segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Política caseira (67): João Viegas, candidato centrista para Setúbal, em entrevista

O Setubalense: 31.Agosto.2009
(para ler, clicar sobre a imagem)

Política caseira (66): Juventude Socialista sadina mete-se na campanha autárquica com ironia

O Setubalense: 31.Agosto.2009
Já se tinha percebido que uma das "questões" a abordar na campanha eleitoral autárquica pelos socialistas seria a saída de Carlos de Sousa de Presidente da Câmara e a chegada ao mesmo lugar de Maria das Dores Meira, sem acto eleitoral e sem satisfação às populações. No entanto, também valerá a pena pensar se a Câmara setubalense com Maria das Dores Meira é igual ao que foi com Carlos de Sousa... e se o concelho de Setúbal ganhou (ou não) com a mudança. Infelizmente, o que se passou com a substituição de Carlos de Sousa pode ocorrer em muitas circunstâncias e em todos os partidos - Durão Barroso deixou o lugar de Primeiro-Ministro para rumar a Bruxelas, Fernando Negrão (social-democrata) deixou o lugar de vereador da Câmara de Setúbal para se candidatar à presidência da autarquia lisboeta e, ainda que não sendo um caso de eleição mas de nomeação, Teresa Almeida (socialista) deixou o lugar de Governadora Civil de Setúbal para ir para a Câmara de Lisboa. Se calhar, era bom que fossem impostas outras regras aos partidos nestas situações. Ou até podia ser bom que os partidos aprendessem a ser democráticos no respeito pelos cidadãos e pelas proximidades... Mas, passados dois anos sobre essa substituição de Sousa por Meira, também seria bom que os argumentos da Juventude Socialista se prendessem mais com o presente e o futuro do município - mesmo porque, agora, Maria das Dores Meira é candidata -, sob pena de reproduzirem, na prática, os esquemas da (fraca) discussão política que, infelizmente, têm sido (má) constante na sociedade portuguesa.

sábado, 29 de agosto de 2009

Hoje, na página "Correio de Setúbal", do "Jornal Sem Mais"

Diário da Auto-Estima – 103
Agosto – Habitualmente, a resposta que ouvimos é a de que “está tudo para férias”. Se (já) não fecham empresas para esse efeito, minimizam pelo menos alguns serviços, há sempre alguém que era fundamental para resolver um problema e que está de férias… Com frequência se ouve na loja a desculpa equivalente: “Sabe, agora está tudo de férias, é um mês para esquecer, só podemos contar com esse artigo lá para Setembro, para meados, talvez…” E Agosto vai-se rebolando em banhos de calor, com o céu por vezes acinzentado. E as férias vão passando, na tentativa de se pôr em dia coisas que se foram atrasando… Talvez, quem sabe?, talvez fique tudo organizado…
Algarve – O que aconteceu na praia Maria Luísa, em Albufeira, foi uma tragédia. Mas a reacção do país foi escassa. O que diferencia, em termos de envolvimento social, este acidente do que há anos ocorreu com a ponte de Entre-os-Rios? O número de vítimas? A época do ano? A sociedade que temos? Fiquei incrédulo com as mil e uma explicações que ouvi nos “media” para justificar o sucedido: desde as afirmações de responsáveis no sentido de que o risco não era elevado (pelo menos o suficiente para uma intervenção que deveria ter acontecido), até ao passar a ideia de que ninguém tinha responsabilidade no assunto, passando pela justificação de um sismo sentido dias antes na costa algarvia e até pela falta de cuidado dos veraneantes… Tudo serviu como desculpa, nada serviu para assumir a responsabilidade em termos de segurança ou de precaução. Por razões não tão fortes como a insegurança de uma arriba do género da que naquela praia vitimou cinco pessoas (e que, soube-se depois, já tinha suscitado chamadas de atenção de locais e de concessionários), têm sido encerradas ou condicionadas praias. O que faltou para que ali não tivesse havido acção mais exigente? E ainda outro argumento que ouvi: não se pode assumir a responsabilidade por cada metro de costa onde pode acontecer um acidente natural. Espantoso! Então, para alijar responsabilidades, a força da Natureza já pode ser invocada, enquanto para os actos urbanísticos que têm contrariado a mesma Natureza idêntico argumento não tem servido!... Afinal, há tantas instituições com responsabilidades sobre a costa e nenhuma conseguiu prever melhores condições de segurança para ali?

Anna Gavalda traz "35 quilos de esperança"

Um dia, Grégoire decide escrever uma carta à direcção da Escola de Grandchamps: “Gostaria muito de ser admitido no seu estabelecimento mas sei que é impossível porque o meu dossiê escolar é bastante mau. Vi na publicidade que a sua escola tinha ateliês de mecânica, carpintaria, salas de informática, uma estufa e mais coisas. Acho que na vida não existem apenas notas. Acho que também existe a motivação. (…) Não sou grande nem gordo, peso 35 quilos de esperança.” Estamos a pouco mais do meio da história escrita por Anna Gavalda, em 35 quilos de esperança (2ª ed. Alfragide: Dom Quixote, 2009), em torno de um aluno que nos narra o seu relacionamento com a escola.
Grégoire, 13 anos, aluno no 5º ano de escolaridade – “Está bem, eu sei, há qualquer coisa que não está certa. Explico já, não vale a pena contarem pelos dedos. Chumbei duas vezes: na 2ª classe e no 5º ano.” Filho único, a sua situação escolar é pretexto para as discussões contínuas dos pais e para um insucesso marcado e lembrado não menos continuadamente. O refúgio é o avô. Um duplo refúgio, de resto: porque tem uma cabana no fundo do quintal onde se armazenam maquinarias e apetrechos que dão para alimentar o saber manual e onde se refugiam os dois quando querem confidenciar e porque o entende, porque o encaminha, porque o leva a pensar, porque o entusiasma a ser sincero com o que gosta de fazer e o leva a escrever a tal carta.
Era a primeira vez que Grégoire pedia para ir à escola, facto nada estranho se lembrarmos que o livro começa com frases de manifesto: “Detesto a escola. É a coisa que mais odeio no mundo. E mais ainda… Ela dá cabo da minha vida.” E este sentimento era vivido desde os três anos, idade pré-escolar, tempo em que, recusando ir à escola, levou uma bofetada da mãe. “Era a primeira da minha vida. Pois era. Era a escola. Era o princípio do pesadelo.”
No final, o leitor percebe que a narração ocorreu nas últimas 24 horas da vida da personagem. E que este gesto de narrar se ficou a dever, uma vez mais, à presença do avô, Léon. E também se fica a saber que a história é a da recuperação de um rapaz para a escola porque se sentiu motivado no tipo de escola que frequentava, sobretudo técnica, que ia ao encontro das suas aptidões e criatividade. E há duas razões mais para cativarem nesta leitura: a valorização do esforço individual e do pensar, por um lado, e os afectos, por outro. Tudo junto, dá uma emocionante história sobre o crescimento, sobre a adolescência, sobre a escola. E um retrato possível de situações com que nos confrontamos.
(Título original: 35 kilos d’espoir, 2002. 1ª edição portuguesa: 2005)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Política caseira (65): Jorge Santana (PSD) critica a situação financeira da Câmara sadina

O Setubalense: 28.Agosto.2009
A situação financeira da Câmara de Setúbal - como as das outras Câmaras - deve ser clara e não deve haver espaços para que, com os mesmos números, se digam coisas diferentes ou até contrárias. A inovação na política faz-se pela apresentação de ideias e de projectos que, além de novos, tenham um grau de exequibilidade e oportunidade considerável. Fazer política dizendo apenas que os outros não são bons ou erraram é pouco. Os eleitores precisam de mais que isso. Por outro lado, os discursos e as práticas têm que apresentar coerência e, no futuro - isto é, depois das eleições autárquicas -, se os cabeças de lista levarem os seus mandatos até final, Jorge Santana fará parte da mesma equipa que Dores Meira, independentemente do lugar que cada um ocupe na vereação. Seria bom, para a equipa e para Setúbal, que o executivo, nessa altura, se entendesse relativamente a pontos fundamentais da governação local. O caminho das acusações não me parece que seja o mais indicado nem o mais benéfico...

