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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Livros amordaçados (1)



Em 26 de Abril de 1974, o edifício-sede dos Serviços de Censura, na Rua da Misericórdia, em Lisboa, foi invadido e parte significativa dos haveres em arquivo foi atirada pelas janelas ou furtada. Salvaram-se, no entanto, cerca de mil e duzentos títulos, graças ao pedido que A. H. Oliveira Marques (1933-2007) fez  a um seu colaborador no sentido de ser feita a recuperação dos livros que ainda estariam naquele serviço, acervo que passou a integrar a Biblioteca Nacional.

A coincidir com a publicação da colecção “Biblioteca da Censura” (que o jornal Público tem vindo a distribuir nos dias 25, num projecto que irá até Abril de 2024), a Biblioteca Nacional de Portugal acaba de publicar o seu catálogo Obras proibidas e censuradas no Estado Novo, com estudos introdutórios de Álvaro Seiça e de José Pedro Castanheira, compreendendo a descrição dos títulos da Biblioteca dos Serviços de Censura e a lista das obras proibidas que existiam na Biblioteca Nacional e não podiam vir a público, além de excertos de relatórios dos leitores que serviam para fundamentar a autorização ou a proibição das obras.

Sobre as origens dos títulos proibidos pouco se sabe - oriundos de bibliotecas particulares ou de associações recreativas, de livrarias, de editoras, por certo, mas sem haver indicação precisa desse ponto de recolha. Livros em português ou noutras línguas, provenientes de diversos países, muitos deles proibidos, outros autorizados apenas em língua estrangeira ou porque a proibição poderia dar nas vistas - enfim, um  mundo de decisões onde parece campear a arbitrariedade ou o gosto discutível. Proibidos eram temas como a Rússia ou URSS (chegando-se ao ponto de proibir títulos como uma Histoire de la Littérature Russe, de Hofmann, ou guias linguísticos como Le Russe: Manuel de langue russe pour les français, de Potapova, ou Elementary Russian Conversation, de Kany e Kaun), a China, a sexualidade, o retrato de questões sociais delicadas, o pensamento contra a religião. Fosse como fosse, está o leitor perante aquilo que Maria Inês Cordeiro, na apresentação desta obra, escreveu: “a memória de uma biblioteca  para não ser lida, um testemunho do que é contrário à própria ideia de Biblioteca.”

As justificações para as propostas de interdição assentam sempre em argumentos que pretendem ser moralizadores - por exemplo quem leu um título como Harmonia e  desarmonia conjugais, de A. César Anjo (colecção “Saber”, 1950), opinou: “Trata-se de uma porcaria desmoralizadora e desmoralizante, encapada no disfarce dum pseudo cientismo técnico que só pode enganar primários ou muito incautos. Julgo de proibir rigorosa e urgentissimamente, por se estar a vender na Feira do Livro com toda a força, numa sementeira maléfica de  todas as horas.”

O almadense Romeu Correia (1917-1996) viu o seu livro Sábado sem sol proibido em 1947, decisão assim justificada pelo censor: “Este livro de contos é, de um modo geral bastante mau, porque aproveita a mais pequena oportunidade para focar a questão social. (...) São contos sem moral, sempre a puxar para a questão social e, portanto, não sei a quem possa interessar semelhante livro.”

A hesitação da censura quanto à proibição ou não de um livro surge a propósito de um título como La peau, de Curzio Malaparte (1898-1957), proibido em 1960 com o seguinte argumento: “um livro (...) que apesar de bem escrito, o é por um comunista”. Uma década depois, outro relatório dizia para o mesmo título: “Autorizado o original e qualquer versão em língua estrangeira, mas vedada a autorização para qualquer tradução para língua portuguesa, seja qual for a sua origem.” Assim, a leitura era permitida ao grupo restrito dos que soubessem falar outra língua...

* J.R.R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 1004, 2023-02-01, pg. 9.


quarta-feira, 10 de março de 2021

Borges Henriques: entre receitas e remédios, umas empadas de peixe de Setúbal




Quando Francisco Borges Henriques decidiu anotar as receitas culinárias e as prescrições úteis e práticas para vários fins e problemas, não terá pensado em publicação, antes em construir um guia, um repositório de segredos, para ter à mão nas situações de necessidade da sua casa.

Terá esse registo ocorrido entre 1715 e 1729, a acreditar nas datas mencionadas em alguns textos, provas de ter sido trabalho contínuo, edificado na paciência dos dias. Três séculos depois, podem os leitores mergulhar no tesouro construído por esse alhandrense que viveu em Lisboa, Elvas e provavelmente no Brasil e em Inglaterra, ligado a casas nobres e à arte da cozinha, curioso em extremo e coleccionador de descobertas culinárias e de soluções para o quotidiano caseiro - desde coisas sérias, como aliviar doenças, até assuntos de carácter social, como a duração do luto, ou religioso, como a transcrição de orações pedindo protecção ao santo patrono, passando por conselhos sobre tarefas agrícolas ou mais utilitários, como o fazer tinta de escrever, chegando a questões mais delicadas como o “remédio para os casados terem filhos” ou o “remédio para que as mulheres que casarem pareçam donzelas”... É por tudo isto que vale a visita à obra coordenada por Dulce Freire (que contou com uma equipa pluridisciplinar) Receitas e remédios de Francisco Borges Henriques (Ficta Editora, 2020), título breve de outro mais longo, no manuscrito preservado na Biblioteca Nacional de Portugal - Receitas dos melhores doces e de alguns guisados particulares e remédios de conhecida experiência que fez Francisco Borges Henriques para o uso de sua casa no ano de 1715

