sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Hoje, no "Correio de Setúbal"

Diário da Auto-Estima – 95
Carnaval – Os festejos carnavalescos deste ano tiveram animações inusitadas, que conseguiram ser uma paródia ao Carnaval ele mesmo: a primeira foi em Torres Vedras, com a proibição de um quadro satírico alusivo ao “Magalhães” em que apareciam sugeridas figuras femininas desnudadas, um pouco à semelhança das janelas que se abrem na busca na net; a segunda foi em Braga, com a apreensão de livros, numa feira de saldos, em cujas capas constava a reprodução do (ainda agora, pelos vistos) polémico quadro L’Origine du Monde, de Courbet, peça de 1866. Uma e outra interdições surgiram em nome da luta contra a pornografia. Momentos depois de uma e outra acontecerem, as decisões voltaram atrás – em Torres Vedras, o “Magalhães” pôde desfilar mostrando as ditas senhoras; em Braga, os livros foram devolvidos aos seus proprietários. Há duas questões que saltam à vista: a primeira relaciona-se com a liberdade de expressão; a segunda, com a vulnerabilidade de actos do género e com a fragilidade das decisões. O sentido de humor português anda pelas ruas da amargura, parece. Mas não faltam candidatos à caricatura. Houve consequências destes dois actos: ao que consta, o Carnaval de Torres teve muito curioso para ver a origem da proibição depois desfeita; o quadro de Courbet foi reproduzido a esmo, sem cintas censórias.
Futebol – Depois de ver algumas cenas em torno do mundo do futebol, tenho que citar Romeu Correia, o autor almadense que, em 1955, abriu o seu livro Desporto Rei com a seguinte afirmação: “Em desporto, o desenvolvimento físico dos indivíduos importa acima de tudo. Mas, se ao aperfeiçoamento do corpo se alia o domínio dos nervos, a decisão e o espírito de equipa, que se forjam na harmonia e no ritmo dos jogos, o Homem atinge o seu apogeu físico e espiritual.” Isto é bonito. Mas também deve servir para as claques e para o público em geral. A propósito: nesse romance de Romeu Correia, perpassa muito do que é hoje o mundo do futebol. Pena não haver edição recente!
Joaquina Soares – Um livro de poemas com a chancela do Centro de Estudos Bocageanos, Corpo de Palavras. Apresentado em Setúbal na noite desta última sexta-feira de Fevereiro. Um pequeno poema intitulado “Milagre com rosas”: “Defronte da ponte de aço, / Isabel / retirou / pão do regaço. / - Flores? / - Não, meu senhor, / panos de linho, / para sarar cansaços.” A ler.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

"O professor, esse avaliado"

Marília Nascimento. "O professor, esse avaliado". O Setubalense: 25.Fev.2009.
[clicar sobre os recortes para ler]

Ainda a história dos livros em Braga, à mistura com uma tela de Courbet

Eis a capa do livro da magna questão que em Braga se levantou neste Carnaval. Trata-se de Pornocracia, de Catherine Breillat (Lisboa: Teorema, 2003). Entretanto, os exemplares apreendidos vão ser devolvidos e já houve quem reconhecesse o erro motivado pelo zelo. E, na edição do Público de hoje, Rogério Alves, ex-bastonário da Ordem dos Advogados, diz que, quando confrontada com queixas de cidadãos, a PSP “deveria limitar-se a advertir os mais sensíveis que, na ausência de uma norma expressa a proibir a exibição deste tipo de imagens, teriam de se conformar e não se aproximar”. E acrescenta: “a exposição do nu artístico não é ilegal e não pode ser reprimida”. Por seu turno, o deputado António Filipe comentou: "Onde é que já se viu? A PSP apreender livros, porque alguém não gostou da capa? Parece que a PSP presume que é um ilícito. Para além do ridículo que representa do ponto de vista cultural, porque se trata de um quadro mundialmente célebre, há aqui um problema grave de liberdades em que há uma actuação da PSP, que é fiadora de direitos fundamentais".
E por aqui andamos a discutir uma atitude pressurosa em torno de cinco exemplares de um livro que foram apreendidos na Bracara Augusta!... Mesmo que tivesse sido apenas um exemplar, a questão devia ser discutida. Mas manda o bom senso que nem por um exemplar o caso devia ter acontecido!...
Pobre Courbet! Pobre arte! Pobre espírito! Afinal, a saga dos livros proibidos continua. Preocupante é que aconteça hoje!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Imagem de Courbet leva à apreensão de livros

A agência LUSA noticiou e a edição online do Público reproduziu: “PSP apreende livros por considerar pornográfica capa com quadro de Courbet”. A história: numa feira de livros de saldo, em Braga, um livro sobre pintura reproduz na capa o quadro “L’origine du monde” (1866), de Courbet (1819-1877); a PSP vê e apreende alguns exemplares; segundo o livreiro, no auto terá constado que os livros continham “imagens pornográficas expostas publicamente”.
Muito pudico anda o país: há dias, foi uma história semelhante ligada ao Carnaval de Torres Vedras; hoje, foi a capa de um livro. Recordo-me de, há uns anos, na montra de uma livraria de Setúbal, ter estado o livro O amor é fodido (Lisboa: Assírio & Alvim, 1994), de Miguel Esteves Cardoso, com o título cuidadosamente escondido por um papel que anunciava tratar-se de um título eventualmente chocante… algo que já não se via desde as tarjas que rotulavam os filmes como contendo “cenas eventualmente chocantes”!...
Chocado fiquei eu com a atitude censória na altura. Mas, agora, não sei se chega a ser choque: é estranho, muito estranho, todo este pudor, todo este excesso de pudor. Quem ficou verdadeiramente incomodado com as imagens?
Provavelmente, o modelo de Courbet deveria ser vestido com as “EU panties” como Tanja Ostojic apresentou no poster de 2005!... Só que aí já não seria uma história da pintura o pretexto, mas uma história das políticas… e, na altura, como se sabe, também a censura agiu.
[foto: "Musée d'Orsay - l'Origine du monde - Courbet", a partir de www.reymond.com]