Política caseira (64): Teresa Almeida quer bivalves e promete emprego

O Setubalense: 28.Agosto.2009
A ideia parece ser boa. Mas, em concreto, o que a notícia diz é que a candidata estabeleceu contactos com possíveis investidores e que, do seu ponto de vista, a autarquia deve ser motor dinamizador. Importante ainda é o número de postos de trabalho. Esta medida, como outras, anunciada em fase de campanha, vale o que vale. Em dois pontos estou de acordo: na possibilidade de a indústria dos bivalves estar adequada a Setúbal e no papel que a autarquia deve ter. Quanto ao resto, faz-me lembrar a história da promessa dos 150 mil novos postos de trabalho anunciados há uns anos... Entre o volume dos números e a realidade, o que fica, muitas vezes, são apenas símbolos.

Política caseira (63): Preocupações de segurança do Bloco de Esquerda (ou de como os exemplos nos devem pôr de sobreaviso)

O Setubalense: 28.Agosto.2009

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Golfinhos do Sado vistos e apresentados por Pedro Narra e Maria João Fonseca

“Nos últimos dez anos, acompanhámos de perto a vida dos golfinhos do Sado. Conhecê-los individualmente, observar os seus comportamentos, testemunhar o nascimento das suas crias e até mesmo o desaparecimento e a morte de alguns indivíduos é um reconhecido privilégio ao qual dedicamos o nosso empenho.” Este é o teor do primeiro parágrafo do capítulo conclusivo da obra Golfinhos do Sado (com texto bilingue, em português e em inglês), assinado por Pedro Narra e Maria João Fonseca (Setúbal: 2009, com tradução de Mark Mollet), obra que teve o apoio de duas empresas ligadas ao turismo e de Vertigem Azul, empresa dedicada à observação de golfinhos no Sado criada há pouco mais de uma década pelos autores.
O parágrafo transcrito diz bem sobre o que é este livro: um acto de testemunho e de afecto com uma comunidade animal que tem sido acompanhada nos últimos anos; um acto de civismo e didáctico, que sensibiliza para a preservação e para a forma humana de ver os golfinhos; um acto estético, em que as fotos que povoam o livro nos deixam enlevados numa sinfonia azul, de vida e de graça. Com razão escreve Viriato Soromenho-Marques em texto introdutório a este livro definindo-o como “comovente e belo acto de amor e reconciliação”, explicando: “Uma aposta no verdadeiro perdão que é aquele que se traduz nos actos que comprometem o futuro.”
Logo no início, os autores apelam às suas recordações de infância, momentos em que viam os golfinhos saltando no Sado. E deixam de imediato o recado: “Que este livro sirva como um apelo à preservação deste estuário e que no futuro seja um testemunho de maus tempos que o esforço e o empenho conseguiram ultrapassar.”
Depois, ao leitor cabe ir descobrindo muitas coisas sobre os roazes e o seu habitat – desde a caracterização do estuário do Sado até às histórias de golfinhos, passando pela caracterização individual dos que integram a colónia sadina, chamando a atenção para os cuidados, dando pistas sobre as formas de vida, num quase registo do quotidiano da vida dos golfinhos, onde nem faltam os rituais do amor, da sobrevivência, da brincadeira ou da morte. E é interessante verificar esse deslumbramento dos autores, quer pela sensibilidade posta nas fotografias, quer pela mensagem escrita que registam, tal como acontece quando convidam o leitor (e o visitante) para a delicadeza no acto de ver estes amigos do Sado: “A observação destes animais no seu habitat natural é um privilégio, ao qual se deve corresponder com respeito e, sobretudo, com o máximo cuidado para que, mesmo involuntariamente, não se acabe por prejudicar o seu bem-estar.”
As fotografias são fortes, mas, mesmo assim, no final, cada uma delas surge em miniatura, legendada, podendo o leitor ser desperto para novas leituras depois de, em silêncio, ter visto todo o livro (já que, ao longo do volume, a escrita aparece apenas para introduzir temas, deixando que as imagens fotográficas constituam o texto essencial). E, mesmo nestas pequenas legendas, a sensibilização para a protecção e para a felicidade de se poder admirar estes fragmentos de vida é loquaz.
Um livro a ver. A ler. A usar. Oxalá ele nunca venha a ser a memória de um tempo que se perdeu!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

António Manuel Couto Viana e os contos pícaros

Que é que eu tenho, Maria Arnalda? e outros contos pícaros é a mais recente obra de António Manuel Couto Viana (Guimarães: Opera Omnia, 2009) e constitui o terceiro livro de contos na bibliografia do autor, todos eles publicados nos últimos cinco anos, faceta que torna curiosa a obra de Couto Viana, desde sempre ligada à poesia, ao ensaio memorialístico e à escrita teatral. Os outros títulos são Meias de seda vermelha e sapatos de verniz com fivelas de prata e outros contos (Lisboa: Prefácio, 2004) e Os despautérios do Padre Libório e outros contos pícaros (Guimarães: Opera Omnia, 2008).
Só nos dois últimos livros de contos é que Couto Viana assumiu, no título, o género das suas narrativas – “contos pícaros” –, desde logo dando a entender ao leitor que tipo de literatura pode esperar – histórias com um narrador que ridiculariza e explora a sátira social, pondo o heroísmo a favor desses objectivos, rindo dos outros e, muitas vezes, de si próprio, sem a preocupação de definir modelos de virtudes.
Ora, quem passa por estes contos vai encontrar narrador na primeira pessoa, a fim de sugerir credibilidade ao contado, dando a ideia de uma certa dimensão autobiográfica. No entanto, este “eu” vai variando a sua identidade de texto para texto, nome incluído, pelo que a própria sugestão autobiográfica só pode viver na linha de experiência do narrador, logo aí deixando campo aberto para a ficção.
As histórias acontecem no período da primeira metade do século XX, remetendo para retratos sociais dessa época, e situam-se, maioritariamente, na “cidadezinha”, burgo alto-minhoto, encostado ao mar, ao rio, ao campo e à serra, que outro local não pode ser senão Viana do Castelo, geografia de que não restam dúvidas depois de se ler a dedicatória da obra de 2008 à memória de uma tia do autor, que conhecia “toda a História e todas as histórias pícaras e dramáticas da sua cidadezinha, meu berço”.
São pequenas historietas, pois, coladas ao burgo que Couto Viana recorda, mas muito fantasiadas e reconstruídas. Por elas passa uma mestria de linguagem, assente na capacidade para descrever o pormenor ou os gestos, na graça com que a acção vai sendo dada a presenciar ao leitor. Por elas transitam personagens inesquecíveis, a que estão associados feitos não menos inolvidáveis e singulares, ficando o leitor a saborear o riso despertado por criaturas como o Maluquinho dos Comboios, o Lopes, o Toninho, o Sete-Cus ou a Cló (para lembrar o último livro) ou o Macário, o Malaquias, o padre Silvério, a Carminho ou o padre Libório (se falarmos do penúltimo conjunto de contos).
Se Couto Viana já era senhor de uma obra vastamente variada, estes três títulos, num género que ainda não experimentara nas suas seis décadas de vida literária, vêm reconfirmar o autor multifacetado sobre quem Ricardo Saavedra, no prefácio que integra o mais recente título, garantiu que terá “menção na História da Literatura Portuguesa”.

