futuro – “Conhecer o futuro dá cabo do presente.” 
Idade – “A idade de uma criança ainda é um fenómeno mitológico. Fenómeno que se perde com a adolescência. A partir de certa altura a cronologia passa a ser um número sem qualidades metafísicas. Os deuses greco-romanos perdem protagonismo e acabam por ser substituídos por leis físicas, por sebentas aos quadrados e, fatalmente, por um bilhete de identidade.”
Instinto – “O instinto é um processo admirável que se sobrepõe a todas as virtudes, mesmo às mais celestiais, castas e abençoadas.”
Morte – “A morte come muita coisa, mas deixa os ossos.”
Natureza – “A natureza é um lugar sem higiene nenhuma, cheia de bichos e de terra e de coisas desorganizadas. É o oposto dos jardins e das cidades e das hortas e do cimento. A natureza é o maior inimigo do homem civilizado.”
Sonho – “As coisas que imaginamos que irão ser o futuro, e jamais o serão, existem mesmo, mas num universo ao lado deste, coladinho a este. (…) Tudo o que pensamos acaba por acontecer, mas noutro lado a que não temos acesso.”
Tempo – “O tempo, nas relações, não anda necessariamente de trás para a frente, do passado para o futuro. É fácil verificar que uma mulher nova pode ser muito mais velha do que um velho e que um homem de idade impressionante pode ser uma criança. Nas relações, o tempo comporta-se de maneira diferente. O único relógio que mede o passar destes tempos são os sentimentos.” 
Trabalho – “Se o trabalho desse dinheiro, os pobres seriam ricos.”

sábado, 4 de maio de 2013

Máximas em mínimas (97) - João Tordo


Depois de ler O bom inverno (Dom Quixote, 2010), de João Tordo, um lote de máximas, organizadas por ordem alfabética e não pela ordem em que aparecem no livro.

Cronologia – “Existem, na verdade, razões para explicar como as coisas [acontecem] e, se existem razões, é possível ordená-las numa cronologia. Porém, tal como no funcionamento do universo, o todo raramente corresponde à soma das partes.”
Desgraça – “Talvez, no fundo, toda a gente leve a desgraça no rosto. (…) Alguns de nós andam por aí com as marcas da sua finitude à mostra e outros, embora pareçam não as ter, estão tão condenados como os primeiros.”
Destino – “Pergunto-me muitas vezes como é possível que o destino nos pareça um conceito plausível quando este mundo é uma panóplia de erros que conduzem aos piores horrores. Usamos o destino como álibi, crendo, ingénuos, que as coisas acontecem de certa maneira porque não poderiam acontecer de outra; essa crença, tão válida como a crença em Deus ou na imortalidade da alma, tem consequências terríveis para o espírito que, mais cedo ou mais tarde, se vê corrompido pela dúvida que tem origem na impossibilidade de sabermos, com qualquer grau de certeza, se as nossas decisões nos trarão paz ou, pelo contrário, irão acordar as bestas do Inferno; se, doravante, teremos de caminhar pelo mundo com a cabeça voltada ao contrário como um contrapasso de Dante.”
Dor – “Mesmo imaginada, uma dor continua a ser uma dor; está lá quando nos deitamos à noite, está lá antes do pequeno-almoço.”
Existir – “Se não estivermos muito preocupados com a existência, tendemos a ser mais racionais. Ou menos sujeitos aos nossos impulsos. A vida torna-se menos dolorosa.”
Imundície – “Há sempre quem compre coisas imundas, embora não haja sempre quem compre coisas belas.”
Inveja – “Não existe pior mistura de sentimentos neste mundo do que o ciúme, a inveja e a admiração; é uma trindade tão perigosa que pode levar um homem a ascender ao Céu ou a lançar-se de um penhasco até ao mais profundo dos Infernos.”
Medo – “O medo transforma-nos, faz de nós presas fáceis, mergulha-nos num torpor pesado e ruminante.”
Palavra – “As palavras têm o seu poder sobre as pessoas. Se forem as palavras certas, podem mover montanhas. Ou transformar a água em vinho.”
Saber – “Não é possível saber tudo. Existem certos momentos que, se não os vivermos, são impossíveis de resgatar através de outros.”
Sarilhos – “Há um limite para a quantidade de sarilhos em que uma pessoa se pode meter.”
Solidão – “A ausência, a solidão e o esquecimento [são] coisas terríveis, tão terríveis como a mutilação ou a morte de um filho, tão terríveis como um velho amigo ao qual nunca mais ouviremos a voz nem conheceremos o cheiro nem saberemos a cor dos olhos, tão terríveis que, mesmo nos livros, até nos romances mais pessimistas, não devemos chamar por elas, não devemos enaltecê-las ou tentar transformá-las em beleza.”
Surpresa – “A última coisa que uma besta espera é que a presa se meta no seu covil.”

