quarta-feira, 30 de abril de 2008

No seu último dia de Escola

Tenho uma amiga que leccionou hoje as suas últimas aulas na minha Escola. Olhando para trás e cavaqueando com o passado, recordo que sempre pensei que esta era a professora que não queria pensar na aposentação, que vivia também em função da Escola e, sobretudo, dos alunos. Muitas provas disso deu ela ao longo dos cerca de 20 anos em que trabalhámos na mesma Escola. Da “velha guarda”, daquelas que entrou no ensino e o praticou por convicção, por sentimento e por sensibilidade, crente numa Escola alicerçada sobre os princípios da liberdade, do fazer, do respeito, do partilhar com os alunos, seguidora das ideias de Sebastião da Gama, disponível para fazer tudo o que exigisse envolvimento, tudo o que implicasse novidade, manifestando sempre o ponto de vista resultante de leitura sua, pondo na actividade da Escola o mesmo cuidado (diria: carinho) que poria numa coisa “sua”… a Margarida foi mais uma das que não aceitou a imagem que, nos últimos tempos, se fez do professor e da Escola e, mesmo com algum prejuízo, embarcou no pedido de aposentação, que teve resposta rápida e a impediu de concluir o ano lectivo (que ela esperava levar até ao fim, mesmo por razões de estabilidade das turmas e dos cargos em que estava envolvida).
Reconheço o que partilhámos ao longo destes anos, o que aprendi com ela, o pilar que em muitas circunstâncias foi para a Escola e mesmo para mim. É justo que o testemunhe e o agradeça, quer pelos momentos bons, quer pelos mais difíceis e mesmo pelos que nem sempre foram de concordância.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Rostos (47)




Painéis do 1º Centenário do nascimento de Manuel Ribeiro de Pavia
"Alentejo do espanto e do sonho", em Mora e em Pavia

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Avaliação dos Professores e entendimento com os Sindicatos, segundo Marcelo

No programa “As Escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa” de ontem, na RTP, a nota final foi para o entendimento entre o Ministério da Educação e a Plataforma Sindical sobre a avaliação do desempenho docente. Reproduzo:
Em relação ao acordo entre o Governo e os Professores, há que dizer: primeiro, a Ministra recuou, e recuou bem, recuou no número de professores avaliados, muito menor, nos critérios e nas consequências, que já não são definitivas se forem negativas; os sindicatos, e bem, fizeram aquele acordo, porque este é um período em que perderiam necessariamente o poder de mobilização, que é uma conquista objectiva da luta dos sindicatos, melhor, da luta dos professores em geral; terceiro aspecto, a solução encontrada foi uma solução à portuguesa – temos uma lei, no estado de direito democrático deveria aplicar-se a lei, não, faz-se um acordo entre a Ministra e, ironia do destino, a Ministra que mais zelava a autoridade do Estado, e os sindicatos, para não cumprir a lei. Portanto, combinamos o seguinte: cumprimos assim-assim. As leis são para cumprir, mas neste caso cumpre-se assim-assim. Bom, é Portugal… A solução final foi sensata, a metodologia… quando eu hoje explico aos meus alunos, eles ficam a pensar: para que é que servem as leis? Não valia a pena ter feito outra lei ou ter mudado a lei sem necessidade de um acordo.

Avaliação do Desempenho Docente - O que nasce torto...