Política caseira (62): Jorge Santana (PSD) em entrevista - o turismo em Setúbal como aposta e desafio

Jorge Santana, o candidato apresentado pelo PSD à Câmara de Setúbal como independente, foi entrevistado hoje no Setúbal na rede. Insistindo na sua condição de independente e no facto de “ser um setubalense” (“O meu partido é Setúbal”, disse), Santana falou do centro histórico (que precisa de ser habitado e reabilitado, embora haja os graves problemas de estacionamento e de segurança), do “Polis” (“reduzido e redutor”, que trouxe obras de estética à Avenida Luísa Todi, mas piorou o trânsito), do Parque de Albarquel (obra bem feita), da Feira de Santiago (que quer ver voltar à Avenida e estendida para a zona ribeirinha), do Parque Santiago (onde pretende que haja uma feira franca semanal), do Vitória (tema que ocupou sete minutos de uma entrevista de meia hora, por responsabilidade do entrevistador) e do turismo, que se revela a maior aposta do candidato para os próximos quatro anos.
Assumindo que “Setúbal tem um turismo de praticamente zero” porque “não têm sido aproveitadas as valências que existem”, Santana defendeu que Setúbal deveria estar preparada para o desenvolvimento de Tróia (que lamentou não pertencer ao concelho de Setúbal), que o município deve ter a jurisdição da frente ribeirinha (apenas partilhada em alguns casos), que o porto deve ser deslocado para o interior, que a zona entre Fontainhas e Pedra Furada “tem de pertencer rapidamente à cidade de Setúbal” e ser de forte investimento turístico.

Política caseira (61): Questões de recandidatura e de género

O Setubalense: 26.Agosto.2009

Política caseira (60): A pré-campanha vista como desfile social, não há ideias para o sítio ou não há notícias?




O Setubalense: 26.Agosto.2009
O leitor olha para estas "notícias" e fica a saber o quê? Pouco mais que a agenda social dos candidatos ou das candidaturas. E assim se vai noticiando a (pré-)campanha eleitoral para as autárquicas, num modelo que não deve ser característica específica de Setúbal. Onde uma linha sobre as ideias defendidas (se as houve), uma linha sobre projectos para o município, uma linha sobre os problemas que são considerados por cada candidatura? Fica-se sem perceber se são apenas operações de marketing visual, se não há ideias ou se as notícias são dadas de acordo com as organizações das candidaturas... É tudo muito pouco.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Política (também) caseira (59): Os excessos das campanhas eleitorais

PS e PSD gastam mais de 50 milhões de euros na campanha das eleições autárquicas
«O PS é o partido que apresenta maior orçamento para a campanha das eleições autárquicas de 2009: são 30,5 milhões de euros contra os 21,9 milhões do PSD, embora esteja ainda por explicar se os gastos nos locais em que os sociais-democratas têm coligações (mais de seis milhões de euros) já estão incluídos nestas contas. A situação inverteu-se face a 2005: os socialistas prevêem gastar agora mais três milhões, os sociais-democratas fizeram um corte radical de metade da verba. (…) Para os comícios, o orçamento do PSD é irrisório: 441 mil euros. Já no PS, as verbas mais elevadas são distribuídas pela concepção da campanha (9,1 milhões), a propaganda (9,3 milhões) e também pelos comícios (5,7 milhões). (…) A verba para 2009 do CDS-PP é semelhante à do BE (1,9 milhões), que estima gastar cerca de menos 400 mil euros do que em 2005. Em sentido contrário ao do emagrecimento das despesas, a CDU (coligação PCP/PEV) prevê gastar um pouco mais do que em 2005. Os comunistas apresentaram um orçamento de 10,2 milhões de euros face aos 9,9 milhões de há quatro anos. (…)»
A notícia é da edição online do Público. Creio que, há tempos, foi publicamente pedida alguma contenção nos custos das campanhas, o que só faria bem, se fosse tido em consideração o tempo de crise e o facto de haver três campanhas eleitorais em Portugal em 2009 e se pensasse que a força da propaganda nem sempre é o mais aconselhável! No entanto, os resultados de tal apelo estão à vista. O que mais incomoda é que nem sempre a estes gastos corresponde igual carga de razão ou de ideias. Bem menos caro ficaria (e mais útil seria, mesmo do ponto de vista da adesão ao acto eleitoral) se o investimento fosse nas ideias concretizáveis para o país e para as regiões, nas realidades dos lugares e na força da seriedade e da utilidade da participação política! Assim, a política reduz-se a cartazes (nem sempre) bem concebidos, com promessas em que desacreditamos, imensos recursos ao virtual e... parra qb. É (muito) pouco para tanto dinheiro gasto!...

Rostos (128)

Galileu, no VII Festival Internacional de Escultura em Areia (FIESA 2009), em Pêra
Imagem a propósito, quando passam os 400 anos sobre o momento em que o sábio deu uso ao telescópio, provando que havia no Universo planetas não alcançáveis a olho nu e que o Sol estava no centro do sistema planetário.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

De chapéu e de bengala, eis que Manuel Medeiros chega...

Fiquei contente quando recebi a notícia dada pela Fátima de que à blogosfera tinha chegado o "chapéu e bengala". Logo antevi um auto-retrato do Manuel Medeiros, livreiro respeitado e sábio que em Setúbal insiste na leitura, na leitura, na leitura. Um exemplo: há dias, na Culsete - a livraria e o canto do Medeiros -, estava um prospecto a anunciar um desses livrecos "light", do momento, com história de amor e de maledicência entre personagens da nossa praça, uma história daquelas que se alimenta da invasão ou da exposição da privacidade. E qual foi a reacção do Medeiros? "Não vou ter. Estou farto de ver papel... Quero é livros!" Entende-se...
Mas dizia que fiquei contente com esta entrada de chapéu e bengala. Fui logo até lá, a esta praça bloguística, à procura. E lá estava a graça, a seriedade, a acutilância e o riso do Medeiros. O "velho livreiro" (assim assina) passa a partilhar a tertúlia e a discussão. E quer que outros lá cheguem. Vale mesmo a pena!

Política caseira (58): onda de 70 entrevistas

«O "Setúbal na Rede" inicia hoje o seu especial Autárquicas 2009, com a realização de entrevistas a todos os cabeças de lista às câmaras municipais do distrito.
As entrevistas serão realizadas em formato vídeo e poderá acompanhá-lhas em directo, ficando também disponíveis para visualização posterior no dossier
"Autárquicas 2009".
Este conjunto de cerca de 70 entrevistas decorrerá até ao dia 11 de Setembro e pode consultar igualmente o programa completo no portal.
A primeira entrevista será com Cipriano Pisco, candidato pelo BE ao Montijo, hoje às 10 horas, seguindo-se Octávio Machado, candidato pelo CDS-PP a Palmela, às 12 horas, Fernando Sousa da Pena, candidato pelo CDS-PP a Almada, às 15 horas, e Mário Durval, candidato pelo BE ao Barreiro, às 17 horas.
»
As entrevistas aos candidatos à Câmara de Setúbal têm o seguinte calendário: Maria das Dores Meira (CDU), em 25 de Agosto, às 15h00; Jorge Santana (PSD), em 26 de Agosto, às 10h00; Albérico Afonso (BE), em 28 de Agosto, às 12h00; João Viegas (PP), em 31 de Agosto, às 19h00; Carlos Gomes (PCTP), em 1 de Setembro, às 19h00; Teresa Almeida (PS), em 7 de Setembro, às 10h00.