No conjunto, são quase 700 recomendações e receitas, muitas com a anotação de terem sido experimentadas (numa receita de marmelada que leva menos açúcar, indica ser “a que usamos”) e algumas comentadas (de uma pessegada de pedaços, regista a apreciação “excelente” como, de uns bolos de mel, refere “não se use desta”), bastantes com a indicação da proveniência - origem geográfica (Minho, Mirandela, Lisboa, Setúbal, Alentejo, França, Inglaterra, Itália ou Brasil, entre outros) ou menção de quem cedeu a receita (amigos, familiares, médicos ou figuras que lhe mereciam crédito) -, num excelente contributo para a memória das artes da casa, para a informação sobre os ingredientes e produtos então usados e para o conhecimento de aspectos do quotidiano setecentista. O olhar do leitor acompanha o pressentido aroma dos cozinhados de carnes (as mais diversas) e de peixe, da gulodice da doçaria com marcas conventuais, do gosto das massas, das formas de conservar alimentos, mas também das preocupações da época nos domínios das doenças, da vivência religiosa, das relações sociais. E, no caso de haver dúvidas por causa do vocabulário, no final, há um glossário adequado.

Com origem sadina, há apenas uma receita - a de “empadas de peixe como se fazem em Setúbal”: “Tirado o peixe da água, se enxuga muito bem num pano e, posto em pratos, se lhe bota açafrão pisado, com coentro seco somente, e se bandeja muito e, feito isto, se lhe bote um fio de azeite; voltando-se outra vez, pisarão cravo do Maranhão, canela, pimenta, cada um de per si, e, feitas as caixas, se lhe deita no fundo dos três adubos e se lhe acomoda o peixe e, acomodado, se lhe encherá a empada de azeite e se lhe põe a sua tampa e se manda ao forno.” Na margem, ainda se anota que a farinha “será feita de trigo tremês, porque não racha”. Agora, é seguir a recomendação e degustar!...

* J.R.R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 576, 2021-03-10, p. 5.


Fotos: Receita das "empadas de peixe como se fazem em Setúbal" a partir da cópia pública do manuscrito de Francisco Borges Henriques (BNP - cod.7376, p. 83); capa do livro de Francisco Borges Henriques (Ficta Editora, 2020)


segunda-feira, 24 de junho de 2019

Bocage: Obra completa apresentada na Biblioteca Nacional



Entre 2004 e 2007, foram publicados cinco volumes da "Obra Completa" de Bocage pelas Edições Caixotim, num trabalho de organização levado a cabo por Daniel Pires. Contudo, por razões editoriais, o projecto da obra completa bocagiana não foi concluído e vários volumes ficaram por publicar.
A oportunidade de ler a obra completa de Bocage surge agora, também organizada por Daniel Pires, em trabalho publicado pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, projecto que teve o apoio da Câmara Municipal de Setúbal.
A apresentação da obra, a cargo de António Carlos Cortez, vai acontecer em 27 de Junho, pelas 18h00, na Biblioteca Nacional de Portugal.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Para a agenda - Bocage orientalista, na Biblioteca Nacional, hoje



Mais uma iniciativa a assinalar os 250 anos do nascimento de Bocage, desta vez por Ana Margarida Chora, na Biblioteca Nacional. Hoje, pelas 18h30, uma conferência sobre "Bocage e o Oriente". Para a agenda.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Bocage no seu mês - 250 anos depois (28)



Notícia da prisão de Bocage no Mosteiro de São Bento
pelo Tribunal do Santo Ofício (Biblioteca Nacional de Portugal)

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Bocage no seu mês - 250 anos depois (09)



Manuscrito de "O sentimento científico em Bocage", de António Gedeão
(fonte: Biblioteca Nacional de Portugal)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Para a agenda - 3 meses de exposição bocagiana nos 250 anos do poeta



"Da inquietude à transgressão: eis Bocage..." é o título da exposição que a Biblioteca Nacional de Portugal inaugura em 17 de Setembro e que estará patente até 31 de Dezembro. Comissariada por Daniel Pires, com vastidão de títulos no domínio da história da imprensa e da obra bocagiana, a exposição assinala o 250º aniversário do nascimento do poeta sadino (1765-1805). Para a agenda!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Para a agenda - Lembrar Victor Wladimiro Ferreira



Victor Wladimiro Ferreira será evocado em sessão na Biblioteca Nacional em 23 de Abril, numa data que lhe seria querida, já que é o Dia Mundial do Livro. Para ele, que se considerava "um leitor contumaz"... Uma homenagem merecida. Para a agenda.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Para a agenda: cartas que Camilo Pessanha escreveu


Camilo Pessanha escreveu, Daniel Pires organizou, Miguel Real apresenta. A sessão é na Biblioteca Nacional de Portugal, em 22 de Janeiro.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Bocage à vista (50) - 2ª série

Livros com anedotas alusivas a Bocage (2)
(de uma exposição na Biblioteca Nacional de Portugal, em Novembro de 2007)