Francisco Queirós, director de escola, entre as dúvidas e as esperanças

No Público de hoje, duas páginas são dedicadas ao novo modelo de gestão das escolas públicas, assente na figura do director, numa gestão unipessoal. As duas páginas lêem-se e percebe-se que nem tudo vai bem - há escolas em que o processo tendente à condução para o novo modelo está parado, há sítios em que surgem discordâncias entre as autarquias e o Ministério da Educação, há alheamentos, há esperanças, há reservas. Francisco Queirós é, desde meados de Janeiro, o director da Escola Secundária de Paredes e, como tal, foi entrevistado pelo jornal, que, depois de contar a história da sua candidatura, lhe deu a palavra para falar das dúvidas e das esperanças no modelo. Tudo dependerá, afinal, das pessoas. E daquilo que elas queiram fazer no lugar ou pela comunidade ou pela escola. Se essa é uma promessa, é também um risco. Fica, pois, a explicação de Francisco Queirós.
«(...) Questionado sobre se a criação da figura do director não ameaça precisamente beliscar a democraticidade nas escolas, Francisco Queirós responde que depende. "Se é possível que o director de uma escola se transforme num pequeno ditador, é. Se vai haver politização, em muitos casos vai. Mas também vai haver exemplos bons e temos que acreditar que são estes que vão fazer a diferença, porque a alternativa é continuarmos a ter um poder central que, a partir de Lisboa, decide o que é que as pessoas numa aldeia de Trás-os-Montes vão poder fazer."
Nesse sentido, este responsável diz que o novo regime de autonomia, administração e gestão das escolas - que, além da figura do director, cria os Conselhos Gerais, onde professores, autarquias, pais e representantes locais são chamados a pronunciar-se sobre a escola - se aproxima "vagamente desta ideia de comunidade educativa local". Para que tal aconteça, porém, seria preciso que o Estado abdicasse de algum do seu poder.
"O Estado não pode tomar conta de tudo", acusa, considerando que "as escolas estão reféns da legislação que diariamente é lançada" para regulamentar desde os planos de estudos ao mobiliário das bibliotecas.
Do mesmo modo, Francisco Queirós critica a regulação ao minuto do tempo dos professores. "O Governo olha para os professores como funcionários e, pior do que isso, como funcionários de quem se desconfia." Um sintoma disso é a obrigatoriedade de os professores explicarem os critérios de avaliação, mesmo a alunos com sete anos de idade. "A imagem que passa é que eles podem fiscalizar as decisões dos professores. E isso abala a relação de respeito que tem que haver." Apesar disso, continua a acreditar. Sustentado na sua ideia de escola. E porque acredita que o movimento de Conselhos Executivos que começou em Santarém vai conseguir alterar o modo de funcionamento das escolas. "Há uma má imagem dos Conselhos Executivos porque as pessoas decentes que estão nestes órgãos compõem uma maioria silenciosa que está agora a começar a falar. Aliás, ficou claro nos encontros que existe uma vontade grande de agregar os Conselhos Executivos numa associação nacional de escolas, à semelhança do que acontece com os municípios. No quadro legislativo actual, o meu espaço de manobra é reduzido, mas eu estou convencido de que esta associação nacional pode dar o mote para alterar este estado de coisas", confia.
(...)»

O Carnaval de Torres Vedras, o "Magalhães", a anedota e Miguel Gaspar

«(...) Surpreende que uma magistrada dê uma ordem com urgência para a remoção de algo que não chegara sequer a ver, apesar de a "obra" estar exposta na via pública há duas semanas. Surpreende também que horas depois a mesma magistrada diga daquilo que mandara tirar que afinal de contas podia ficar. Surpreende ainda que não se tenha sabido com base em que lei foi mandado substituir o falso ecrã do Magalhães. E surpreende pelo caminho que o procurador-geral Pinto Monteiro, instado a pronunciar-se sobre a magna questão do Entrudo de Torres, tenha dito que a imagem final montada no "computador" era diferente da que fora mandada retirar.
Que grande trapalhada! E tudo por causa do que parece ser uma precipitação de uma magistrada por conta de uma vulgar brincadeira de Carnaval. Quando o autarca socialista de Torres Vedras saudou a magistrada e o queixoso pela publicidade que tinham dado ao Carnaval, estava escrito um final feliz, à altura desta história sem pés nem cabeça. É que ficou provado, pela primeira vez, que um Carnaval português até pode ter graça. Basta que em vez de tentar ridicularizar os outros, o Carnaval passe a ser ele próprio ridículo. É uma das lições de toda esta insólita e absurda história.
Há todo um Portugal de anedota que se revela aqui. Da juíza que remove com urgência e sem ver o que estava exposto há 15 dias, à autoglorificação dos promotores do corso, promovidos em importância pelo gesto censório, acabando na restauração em festa das moças no Magalhães, após uma curta tarde fascista, ficou demonstrado como a piada do Carnaval era o próprio Carnaval.
E no meio deste barulho todo, ninguém explicou o essencial, ou seja, como é que tudo isto foi possível. Não é que seja muito importante. Mas eu fiquei sem perceber e gostava de saber com base em quê, afinal de contas, um tribunal pode mandar retirar uma paródia de Carnaval. É que isso, dando de barato o ridículo do episódio, não tem graça. Mesmo no Carnaval.»
Miguel Gaspar. "O Magalhães, censurado". Público: 23.Fevereiro.2009

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Memória: Lagoa Henriques (1923-2009)

"O segredo", obra de 1972, de Lagoa Henriques, em Lisboa, no Jardim Amália Rodrigues

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Política caseira (4) - Fernando Negrão não se candidata pelo PSD a Setúbal

O Setubalense: 20.Fevereiro.2009

Marcelo Rebelo de Sousa explica aos jovens o conflito na educação

Três jovens, leitores da Forum Estudante em idade de ensino secundário, entrevistaram Marcelo Rebelo de Sousa, trabalho que teve publicação na revista de Fevereiro. A conversa abordou temas como a juventude, o estudo, a política, as Associações de Estudantes, os professores e também facetas do entrevistado. No final, os jovens entrevistadores testemunharam sobre o seu interlocutor nos seus dotes de comunicação, humor e clareza, vertentes que alunos da minha escola puderam testemunhar há cerca de um ano, quando Marcelo Rebelo de Sousa aqui esteve para falar da Europa, numa sessão que acabou por ser também sobre a vida, sobre a política, sobre o futuro, com muita pedagogia, ensinamentos e recomendações para o público. E os jovens estudantes da minha escola, população do ensino secundário, encantaram-se também com o discurso e com as recomendações feitas.
A revista está por aí disponível. A entrevista apela à responsabilidade social que os jovens também têm. E, como não podia deixar de ser, a educação foi também tema, mesmo pela origem dos entrevistadores... Quando Maria da Cunha, estudante do 12º ano do Colégio São João de Brito, perguntou qual a avaliação do papel da Ministra da Educação relativamente aos professores e aos alunos, a resposta de Marcelo Rebelo de Sousa foi: «O caso da Ministra da Educação foi um pouco surpreendente. Era uma pessoa desconhecida, não vinha do universo político, portanto uma pessoa com competência técnica interessada em resolver problemas urgentes do ensino em Portugal. A Ministra prometeu muito, avançou com algumas boas ideias. O pior é que ao lado dessas boas ideias se instalou, desde o início, uma ideia muito errada de tentar conquistar a opinião pública à custa do ataque aos professores, o que é uma coisa muito sedutora, mas muito perigosa. As pessoas aderiram, porque andavam sempre à procura de um bode expiatório e o 'bode expiatório' dos professores foi boa ideia, porque não podiam ser os pais (apesar de, em muitos casos, cada vez menos ligarem aos filhos), nem podiam ser os alunos (apesar de, nalguns casos, eles estudarem cada vez menos). A ideia de serem os professores repetida à saciedade, dramatizada e exagerada com manifesta injustiça teve várias consequências, sendo a primeira delas afastar os professores, colocando-os praticamente desde o início contra a Ministra. Os próprios pais começaram a cair em si e a achar a explicação de que a culpa era dos professores uma explicação muito simplista e que às tantas deixou de justificar tudo o que se faz e o que se deixa de fazer. O que é facto é que os alunos também se sentiram muito desmotivados pelo clima de guerrilha que se instalou nas escolas, porque a partir de certa altura o confronto não foi apenas com os professores, foi com os alunos e com uma parte dos encarregados de educação.»
Estas consequências de que fala Marcelo Rebelo de Sousa não passaram ainda, como se sabe. E teria sido importante, desde sempre, um pensamento como o que, hoje, a propósito de negociações com os enfermeiros e com os médicos, a Ministra da Saúde expressou: é que o ambiente de guerrilha não é bom para o exercício de uma profissão. Nem para o progresso do país, claro.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Saúde na escola?