Política caseira (57): CDU contactou em S. Sebastião e apresentou candidatos para o Sado


O Setubalense: 24.Agosto.2009

Máximas em mínimas (50)

A Verdade
“Nada pode mais do que a verdade: nem o dia consegue ser mais luminoso, nem um furacão mais terrível.”
Gianni Rodari. “Jaime de cristal”. Novas histórias ao telefone. Col. “Sésamo” (9). Lisboa: Teorema, 1988, pg. 37.

domingo, 23 de agosto de 2009

Política caseira (56): Promessas para uma cidade virtual

No discurso político das (pré-)campanhas eleitorais, vale tudo, independentemente de elas serem de âmbito nacional ou local. A gente tem assistido às promessas e aos discursos dos candidatos à Câmara de Setúbal e tem visto o teor … Na net, surgiu mais um promissor rol de ofertas para Setúbal: é sob a responsabilidade do M.A.C.A.U. (Movimento Alternativo Contra Aberrações Urbanísticas), com sítio a condizer no que respeita a crítica e a promessas e com sugestivo lema (“Por uma cidade onde seja agradável viver!”). Dê-lhe o leitor o valor que quiser, leve-o a sério ou não… mas, entre algumas verdades, este sítio constitui também uma paródia ao discurso das promessas a que temos assistido nos últimos tempos. Se não, veja-se como a cidade se torna cada vez mais virtual: a animação de Setúbal carece de uma roda gigante, de um balonário, de um elevador que ligue o Parque de Albarquel ao forte de S. Filipe e, imagine-se, de uma candidatura da cidade aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018! Nunca se tinha ido tão longe!... Se o leitor tiver ideias mais arrojadas, pode contribuir com sugestões para o movimento…
Esta coragem não admira. Há dias, uma amiga que trabalha numa autarquia bem conhecida no país, depois de eu lhe dizer que a sua Câmara tinha dinheiro para obras e que era um autarquia rica, respondeu-me: "Olha que não! A gente passou este mandato a fazer projectos para mostrar às pessoas o que vai ser o concelho no futuro! Foi só virtual... As obras foram só imagens..." São sinais dos tempos, claro! Mas ajudam na propaganda, mesmo que a gente se contente com as imagenzinhas!...

Romeu Correia, "Desporto Rei" - reler uma obra de 1955 em tempo de início da época futebolística

Concluído no segundo semestre de 1954, Desporto Rei seria editado no ano seguinte (Lisboa: Livraria Clássica Editora). Hoje, passado mais de meio século sobre essa primeira edição, a história narrada mantém actualidade, ainda que devendo caber ao leitor a explicação para os saltos no tempo e a compreensão das mudanças.
Como o título do livro indica, o mundo é o do futebol. A história passa-se “numa pacata vila de província, onde só dois conterrâneos jogavam o futebol, mas com o qual vários especulavam – e a que quase todos assistiam.” Esta informação consta em epígrafe, a abrir a obra, mas encontra ecos em vários pontos da narrativa, como no dia em que a equipa joga com um visitante do Norte, disputando a passagem à divisão principal, e Campos Mota comenta para o director Olímpio Nunes “Hoje, é possível que vendas dez mil garrafas de refrescos… mas, em contrapartida, só dois conterrâneos nossos praticam desporto num concelho de vinte mil habitantes” ou no momento da Assembleia Geral que discutia o futuro do clube e alguém, contestando as políticas seguidas pela Direcção, grita “Queremos desporto! Não queremos negócio!...”
A trama passa-se em torno do Vila Clara Futebol Clube durante o mês de Junho, com uma Direcção que apostara a passagem da equipa para a 1ª Divisão, sobretudo pelo que isso significava em termos de reputação para o clube e para o concelho. É esse lugar que almejam Carvalhinho da Moagem, Joaquim Campino, Soares do hotel, Olímpio Nunes, Valentim da Silva ou Procópio Cabral, directores que pretendiam defender mais a sua posição (e ascensão) social do que o desporto, razões que levam a forte contestação local, com ameaças e maledicência à mistura. Pelos relvados, em representação do Vila Clara, passam nomes como Caralinda, Raposo, Juju (angolano), Horácio, Belarmino, Justo, Torres, Guilherme, Amílcar (o mais disputado) e Gomez e Alonso (ambos argentinos), em torno dos quais há o litígio com base no ordenado a receber, há as questões de origem, há as diferenças de qualidade na prática do jogo e há as relações com a direcção. O fenómeno do futebol faz saltar episódios em torno dos seus menos interessantes aspectos, como a tentativa de suborno de guarda-redes ou de jogador, as negociatas à volta da hipotética transferência de atletas (envolvendo mesmo um simulado rapto de jogador), o vínculo existente entre a permanência dos directores e o dinheiro que cada um foi pondo no clube em prol de uma grandiosidade difícil de atingir.
Mas a história passa também pela vida de vários dos directores, nem todos com um percurso absolutamente correcto ou socialmente aceitável. Por aqui vão passando também as tensões sociais; as relações empregador-empregados; as vidas duplas; o viver para lá das posses; a incapacidade de adaptação de empresários à mudança dos tempos, que vão vendo seus ex-empregados (depois empresários, também) com mais sucesso do que eles próprios, chegando a criar-se uma relação de dependência económica dos primeiros em relação aos segundos pelo recurso ao crédito e às letras.
A caracterização das personagens por parte do narrador é reduzida ao mínimo e abrange sobretudo a função social. O resto fica por conta do leitor, que pode traçar os retratos a partir das atitudes tomadas por cada um dos intervenientes, todos eles constituindo personagens-tipo, todos eles constituindo um panegírico da sociedade de um pequeno meio provinciano (com pretensões à ascensão e ao reconhecimento), em que se cruza a familiaridade e a proximidade com os ódios de estimação ou com as paixões e com os favores.
A escrita é, muitas vezes, teatral, com indicações precisas do tom de voz ou dos gestos das personagens quando intervêm, quase em jeito de didascálias. É sempre uma acção rápida, na tentativa de não ser o narrador ultrapassado pelos acontecimentos. Mesmo quando parece que vai surgir um capítulo longo como o que relata o tão falado encontro futebolístico em tarde domingueira e festivaleira, a verdade é que a notícia do jogo é circunstanciada até à expulsão de jogo de Amílcar (ocorrida algures na segunda parte), ficando o leitor e o narrador sem saber o resultado final, pormenor que só é dado a conhecer no capítulo seguinte, no momento em que uma personagem, que não tinha assistido ao desafio por desprezo, pergunta a transeuntes qual fora o desfecho… e o resultado motiva ainda mais o seu gáudio, da mesma forma que motivará o triste espectáculo vivido nas ruas da vila – cenas de pancadaria entre os adeptos visitados e visitantes, autêntica “batalha campal”, em que até o árbitro teve de receber assistência médica que lhe garantiu “treze costuras no coiro cabeludo” e “metade da cabeça rapada”, além de terem recebido curativos “para cima de trinta pessoas”…
No final, a necessidade de conciliação na vila entre todos os adversários e as diferentes linhas de pensamento para a vida do clube: finalmente, ia ser possível que o desporto voltasse para a prática de todos os interessados, com aulas de educação física e a promessa de construção de uma piscina, a fazer lembrar os “bons tempos da ginástica aplicada, da volta ao concelho em bicicleta, da corrida da légua pelo S. Pedro e dos torneios de basquetebol”.
O romance relata esse tempo de intervalo na prática desportiva para todos, equivalente a cerca de seis meses, desde que a Direcção estabelecera como objectivo olhar apenas para o futebol e com ele querer subir ao grupo de elite que era a divisão magna, recorrendo a jogadores estrangeiros e a treinador estrangeiro também (situações que estimularam algum trato racista). No entanto, a história é cheia de dissabores, o que leva mesmo o narrador, no momento em que é conhecido o caso do rapto de Amílcar, a exclamar: “Enfim! Estava-se perante uma nova tragicomédia!...” A frase, além de nos remeter para o mundo do teatro, justifica-se: ao trágico alia-se o riso e, na verdade, as situações contêm tanto de dramático quanto de hilariante – as cartas anónimas, a derrota no jogo, o rapto do jogador, a luta campal, a disputa entre as amantes de Carvalhinho… e, a finalizar a história, o roubo dos tijolos e sacos de cimento para a construção da nova piscina.
Do início ao fim, Desporto Rei é essa história de situações tragicómicas, retrato de um tempo, mas também de uma sociedade. No que à cultura desportiva e ao papel dos dirigentes respeita, não sei se as coisas mudaram muito neste meio século passado desde a publicação do livro. Mas continua a ser verdadeiro o princípio estabelecido na abertura da obra: “O Desporto só é escola de perene juventude e felicidade quando, através dele, se atinge o perfeito equilíbrio entre o músculo e o pensamento – síntese ideal que a velha Grécia nos legou no imorredoiro Discóbolo.” E Romeu Correia, ele mesmo desportista e biógrafo de desportistas, sabia do que falava…

