Numa determinada altura da minha vida, colaborei numa estação de rádio, na secção de informação. Muito aprendi (e muito mais me ficou por aprender, por certo) e não esqueço um ensinamento que me foi transmitido pelo Armando Pires, a propósito das entrevistas: nunca passar o microfone para a mão do entrevistado, sob pena de ele tomar conta do espaço e, em vez da entrevista, termos um monólogo.
Ora, o que se passou na entrevista de ontem, na SIC, ao Primeiro-Ministro foi um pouco a passagem do microfone para a sua mão, de tal forma as ideias apregoadas tiveram o dom da propaganda, do (re)dito, sem novidades. “Balanço de três anos” seria mais adequada definição, mas suficientemente lata para omitir o clima de descontentamento e de desconfiança (nas políticas, nas melhorias, nos políticos, nas tensões, nas dificuldades) que o país vive.
No que à educação respeita, o Primeiro-Ministro refugiou-se no óbvio, isto é, nas aulas de substituição, nas colocações de docentes por três anos, na escola “a tempo inteiro”, no “Estatuto da Carreira Docente”, deixando para trás o que serão os problemas do sistema educativo vigente e alcandorando-se nas novas leis da avaliação do corpo docente e da gestão das escolas. Quem o ouviu, facilmente percebeu que José Sócrates nunca terá estado no Governo (nem no poder) nos últimos 30 anos, de tal forma foi contundente na crítica à inércia e à preguiça que tem pairado no Ministério da Educação durante estas três décadas, onde nunca se fez avaliação de professores e onde – faltou dizer – tudo andava mal, porque ainda não tinha chegado o “momento histórico” (para usar uma alavanca tão do agrado do Primeiro-Ministro). Imagine-se que, a dada altura, o entrevistado até teve a ideia de dizer que os jornalistas (Nicolau Santos e Ricardo Costa) estavam a reproduzir as perguntas da oposição no que à área da educação respeitava, indicação importante não se estivesse a tratar com vozes que poderiam pertencer a corporações ou a “lobbies”!...
A verdade é que as perguntas não foram suficientemente incisivas para que o Primeiro-Ministro respondesse sem ser em jeito de “balanço” ou de propaganda. Na educação, não se falou de problemas que têm afectado o sistema e que são continuamente relegados para a retaguarda – coisas como a quantidade de disciplinas, as (des)vantagens das aulas de 90 minutos, a (in)adequação de programas, a condição física das escolas, a burocratização crescente da vida escolar, a colaboração e a responsabilização necessárias e indispensáveis (e a operacionalizar) entre pares na educação, as implicações resultantes de um conceito de “inclusão” em vez de “massificação”, as condições (e consequências) das responsabilidades das autarquias (tal como tem sido aventado)…
Na verdade, o microfone deu jeito. E a melhor síntese do que foi a entrevista é aquela que Luciano Alvarez apresenta no Público de hoje, logo no início do seu artigo: “Qual é o balanço que José Sócrates faz dos seus três anos de Governo, que se cumprem amanhã? Positivo, muito positivo. Que imagem tem o primeiro-ministro da sua acção e das suas políticas? Reformistas. Alguma coisa correu mal? Não, tudo correu lindamente.”
Ora, o que se passou na entrevista de ontem, na SIC, ao Primeiro-Ministro foi um pouco a passagem do microfone para a sua mão, de tal forma as ideias apregoadas tiveram o dom da propaganda, do (re)dito, sem novidades. “Balanço de três anos” seria mais adequada definição, mas suficientemente lata para omitir o clima de descontentamento e de desconfiança (nas políticas, nas melhorias, nos políticos, nas tensões, nas dificuldades) que o país vive.
No que à educação respeita, o Primeiro-Ministro refugiou-se no óbvio, isto é, nas aulas de substituição, nas colocações de docentes por três anos, na escola “a tempo inteiro”, no “Estatuto da Carreira Docente”, deixando para trás o que serão os problemas do sistema educativo vigente e alcandorando-se nas novas leis da avaliação do corpo docente e da gestão das escolas. Quem o ouviu, facilmente percebeu que José Sócrates nunca terá estado no Governo (nem no poder) nos últimos 30 anos, de tal forma foi contundente na crítica à inércia e à preguiça que tem pairado no Ministério da Educação durante estas três décadas, onde nunca se fez avaliação de professores e onde – faltou dizer – tudo andava mal, porque ainda não tinha chegado o “momento histórico” (para usar uma alavanca tão do agrado do Primeiro-Ministro). Imagine-se que, a dada altura, o entrevistado até teve a ideia de dizer que os jornalistas (Nicolau Santos e Ricardo Costa) estavam a reproduzir as perguntas da oposição no que à área da educação respeitava, indicação importante não se estivesse a tratar com vozes que poderiam pertencer a corporações ou a “lobbies”!...
A verdade é que as perguntas não foram suficientemente incisivas para que o Primeiro-Ministro respondesse sem ser em jeito de “balanço” ou de propaganda. Na educação, não se falou de problemas que têm afectado o sistema e que são continuamente relegados para a retaguarda – coisas como a quantidade de disciplinas, as (des)vantagens das aulas de 90 minutos, a (in)adequação de programas, a condição física das escolas, a burocratização crescente da vida escolar, a colaboração e a responsabilização necessárias e indispensáveis (e a operacionalizar) entre pares na educação, as implicações resultantes de um conceito de “inclusão” em vez de “massificação”, as condições (e consequências) das responsabilidades das autarquias (tal como tem sido aventado)…
Na verdade, o microfone deu jeito. E a melhor síntese do que foi a entrevista é aquela que Luciano Alvarez apresenta no Público de hoje, logo no início do seu artigo: “Qual é o balanço que José Sócrates faz dos seus três anos de Governo, que se cumprem amanhã? Positivo, muito positivo. Que imagem tem o primeiro-ministro da sua acção e das suas políticas? Reformistas. Alguma coisa correu mal? Não, tudo correu lindamente.”
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