"O que nasce torto..." é o título de um artigo de José Eduardo Lemos, membro do Conselho das Escolas, saído no Público de hoje, que tenta responder à questão "Por que é este modelo de avaliação do desagrado de tantos profissionais e alvo de tanta contestação?" Quatro são as razões fundamentais que o autor apresenta e que transcrevo:
"(...) 1.Falta de legitimidade e competência - Os professores não reconhecem a todos os avaliadores nem a legitimidade nem a competência para os avaliarem. Os avaliadores não só não tiveram qualquer formação em avaliação de desempenho do pessoal docente (aliás, nunca tiveram de avaliar, nem, muito menos, classificar um professor), como também eram, em Agosto passado, colegas dos avaliados em nada se distinguindo deles: nem em saber, nem em experiência, nem em habilitações, nem em competências específicas nesta matéria. O próprio concurso a professor titular, para além de conter vícios legais, criou uma separação artificial na carreira docente e não foi capaz de legitimar os avaliadores, nem, muito menos, credibilizar o modelo.
2. Contingência dos itens de avaliação. Para além das fichas de avaliação terem sido alteradas ao longo do processo, alguns itens de avaliação são incomensuráveis, contingentes e mal formulados. Um dos erros mais frequentes é a incorporação de vários itens num só. A título de exemplo, veja-se a formulação de "um" dos itens de avaliação: Cumprimento do Serviço e dos Objectivos do Apoio Educativo. Ora, trata-se avaliar num único item duas dimensões que podem até não ter correlação directa. A estes erros de formulação há que juntar ainda a elevada subjectividade dos itens. Alguns deles são tão relativistas que seria mais sério estabelecer-se, logo de início, que a avaliação seria feita de acordo com os critérios de cada avaliador.
3. Falsos resultados, falsa qualidade - Defende-se que este modelo de avaliação favorece a melhoria dos resultados escolares e a qualidade de ensino. A ideia de avaliar professores com base nos resultados escolares dos respectivos alunos é pertinente. Mas a ideia de que se pode considerar na avaliação dos professores os resultados escolares dos alunos, quer obtidos em exames nacionais, quer na avaliação feita pelos professores é peregrina e perigosa. Peregrina, porque nem todas as disciplinas são sujeitas a exame, aliás, a esmagadora maioria delas não é. Perigosa, porque não se pode deixar nas mãos dos professores atribuir as classificações que melhor lhes convirão para atingir os seus objectivos de avaliação. Que critérios se aplicarão na avaliação dos professores cujas disciplinas não são sujeitas a exame? Que seriedade existirá num processo de avaliação em que o avaliado está dependente das classificações que atribui aos seus alunos?
4. Intempestividade e mutação. Foram as duas primeiras imperfeições deste modelo, cuja implementação se fez de forma intempestiva e a despropósito. Destes dois erros fatais resultaram dezenas de mutações no modelo que foi sendo "flexibilizado" e "simplificado" ao sabor das conveniências e das contrariedades circunstanciais. O processo de avaliação está a decorrer ao mesmo tempo que vão sendo introduzidas alterações no modelo, nas fichas, nos prazos e nos procedimentos de avaliação. Hoje desconhecem-se ainda todas as peças do modelo de avaliação em vigor e ao qual já se submeteram alguns professores. Se o modelo fosse tecnicamente capaz e exequível, já estaria no terreno há muito tempo. Acontece que, neste momento, para resolver um problema político e serenar os ânimos, vai aplicar-se um modelo de avaliação inócuo e inconsequente no que às classificações negativas diz respeito.
(...)"

domingo, 27 de abril de 2008

Já chegou a "Ler"

A revista Ler, do Círculo de Leitores, ressurgiu. Com novo formato e a qualidade que sempre a caracterizou. Dirigida por Francisco José Viegas, que já a dirigira entre 1990 e 2000 (nº 9 a nº 48). E volta-se a sentir o prazer de viajar pela escrita da literatura e da edição. A partir desta saída – com o nº 69, correspondente a Maio –, a revista terá periodicidade mensal, depois de ter acompanhado o ritmo das estações.
Após dois anos de interrupção (o nº 68 foi publicado em 2006), é bom o reencontro com a Ler, ideia, aliás, perfilhada pelo próprio director, que escreve no editorial: “O número que o leitor tem nas mãos é apenas o recomeço de uma ideia que não se perdeu e não poderia perder-se, apesar de ter mudado o seu rosto.”
Pela sua cerca de centena de páginas passam motivos diversos e cativações plurais. Há as entrevistas longas com António Lobo Antunes (em luta contra a intelectualidade, testemunhando que a doença o mudou, falando do amigo Cardoso Pires e de outros, denunciando as suas preferências literárias) e com Paulo Teixeira Pinto (o novo dono da Guimarães, na sua vertente de esteta e de amador de livros e de pintura, que se comenta como estando na entrada de uma quarta vida, depois da política, da academia e da banca) e a entrevista curta com Diogo Pires Aurélio (mais específica, sobre a filosofia e a política). Há o dossier “Os 50 autores mais influentes do século XX e o que aprendemos ou devíamos ter aprendido com eles”, organizado por José Mário Silva, por onde passam os nomes de todas as bibliotecas e a cultura do século, com chamadas de atenção, em duas ou três linhas, para “o que nos ensinou” cada um deles. Há ensaio, como o de Miguel Real, sobre as heterodoxias de Eduardo Lourenço, caminhos de antecipação e de pensamento. Há apreciações a livros, em extensão variável, de géneros díspares, onde até cabe o comentário à última edição do Dicionário de Espanhol-Português da Porto Editora. Há pré-publicação (em extractos), de Lainez e Cortázar. Há autores que se dizem e (se) mostram, como Teolinda Gersão (em escrita de um romance) ou Pedro Tamen (entre a tradução e a sua casa em Palmela). Há crónicas (muitas), entre as penas de Abel Barros Baptista (o primeiro neste número) e de Onésimo Teotónio de Almeida (o último, com um texto sobre a escrita, o ciúme e a rivalidade entre sportinguistas e benfiquistas). Há espaço para ler e pensar, para escolhas e deleites, para esperar pelos números que se seguirão.