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Política caseira (55): Seria bom que candidatos pensassem que as papas e os bolos nem sempre servem... ou que elevassem o discurso (e as ideias)

O Setubalense: 19.Ago.2009
A carta de uma leitora para o jornal O Setubalense chama a atenção dos candidatos à câmara de Setúbal por causa do discurso frequentemente repleto de lugares-comuns e construído segundo a conveniência do momento, eivado, aqui e ali, por pontas de argumento fácil e desinteressante. Bom seria que as candidaturas se comprometessem quanto ao que é verdadeiramente útil para o município, que fossem claras e que se deixassem de construir a política à maneira do que vemos no plano nacional: falar para os "media", responder pelos "media", desbobinar com pouco interesse pelos eleitores (a não ser no momento do votozinho)... Relendo as notícias que têm sido publicadas na imprensa sadina sobre as intenções das candidaturas e partindo do príncípio de que elas reproduzem faces da verdade, a pré-campanha autárquica em Setúbal tem sido pobre, muito pobre, vivendo entre o lugar-comum, o virtual e o apego aos passados... É pouco, francamente pouco... A carta que reproduzo, de leitora que não conheço, vinda na edição de ontem de O Setubalense, prova esse discurso pouco elevado, às vezes rasteiro, em torno do acto que vai decidir os próximos quatro anos na gestão do município.

Política caseira (54): CDU faz campanha na Anunciada e responde aos socialistas sobre as contas da Câmara



O Setubalense: 19.Ago.2009

Política caseira (53): PSD formalizou candidatura às autárquicas sadinas

O Setubalense: 19.Agosto.2009

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Um violoncelo em Cacela

"Clássica em Cacela" é o nome do programa de um ciclo de concertos que têm acontecido neste cálido mês de Agosto em Cacela, terra cantada por poetas como Ibn Darraj Al-Qastalli (séc. X, natural de Cacela), Abû Al-Abdarî (séc. XI, também natural de Cacela) ou, mais recentemente, no séc. XX português, por Eugénio de Andrade ou por Sophia de Mello Breyner Andresen, todos eles com direito a registo toponímico na velha Cacela, de olhos voltados para a Ria Formosa.

Pois, ontem, no termo das escadinhas que descem para a Ria, ouviu-se Bach em concerto de violoncelo por Catarina Rafael, que interpretou a "suite nº 3 em dó maior (BWV 1009)". E ali, no afastamento de ruídos outros, com a noite por companheira, pouca iluminação e o silêncio pactuante da Ria, a cerca de meia centena de ouvintes pôde prestar homenagem à poesia do silêncio e ao espírito de Bach. Foi lindo e foi original... A organização deste ciclo compete à Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e à associação Altela e, para 24, está anunciado um recital de flauta de bisel por Teresa Matias, a ter lugar na igreja de Cacela Velha.

domingo, 16 de agosto de 2009

Rostos (127)

Santo António prega aos peixes, em Pavia, na Igreja Matriz

sábado, 15 de agosto de 2009

Paula Teixeira da Cruz em entrevista

O tema da "Única", revista que acompanha o Expresso, é tão luminoso quanto a estação que atravessamos: "Loiras". Entre as várias protagonistas, uma merece destaque, não apenas por ser a capa da revista - é Paula Teixeira da Cruz, advogada, comentadora e presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, na entrevista que dá a Christiana Martins e a Isabel Lopes. A ler, verdadeiramente. Porque fala da vida do partido [PSD] e das reacções suscitadas pelos nomes escolhidos para candidatos a deputados, das referências que os políticos devem ser (autarcas incluídos), da Câmara Municipal de Lisboa, da Justiça e de Marinho Pinto, da banca (BCP e Jardim Gonçalves incluídos), do trabalho, do ser feminino, da intervenção cívica...
Duas citações tenho que reproduzir: uma, a propósito da ideia de um "Bloco Transversal", algo que derrota pela base o mito da governabilidade apenas com maioria absoluta (mesmo porque a democracia tem que deixar de ser algo a que só os partidos têm acesso, e quando lhes dá jeito, para ser algo que todos sintamos) - para Paula Teixeira da Cruz, é necessário "que haja uma consciência interpartidária em torno de um plano de desenvolvimento económico e social para o país", algo "de suporte governamental", porque "não podemos passar a vida a desmantelar o que os governos anteriores fizeram"; a segunda citação respeita à reflexão em torno do que foi perder um filho e do que pode sentir uma mãe - "Sobre isso só direi uma coisa e não responderei a mais nenhuma pergunta: é uma doença crónica que se ganha e com a qual se tem de aprender a viver." Ah!, devo dizer ainda que não há respostas sobre a vida privada, algo que a entrevistada faz questão de deixar exactamente para a esfera do privado e ponto final.
Para reportar ao tema, quanto à luz e à cor, logo no início da conversa, em resposta a uma pergunta, Paula Teixeira da Cruz explica: "Nunca fui tratada como uma loira burra. E penso que hoje já não existe tanto essa ideia, é mais uma brincadeira"... Entrevista interessante, bom testemunho, que por si só se torna numa forma de intervenção cívica. Sugiro a leitura.

Política caseira (51): A Feira de Sant'Iago, em Setúbal, como tema de pré-campanha eleitoral para as autárquicas

Durante o tempo em que esteve no programa, a edição deste ano da setubalense Feira de Sant'Iago foi motivo para a propaganda política visando as eleições autárquicas, com promessas e "exigências" no sentido de que o certame deveria voltar para o centro da cidade... Nesta altura, deu jeito que a Feira tivesse acontecido, pois assim houve tema. Não será, por certo, este o problema mais importante da cidade - o da mudança de sítio da feira anual -, mas os partidos da oposição fizeram dele tema. No entanto, parece que ele veio apenas pelo calendário, com aproveitamentos qb para agrado. Veremos como vão ser conciliadas as opiniões de agora com os factos do futuro... Entretanto, Maria das Dores Meira, presidente da autarquia sadina e candidata ao lugar pela CDU, fez o balanço que foi noticiado e deu algumas respostas aos comentários em torno do espaço da Feira e de uma possível nova localização. Fica o registo veiculado por O Setubalense:
O Setubalense: 14.Agosto.2009

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Política caseira (50): Promessas socialistas de Teresa Almeida em Setúbal...