Verdade – “A verdade é uma miragem tragicamente limitada pela condição humana. Ainda assim, a verdade é tentada vezes sem conta.”

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Máximas em mínimas (96) - amar (no Dia dos Namorados)


“A excentricidade nos afectos mais tarde ou mais cedo sai cara.” (Adília Lopes. “Uma espécie de conto de Natal”. Resumo – A poesia em 2009. Lisboa: Assírio & Alvim / FNAC, 2010, pg. 14)

“Amar é sentirmos o desejo de nos esquartejarmos para nos darmos aos pedaços um ao outro.” (Urbano Tavares Rodrigues, Filipa Nesse Dia, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1988)

“Amo-te tanto que te não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro, se sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne de que és feita.” (António Lobo Antunes, Memória de Elefante, Lisboa, Editorial Vega, 1981)

“Nós somos pré-históricos na forma de saber amar; há em nós uma aprendizagem que está perfeitamente no início e nós só temos experiências fugazes da absoluta felicidade.” [Lídia Jorge, entrevista, in Tempo (supl. Tempo-Mulher), nº 508, 01.Fev.1985]

“O amor é tão necessário à vida dos mancebos como o chá de marcelas às afecções do estômago.” (J. Mascarenhas. Tragédias do Minho – O laivo de sangue. Lisboa: J. G. Sousa Neves, 1877)

“O amor só conhece uma regra: amar sempre.” (Maria Teresa Maia Gonzalez. Sempre do teu lado – Carta de um cão. Lisboa: Verbo, 2008 reimp)

“O que faz com que o amor seja tão perturbador e tão excitante são a suspeita e a dúvida.” (José Leon Machado. Memória das estrelas sem brilho. Braga: Edições Vercial, 2008)

“Quem ama não deve pedir nada em troca desse amor.” (Alice Vieira. Leandro, rei da Helíria. 12ª ed. Alfragide: Editorial Caminho / Leya, 2011)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Máximas em mínimas (95) - Ler


“Costumo dizer que ler é como namorar: quem acha que não gosta é porque ainda não encontrou o parceiro certo.”
Ana Maria Machado
(in Francisca Cunha Rêgo. “Ana Maria Machado – Sempre as palavras”. JL – Jornal de Letras. Lisboa: nº 1104, 23.Janeiro.2013, pg. 15)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Máximas em mínimas (94) - A escola e a casa

«Eu, durante todo o meu percurso escolar, esforcei-me por manter separados o mundo da escola e o da minha casa.  Se um dos mundos começasse a verter-se no outro, o mundo da minha casa ficaria contaminado. Deixaria de ter um lugar de refúgio. Ainda hoje me sinto contrariado quando se fala em 'colaboração entre os pais e a escola'. Também entendo que esta minha separação dos dois mundos conduziu, por sua vez,  a uma diferenciação de princípio entre a esfera privada e a sociedade. (...) O que vivemos na escola projecta-se numa imagem da sociedade.»
Tomas Tranströmer, in As minhas lembranças observam-me (Porto: Sextante Editora, 2012)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Máximas em mínimas (93) - Sabedoria e polimatia

“Vivemos tempos de muita informação, mas de escassa sabedoria. Tempos de polimatia. Neles assistimos, demasiadas vezes, a decisões insensatas, portadoras de consequências negativas para o longo prazo, apoiadas na ilusão arrogante de um conhecimento incapaz de compreender os seus limites e insuficiências.»

O parágrafo que transcrevo é a abertura do texto de Viriato Soromenho-Marques na última edição do JL (“O saber do mar”. JL – Jornal de Letras: nº 1103, 09.Janeiro.2013, pg. 33). Essa colaboração versa a questão do mar e da atenção que Portugal lhe deveria dar e vale a pena ser lida para que não se ande sempre a desprezar o óbvio. Mas esta abertura é oportuna também pelo momento em que estamos, porque ela vale para os cenários que nos têm sido apresentados, de contínuo desgaste, de desaproveitamento, de inconsistência, de arrogância... de falta de sabedoria. O mar será, apenas, um exemplo...