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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

António Fontinha contou histórias na Escola

“Vocês conhecem histórias tradicionais?” E foi a medo que um dos alunos respondeu: “Capuchinho Vermelho”. “Muito bem! E sabes quem é o seu autor?” Que não, disse o jovem. “E quem ta contou?” Já não sabia. “Eu também não sei quem é o seu autor ou quem ma contou.”
Quem assim conversava com os alunos era António Fontinha, contador de histórias tradicionais portuguesas, que ontem esteve na Escola a animar duas sessões com alunos do 7º ano. Receosos a princípio, apesar de saberem ao que iam (alguns até tinham lido a reportagem da revista “Única” do Expresso sobre contadores de histórias, saída na semana passada), os alunos foram, pouco a pouco, deixando que o envolvimento do fantástico tomasse conta deles. Ouviam “A lavadeira e o cágado”, seres dialogantes, história que desconheciam. “Vocês sabem que os contos tradicionais portugueses são muito pouco conhecidos?” E a história continuou até ao momento em que o pai da lavadeira a surpreendeu, pensativa, no quarto, na manhã seguinte. “Mas os contos tradicionais portugueses são muito curiosos e têm despertado muito interesse.” E a história acabava com agrado, depois de uma narração com trejeitos de diversas personagens, variações de voz (dando vozes), marcas de espanto e de surpresa, numa pluralidade sobre o palco a partir de um actor apenas, aquele mesmo, António Fontinha.
Depois, foram as adivinhas. Da mais simples à mais complexa. “As adivinhas são sempre exactas.” E Fontinha demonstrava, explicando e fazendo concordar os passos da adivinha com as características da solução. E alguns, usando a lógica que sabiam, aventavam soluções. E algum até acertou.
Foi uma sessão em cheio. “Só foi pena ser tão pequena”, diziam-me. Pois. Três quartos de hora cheios de magia e de passeio no reino da fantasia tinham voado. De António Fontinha ficou uma boa recordação e a vontade de verem, lendo ou ouvindo, algumas das histórias que constam no livro que a Câmara Municipal de Palmela editou há uns anos, recolhidas pelo próprio Fontinha no concelho (Contos populares portugueses ouvidos e contados no concelho de Palmela, 1997). Iremos ler algumas, claro, que o apetite ficou aberto!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Memória: António Alçada Baptista (1927-2008)

Fantasia - "A gente sempre pode fazer mais, mas, muitas vezes, aqueles que fazem muito são piores para o mundo do que os que fazem pouco, porque as pessoas também têm as suas obrigações com a sua fantasia, com muitas coisas que chamam e distraem."
Livros - "Os livros são bons porque, sempre que nos sentimos sós e não temos coisas para dizer a nós mesmos, podemos falar com eles. (...) Com os livros, a gente sempre faz viagens, conhece pessoas, aprende a interrogar-se e tem oportunidade de viver e de sentir coisas que a vida lhe não deu. Outras vezes, (...) os livros entretêm a nossa fome de viver e se calhar disfarçam e adiam a obrigação que temos de procurar a vida."
Corpo - "O corpo fala tanto como as palavras, mas as pessoas, como deixaram de respeitar as palavras, também não respeitam o corpo. É por isso que o desejo é tão bruto porque só uma força muito grande e mujito cega tem poder para atravessar as barreiras que levantámos à volta do nosso corpo. (...) Um dia, as pessoas ainda vão descobrir o que podem fazer com o corpo porque os sentimentoas, quando estiverem purificados, vão ajudar-nos muito."
Solidão, palavras - "O mais importante são as palavras. Quando se vive a solidão, sabe-se que, por causa de uma palavra verdadeira, caem muitas vezes as muralhas que levantámos à volta das nossas almas. Uma palavra verdadeira pode ser um milagre: é a solidão derrotada."
António Alçada Baptista. Tia Suzana, meu amor. Col. "Aura" (12). Lisboa: Editorial Presença, 1989.