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quinta-feira, 27 de junho de 2024

Visitar Setúbal pela fotografia de Antero Frederico de Seabra (2)

 


Do destino e paradeiro das fotografias feitas por Antero Frederico de Seabra em Setúbal pouco se sabia: conhecia-se uma colecção de 12 fotografias encontrada no sótão de uma residência em Lisboa quando se procedia a obras, série que tem a particularidade de ter pertencido a outro militar que prestou serviço em Setúbal, Henrique das Neves (1841-1915), o homem que catapultou o nome do poeta popular setubalense António Maria Eusébio, o “Calafate”, para vasta divulgação, publicando-o e chamando a atenção de figuras eminentes para a sua obra, colecção que, em 2015, foi considerada “bem de interesse nacional” e “tesouro nacional” pelo Decreto 2/2015, de 14 de Janeiro, da Presidência do Conselho de Ministros; sabia-se existir, no acervo do Museu de Setúbal, um conjunto de 10 destas fotografias, sendo que uma delas (a que mostra o Convento de Brancanes) surge repetida.

A obra Álbum Fotográfico, agora publicada pela LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão), revela-nos mais duas existências: um lote de oito fotografias pertencente a um particular setubalense e a série de 17 fotografias que integram o “Álbum”, peça existente nos fundos da Biblioteca Pública Municipal de Setúbal, que, em 2020, caiu sob o olhar atento do investigador local Diogo Ferreira, dando origem a esta edição.

O livro, primorosa edição fac-similada do acervo constituído pelas 17 vistas da cidade e dos monumentos de Setúbal, contém ainda a colaboração de três autores conhecidos pela sua ligação à história e à cultura local — Francisco Borba, que destaca a técnica usada por Antero Frederico de Seabra, valoriza o contributo da fotografia para a história do mundo e justifica a iniciativa da LASA; Diogo Ferreira, o “descobridor” desta memorável colecção fotográfica, que discorre sobre o contexto vivido em Setúbal na segunda metade do século XIX nos planos político, económico, social e cultural, assim enquadrando o ambiente em que as fotografias foram conseguidas; e António Cunha Bento, que biografa o fotógrafo temporariamente residente em Setúbal, resultado de aturada busca nos arquivos, relata a génese desta colecção e dá conta das existências conhecidas das fotografias de Antero de Seabra sobre Setúbal.

Se é desconhecida a história do trajecto deste “Álbum” até à sua entrada nos fundos da Biblioteca Pública Municipal, há, porém, a certeza da data em que o bibliotecário Arronches Junqueiro o registou, pois deixou exarada na última folha a seguinte menção: “Contém este Álbum 17 (dezassete) fotografias de Setúbal e arredores. — Setúbal, Biblioteca Municipal, em 4 de Outubro de 1930.”

Olhar estas fotografias implica demorar a vista, a tentar descobrir o que se mantém de toda aquela fisionomia da cidade e a construir as pontes necessárias para espaços que, hoje, apresentam outras configurações. Olhar estas fotografias constitui um desafio para a descoberta de pormenores, tão nítidos nos aparecem os espaços mostrados, absolutamente a descoberto, sem obstáculos à atenção do detalhe, quadros quase integralmente limpos do que possa afectar a nossa absorção do mundo fotografado. Olhar estas fotografias é também ver que a preocupação foi mostrar o património monumental e paisagístico da cidade, não insistindo sobre as figuras humanas, que aparecem em restrita quantidade - ainda assim, sempre há lugar para os aguadeiros e para figuras ligadas à pesca e à agricultura, ao mesmo tempo que diversos espaços são povoados por pessoas que parecem posar, em quantidade diminuta, sejam elas burgueses de cartola, agentes de polícia ou curiosos contemplativos do quase de certeza impressionante equipamento do fotógrafo...