Minudências (24)

Na Educação, um casamento por conveniência
"(...) Na Educação, Ministério e Sindicatos acabaram o divórcio, mas não foram além de um casamento de conveniência. Foi importante serenar os ânimos neste terceiro período, mas impressiona verificar como o essencial ficou por discutir: a verdadeira natureza da avaliação dos professores. É que avaliar pressupõe uma hierarquia, um desnível entre aquele que avalia e o que é avaliado! Em todos os sectores, os avaliadores são os que têm melhor curriculum e mais experiência, ou pelo menos os que ocupam uma posição mais credenciada. Nos professores tudo está inquinado à partida: se o concurso para professor titular cometeu a terrível injustiça de só valorizar os últimos sete anos, deixando de fora muita gente com carreira excepcional, como podem os docentes aceitar serem avaliados inter-pares, por colegas que (em muitos casos) acham que deveriam ter ficado para trás? Portanto, tudo a fingir até final do ano lectivo, tudo por resolver a partir de Setembro. Parece um casamento à antiga..."
Daniel Sampaio. "Casamentos por conveniência". Público (revista "Pública"). 27.Abril.2008

sábado, 26 de abril de 2008

Intervalo (6)

Parágrafo (Setúbal, Parque de Vanicelos)

Os jovens e a política

O Presidente da República revelou ontem, na Assembleia da República, na celebração do 25 de Abril, que um estudo sobre os jovens e a política detectou a “insatisfação dos portugueses em geral com o funcionamento da democracia” (estou a citar do Público). O amargo da questão foi para os resultados obtidos entre os jovens e o Presidente lembrou o pormenor das respostas a três perguntas que havia no inquérito – “qual o número de Estados da União Europeia, quem foi o primeiro Presidente eleito após o 25 de Abril e se o PS dispunha ou não de maioria absoluta no Parlamento” – para dizer aos deputados e ao país: “metade dos jovens entre os 15 e os 19 anos e um terço entre os 18 e os 29 anos não foi sequer capaz de responder correctamente a uma das três perguntas”. Obviamente, o Presidente da República chamou a atenção para aspectos da democracia que ainda não estão cumpridos, tais como a necessidade de “um maior empenhamento cívico dos cidadãos” e de “uma nova atitude da classe política”, defendendo que “os centros de decisão têm de procurar uma política de proximidade face aos portugueses” e que os partidos devem “ouvir o povo e falar-lhes com verdade”.
A questão estava lançada, pois, e o Público procurou comentários de políticos relativamente a esta intervenção do Presidente da República, que foram unânimes em concordar com o dito: “Eu só posso concordar com o senhor Presidente e manifestar a minha adesão à vontade que o Presidente exprimiu de fazer tudo para chamar mais a atenção dos jovens” (José Sócrates), “Penso que, de futuro, todos os agentes políticos terão essa missão de tentar mobilizar mais os jovens” (Vitalino Canas), “O Presidente da República tem toda a razão no que disse” (Santana Lopes), “Não há hoje políticas que promovam a participação política dos jovens” (Francisco Louçã), “Mais vale tarde do que nunca, mas que ninguém se demita das suas responsabilidades em relação àquilo que fizeram no plano da formação e da educação dos jovens” (Jerónimo de Sousa).
E, aqui, fica o espanto: será que ainda não tinham dado por nada? será que, mais uma vez, vai sobrar para a Escola a responsabilidade da causa destes resultados?
Aditamento às 20h40
Acabo de ler na edição on line do Público notícia da LUSA a dizer que o Presidente da República vai debater com líderes juvenis o "afastamento" da política - «O anúncio foi feito pelo Chefe de Estado em declarações aos jornalistas após inaugurar a 25ª edição da feira de agro-pecuária Ovibeja, em Beja, um dia depois de discursar na sessão solene comemorativa do 25 de Abril, na Assembleia da República. (...) Por um lado, Cavaco Silva quer saber a opinião de líderes de organizações de juventude sobre a "realidade do afastamento dos jovens em relação à vida política" e, por outro, sobre "aquilo que pode ser feito para inverter a situação". (...) "Fiz um apelo a uma reflexão serena e séria sobre um trabalho sério, fundamentado e com dados concretos e não apenas baseado em suposições", disse. "Espero bem que, perante uma situação que é grave, todos, não excluo ninguém, nem excluo tão-pouco o Presidente da República, façam uma reflexão serena e construtiva sobre as consequências do afastamento dos jovens em relação à vida política", apelou.» A reunião vai ser em Maio. A reflexão serve para todos.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O mais belo cartaz para o dia de hoje (e uma lembrança)