... aos feirantes da Feira de Sant'Iago
O Setubalense: 12.Ago.2009
... e à freguesia de S. Sebastião
«PS promete apoio social aos mais idosos e regeneração dos bairros - Promover políticas activas de regeneração urbana, contrariar o envelhecimento e apoiar, socialmente, os mais idosos, são algumas das prioridades de Teresa Almeida que, no último sábado, realizou mais uma Caminhada por Setúbal”.
A candidata do Partido Socialista, à presidência da Câmara Municipal de Setúbal, andou por algumas zonas da freguesia de São Sebastião e, acompanhada, mais uma vez, por muitos militantes do PS e apoiantes da sua candidatura, quis visitar e conversar com os habitantes do bairro de São Domingos porque, disse, “trata-se de uma zona envelhecida, com zonas muito degradadas, necessitando de uma intervenção urgente”.
Segundo Teresa Almeida, “é preciso olhar com atenção para esta zona da cidade, desenvolvendo políticas activas de regeneração urbana, para que o bairro de São Domingos ganhe uma nova imagem e possa assumir um papel, que é seu, no contexto de uma cidade cuja imagem é preciso renovar”.
A candidata do PS, à liderança da autarquia sadina, manifestou também muitas preocupações, em relação aos habitantes daquela zona, uma vez que, referiu, “trata-se de uma população muito idosa que necessita de atenção e cuidados especiais”. Teresa Almeida prometeu lançar um conjunto de medidas de apoio aos mais idosos e anunciou a criação de uma linha de apoio a essa população mais envelhecida.
A candidata não esqueceu também a comunidade de emigrantes que, naquela zona da cidade, se vai instalando e prometeu tudo fazer, “quando for eleita, em 11 de Outubro”, para garantir uma integração digna e melhores condições de vida para “essas pessoas que escolheram Setúbal para viver e trabalhar”.
Já em Aranguês, a candidata do PS ouviu alguns comerciantes e visitou o centro comercial instalado naquela zona da cidade. Muito afectados pela crise e pela redução do poder de compra, que afecta os portugueses, em geral e os setubalenses, em particular, os comerciantes queixam-se “da falta de apoio, sobretudo por parte da autarquia”. No local Teresa Almeida disse querer contrariar esse sentimento e garantiu incentivos à renovação do comércio, para que também naquela zona da cidade, já fora da baixa comercial, “o comércio possa ganhar vitalidade, tornar-se atractivo e competitivo”.»
O Setubalense: 12.Ago.2009

Política caseira (49): Socialistas setubalenses respondem sobre as contas da Câmara

O Setubalense: 12.Ago.2009

sábado, 8 de agosto de 2009

Política caseira (47): Como as contas da Câmara entram na campanha para as autarquias

Público: 08.Agosto.2009 (para ler, clicar sobre imagem)

Memória: Raul Solnado (1929-2009)

Raul Solnado, por Rogério de Azevedo, em Lisboa (jardim do Museu do Teatro)


Raul Solnado é nome incontornável na história do teatro em Portugal. Cresci a vê-lo e a achar graça, muita graça, aos seus diálogos, monólogos e rábulas. Vi-o como um herói, como um artista. Relembro a forma como transformava, sozinho, "A guerra de 1908" numa história com personagens, viva; recordo a entrada no "Zip-Zip" e a fabulosa personagem que era o sr. Fritz, por exemplo, perante Fialho Gouveia e Carlos Cruz. Não esqueço a suavidade do riso ou a alegria da gargalhada graças à arte de Solnado. Ficam os registos da voz. Ficam também os registos da memória.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Os jornais de Viana na memória

A imprensa regional vianense conta agora com uma referência de elevado interesse – a obra Publicações periódicas vianenses, de Rui Faria Viana e António José Barroso (Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2009), integrada na série de edições a propósito dos 750 anos do foral afonsino atribuído à cidade do Lima.
Num conjunto de 640 páginas, os autores catalogaram 370 publicações por ordem alfabética (não tendo tido acesso directo a 17), “excluindo as impressas por meios não tipográficos, como as policopiadas e, até mesmo, as electrónicas”, fazendo constar em cada registo ficha técnica adequada (datas de início, responsáveis e colaboradores, conteúdos e características físicas), além de reprodução fotográfica do número mais antigo a que acederam. O período abrangido é lato, tão aberto quanto se sabe que tem sido a história do jornalismo vianense, desde 1855 (ano da criação de A Aurora do Lima) até Fevereiro de 2009 (data em que surgiu Vale do Neiva Filatélico, em Barroselas). No final da obra, surgem quatro muito úteis índices – de títulos, de responsáveis pelas publicações, geográfico e cronológico.
O maior período que houve sem o aparecimento de novas publicações foi o de 1859-1867, enquanto a maior sucessão de anos com novos títulos é a que se inicia em 1982 e vem até 2009, período de 28 anos durante os quais sempre surgiram novas publicações, havendo cinco desses anos em que nasceu apenas um novo título (1982, 1983, 1986, 1990 e 2009).
Os anos que revelaram maior número de nascimentos de títulos foram: no século XIX, o de 1892 (8); no século XX, os de 1922, 1970, 1985 e 1994 (8 títulos em cada) e 1913, 1914, 1959, 1991, 1992 e 1998 (7 por ano); mais recentemente, foram os anos de 2002 e 2004, cada um deles com 8 títulos.
A longevidade de A Aurora do Lima (saindo desde 1855, o que o torna no mais antigo título em publicação em Portugal continental) não esconde uma grande quantidade de jornais ou revistas que tiveram número único como edição – ainda no século XIX, a primeira situação aconteceu com Doris, em 1878, mas houve outros 14 títulos com igual destino; ao longo do século XX, em todas as décadas houve publicações de número único, totalizando 43; nos tempos mais próximos, os anos de 2002 e de 2003 tiveram também títulos de número único (um em cada ano). Em grande parte dos casos, estes números únicos são publicações com a finalidade de evocar efemérides ou acontecimentos sociais muito importantes (normalmente por solidariedade social), mas é curioso o paradoxo existente de uma publicação como Diário de Viana (de 1879), que não chegou a ter a periodicidade sugerida no título porque dela saiu apenas um número… Aliás, maior é o paradoxo se repararmos que, nesta história de mais de século e meio, não houve nenhum jornal diário a partir de Viana do Castelo, ainda que haja uma longa história de correspondentes de diários nacionais de referência na cidade.
Quanto aos títulos, há os que nos despertam a curiosidade, seja pelo que sugerem, seja pela originalidade: entre os primeiros, O snob (1905), A troça (1911), O peneira (1912), O gabiru (1913), O pedante (1913), Atira-le… Bernardo (1914), Zé da Gaita (1914) e O safado (1924), por exemplo; entre os segundos, refiro os casos de RTP (de 1958, publicação escolar surgida por altura do Natal, com propósito social, aproveitando o efeito do aparecimento recente da televisão em Portugal, mas identificando-se como Rápida, Total e Pronta a colaboração dos alunos para a consoada dos mais pobres), de Apolo (de 1969, jornal escolar saído em Abril, com título a propósito da proeza das 10 voltas à Lua feitas pela nave Apolo 8) e de Dar que falar (2004, aproveitando a sonoridade da expressão linguística para remeter para o ponto de origem, Darque).
Este volume Publicações periódicas vianenses é uma obra que se consulta com prazer, pelo que conta e pelo que dá a descobrir, com organização acessível e apresentação agradável, deixando no leitor a ideia de como a história local ou regional e a comunicação social se conjugam e se apoiam. Apesar de organizado alfabeticamente, este trabalho vai muito além do que é um registo enciclopédico de verbetes, quer pelo contributo que dá para o estudo da imprensa periódica, quer pelo pormenor a que desce na apresentação de cada título (orientações, tipo de conteúdos, colaboradores, mudanças na orientação, reprodução fotográfica do rosto de cada título), quer pela dificuldade na sua elaboração, uma vez que sabemos que, por se ligar à efemeridade, o jornal raramente é conservado, marca que dificulta a organização de um trabalho deste género. Aliás, os próprios autores o reconhecem ao mencionarem as bibliotecas (públicas ou particulares) que percorreram ou ao referirem as quase duas dezenas de títulos de que obtiveram referências mas que não conseguiram encontrar. Esta obra cultiva, pois, a memória local e a memória daquilo que se tem construído a partir da efemeridade, os jornais.