Nesta imersão num passado que já tem quase 160 anos, descobrimos a Praça de Bocage em três fotografias, uma insistindo sobre o edifício dos Paços do Concelho, outra sobre a Igreja de S. Julião e a última sobre um grande espaço da praça — aqui, olhamos aguadeiros a encher as barricas na fonte do Sapal, enquanto os burros aguardam a carga ali mesmo ao lado; vemos o edifício camarário com linhas semelhantes às actuais, mas com menos arcos e menos janelas e uma escada lateral que conduz a um primeiro piso de janelas gradeadas onde funcionava a prisão; contemplamos a decoração manuelina da entrada principal da igreja (hoje, difícil de ver ao longe) e verificamos que a Praça de Bocage mantém a sua configuração, ainda que com a substituição de alguns edifícios entretanto ocorrida.

João Reis Ribeiro. "500 Palavras". O Setubalense: n.º 1328, 2024-06-26, pg. 15.


sexta-feira, 14 de junho de 2024

LASA publica álbum com as 17 mais antigas fotografias de Setúbal

 


Um álbum com 17 fotografias captadas em Setúbal em 1867 vai ser apresentado pela LASA - Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão hoje, 14 de Junho, pelas 21h00, na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal.

As fotografias, da autoria de Antero Frederico Ferreira de Seabra da Mota e Silva (1821-1883), nascido em Pombal, militar no Batalhão de Caçadores 1 em Setúbal, foram conservadas num álbum que integra o acervo da Biblioteca Pública Municipal de Setúbal desde, pelo menos, 1930, conforme registo de Arronches Junqueiro, bibliotecário nessa época.

O mais vasto conjunto destas fotografias de que havia conhecimento, propriedade particular, compreende 12 reproduções e, dada a sua raridade e importância para a história da fotografia em Portugal, foi classificado “bem de interesse nacional” pelo Decreto 2/2015, de 14 de Janeiro, depois de ter sido encontrado num sótão em Lisboa, num edifício que iria ser sujeito a obras. Cinco anos depois, em investigação na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal, o historiador local Diogo Ferreira confrontou-se com um exemplar do conjunto das fotografias de Antero de Seabra, com maior quantidade de fotografias do que as que estão classificadas - 17, em vez das 12 conhecidas. Tal “descoberta” levou ao estudo destas peças e intenção da LASA na publicação da obra, visando a divulgação do património cultural.

Preocupação do fotógrafo, já habituado a retratar outros pontos do país, foi a de registar espaços de Setúbal relacionados com a paisagem e com o património, tendo legado impressionante testemunho do que eram a cidade e seus arredores na segunda metade do século XIX, sendo possibilitado ver ao observador os paços do concelho, diversas igrejas, o gasómetro, vários panoramas da cidade e dos arrabaldes, numa preferência do fotógrafo pela fotografia panorâmica, documentos que nos permitem hoje olhar a configuração e a evolução da cidade.

A edição da LASA reproduz em fac-símile o álbum que é pertença da Biblioteca, em trabalho de um exemplar cuidado no pormenor. A anteceder as reproduções fotográficas, Francisco Borba, Diogo Ferreira e António Cunha Bento assinam textos sobre a importância destes documentos para a história da fotografia, sobre o contexto histórico e social de Setúbal na década de 1860 e sobre o percurso biográfico e artístico de Antero de Seabra.

O “Álbum Fotográfico”, de Antero de Seabra, em edição da LASA, permite, assim, uma retrospectiva sobre o que foi a cidade em 1867.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Diogo Ferreira: histórias de São Sebastião (Setúbal)


A história local é engrandecida pela proximidade, levando a forma muito própria de sentir a identidade. Essa marca tem o livro Breve História da Freguesia de São Sebastião, de Diogo Ferreira, editado pela respectiva Junta de Freguesia, procura do que já foi escrito sobre a freguesia e demanda nos arquivos e levantamento exaustivo do que pode ser marca histórica neste território. A freguesia mostra-se desde quando era arrabalde até à integração na área urbana e desde a origem rural à industrialização, processos lentos de transformação do território.