"Sérgio Guimarães é um nome hoje totalmente esquecido, embora tenha vivido durante anos, ligado ao meio teatral, às artes plásticas, à fotografia e, mais perto do fim, à edição. (...) Ninguém o recorda, hoje. E, no entanto, Sérgio Guimarães arrisca-se a ter ficado para sempre ligado à nossa História. Será difícil que, nos mais próximos anos, ele não seja lembrado, anonimamente, sem dúvida, dado o seu nome se vir a perder. Mas não se perderá uma fotografia, das mais conhecidas do 25 de Abril. É bem provável que os livros de História, sempre que se debrucem sobre a revolução dos capitães, incluam essa fotografia. Refiro-me àquela em que um rapazinho louro coloca um cravo na boca de um cano de espingarda, firmada pelo braço de um soldado, espécie de ex-libris do Movimento das Forças Armadas. (...)"
Orlando Neves. Volume Primeiro - Os factos (Memórias). Matéria Escrita, 2004, pp. 82-83.

Em Pegões, na escola, com alunos e com Sebastião da Gama

“O senhor pode dizer-me que história vai contar?” perguntava, com voz curiosa, a pequena. “Mas, se quiseres, podes assistir…”, esbocei, como convite. “Mas a que horas é?” Que ia ser às dez. “Mas, às dez e cinco, vou ter teste… Eu sou de 6º ano e quem cá vem são os de 7º ano”. Quis saber o nome. Laura. Que gostava muito de ler. “Eu venho contar a história de uma pessoa… É difícil contar-ta em cinco minutos…” Que já sabia que eu ia falar sobre Sebastião da Gama e que sabia que era um poeta, que agora andava a ler coisas sobre o Andersen porque estavam a trabalhar sobre contos dele. “E sabes que ele viveu durante um mês em Setúbal?” Que não sabia. “E começou um conto em Setúbal…” Como se chamava? “O sapo”. Tinha que se ir embora. Dei-lhe um caderninho sobre Sebastião da Gama, os olhos brilharam de prazer, gostava de ler, muito… “É uma boa leitora que aqui temos”, explicava-me a professora que assistira ao final da conversa. E a Laura lá foi, textos de Sebastião da Gama debaixo do braço, para o teste…
Os colegas da Laura, de 7º ano, começavam a chegar e a sentar-se em semi-círculo pelo chão da biblioteca, numa operação de sossego e de expectativa. Apresentei-me, disse ao que ia. Viram uma pequena reportagem sobre Sebastião da Gama, feita pela Joana Fernandes, e viram, em power point, muito do que foi a obra e a vida do poeta, entremeada com cenas da Arrábida, da literatura, da escola, dos livros. Uma hora e tal de atenção, com as entradas na leitura de poemas por parte de alguns dos jovens, de que recordo os nomes de Sónia, Raquel, João, Letícia, Marcela, Cátia e Jessica… No final, perguntas. O que é que faz a mulher do Sebastião da Gama agora? Quantos anos é que ele foi professor? Que doença o vitimou? Porque foi ele para o Portinho da Arrábida? O senhor acha que é um professor igual ao Sebastião da Gama? Ia respondendo à medida do possível e pensei alto quando estava a responder a esta do tipo de professor que podia ser, sem os querer defraudar… Pelos vistos, algumas citações do Diário quanto à forma de um professor olhar os alunos tocou-lhes! Deixei-lhes o último número do “Boletim Informativo” da Associação Cultural Sebastião da Gama e doze páginas de poemas do “Poeta da Arrábida” para cada um. Alguns confessaram que tinham gostado muito. Havia alegria estampada. Ainda me ofereceram um desenho com os autógrafos, a título de recordação. Aquele espaço irradiava vida.
Foi na manhã de ontem, na Escola Básica 2, 3 de Pegões. Com alunos mesmo motivados, curiosos, interessados, participantes, ávidos de saber… E com professoras e professores que também os têm feito assim. Uma manhã em cheio, que tenho que agradecer a todos, também.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Fui revalidar a carta de condução...