Helena Matos, no artigo "Lista de assuntos a discutir com paixão" saído no Público de hoje, sugere quatro temas para discussão, habituados que andamos a acaloradas discussões, apesar do frio, sobre assuntos da maior importância, correndo mesmo o risco de cairmos no rol dos "obscuros" se nesta discussão não participarmos... Humor, eu sei, que brinca com esta herança dualista de termos que ser uma coisa ou outra, isto é... progressistas ou reaccionários! Onde e há quanto tempo a gente já ouviu isto?
Que podemos então discutir, discutir, discutir? Segundo Helena Matos, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, os direitos dos animais, a educação sexual nas escolas e a eutanásia. Tudo, tudinho, temas de suma importância para uma visão pessoal da vida, já sabemos.
Vou deixar três deles para essa discussão a vir ou que já vai andando por aí. Vou chamar para aqui, transcrevendo, aquilo que Helena Matos diz sobre a educação sexual nas escolas, uma coisa que deveria passar por cuidados mais evidentes na área da saúde, por exemplo, na educação para a saúde, com técnicos nas escolas para resposta. Recordo-me de, numa das escolas em que estudei e onde fiz o meu ensino secundário, haver o gabinete médico e de, de vez em quando, haver lá um técnico, provavelmente médico (não lembro bem), para responder ou aconselhar; recordo-me também de uma escola inaugurada há poucos anos, construída de raiz segundo um projecto que contemplava um gabinete médico, cujo Presidente da Comissão Instaladora da altura se teve que impor por ter recebido indicações no sentido de ocupar aquele gabinete para um outro fim, algo parecido com espaço de arrumações... A questão é que a saúde na escola - chamem-lhe educação para a saúde ou saúde escolar ou outra coisa qualquer - não tem sido muito contemplada, apesar de todos os problemas que esta civilização, por que também somos responsáveis, tem criado à saúde.
Vem isto a propósito do comentário de Helena Matos sobre educação sexual nas escolas, que faz todo o sentido e que, por essa razão, aqui reproduzo.
«(...) Os professores efectivos reformam-se em catadupa; começam-se reformas curriculares como a da Língua Portuguesa que ninguém sabe em quê e onde pára; a violência banalizou-se e chama-se agora a polícia para impor a crianças aquele mínimo de ordem que os professores e funcionários já não conseguem, não podem e também desistiram de tentar que exista nos estabelecimentos escolares; as alterações ao estatuto dos professores levaram a uma situação de bloqueio... mas nós, portugueses, se esta lista-propaganda funcionar, vamos discutir nos próximos meses, graças aos bons ofícios da JS, algo de tão importante e crucial quanto a educação sexual nas escolas. E como o que tem de ser tem muita força e a propaganda ainda mais força tem, será importante começarmos por perceber o que se entende por educação sexual nas escolas. Até agora tem vigorado nesta área uma perspectiva muito "Ciências da Natureza/funcionamento do corpo humano" que não satisfaz a JS e sobretudo aqueles que, através desta temática, pretendem fazer proselitismo ideológico nas escolas, tanto mais que se prevê que estes conteúdos passem a ser ministrados por membros de organizações não-governamentais que certamente da Opus Dei à Maçonaria se farão representar. Como é óbvio, não cabe no espírito libertador da JS que os cidadãos tenham outras opiniões sobre aquilo que realmente precisam na escola. Por exemplo, que achem que a Educação Sexual é um dos vários assuntos que os alunos poderiam ver abordados de forma muito mais eficaz por técnicos nos infelizmente desactivados gabinetes médicos das escolas. A população adolescente, que já não vai ao pediatra e ainda não vai ao médico de família, acaba por ter pouco acompanhamento clínico. Seria excelente integrar na rotina das escolas gabinetes com técnicos de saúde - e não activistas de ONG regra geral tão activos quanto incultos - onde os alunos, além de informações sobre planeamento familiar, doenças sexualmente transmissíveis e outras questões da sexualidade, pudessem também ser acompanhados de modo a detectarem-se distúrbios alimentares, problemas de crescimento, má audição ou os casos de abusos e maus tratos. Claro que nada disto em termos de propaganda rende o material telegénico de um Dia da Educação Sexual por período, como propõe a JS, mas como são os contribuintes que vão pagar tanto activismo, terá a JS de aceitar que alguns de nós tenhamos dificuldades em passar cheques em branco. (...)»

Máximas em mínimas (43)

Moderno
"Todos nós transportamos cruzes modernas, suportamos o insuportável num corpo destinado ao comércio, num corpo que já não nos pertence. Tudo o que não tem marca não existe. Os jovens empenham o cérebro e a alma num pequeno crocodilo verde, em três faixas pretas, numa vírgula horizontal: fora disso, não existem. Lacoste, Adidas e Nike tornaram-se a trindade de uma religião oca, cada dia mais cheia de santos, e que condena os homens a mascarar-se de hamburguer para ganhar a vida. Ganhar a vida, mas que vida?"
Philippe Claudel. Desisto. Porto: Edições ASA, 2009 (ed. orig.: J'abandonne, 2006)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Rostos (110)

Rostos de trabalho - painel cerâmico de Júlio Santos (1956), no edifício do INATEL, em Setúbal

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

António Lobo Antunes - anunciar o fim em vésperas de livro novo?

João Céu e Silva publica no Diário de Notícias de hoje o que ficou de uma entrevista com António Lobo Antunes. Dois destaques: o próximo livro e o fim anunciado (?) da publicação.
Quanto ao próximo título, Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no Mar?, o tom de Lobo Antunes deixa o desafio: "É um livro óptimo para dar um trabalhão à crítica. Eu queria fazer um romance à maneira clássica, que destruísse todos os romances feitos desse modo." Quanto ao futuro da obra… alguns excertos:
ACABAR - «(…) Vou publicar este livro que acabei agora e escrever um último livro para arredondar a obra. Essa é a minha ideia. Depois, nessa altura, quando sair esse livro que arredonda, que eu penso que me levará dois anos de trabalho - se conseguisse começá-lo este ano -, acabam os romances, acabam as crónicas, acaba tudo e não publico mais nada. A minha voz falada ou escrita já não se ouvirá mais. (…)»
APANHAR - «(…) Eu fui apanhado por toda esta engrenagem editorial, de agentes, disto tudo que era um mundo inimaginável quando o meu primeiro livro saiu. Não conhecia ninguém, nada, nem um único escritor e a maior parte dos meus amigos - os meus camaradas na guerra - nem sequer sabiam que eu escrevia. (…)»
ESCREVER - «(…) Eu escrevo porque se não escrever a minha vida fica sem nexo e sentido. Parece que me construí a mim mesmo para isto. Não era para publicar, era para escrever e fui apanhado por uma engrenagem. (…)»
CALAR - «(…) Há já muito tempo que penso em voltar a calar-me e fazer como na adolescência: escrevia as coisas, corrigia, corrigia e depois destruía. Depois fazia outro, corrigia e destruía… E andei nisto anos. (…)»