Causas dessa demora podem ser encontradas nos terrenos da freguesia inicialmente virados para o mundo rural e também na dificuldade de acessos de então. Mas terá havido outras razões importantes, como o pesadelo do terramoto de 1755 em termos de destruição na então paróquia ou os interesses que dominavam a sociedade - no relato de 1758, o pároco de São Sebastião, Manuel Pereira de Carvalho, apresentava a paróquia também dominada pelos fidalgos que ali tinham as suas segundas residências para evitarem grandes gastos na Corte, deles dizendo: “oxalá não houvera nenhum, porque semelhantes fidalgos nas terras fora da Corte se fazem régulos e absolutos intrometendo-se nos governos políticos, militares e, o que é mais, no espiritual, como a experiência assaz o tem demonstrado.” O prior de São Sebastião lá saberia a quem se queria referir, mas elucida quanto às influências e à construção social nesse século XVIII...

O leitor passa pelos bairros tradicionais que têm definido a freguesia desde a viragem do século XIX para o século XX, pelo seu património histórico-arquitectónico, cada uma das peças podendo contar uma ou muitas histórias, reais ou lendárias - afinal, é da freguesia de São Sebastião o mais antigo monumento da cidade de Setúbal, o geomonumento da Pedra Furada, com 2 a 4 milhões de anos, desde sempre ligado a histórias populares... Além desse monumento, sem intervenção humana, Diogo Ferreira menciona mais de meia centena de pontos de interesse histórico da freguesia, desde os seus mais antigos limites, num calendário entre o século XIV (portal da gafaria) e a contemporaneidade (Jardim Multissensorial das Energias, de 2018).

Sendo o elemento humano o mais importante na colectividade, também neste livro vivem espaços e tempos sociais como as festas, as feiras e os mercados (uma dezena de referências), as colectividades das mais diversas finalidades (mais de três dezenas e meia) e as pessoas, em curtas biografias de três dezenas de nomes ligados à freguesia, todos com histórias singulares, nas mais diversas áreas (política, comércio, cultura, desporto, trabalho), numa cronologia iniciada com Tomás António dos Santos e Silva (1751) e concluída com Vítor Baptista (1948). A memória passa ainda pelos dois fregueses de São Sebastião caídos na Primeira Grande Guerra e pelos dez que pereceram na Guerra Colonial. A obra conclui com um quadro cronológico da história da freguesia e com a listagem dos presidentes da Junta de Freguesia e respectivos mandatos, rol que fica cerceado em alguns pontos pois não foram encontrados documentos para diversas épocas.

As histórias ligadas à freguesia de São Sebastião têm andado dispersas, devido às diversas áreas que nela se cruzam com a história de Setúbal - as indústrias conserveira e naval, a actividade piscatória e portuária e os bairros têm sido campos de investigação de merecidos bons tratamentos descritivos e historiográficos. Diogo Ferreira reúne muitos outros pontos de que se pode partir para mais aprofundados estudos a propósito desta freguesia, que caminha para os seus 500 anos e é uma das mais antigas de Setúbal. 

* J.R.R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 610, 2021-04-28, p. 5


quinta-feira, 29 de outubro de 2020

História(s) do Bairro de Troino

 

Em 10 de Janeiro de 1867, no Distrito de Évora, Eça de Queirós escrevia: “Na história, o povo deve ser tudo; as individualidades, pouco.” E justificava: “O que nós queremos saber é o espírito das gerações. O que a nossa curiosidade pede é ver como o passado compreendeu as coisas vitais da humanidade: a família, o trabalho, a educação, as instituições.” A questão relacionava-se com aquilo que era (é) designado por “história oficial”, versão de que Eça convidava a desconfiar.

Vem esta evocação a propósito do mais recente livro de história local dedicado a Setúbal, O Bairro de Troino - Contributos para a sua História, assinado pelos historiadores Diogo Ferreira e João Pedro Santos e pelo “troineiro” Eduardo Silva, que também patrocinou a edição.

