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terça-feira, 28 de maio de 2013

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Mia Couto - cinco excertos sobre a língua portuguesa (que nos une)


Na edição da revista Tempo Livre deste mês (Lisboa: Fundação Inatel, nº 238, Junho de 2012), é publicada entrevista de Mia Couto a Humberto Lopes em que são abordadas questões da literatura, da lusofonia, de Moçambique, do acordo ortográfico e da identidade. Aqui registo alguns excertos.
CPLP – “Qualquer organização que junta países que estão tão distantes tem que enfrentar [um] processo [que] tem que ser olhado com verdade. O que me faz aflição é que há quem pense que ela já está criada… E ainda não está, tem que nascer… Falta nascer no sentido em que essas organizações têm que nascer várias vezes… e têm que estar no lugar certo. Por exemplo, acontece qualquer coisa na Guiné ou em qualquer um desses países da comunidade e tem que se perceber como é que ela é útil e que conquistou um lugar.”
Países de língua portuguesa – “Esses países têm uma expressão diversa, são países que, sendo de língua portuguesa, têm outras línguas, têm outras maneiras de respirar e de pensar que têm de ser consideradas de forma inclusiva, que não se podem marginalizar. E isso significa pensar de todas as maneiras possíveis, económica, etc… Como fazer dicionários, como fazer trocas em que estas línguas falem realmente com o português, dialoguem com o português para que qualquer cidadão destes países possa saltitar entre as duas línguas, a materna e a língua portuguesa.”
Acordo Ortográfico – “O Acordo Ortográfico mexe com uma coisa tão pequenina, mexe com a ortografia, e a minha reinvenção não se opera exactamente aí… É um acordo que unifica tão pouco que não me parece que seja motivo para eu me preocupar… Acho que foi pena, sim, não se ter discutido coisas que eram bem mais importantes, como aquilo que são os nossos laços culturais e as distâncias das políticas culturais.”
Escrever – “As explicações que eu dou sobre as razões por que é que eu escrevo são sempre inventadas. E eu estou sempre a pensar em coisas novas porque não só uma explicação, há várias explicações disso que é a apetência de eu escrever, de criar e de fazer poesia. Mas eu acho que eu sou um escritor do território da poesia, essa é a minha casa. A prosa é uma viagem que eu faço para voltar, para sair de casa e voltar a casa.”
Linguagem – “A linguagem não serve só para descrever o mundo. A linguagem deve ter também uma função de o criar, uma vez que o mundo é sempre o resultado de um olhar, e de um olhar que é muito pessoal, que é sempre uma obra de reinvenção.”

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Mia Couto, "Pensageiro frequente"