domingo, 15 de fevereiro de 2009

OUTROS DIZERES - Daniel Sampaio e a escola a tempo inteiro

Contra a escola-armazém
«Merece toda a atenção a proposta de escola a tempo inteiro (das 7h30 às 19h30?), formulada pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). Percebe-se o ponto de vista dos proponentes: como ambos os progenitores trabalham o dia inteiro, será melhor deixar as crianças na escola do que sozinhas em casa ou sem controlo na rua, porque a escola ainda é um território com relativa segurança. Compreende-se também a dificuldade de muitos pais em assegurarem um transporte dos filhos a horas convenientes, sobretudo nas zonas urbanas: com o trânsito caótico e o patrão a pressionar para que não saiam cedo, será melhor trabalhar um pouco mais e ir buscar os filhos mais tarde. (...)
Não estaremos a remediar à pressa um mal-estar civilizacional, pedindo aos professores (mais uma vez...) que substituam a família? Se os pais têm maus horários, não deveriam reivindicar melhores condições de trabalho, que passassem, por exemplo, pelo encurtamento da hora do almoço, de modo a poderem chegar mais cedo, a tempo de estar com os filhos? Não deveria ser esse um projecto de luta das associações de pais?
Importa também reflectir sobre as funções da escola. Temos na cabeça um modelo escolar muito virado para a transmissão concreta de conhecimentos, mas a escola actual é uma segunda casa e os professores, na sua grande maioria, não fazem só a instrução dos alunos, são agentes decisivos para o seu bem-estar: perante a indisponibilidade de muitos pais e face a famílias sem coesão onde não é rara a doença mental, são os promotores (tantas vezes únicos!) das regras de relacionamento interpessoal e dos valores éticos fundamentais para a sobrevivência dos mais novos. Perante o caos ou o vazio de muitas casas, os docentes, tantas vezes sem condições e submersos pela burocracia ministerial, acabam por conseguir guiar os estudantes na compreensão do mundo. A escola já não é, portanto, apenas um local onde se dá instrução, é um território crucial para a socialização e educação (no sentido amplo) dos nossos jovens. Daqui decorre que, como já se pediu muito à escola e aos professores, não se pode pedir mais: é tempo de reflectirmos sobre o que de facto lá se passa, em vez de ampliarmos as funções dos estabelecimentos de ensino, numa direcção desconhecida. Por isso entendo que a proposta de alargar o tempo passado na escola não está no caminho certo, porque arriscamos transformá-la num armazém de crianças, com os pais a pensar cada vez mais na sua vida profissional.
A nível da família, constato muitas vezes uma diminuição do prazer dos adultos no convívio com as crianças: vejo pais exaustos, desejosos de que os filhos se deitem depressa, ou pelo menos com esperança de que as diversas amas electrónicas os mantenham em sossego durante muito tempo.
Também aqui se impõe uma reflexão sobre o significado actual da vida em família: para mim, ensinado pela Psicologia e Psiquiatria de que é fundamental a vinculação de uma criança a um adulto seguro e disponível, não faz sentido aceitar que esse desígnio possa alguma vez ser bem substituído por uma instituição como a escola, por melhor que ela seja. Gostaria, pois, que os pais se unissem para reivindicar mais tempo junto dos filhos depois do seu nascimento, que fizessem pressão nas autarquias para a organização de uma rede eficiente de transportes escolares, ou que sensibilizassem o mundo empresarial para horários com a necessária rentabilidade, mas mais compatíveis com a educação dos filhos e com a vida em família.
Aos professores, depois de um ano de grande desgaste emocional, conviria que não aceitassem mais esta "proletarização" do seu desempenho: é que passar filmes para os meninos depois de tantas aulas dadas - como foi sugerido pelos autores da proposta que agora comento - não parece muito gratificante e contribuirá, mais uma vez, para a sua sobrecarga e para a desresponsabilização dos pais.»
Daniel Sampaio. "Contra a escola-armazém". Público ("Pública"): 15.Fev.2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009

No "Correio de Setúbal", ontem

Diário da Auto-Estima – 94
Onde está? – Desde o início do ano que ando à procura do Correio de Setúbal. É sabido: teve a interrupção natalícia e retomou a saída com novo formato e distribuição gratuita. E onde está? Dizem-me que no sítio tal e também no sítio xis. Mas um e outro são distantes. Mas não está onde sempre esteve – na loja onde me dirijo há anos para comprar jornais ou revistas e onde adquiria o Correio de Setúbal. Questão de hábitos, eu sei. Mas tenho que os mudar? Entretanto, vou ouvindo lamentos de outros leitores com vícios semelhantes… Espero, pois, que o jornal regresse aos sítios habituais. Por compromisso com os leitores, independentemente de ser pago ou de ser oferecido.
Escola – Triste, cada vez mais triste, vai sendo o ambiente dentro das escolas. Onde havia relações profissionais com considerável dose de familiaridade e de partilha há agora afastamentos e individualismos. Foi isto que se produziu. Até ao momento, ainda não vi que da transformação adviessem melhorias para o sistema educativo ou, para ser mais claro, para os alunos. A responsabilidade não pode ser apenas do neo-liberalismo, que ninguém conhece. Nem da crise, que veio depois. Nem da globalização, que é boa ou má consoante o que queiramos.
Política – Cada vez mais discutida na praça pública. Desinteressante. Com muita gente a dizer que não vai participar nos actos eleitorais. Também triste. E duas notas: as promessas governamentais à classe média (fantástico, não é?) e Ramalho Eanes a chamar a atenção para o facto de as campanhas eleitorais terem de deixar a folclorice. E uma outra: localmente reproduz-se, com frequência, o modelo nacional. Não porque seja bom, mas pelo folclore.
Palavras – “Hoje em dia, toda a gente evita chamar as coisas pelos nomes: um cego é um invisual, um animador de televisão um artista, os mortos em breve serão não-vivos.” (Philippe Claudel, Desisto, 2006, em tradução portuguesa de 2009). Poderíamos acrescentar a expressão “politicamente correcto”, que serve para impedir o murro que por vezes apetece dar na mesa.
Adenda: Já depois de escrita a crónica, fui informado de que poderia ler o Correio de Setúbal, assim como os outros títulos do grupo (Sem Mais Jornal e Jornal Concelho de Palmela), na net, em pdf. Basta clicar para aqui.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Rostos (109)

Charles Darwin, em Coimbra (Universidade)

Charles Darwin
200 anos
(12.Fev.1809 - 12.Fev.2009)

Exemplar da 1ª ed. de On the origin of species (Nov.1859)
[fotos: lusodinos.blogspot.com e http://www.rinr.fsu.edu/]