A obra, fortemente ilustrada e sobre um acervo bibliográfico vasto, assenta em dois vectores: o primeiro, de investigação histórica, em cinco capítulos, apresenta a narrativa do bairro desde a origem toponímica, passando pela sua ligação e inserção na urbe, pela estrutura social, por episódios da resistência política do século XX e pelo património construído, e tem a assinatura de Diogo Ferreira e de João Santos; o segundo, de cunho eminentemente memorialístico, assente numa visão emotiva e vivida, traz o testemunho de Eduardo Silva, nascido no bairro no final da década de 1930.

O leitor pode assistir à evolução e papel daquele território na construção da cidade, desde o tempo em que era considerado um espaço mais ou menos marginal, de arrabalde, até ao momento em que se impôs como espaço privilegiado de uma comunidade ligada à pesca, chegando à identidade administrativa de freguesia, desenvolvendo-se industrial e comercialmente. Interessante se torna visualizar o “caleidoscópio social”, abordando as áreas profissionais predominantes e a sua identidade: a indústria do mar (o pescador e a sua comunidade, condições de vida, operariado conserveiro, construção naval - havendo espaço para um dos autores homenagear um seu antepassado que na construção de embarcações se destacou), o pequeno comércio (com destaque para a mercearia “Confiança”, hoje recuperada e funcionando como mostra musealizada, ou para espaços de convívio como os cafés, alcançando particular interesse testemunhal e evocativo o texto sobre os matraquilhos na “Taberna do Luciano”, devido a Paulo Anjos), a religiosidade (presente no historial e registo de vivências da festa de Nossa Senhora da Arrábida). Igualmente importante é o capítulo dedicado àqueles que foram incomodados por defenderem mudanças e ideias, sempre com a perseguição policial no seu encalço: de grevistas ou libertários a revolucionários ou heróis, os seus nomes saltam de uma consciência de classe e de humanidade com a qual nem sempre o poder concordou. Sobre o património arquitectónico, percebe-se que a Anunciada (freguesia a que pertence Troino) é rica de história e detém marcos que configuram a identidade setubalense, haja em vista referências como a igreja da Anunciada, a Fonte Nova, o Convento de Jesus, a Casa dos Pescadores ou o Orfanato Municipal, entre outros, em descrições que englobam a história e as histórias que lhes estão associadas.

Finalmente, a escrita mais memorialística de Eduardo Silva percorre muitos dos aspectos que forjaram a infância e juventude do autor, indiciando forte ligação ao bairro - por ali passa um sentido de pertença muito visível, a informação toponímica, os jogos infantis, alguns naturais do bairro que se têm destacado em diversas áreas, bem como diversas profissões entretanto desaparecidas.

Esta obra consegue aliar o que existe em anteriores investigações a novas histórias e juntar o rigor pretendido na informação histórica e a emoção dos que a escrevem, regendo-se por uma leitura acessível, levando o leitor a estar muito próximo do mundo e da história de que se fala.

* J.R.R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 496, 2020-10-29, pg. 10.


domingo, 21 de janeiro de 2018

Para a agenda: A História do Mundo é a História do Local (2)



O segundo serão a propósito do tema "A História do Mundo é a História do Local", promovido por "Muito Cá de Casa", na Casa da Cultura, em Setúbal, vai acontecer na sexta, 26 de Janeiro, contando a sessão com Diogo Ferreira e João Santos e moderação de José Teófilo Duarte. Para a agenda!