Efemérides - Há 64 anos, em Hiroshima

Há 64 anos, por esta altura, Miguel Torga estava em Caldelas. Em 6 de Agosto, acontecia a bomba atómica sobre Hiroshima. Torga, escritor e cidadão do mundo, registaria os efeitos no seu Diário, com datas dos dois dias seguintes, passos que aqui reproduzo:
Miguel Torga. Diário - III. Coimbra: 1946.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Efemérides - Em 1966, a inauguração da ponte sobre o Tejo, em Lisboa

A inauguração da ponte sobre o Tejo, a ligar Lisboa a Almada, em 6 de Agosto de 1966, mereceu, no Diário de Notícias do dia seguinte, título e subtítulos tão efusivos quanto: “A maior obra pública até hoje realizada em Portugal - Sobre a estrada do passado o grande símbolo do futuro – Inaugurada a Ponte Salazar – A ponte nasceu estrela: Cem milhões de europeus viram pela televisão a maior e a mais bela ponte do velho continente”. No seu discurso, o Presidente da República, disse dar “graças a Deus”, no momento em que declarou “aberta ao tráfego e ao serviço da Nação a Ponte Salazar”. O jornal informava ainda que o evento tinha sido “uma autêntica reunião de Conselho de Ministros” e de Espanha chegou mensagem de felicitações de Franco para Américo Tomás pela inauguração da “grandiosa obra da ponte sobre o Tejo”. A reportagem sobre a travessia da ponte dizia que “em marcha lenta o cortejo presidencial atravessou a ponte ladeado por helicópteros e saudado pelo Tejo”, afirmação devida ao facto de “muitos navios e outras embarcações ancorados ou sulcando o Tejo” terem saudado, “com o silvo alegre e estridente das sereias, o cortejo”. Nas primeiras dez horas de tráfego na ponte, terão passado, para a “sua” inauguração, 50 mil carros, num total de 200 mil pessoas, números que, só na primeira hora, tinham levado a que se formasse “uma serpente monstruosa” de veículos para experimentar a sensação. Para a história ficou ainda o primeiro carro particular a entrar no tabuleiro da ponte no sentido de Lisboa-Almada: um Austin Seven, verde, com a matrícula DC-72-48. Em Lisboa, as sensações prolongaram-se por todo o dia – e reportava o jornal: “Lisboa deitou-se alta madrugada e levou nos olhos o reflexo das luminárias e a silhueta triunfal da Ponte Salazar”.
O custo da obra, em valores da época, rondou os dois milhões e duzentos mil contos. Em simultâneo, chegaram a estar a trabalhar na ponte 3000 operários. Há notícia de que quatro trabalhadores perderam as vidas nesta obra, que durou 45 meses. Depois do 25 de Abril de 1974, à ponte foi mudado o nome para “25 de Abril”.

Rostos (126)

"Physical Energy", de G - F Watts Om-Ra (1904) - Londres, jardins de Kensington

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Questões do dia

Telemóveis: Nem imaginava que fossem tantos! Espantei-me ao ouvir nas notícias da rádio que as três operadoras de telemóveis vão ter uma lista negra de clientes, confidencial, constituída por quem não paga e tem débito a partir de 450 euros. Para começar, a lista vai ter 200 mil nomes. Feitas as contas, são, pelo menos, 90 milhões de euros em débito, para já. Acontece com isto como sucede com a facilidade de crédito. Depois, quando a cabeça não tem juízo… além daqueles que são “experts” em saltar de uma operadora para outra deixando o débito atrás de si… Espantoso!
Justiça: Há dias, falava com um amigo, munícipe em Oeiras e apoiante de Isaltino de Morais. Que não sabia se ele era ou não culpado, mas que era um óptimo candidato porque tinha sido um excelente presidente! Percebo. Mas entendo também que, nesta história de Isaltino de Morais com a Justiça, alguém fica manchado: ou Isaltino ou a Justiça. E os Portugueses precisam de poder confiar mais nos seus candidatos a autarcas, bem como necessitam de poder acreditar mais na Justiça. Sem uma coisa ou sem outra ou sem as duas em simultâneo é que não pode ser!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Vaz Pinto face às eleições

«(…) Têm surgido, ultimamente, na comunicação social, grupos de pessoas individualizadas e com nome, desafiando os principais partidos a pronunciarem-se sobre grandes questões nacionais: maior ou menor intervenção do Estado na economia; critérios de investimento público; combate ao desemprego e à corrupção, etc., etc. Parece-nos um saudável sinal de vitalidade da sociedade civil esta capacidade de congregar vontades e este surgir de propostas diferentes.
Este, sem dúvida, é um dos principais critérios: o que pensa fazer o partido x e o candidato y que o representa, sobre as grandes questões: vida humana, desemprego, ambiente, educação, corrupção, justiça, integração de imigrantes e marginalizados, equilíbrio orçamental... Será isto suficiente? É claro que não: as pessoas que representam as várias propostas, na sua credibilidade pessoal, na sua ideologia e na sua capacidade de realização, são também de importância fundamental e têm de ser serenamente ponderadas.
Três últimas notas nos parecem ainda importantes: a primeira é a de não deixar que os partidos com assento parlamentar se tornem num clube privado, fechado e definitivo; a comunicação social, instituições e profissionais, não pode fechar-se à renovação às novas ideias, propostas e partidos.
A segunda nota é a necessidade de aprofundar a "liberdade interior": é certo que à direita, à esquerda e ao centro, há um conjunto significativo de "eleitores fixos", que votam sempre no mesmo partido, no "seu" partido; é compreensível e legítimo, mas o que faz mover a democracia é precisamente a atitude contrária: a daqueles que com seriedade vão oscilando, revendo e que mantêm e utilizam a sua capacidade de mudar, se honestamente acharem que o devem fazer...
A última nota, por fim, talvez a mais importante: é que o critério último que deve mover e levar a decidir, não pode ser o do meu interesse egoísta, o que mais me convém.., o critério último orientador só poder ser um: o do bem comum: que opção eleitoral me parece mais capaz de alcançar um maior bem comum?»
António Vaz Pinto. "Face às eleições". Brotéria (vol. 169, fasc. 1), Julho.2009.

Política caseira (44): Bloco de Esquerda contra um projecto em cada dia e a pensar na política social

Jornal de Setúbal: 03.Agosto.2009

Política caseira (43): Teresa Almeida em jantar, com a secção socialista da Câmara à margem