As histórias de Caidé, o cão que António Torrado contou

Chama-se Caidé e relata as suas memórias. É o herói de Caidé – Aventuras de um cão de sala contadas pelo próprio, obra de António Torrado que teve segunda edição em 1998 (Porto: Livraria Civilização Editora), quando passavam 15 anos sobre a sua primeira apresentação, com ilustrações de Manuel Mouta Faria.
A história, contada na primeira pessoa, leva o leitor a assistir às aventuras que Caidé lembra com prazer – “o mistério da mala desaparecida”, “o naufrágio do veleiro”, “à beira da glória”, “rei dos animais” e “cão prodigioso e o menino prodígio”, todas desenvolvidas em torno da personagem que as recorda, ora com humor, ora jogando com palavras, ora mostrando o mundo segundo um ponto de vista distante do dos humanos. “O meu livro é um registo de confidências (aliás, cão fidências). Tenho de ser sincero até ao fim, nem que pelo meio me custe um bocado.” Tal é a intenção inicial do narrador, mantendo-se fiel a uma pretensa escrita memorialística…
É um cão que vive com os seus donos. Domesticado. Que sabe viver na cidade, mas, no campo, a correr à descoberta da toca de um coelho, fica a olhar o perseguido, deixando-o ir embora por ter pena da história que lhe é contada… Conhece os jardins da cidade, participa em concursos de canídeos, põe-se ao serviço das crianças enquanto resgata brinquedos e posa para um retrato. Percebe os homens, mas age com as regras e as medidas do mundo dos cães – “A quinta do Doutor Aldo era muito maior do que o jardim público, defronte da nossa casa. Para aí umas quinze mijas mais, calculo eu. Para quem não souber, esclareço que mija é uma medida de comprimento de exclusivo uso canino. Os homens usam metros, léguas, milhas. Nós, mijas. Compreende-se. Quando virem um canídeo em posição selecta, a alçar a perna para uma árvore, não julguem que ele está só a aliviar-se das águas. Está também em cálculos de medição. Não o interrompam. Não o distraiam.”
As histórias correm, contadas com prazer. “Pelo-me por aventuras”, diz. Pelas suas aventuras, coisas insignificantes aos olhos dos outros, mas coisas importantes aos olhos de um cão, deste cão, de Caidé. Do lado de cá, o ouvinte ou o leitor estão sempre presentes, numa interpelação contínua – “Espero, no fim, os vossos juízos”. E o leitor sente-se compelido a seguir atento para poder ajuizar. Pelo menos, foi esse o desafio. Mas, no final, a conclusão é apresentada pelo protagonista – “Se, depois destas narrativas, alguma conclusão querem tirar, fiquem-se com esta: nós, os cães, somos todos uns heróis ao lado dos homens, de quem aprendemos a língua, as vontades e até os caprichos. Já era altura de os homens começarem a perceber-nos mais um poucochinho. O que é que acham?” E Caidé acaba o seu discurso.
Afinal, o pequeno cocker, que, no início, “dava tudo para ser um desses cães felizardos que passam o tempo a correr e a ladrar, de uma ponta à outra do écran da televisão (…), sempre a saltarem às canelas dos bandidos, a combaterem com ursos, a escalarem montanhas, a avisarem de fogos, a salvarem gente”, tem uma história recheada de acção, assente nas aventuras do quotidiano, grandes para um cão de companhia.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Política caseira - Setúbal, Catarino Costa, Teresa de Almeida e o PS (parte II)

A notícia é do Setubalense de hoje. Depois dos comentários do socialista Catarino Costa na semana passada... aí está aquilo que já era esperado.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

História a partir de "Poesia de Angola" (um livro que não estava perdido mas que foi reencontrado)

Há uns anos – bastantes, talvez 15! –, a Adelina foi minha aluna numa disciplina em que se estudavam as literaturas africanas de expressão portuguesa. As aulas passaram por autores como Francisco José Tenreiro, Pepetela, Baltasar Lopes, Manuel Rui, entre muitos outros (pois os alunos puderam ainda escolher autores, lê-los e trabalhá-los). E também por contos tradicionais africanos. E ainda por poemas diversificados (quanto às épocas, às nacionalidades dos autores e aos temas).
A Adelina deixou-se levar pelo entusiasmo com que se falava de todas estas coisas e, um dia, trouxe-me um livro para eu ver. Era Poesia de Angola (Luanda: Ministério da Educação e Cultura, 1976). Era também a poesia da sua Angola, das suas raízes. Perante o meu interesse, deixou-me ficar o livro para ler. A título de empréstimo, claro.
No entanto, as aulas acabaram e eu deixei aquele estabelecimento de ensino. Perdi o contacto da Adelina e o livro, depois de lido, foi repousando, à espera de um encontro casual ou de qualquer outra possibilidade que o levasse até à origem.
Passaram anos. Um dia, no Centro de Saúde de Palmela, por mera coincidência, encontrei a Adelina. Houve troca de contactos e conversa sobre o livro. Havíamos de ter um encontro e a devolução seria efectuada.
Mais um ano passou, no entanto. E, numa manhã de Dezembro passado, lia o seguinte mail: «Caro João, será que se lembra de mim? tudo bem? Daqui Adelina, sua ex aluna (…). Estivemos juntos no hospital de Palmela há tempo. Sim, a aluna que há mais de 12 anos emprestou-lhe um livro de poemas de escritores angolanos, relíquia do meu adorado e falecido pai. Por favor e, encarecidamente, peço-lhe de volta o meu livro. É exactamente nesta quadra festiva que que mais falta sinto dele, gostaria de poder dedicar ao meu filho os belos poemas que o meu estimado cota recitava em família. Por favor joão da-me este presente de Natal.”
Senti a urgência de lhe devolver o livro. Palavras tocantes, sentimentos, poemas… tudo se misturava. Tivemos encontro marcado para antes do Natal. Impossível, por posteriores compromissos dela.
Remarcámos e encontrámo-nos hoje, com a alegria de qualquer reencontro, acrescida do motivo. Fiquei a saber que os pais dela se tinham conhecido através da poesia - o pai recitava poemas para a mãe. Depois, o pai lera-lhe poemas de autores angolanos e oferecera-lhe o livro. Agora, com um filho de 10 anos, queria ler ao rebento os poemas do encantamento que o pai lhe transmitira. Agarrou o livro como a melhor prenda. Ou como a tábua de salvação de uma viagem pelo imaginário. Ia cumprir-se a tradição. Ia cumprir-se o encontro com as raízes, a identidade. Fiquei feliz pelo reencontro e por esta história. Vulgar, eu sei (há tantos livros "desaparecidos" e, por vezes, reencontrados!...). Mas forte!
Poesia de Angola tem prefácio assinado por António Jacinto, à data Ministro da Educação angolano, que assim fazia valer a força dos poetas do seu país: «Literatura da clandestinidade, cantada na clandestinidade, ressurge, à luz clara do dia, nas Escolas. Literatura de revolta, de afirmação combativa, de luta, de guerrilha, irá cumprir uma missão didáctica. (...)"
Esta era apenas uma impressão. O livro pretendia fazer face ao programa de Literatura Angolana, dividindo-se em três partes: "Poesia tradicional", "Precursores da poesia angolana" e "Geração moderna (anos 40-70)". Quem passava por estas páginas? Um povo e uma identidade, é claro. A tradição, também. E, entre os precursores: José da Silva Maia Ferreira, J. Cândido Furtado, Eduardo Neves, Cordeiro da Matta, Lourenço do Carmo Ferreira e Jorge Rosa. No período dos anos 40-70 do século XX: Tomás Vieira da Cruz, Maurício de Almeida Gomes, Aires Almeida Santos, Viriato da Cruz, António Jacinto, Agostinho Neto, Tomás Jorge (filho do citado Tomás Vieira da Cruz), Alda Lara, Alexandre Dáskalos, António Cardoso, Arnaldo Santos, Costa Andrade, Ernesto Lara (Filho), Henrique Guerra, João Abel, Deolinda Rodrigues, Emanuel Corgo, Nicolau Spencer, Ngudia Wendel, Rui de Matos, Sá Cortez, Joffre Rocha (pseudónimo de Roberto de Almeida), Ruy Duarte Carvalho,João Maria Vilanova, David Mestre, Manuel Rui Monteiro, Jorge Macedo, Samuel de Sousa e Adriano Botelho de Vasconcelos. Acima de três dezenas de nomes, pois. Que cantavam a guerra, o amor, a infância, o combate, o lirismo. Poesia, é evidente.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Carlos Reis e os novos programas de Língua Portuguesa do Ensino Básico