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Para a agenda: Diogo Ferreira e a Setúbal do tempo da Grande Guerra



Diogo Ferreira, setubalense, tem dedicado parte importante da sua vida à investigação sobre a sua terra e ao contar a História. Setúbal e a Primeira Guerra Mundial é o título da sua tese de mestrado, obra que vai ser apresentada publicamente em 25 de Novembro, pelas 16h00, no auditório da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal, com intervenção de Maria Fernanda Rollo, que foi também a orientadora da tese. Uma edição da Estuário, marca editorial do setubalense José Teófilo Duarte. Para a agenda!

sábado, 18 de novembro de 2017

Diogo Ferreira e Marquês de Sousa: Lembrar os combatentes setubalenses da Grande Guerra



Num tempo em que se assinala a memória do que foi a Grande Guerra de 1914-1918, aquela que depois se pensou ser a última de todas as guerras (!!!), é bom que essa evocação não passe apenas pelas datas dos feitos militares, mas que relembre sobretudo os homens e as mulheres que nela intervieram de forma directa ou indirecta. Tão importante como saber as causas e as consequências será conhecer quem foram os heróis que por lá passaram, durante anos remetidos para o anonimato, lembrados num culto (importante, mas esquecendo os nomes) ao “soldado desconhecido”, e muito pouco recordados como personagens reais de um não menos real sofrimento, adviesse ele das condições da guerra, das instabilidades causadas nas relações familiares, da dor sentida, fosse ela física ou psicológica.
Setúbal, felizmente, entrou desde cedo no percurso da memória, ao ter, logo em 1924 (ano da criação da Liga dos Combatentes da Grande Guerra), a sua sub-agência desta organização, aqui presidida pelo médico e professor Cipriano Mendes Dórdio, ao conseguir, sete anos depois, em 1931, erigir o monumento de memória aos combatentes e ao ter implantado na toponímia referências a esse acontecimento avassalador, pela surpresa e pelo desgaste, que foi a Grande Guerra.
Diogo Ferreira e Pedro Marquês de Sousa meteram mãos à obra para nos dizer quem foram os combatentes do concelho de Setúbal, por onde andaram, o que sofreram, ao publicarem a obra Os Combatentes do Concelho de Setúbal na Grande Guerra em França (1917-1918), editado em Julho pelo Núcleo de Setúbal da Liga dos Combatentes. Trata-se de uma obra indispensável para a cidadania e para a memória setubalenses, apresentada em quatro importantes grupos: a contextualização do que foi a Grande Guerra e a forma como Portugal nela se integrou; os registos biográficos dos cerca de 210 combatentes de Setúbal e de Azeitão que partiram rumo à Flandres (alguns tendo combatido também em África na primeira fase do conflito); o cenário da hierarquia e organização militar em que os setubalenses intervieram, com indicação das missões que lhes estavam cometidas; a história e o papel da Liga dos Combatentes da Grande Guerra em Setúbal nos seus sete anos iniciais (até à inauguração do monumento aos Combatentes).
Passa o leitor por cerca de duas centenas de páginas em que se desenrola o filme da guerra, com os seus actos em grupo, e em que se convive com cada um dos combatentes naquilo que pode ser dado pelas fichas militares e do arquivo da própria Liga, sendo possível encontrar: irmãos em combate (os Conte-Turpia e os Lápido Lourenço, por exemplo); “um dos setubalenses que mais tempo serviu na Grande Guerra” (Barbosa Cardoso); um combatente que se apaixonou por uma francesa (Morais Teixeira); “um dos setubalenses com maior número de louvores por ocasião da Grande Guerra” (Barros Carmona); outro que integrou a histórica e lendária Brigada do Minho (Centeno Júnior); os vários que combateram La Lys em 9 de Abril de 1918; os vários que foram feitos prisioneiros na sequência de La Lys (indo, sobretudo, para os campos de Friedrichsfeld, Munster II e Dulmen); os muitos que foram punidos (por se apoderarem ilegitimamente de bens alheios, por jogarem a dinheiro, por não cumprimento do regulamento militar, por desrespeito à hierarquia, por falsificação de documentos, etc.); os condecorados pelo estatuto de herói (como foi o caso de Manuel Bernardino de Almeida, por “socorrer a população, tirando dos escombros os mortos e os feridos”); um combatente poeta e fadista, que também divertia os camaradas, como foi o caso de Vicente José da Silva Penim.
Para lá de toda esta diversidade, é o contacto também com a morte, com aqueles que não puderam trazer a memória mas na memória ficaram - o actual concelho de Setúbal perdeu 9 homens durante esse conflito e, se associarmos os 6 do actual concelho de Palmela (que, na altura, integrava o concelho de Setúbal), o número passa para 15, assim ocupando o segundo lugar no número de mortos e desaparecidos dos concelhos que compõem o distrito de Setúbal, depois de Santiago do Cacém, que teve 12 mortos e 5 desaparecidos.
Esta obra de Diogo Ferreira e de Pedro Marquês de Sousa é de leitura obrigatória para um encontro com a história e para vermos os heróis que a História sacrificou, muitos deles ligados a famílias que ainda hoje existem. A memória da Grande Guerra foi durante muito tempo esquecida em Portugal por variadas razões, mas, a partir deste centenário, temos a obrigação moral e cívica de não deixar que esse esquecimento impere, sendo esta obra um bom contributo para isso. Recordo que, há duas décadas, em Novembro de 1998, em França, o jornal “Le Monde” procedeu a um inquérito sobre os acontecimentos mais marcantes do século XX e a Guerra de 1914-1918 aparecia em quarto lugar, depois da 2ª Guerra Mundial, do Maio de 1968 e da queda do regime soviético; no mesmo inquérito, os jovens entre os 15 e os 19 anos punham a Primeira Grande Guerra em segundo lugar. É verdade que não haverá família francesa que não tenha tido familiar a participar nessa guerra, mas isso só não pode justificar essa intensidade de memória...
De Portugal foram mobilizados mais de 105 mil homens para o teatro de operações na Europa e em África; mais de 55 mil integraram a linha de combate na Flandres; tivemos quase 8 mil mortos, outros tantos feridos, outros tantos prisioneiros e cerca de 6 mil desaparecidos. Não serão estes números importantes para a nossa memória colectiva? É também por isso que o livro de Diogo Ferreira e de Pedro Marquês de Sousa, ao assinalar a epopeia de todas estas pessoas e das que lhes estiveram ligadas, em linguagem acessível e sem deixar que a questão das estratégias e da história militar viva sem os homens que lhe deram corpo, merece leitura atenta e lugar importante na história local setubalense.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Para a agenda: Os 210 Combatentes de Setúbal na Grande Guerra vão ter a sua história