Jornal de Setúbal: 03.Agosto.2009

domingo, 2 de agosto de 2009

Agostinho da Silva e a antecipação da alunagem

No início dos anos 40 do século passado, Agostinho da Silva publicava, enquanto autor e editor, uns “Textos para a juventude”, fascículos de cultura e de coisas práticas, com o título mais vasto de À volta do Mundo. Foi em 1943 que deu à estampa o título Viagem à Lua, caderninho de 32 páginas (capa incluída), que iniciava assim: “É possível que venhas a ler um dia, se te não tomarem todo o tempo outras obras muito mais importantes, uma peça romântica, Cyrano de Bergerac, da autoria de um escritor francês, chamado Rostand.”
A primeira observação ressalta deste tratamento de proximidade usado, mais sugerindo uma conversa com o leitor, usando um “tu” que vai atravessar todo o livrinho, como a chamar a atenção do seu interlocutor, uma medida também pedagógica, em que o mestre se aproxima do discípulo, ora reconhecendo os seus conhecimentos, ora aconselhando, ora opinando. Nesta prática, estes fascículos são exemplares, quase levando o leitor, suposto jovem, a servir-se do texto como se um guia fosse.
A segunda observação vem a propósito do texto de Bergerac. O que Agostinho da Silva pretendia não era falar da obra de Rostand, mas explicar que o protagonista da obra era decalcado de uma figura do século XVII, que escreveu sobre uma viagem à lua (Les états et empires de la lune, 1649), considerada “bem curiosa”, sobretudo pelo engenho posto nas formas possíveis de lá chegar – “a do frasco de orvalho, a dos foguetes, a da caixa de fumo e a do íman”, afinal métodos que esqueceram a questão “do ar respirável” e que denotavam a pouca cientificidade das possibilidades admitidas pelo autor seiscentista.
Mas, neste texto de Agostinho da Silva, Cyrano funciona apenas como pretexto para falar das possibilidades de ida até à Lua, visíveis na literatura, sendo o autor seguinte Jules Verne, do século XIX, graças às suas duas obras Da terra à Lua (1865) e À roda da Lua (1869), títulos que são resumidos para o leitor e que o levam à conclusão possível: as personagens não puderam alunar, devido ao encontro com um asteróide. O autor seguinte é H. G. Wells, com apresentação sumária de algumas das suas obras e particular demora no título Os primeiros homens na Lua (1901), cujas personagens, Cavor e Bedford, conseguiram alunar, divertindo-se a saltar, mas desencontrando-se na sua aventura.
Depois deste curto trajecto pela visão apresentada pela literatura de ficção quanto a uma chegada à Lua, Agostinho da Silva questiona o seu (jovem) leitor: “E será realmente possível ir à Lua?”. De imediato, lhe dá a resposta: “Claro que é possível e não será absurdo afirmar-se que é mesmo tão fácil como ir a qualquer outra parte: tudo consiste no meio de transporte”. E quais são as condições? Poder percorrer a distância, de acordo com as várias camadas de ar que vai encontrando (passagem que serve para explicar o porquê de esta viagem não se poder efectuar em balão ou em aeroplano, mas admitindo que o foguete poderia dar uma ajuda). Outras condições são a conjugação dos movimentos e a protecção do homem que arrisque a viagem. Em conclusão: “Se escaparem da viagem e do bombardeamento [de asteróides], se levarem aparelhos respiratórios e fatos de aquecimento ou de resfriamento, para a noite ou para o dia, poderão os exploradores visitar a Lua e percorrer-lhe todos os acidentes de terreno, trazendo-nos muitas noções científicas novas”.
E o texto de Agostinho da Silva termina com um sonho – o que poderia o homem contemplar a partir da Lua? “O que ainda despertaria maior interesse seria a descrição das paisagens da Lua e dos aspectos do Céu: os homens que lá fossem poderiam (…) ver surgir e pôr-se o sol sempre rodeado de chamas e numa lenta carreira pelo firmamento; e poderiam à noite contemplar o que deve ser o mais extraordinário dos espectáculos: a Terra em fases, como nós vemos a Lua”. E vem a chamada de atenção ao (jovem) leitor: “Calcula o que será ver-se a Terra, quando o hemisfério visível estiver todo iluminado, quando for Terra cheia, quatro vezes maior do que a Lua que nós vemos e lançando uma luz 14 vezes maia intensa que o luar.”
O sonho estava exposto, alimentando a esperança de que se chegaria a pisar solo lunar. Isto foi escrito em 1943. Teriam de passar 26 anos para o sonho ser concretizado. O que é importante é que, no início dos anos 40, Agostinho da Silva era um espírito aberto a essa possibilidade e divulgava ao público juvenil o sonho que o alimentava (e que alimentava a Humanidade também). Agora, que passam 40 anos sobre a chegada do Homem à Lua, torna-se interessante lembrar este texto de Agostinho da Silva…

sábado, 1 de agosto de 2009

Ler Ryszard Kapuscinski, em "O Outro"

O Outro (Porto: Campo das Letras, 2009), de Ryszard Kapuscinski (1932-2007), reúne um conjunto de seis conferências (cinco datadas de 2004 e uma de 1990) sobre isso mesmo: o Outro, nas imagens e relações que mantemos com ele e na forma como pelo Outro somos definidos ou nos ajudamos a identificar.
No saber que partilha com o leitor, Kapuscinski usa uma linguagem simples e acessível, transparente, forjada na prática da escrita jornalística, na reportagem. A primeira prova do respeito pelo Outro dá-a ele próprio quase no início do texto da primeira conferência (na ordem de publicação, que não na cronológica, uma vez que a ordem por que surgem os textos não segue a linha do tempo em que foram apresentados) ao escrever sobre a autoria do género jornalístico que lhe era mais caro: “Cada reportagem tem vários autores e só um costume mais generalizado determina que assinemos o texto com um só nome. Na realidade, é provavelmente o género literário de escrita mais colectivo, criado por dezenas de pessoas, nossas interlocutoras, encontradas pelos caminhos do mundo, que nos contam histórias da sua vida, da sua comunidade, de acontecimentos que presenciaram ou ouviram falar a outros. Esses Outros, muitas vezes pessoas desconhecidas, não só são para nós uma das fontes mais ricas de conhecimento do mundo, como também nos facilitam o trabalho de várias maneiras, viabilizando contactos, hospedando-nos nas suas casas, ou mesmo salvando-nos a vida.”
O princípio de que Kapuscinski parte para reflectir sobre o Outro é o de um olhar para uma pessoa que se define por duas marcas – o ser humano, “como qualquer um de nós”, e o ser influenciado por características culturais, raciais e de pensamento. Se este princípio é verdadeiro, também não é menos verdade que ele nem sempre foi praticado e a história da forma como os Europeus têm olhado o Outro ao longo dos tempos, por exemplo, prova isso, porque nem sempre esse olhar envolveu a tentativa de compreensão do Outro.
Os textos de Kapuscinski ajudam a reflectir sobre questões fortes de hoje, como as migrações, o “narcisismo das culturas”, a multiculturalidade, a hibridação, a identidade, os nacionalismos, as ideologias, a ética, o diálogo. Pelo caminho, vão sendo chamadas pistas da cultura clássica, da literatura, da antropologia, da filosofia (não esquecendo as contribuições de Lévinas e de Tischner) e da experiência do autor.
As reflexões apresentadas deixam-nos perante alguns dos paradoxos em que vivemos, qual seja o da “aldeia global” como sinal de afastamento e de indiferença ou da “globalização” como sintoma de superficialidade – “a essência de uma aldeia está na proximidade; todos se conhecem, convivem e partilham da mesma sorte. Contudo, isto não se aplica à sociedade do nosso planeta, que se assemelha mais a uma multidão anónima nalgum grande aeroporto – uma multidão de pessoas a correr, indiferentes e desconhecidas.”
Na última conferência que integra o livro, datada do início de Outubro de 2004 e proferida em Cracóvia, significativamente intitulada “O encontro com o Outro como desafio do século XXI”, há reflexões que podem apontar para uma solução: perante um mundo que, “potencialmente, dá muito” (mas onde “escolher um percurso com atalhos não leva a parte nenhuma”), é necessário que todos “dêem provas de que se tratam a si mesmos a sério”, situação que passa por aquela que foi uma das aprendizagens de Kapuscinski – “a experiência de viver durante anos entre longínquos Outros ensinou-me que só a afabilidade com a outra parte permite despertar nela o sentido da humanidade”. Afinal, a força do diálogo como motor para um olhar diferente sobre o Outro e sobre o Eu, sobre Nós. Uma utopia, talvez. Nada fácil, mas urgente.
Passos que ficam
1. "O mundo, para mim, sempre foi uma grande Torre de Babel. Mas uma torre onde Deus misturou não só línguas, mas também culturas, costumes, paixões e interesses, e onde criou, como habitante, um ser ambivalente que une em si um eu e um não-eu, ele próprio e o Outro, o seu Outro e o estranho.”
2. "A multidão é protagonista única do teatro do mundo, caracterizando-se pelo anonimato, a impersonalidade, a falta de identidade e a ausência de rosto.”
3. "O homem sempre usufruiu de três possibilidades (…) e, quando se encontrava com o Outro, podia: optar pela guerra, separar-se erguendo um muro, ou estimular o diálogo.”
4. "Faz-nos falta um elo importante; o elo que falta é o indivíduo, retirado da multidão, um homem concreto, um Eu concreto e um Outro concreto, porque, de acordo, com o pensamento dos filósofos do diálogo, o Eu só pode existir como um ser determinado em relação ao Outro, quando este surgir no horizonte da minha existência, atribuindo-me sentido e estabelecendo o meu papel.”