Os programas de Português têm merecido críticas por muitas razões. Em curso está a discussão de proposta para os novos programas de Língua Portuguesa. As propostas para os 1º, 2º e 3º ciclos estiveram a cargo de uma equipa coordenada por Carlos Reis, nome ligado à investigação e ao ensino de literatura portuguesa e reitor da Universidade Aberta, que hoje dá uma entrevista ao Público, peça de que sublinho alguns excertos (com subtítulos meus).
Entre a língua e a pedagogia – «(…) Há muitos professores - não só, mas principalmente os que saíram dos institutos politécnicos - que foram formados à luz de uma concepção... eu diria... muito desenvolta, muito expedita do que é falar e escrever em português. (…) Quando falo dos politécnicos, refiro-me ao facto de nos últimos 20 a 30 anos se ter dado uma importância excessiva à componente pedagógica pura e dura. Não nego a sua relevância, mas teve um desenvolvimento e um peso que puseram em causa a dimensão científica. Esqueceu-se o óbvio: eu não posso ser um bom professor de Física se não souber Física, não posso ser um bom professor de Português se não tiver um conhecimento aprofundado e sistemático da língua. (…)»
Entre o facilitismo e o erro – «(…) Em relação aos alunos o programa é muito claro no combate a uma cultura de facilitismo e de tolerância ao erro, também ela relacionada com determinadas concepções pedagógicas. (…) Aquela coisa de "se o menino erra tem de se valorizar o erro, a expressividade...". Sou completamente contra isso. Um erro é um erro, em Português como em Matemática. Se no discurso corrente, quotidiano, o sujeito não concorda com o predicado, isso é um erro. (…)»
A medida da gramática – «(…) Os novos programas revalorizam aquilo a que os especialistas chamam o conhecimento explícito da língua e, dentro dele, o domínio da gramática, que durante anos foi, por assim dizer, marginalizada. Não pretendemos martirizar ninguém, mas sim que a língua mantenha alguma coesão. Porque a gramática não é um fim em si mesmo, é um instrumento fundamental para que possamos, justamente, ter a noção do erro. (...)»
Entre os textos e a leitura – «(…) Actualmente, os poucos textos literários apresentados aos alunos são utilizados como textos ilustrativos de coisas que têm pouco a ver com a literatura. Usar um soneto de Camões para explicar o que é o discurso argumentativo, por exemplo, é matar o soneto de Camões. Ele tem de ser percebido pelos alunos como uma grande peça lírica, que representa e modeliza uma emoção, uma visão do mundo, um sentimento. Mas, mais uma vez, esse não será um objectivo fácil de atingir sem, paralelamente, fazermos os possíveis e os impossíveis para que os professores sejam grandes leitores. (...)»
Entre a leitura e a política – «(…) Para termos alunos que gostem de ler são precisos professores que gostem de ler, que entendam a literatura como um domínio de representação cultural com uma grande dignidade e com uma enorme capacidade de nos enriquecer do ponto de vista humano. Claro que isto ultrapassa, em muito, a esfera de actuação de quem prepara programas de Português, e está intimamente relacionado com a actual crise das Humanidades. (...)»
O “Magalhães” ajuda? – «(…) Está à vista que a hipervalorização, às vezes até um bocadinho provinciana, das tecnologias traz consigo lacunas consideráveis na forma de olharmos para o outro, de pensarmos no que é justo ou injusto, no que é solidário e não o é, no que é bonito e no que é feio - e que encontramos na Literatura, na História, na Filosofia.... A recuperação do atraso científico e tecnológico não deve ser feita à custa da desqualificação - política, até - de outras componentes da nossa cultura. (…) [A distribuição dos Magalhães pelas crianças] éum esforço muito interessante, mas que se arrisca a pôr em causa outros tipos de saberes. Quero acreditar no argumento de alguns - o de que o Magalhães permite o primeiro acesso à leitura por parte de muitos miúdos que não têm livros em casa. Mas, ainda assim, não deixa de ser necessário contrabalançar esta hipervalorização do computador com outras medidas. Com o investimento no Plano Nacional de Leitura, a criação de bibliotecas... (…)»

domingo, 8 de fevereiro de 2009

"Serra-Mãe", poema com 66 anos

Em 8 de Fevereiro de 1943, Sebastião da Gama, então a caminho dos 19 anos, compôs um dos seus poemas mais conhecidos, que, dois anos depois, teria como título de livro. Falo de "Serra-Mãe", texto que teve primeira publicação no jornal montijense Gazeta do Sul, na sua edição de 21 de Março desse ano (nº 637), onde saiu apenas com o título de "Poesia" (de que reproduzo o respectivo recorte) e assinado pelo pseudónimo Zé d'Anicha, construção artística de homenagem à formação geológica que do azul das águas espreita a Arrábida.
Dois anos depois, em 1945, era publicado o seu primeiro livro, Serra-Mãe, com a chancela da Portugália, ainda que custeado pela família. Nesse momento, o poema que escrevera dois anos antes, recebia o título homónimo do livro - "Serra-Mãe".

Sebastião da Gama (cujo 57º aniversário de falecimento passou ontem) colaborou no semanário montijense durante quase três anos, entre 1940 e 1943, com cerca de duas dezenas de textos.

Política caseira - Setúbal, Catarino Costa, Teresa de Almeida e o PS

O Setubalense: 06.Fev.2009 (apenas lido agora)

Medos

«(...) Há de facto medo no PS e na sociedade portuguesa, pelos mais variados motivos. Têm medo os empresários, de que não lhes sejam permitidos os apoios, ou os financiamentos dados a outros; têm medo os funcionários públicos, relativamente aos chefes de nomeação política; têm medo os professores, da avaliação e do ministério, avaliação necessária mas imposta; e têm medo muitos militantes socialistas de perderem os seus lugares, ou o acesso aos benefícios pessoais que retiram da actividade política. Lugares e benefícios que há muito deixaram de ser decididos pela razão do mérito e que agora são o resultado da fidelidade ao chefe.
É aqui que Augusto Santos Silva se distingue, na obsessão da fidelidade ao líder, como condição da actividade política. No momento em que se prepara mais um congresso do Partido Socialista, a missão de Augusto Santos Silva é matar à nascença qualquer veleidade de debate livre e de novas ideias para o PS e para Portugal. Augusto Santos Silva está apenas interessado em "malhar neles", começando logo por malhar nos militantes do PS, aqueles que ainda pensam habitar o mesmo partido dos anos setenta a noventa, ou nos que passaram com esperança renovada pelos Estados Gerais para uma Nova Maioria. De facto, não estão no mesmo partido. O PS, como partido político da liberdade e do debate político e das novas ideias para Portugal, já não existe e o que há são sedes sem vida, militantes que olham a competição e a concorrência com medo, a quem permanentemente é incutida a ideia de que divergir e criticar é traição ao PS e bênção para os adversários políticos. "Quem se mete com o PS leva", fez escola no PS. (...)»
Henrique Neto. "Carta Aberta a Augusto Santos Silva e Manuel Alegre". Público: 07.Fev.2009.