Diogo Ferreira e Pedro Marquês de Sousa, um setubalense e um azeitonense, são os autores de Os Combatentes do Concelho de Setúbal na Grande Guerra em França (1917-1918), que, em edição do Núcleo de Setúbal da Liga dos Combatentes, vai ser publicamente apresentado em 25 de Julho, pelas 11h00, no antigo Quartel do 11, em Setúbal, justamente o dia em que se assinalarão os 100 anos sobre a partida dos mobilizados do Regimento de Infantaria 11 para a Flandres.
É o percurso em torno de 210 vidas que se arriscaram nessa (também) aventura que foi a Grande Guerra. É o reconhecimento e a homenagem ao sofrimento.
Para a agenda!

sábado, 15 de abril de 2017

Para a agenda: Diogo Ferreira palestra no Dia da Elevação de Setúbal a Cidade



Em 19 de Abril, passam 157 anos sobre a elevação de Setúbal a cidade, estatuto obtido em tempo de D. Pedro V e por decreto assinado por Fontes Pereira de Melo. Diogo Ferreira, que mereceu o título de "Jovem Revelação 2016" devido ao seu trabalho de investigação no âmbito da História (e particularmente da história local) proferirá "Aula Aberta" pelas 15h00 no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, iniciativa da responsabilidade da UNISETI. Para a agenda!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Para a agenda - "A Restauração", jornal monárquico-integralista sadino, em conferência



Se quer saber sobre o jornal A Restauração, quinzenário que se assumia como "monárquico-integralista", em Setúbal na I República, dirigido por Augusto da Costa, o investigador e mestrando em História Contemporânea Diogo Ferreira vai conferenciar sobre o tema no Club Setubalense, na tarde de 6 de Dezembro. Para a agenda.