São 26 crónicas de Mia Couto que tiveram já um primeiro aparecimento na revista Índico, das Linhas Aéreas de Moçambique, e agora dão corpo a Pensageiro frequente (Alfragide: Editorial Caminho, 2010), datando a mais antiga de Janeiro de 1999 (“Zambezeando”) e sendo a mais recente de Maio deste ano (“Fintado por um verso”, texto que abre o livro).
Em “Nota Introdutória”, Mia Couto não esconde o propósito que esta sua colaboração na revista teve: “fazer com que o meu país voasse pelos dedos do viajante, numa visita às múltiplas identidades que coexistem numa única nação”. Esta apresentação acaba por sintetizar alguns pontos comuns às crónicas ora reunidas em livro – a viagem pelas várias facetas de uma identidade, a mística dos lugares e das gentes, a poesia dos sítios, a partilha do mundo com a natureza, tópicos que resultam dessa viagem que o pensamento assume e de uma leitura do mundo também perfilhada pelo olhar do biólogo que Mia Couto é.
O leitor voa nestas crónicas contemplando e descobrindo segredos da paisagem, do reino animal, do mundo, da história e da vida, desvendando um país, encontrando-se com marcas de identidade(s) do outro e de si. São crónicas felizes estas, em que o cronista usa a palavra para a sua vocação de viajeiro e partilha as suas aprendizagens com outros intervenientes nas crónicas, com os próprios leitores, assim lhes apresentando um país, pintado com as cores da diversidade, num quase roteiro de moçambicanidade.
Sublinhados:
Beleza – “A beleza do futebol não está no golo. Como na arte do namoro: o fascínio está nos preparativos. O encanto está no que não pode ser traduzido nem em número nem em palavra.” (12)
Vida – “Pode haver um mister para as artes da bola. Mas o único treinador para as lides da Vida somos nós mesmos.” (16)
Paraíso – “O paraíso não é um lugar, é um breve momento que conquistamos dentro de nós.” (23)
Acreditar – “Há coisas que fazemos por acreditarmos. Outras coisas passamos a fazer por deixarmos de ter crença.” (59)
Verdade – “Por vezes a resposta é errada simplesmente porque a pergunta é incorrecta. (…) Certas coisas são verdade numa dada relação, num dado momento.” (69)
Lugar – “Os lugares são da natureza, pensamos. E não há mais que pensar. Mas os lugares foram fabricados por histórias. E são fazedores de tantas outras histórias.” (75) “Os lugares só são nossos quando cabem num nome. Quando os reduzimos a palavras, simples como coisas que se arrumam na algibeira. Ao fim de um tempo, porém, o nome acaba substituindo o próprio lugar.” (108) “Não é o voarmos sobre os lugares que marca a memória. É o quanto esses lugares continuarão voando dentro de nós.” (115) “Os lugares não se comparam. Como as pessoas, cada um deles acontece num momento único, numa única e irrepetível vida.” (118)
Fotografia – “O mais importante nunca se pode fotografar (…). O que fica para sempre, o que nos revolve a alma é o que não pode ser capturado pela moldura.” (103)
Ilha – “As ilhas são como pessoas: querem existir por si mesmas mas receiam a lonjura.” (111)
Bichos – “A ética dos bichos não pode ser transferida para o nosso universo social, a não ser em texto de fábula.” (122)
Menino – “Ser menino é estar cheio de céu por cima.” (129)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Máximas em mínimas (63)

"O paraíso não é um lugar, é um breve momento que conquistamos dentro de nós."
Mia Couto. "O riso das baleias". Pensageiro frequente. Alfragide: Editorial Caminho, 2010.

domingo, 5 de abril de 2009

Nove máximas lidas em Mia Couto

1. “O fruto se sabe maduro pela mão de quem o apanha.” (in “As três irmãs”)
2. “Envelhecer é ser tomado pelo tempo, um modo de ser dono do corpo.” (in “O cesto”)
3. “Falar é fácil. Custa é aprender a calar.” (in “O adiado avô”)
4. “Um pobre não sonha tudo, nem sonha depressa.” (in “Meia culpa, meia própria culpa”)
5. “O homem é tão velho quanto a sua idade e a mulher é tão velha quanto parece.” (in “Na tal noite”)
6. “Diz-se que a tarde cai. Diz-se que a noite também cai. Mas eu encontro o contrário: a manhã é que cai. Por um cansaço de luz, um suicídio da sombra. (…) São três os bichos que o tempo tem: manhã, tarde e noite. A noite é quem tem asas. Mas são asas de avestruz. Porque a noite as usa fechadas, ao serviço de nada. A tarde é felina criatura. Espreguiçando, mandriosa, inventadora de sombras. A manhã, essa, é um caracol, em adolescente espiral. Sobe pelos muros, desenrodilha-se vagarosa. E tomba, no desamparo do meio-dia.” (in “A despedideira”)
7. “Os homens [atribuem] aos peixes as indecorosas ganâncias que [são] da exclusiva competência humana. [Adjectivam] a peixaria: os mandantes do crime são chamados de ‘tubarões’. Os poderosos da indecência são ‘peixe graúdo’. Os pobres executantes são o ‘peixe miúdo’. E, afinal, onde não há crime é lá dentro das águas, lá é que há a tal de propalada transparência.” (in “O peixe e o homem”)
8. “Criancice é como amor, não se desempenha sozinha. Falta[] aos pais serem filhos, juntarem-se miúdos com o miúdo. Falta[] aceitarem despir a idade, desobedecer ao tempo, esquivar-se do corpo e do juízo. Esse é o milagre que um filho oferece – nascermos em outras vidas.” (in “O Rio das Quatro Luzes”)
9. “O tempo é um fruto: na medida, amadurece; em demasia, apodrece.” (in “Uma questão de honra”)
Mia Couto. O fio das missangas (2004).