Uma questão de geografia (e de localização)

"A minha geração quer mais velocidade, quer chegar a Madrid no tempo em que agora chega ao Porto" - disse Duarte Cordeiro, líder da Juventude Socialista (citado na edição on line do Público).

O povo? Já não lava no rio, é de esquerda e quer bandeiras...

«Apresentação da moção em Coimbra - Sócrates: regionalização e casamento de homossexuais são bandeiras da esquerda do povo - O secretário-geral do PS, José Sócrates, classificou hoje em Coimbra a regionalização e o casamento entre homossexuais como bandeiras que identificam o Partido Socialista com a esquerda progressista e a esquerda do povo."Proponho-vos que no próximo programa eleitoral assumamos estas duas bandeiras que identificam o Partido Socialista como a verdadeira força da esquerda progressista, da esquerda moderna, da esquerda do povo", disse José Sócrates perante mais de meio milhar de militantes e simpatizantes do PS.»
Na edição on line do Público, citando a Lusa (07.02.2009 - 20h56)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Entre lições e cacetadas ou dois retratos de sistemas

Da edição on line do Público, hoje:
Edmundo Pedro: há quem não se pronuncie no PS porque tem medo - O histórico do PS Edmundo Pedro afirmou ontem numa reunião socialista na sede do partido, no Largo do Rato, em Lisboa, que dentro do PS há quem não se pronuncie sobre a vida interna do partido porque tem medo. "Verifiquei um total desinteresse, generalizado, notei outro fenómeno de pessoas que estão no aparelho de Estado que me diziam 'não posso pronunciar-me, porque tenho medo'; não é admissível no partido”, disse o militante histórico na reunião que serviu para debater a moção de José Sócrates ao congresso socialista, no círculo lisboeta. Edmundo Pedro tentou puxar a discussão para o debate interno da situação no partido. "Sou provavelmente a única pessoa interessada em discutir numa sessão de debate entre moções, aberta, as questões de governança interna e de pequena ou micro escala de um partido político", disse. Mas, segundo a TSF, a tentativa do histórico esbarrou na mediação feita por Augusto Santos Silva, que preferiu canalizar a discussão para a crítica externa. "Eu cá gosto é de malhar na direita e gosto de malhar com especial prazer nesses sujeitos e sujeitas que se situam de facto à direita do PS. São das forças mais conservadoras e reaccionárias que eu conheço e que gostam de se dizer de esquerda plebeia ou chique", afirmou.
Ana Benavente: Sócrates tem explicações a dar ao país sobre o caso Freeport - A antiga dirigente socialista, Ana Benavente, defende que José Sócrates ainda tem explicações para dar ao país sobre o caso Freeport, e que o devia fazer antes de se escudar em “cabalas”. Em declarações ao Rádio Clube Ana Benavente diz que o primeiro-ministro deve tornar mais claros todos os procedimentos que tomou neste caso enquanto era ministro do Ambiente e considera que tudo o que foi dito até agora é insuficiente. Ana Benavente acrescentou ainda que espera que a justiça esclareça também o caso Freeport com a máxima urgência.A antiga secretária de Estado diz que José Sócrates deve esclarecer todos os procedimentos que assumiu como ministro do Ambiente e considera que as explicações do primeiro-ministro são insuficientes."Isto faz mal ao país, ao Governo, à democracia e aos partidos. Faço aqui o apelo à justiça para que seja célere e aos envolvidos para que clarifiquem. Nós não somos assim tão incultos que não se perceba como as coisas funcionam".

Máximas em mínimas (42)

“A moral pública, às vezes, é de uma imoralidade de fazer corar as pedras.”
Manuel Boaventura. Contos do Minho (1927)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Voluntários na escola

Professores reformados de volta à escola - O Ministério da Educação (ME) pretende recrutar professores reformados para, em regime de voluntariado, colaborarem no apoio aos alunos nas salas de estudo, em projectos escolares, no funcionamento das bibliotecas, no apoio à formação de professores e pessoal não docente, e a visitas de estudo, além do planeamento e realização de formação para pais.
A notícia é do Público de ontem. Uma versão do que poderá ser o diploma ou estudo prévio para o mesmo já andou por aí a circular na net. Algumas coisas me surpreendem: “Recrutam-se” voluntários? Terá que haver sempre legislação para algumas práticas de cidadania que algumas escolas vão tendo dentro da sua autonomia? Por outras palavras: tudo, inclusive o voluntariado que alguns queiram fazer, tem que ter diploma legal? Será que não se percebeu que muitos dos professores que pediram a aposentação, mesmo com prejuízo económico daí adveniente, o fizeram para se demarcarem?
Exemplos conheço eu de voluntariado na escola, incluindo casos de docentes que se aposentaram nas condições atrás descritas, um voluntariado praticado em combinação com a gestão das escolas e com as funções de alguns professores dentro das respectivas escolas. Será que estas pessoas vão aceitar que seja outra vez a legislação do Ministério da Educação a indicar-lhes caminhos? Será que não o podem fazer por atitude de cidadania apenas ou por ligação do meio à escola ou mesmo aos que foram seus alunos? Casos conheço em que já houve conversa: se houver legislação que condicione este voluntariado… adeus à participação.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Da vida nas escolas (2)

“Turmas pequenas, para que cada um aprenda ao seu ritmo, e uma escola comprometida com a transmissão de valores que levem os alunos a ser adultos responsáveis e comprometidos. Esta é a aposta do casal Obama para a educação das suas filhas de dez e sete anos.” Assim abre a peça “Malia recicla lixo, Sasha recolhe vegetais”, assinada por Bárbara Wong, também no Público de hoje, no suplemento “P2”.
As duas crianças, uma no 5º e outra no 2º ano, frequentam a Sidwell Friends School, escola privada em Washington, “de inspiração cristã, mais precisamente quaker”, instituição com mais de 120 anos e com uma filosofia que radica nos “princípios quaker: equidade, integridade, simplicidade, paz e sentido de comunidade”. Contra a acusação de “elitista”, podem falar alguns números: “quatro em cada dez estudantes são de cor e 32 por cento dos alunos são oriundos de famílias necessitadas. Ao todo, são 1097 alunos, do 1.ºciclo do ensino básico ao final do secundário, 145 professores e 103 funcionários.” Quanto às práticas…
1. De pequenino… - “Desde pequenos, os alunos são ensinados a poupar os recursos naturais, a reciclar, a conhecer e a usar formas de energia alternativa. Os novos edifícios da escola foram construídos de forma ecológica, nos telhados há painéis solares, a escola tem moinhos para produção de energia eólica e a água da chuva é reaproveitada. A cantina da escola seleccionou produtores e vendedores locais para evitar que as entregas sejam feitas por carros que percorram longas distâncias, de maneira a evitar esse impacto no ambiente. A comida não se desperdiça, existe compostagem e os guardanapos são reciclados.”
2. Limpezas – “No primeiro semestre, Malia e os colegas do 5.º ano são responsáveis pela limpeza semanal da escola, mas também da vizinhança. À sexta-feira, limpam, recolhem e reciclam o lixo. Esta forte noção ecológica já fez a escola distinguir-se: é ‘a escola mais verde do mundo’.”
3. Pedagogia – “A escola tem um currículo flexível e pode ser adequado a cada criança. Esta pedagogia de ‘ir ao encontro das necessidades educativas e emocionais das crianças’, como é explicado no sítio de Internet da escola, não será difícil de pôr em prática, já que no 1.º ciclo cada professor é responsável por turmas de dez alunos e só no quarto ano é que são 16 estudantes por sala de aula.”
4. Práticas – “Como a educação é vista numa perspectiva global, os alunos aprendem também com a prática. Por exemplo, daqui a dois anos, Sasha, quando andar no 4.º ano, vai aprender o sistema reprodutivo e o desenvolvimento dos bebés desde a concepção e há uma nova disciplina que vai ajudá-la. Chama-se Educação para a Parentalidade e, durante três a quatro semanas, os alunos têm ‘contacto directo com bebés, aprendem como brincar, falar, dar-lhes de comer e o seu desenvolvimento’.”
5. Mente sã – “A Sidwell defende que deve haver um equilíbrio entre a escola e o tempo livre e que as crianças devem ter tempo para fazer outras coisas. Em vez de TPC, pede-se aos pais que incitem as crianças a ler. Aliás, a biblioteca é a ‘base da vida intelectual da escola’. (…) Fora da sala de aulas ainda há tempo para participar nas aulas de teatro, coro, aprender um instrumento, Espanhol, Ciências e saber pesquisar na biblioteca. (…) O ideal romano da ‘mente sã em corpo são’ é levado à letra: cinco dias por semana, os alunos têm de experimentar 12 desportos diferentes. No Inverno, é tempo de aprender desportos como o basquetebol, voleibol, natação, fitness e luta livre americana (wrestling); na Primavera, os campos da escola são usados para aprender lacrosse, basebol, softbol, ténis, hóquei e caminhar (track).”

Da vida nas escolas (1)

Ao ler-se no Público de hoje notícia sobre o grau de (in)cumprimento na entrega dos objectivos individuais pelos professores (“Contratados são quem mais está a cumprir primeira fase da avaliação”, assinado por Bárbara Wong), fica uma sensação estranha de tristeza pela organização de escola a que se está a chegar e por aquilo que o ambiente de escola está a ser. Para lá de não se saber ainda quantos serão os professores que vão alinhar na apresentação de um documento burocrático (apenas isso!), fica evidente que o que está a funcionar é a pressão e a vacuidade de soluções neste processo (ainda que sob a capa de diversidade).
Vejamos a evidência da primeira situação: “A maioria dos professores contratados está a entregar os objectivos individuais para serem classificados no âmbito do modelo de avaliação do desempenho docente. São os 'mais frágeis' do sistema e não querem ser prejudicados no próximo ano lectivo, explicam vários presidentes de conselhos executivos de escolas de todo o país.” – diz o parágrafo inicial do texto noticioso.
E, quanto à segunda situação: numa escola, “em vez de notificar os colegas em incumprimento, a presidente do conselho executivo decidiu que será ela própria a formular os objectivos, com base no projecto educativo da escola, para evitar que os professores sejam penalizados"; noutras escolas, “a maioria dos órgãos de gestão revela que, para cumprirem a lei, têm de enviar uma notificação aos professores para que sejam informados oficialmente de que estão em falta. A seguir a isso, desconhecem o que fazer.”
E, como conclusão: "A tensão nas escolas permanece. As pessoas andam como o tolo em cima da ponte, não querem ser incongruentes com aquilo que pensam, mas também não querem prejudicar-se", disse uma das professoras contactadas pelo jornal.
Valeu a pena ter-se chegado até aqui?

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Sobre a confiança

Em La confianza, Albert J. Jowell diz que “la confianza es algo así como el aire que uno respira; sólo se hace palpable su necesidad en su ausencia o en situaciones de desconfianza”. E é a propósito deste livro que Miguel Ángel Santos Guerra (onde cheguei por indicação do Terrear) escreve um interessante texto sobre a confiança, algo que tem abalado as estruturas em Portugal, apesar de a crónica não ser sobre Portugal, mas sobre as relações humanas e sobre o que se passa no mundo.
Aqui deixo dois parágrafos, justamente o inicial e o final, ainda que pense que o artigo deve ser integralmente lido.
«Creo que estamos atravesando una crisis de confianza. No comprendemos el mundo en que vivimos. Hay una crisis y mil explicaciones de ella, pero ninguna es sencilla y, mucho menos, clara. El discurso político (del gobierno y de la oposición). no sintoniza con la realidad en la que estamos inmersos. Vivimos en la sociedad de la información, pero pocas veces hemos estado tan desinformados y tan poco sabedores de lo que es verdad y de que es mentira. La información se ha convertido en espectáculo. Se proponen modelos escasamente edificantes. El discurso moral se ha debilitado y las ideologías han perdido vigor. El individualismo se ha adueñado de la sociedad. Los telediarios están llenos de muertes, robos, corrupción, y violaciones. Todo eso daña la confianza. (…)
Pienso que “la oposición” debería llamarse “la alternativa” Porque de esa manera sus integrantes estarían invitados a decir qué es lo que ellos harían si estuvieran en el poder, en lugar de oponerse de forma sistemática, obsesiva y a veces ridícula a todo lo que hace el gobierno, aunque sea algo que beneficie a la ciudadanía.Para salir de esta crisis es preciso reactivar la confianza. En nosotros mismos, en los demás y en las instituciones.»

João Envia e as biografias setubalenses

Seis anos passaram desde que João Francisco Envia publicou o primeiro volume da obra Setubalenses de Mérito, aí reunindo biografias de 120 personalidades que tiveram o seu nome ligado a Setúbal, fosse por naturalidade, fosse porque na cidade e concelho se destacaram. Agora, passada essa meia dúzia de anos, chegou o segundo volume da mesma obra, também ele com 120 resenhas biográficas de outras tantas personagens da história sadina, numa tiragem de 250 exemplares.
O conjunto dos dois volumes, que bem funcionam como um dicionário das personalidades setubalenses, é uma obra indispensável para a história local e regional, na medida em que o leitor ou o curioso teriam dificuldade em obter elementos sobre a maior parte dos nomes. Entre políticos, artistas, religiosos, desportistas, dirigentes e empresários, entre homens e mulheres, João Envia biografou e lembrou, não omitindo o apontamento pessoal, normalmente feito de memórias, sempre que oportuno.
Este livro é, assim, não só um contributo determinante para a(s) história(s) de Setúbal, mas também um passeio pelas memórias do seu autor, quer como leitor, quer como setubalense. Pode ler-se de seguida, saltando de vida em vida, mas pode também constituir um elemento de consulta indispensável sempre que seja necessário identificar nomes e trajectos de vida.
João Francisco Envia (n. 1919), autor de uma dezena de livros dedicados a Setúbal, colaborador de vários títulos da imprensa local, participante activo no movimento associativo, com estabelecimento comercial próprio desde 1948, deixa-se dominar pela voz que vai contando as histórias sadinas, tal como manifestou ontem, no momento da apresentação pública deste livro: mais dois títulos estão na forja – um, de poesia; outro, de histórias de ao pé do Sado. E, com graça, um dos biografados neste segundo volume, que deu testemunho na sessão, Rogério Peres Claro, com 88 anos, lá foi dizendo que o mal dos livros é poderem desactualizar-se depressa e, por isso e porque tinha ainda muito para fazer, esperava que João Envia ainda escrevesse o terceiro volume de biografias, com novos nomes e com actualização de dados dos que já passaram pelos dois volumes publicados…