A idade apanha-nos e, frequentemente, a lei vem atrás dela. É o caso, com a renovação das cartas de condução, cuja primeira vez ocorre, a partir deste ano, aos 50 anos. E lá fui tratar da revalidação a uma Loja do Cidadão, atendido por simpática funcionária. Quando a vi pegar na minha carta e preparar-se para a arquivar, perguntei-lhe quanto tempo demorava a nova versão a chegar ao destinatário. “Até quatro meses, a guia que lhe damos tem a validade de quatro meses…” Feitas as contas, os quatro meses que a minha nova carta poderia demorar a chegar caíam já depois de meados de Agosto, em época de férias. “Mas a guia não vale no estrangeiro, pois não?”, perguntei, já preocupado porque pensava dar uns pulozitos até Espanha, ali mesmo ao lado do sítio onde costumo fazer uns diazinhos no Verão. “Não, não vale”, esclareceu. “Mas pode ficar com a sua carta e com a guia, ambas com a mesma validade de quatro meses, se quiser…”, sossegou-me. Claro que queria. “Mas, nesse caso, não lhe é enviada a nova carta para casa. Terá que a ir buscar à DGV e, na altura, entrega a carta actual…” Claro que nem me importava. “Mas avisam-me logo que esteja pronta, não é?”, quis saber. Que não, que não avisavam, que eu teria que passar por lá para saber se já teria chegado e que, se chegasse ao fim dos quatro meses sem nova carta, deveria pedir a revalidação da guia…
Surpreendi-me com as tecnologias. Decidi aceitar à mesma as condições, mas contrariado por estas coisitas que fazem ao cidadão. Então não é possível ser-nos enviada uma cartita a dizer que a nova carta já chegou e para a irmos levantar? Então não é possível enviarem-nos, em tempo de choque tecnológico, um “mailzito” a dizer que já podemos levantar a nova carta? Então temos que ir para uma fila para saber se já chegou, desperdiçando tempo, atafulhando os serviços? Ou será que há receio de que os interessados se possam esquecer de ir levantar a carta? Francamente, não percebo, mesmo porque a carta que temos que devolver já lá ficou com um carimbo a dizer que só tem validade para os próximos quatro meses... Imaginava que tudo era mais simples. Revalidar a carta por uma decisão legal demora hoje mais tempo do que me levou a tirar a carta há 30 anos, quando eu pensava que agora o processo era apenas burocrático e administrativo, simples com a informática. Quando tirei a carta há três décadas, enviaram-ma pelo correio; agora, tenho que ir aos serviços perguntar se já chegou e, no caso de não ter chegado, voltar lá dali a dias… Francamente!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Sebastião da Gama - "O poeta beija tudo"

É de Abril, mês do Poeta da Arrábida e da própria serra que o adoptou. Chama-se "O poeta beija tudo - Sebastião da Gama". É uma reportagem de cerca de 12 minutos, assinada por Joana Fernandes. Está na Plataforma do Sado e vale a pena ver.

Sebastião da Gama em Ponte de Lima, em 21 de Setembro de 1947

domingo, 20 de abril de 2008

Máximas em mínimas (23)

Decorar, memorizar
"(...) A dicotomia que se criou há uns 30 anos que considera um horror decorar a tabuada, ou as estações de comboio, e que o importante é apenas perceber, é uma dicotomia que tem sido muito prejudicial. O que é bom é decorar e compreender, e ambas se reforçam. Mais: às vezes é útil decorar alguns automatismos sem os perceber, só os vindo a entender mais tarde. Não é preciso que a criança saiba o que é a corrente eléctrica para nós lhe ensinarmos que não pode colocar os dedos na tomada. No ensino há muitas coisas assim. (...)"
Nuno Crato. Entrevista in Público. 20.Abril.2008

O 9 de Abril na revista "Batailles"

O mais recente número da revista Batailles - L'histoire militaire du XXe siècle (nº 27, avril-mai.2007) traz como tema de capa “Les offensives allemandes de 1918” e dá algum destaque à colaboração portuguesa no exército aliado da Primeira Grande Guerra, assim como ao desastre sofrido em La Lys, em 9 de Abril de 1918.
“Les soldats portugais dans la Grande Guerre” é a primeira referência à participação lusa no conflito, assinada por Dominique Bussillet, que parte das seguintes ideias: “La présence portugaise aux côtés des Alliés pendant la Première Guerre Mondiale est peu souvent évoquée; elle est pourtant bien réelle. Mais quels motifs avaient pu pousser la toute jeune république portugaise à prendre part à un conflit que ne la concernait pas directement?” A questão é pertinente porque Portugal se mantinha fora dos conflitos europeus, mais ocupado com a política interna e com a segurança das colónias, ameaçadas por combinações internacionais, particularmente Angola e Moçambique.
Iniciada a Grande Guerra, a posição portuguesa adquiriu os contornos de uma “frágil neutralidade”, sempre na dependência da aliança com Inglaterra, até Março de 1916, altura em que Portugal decidiu aprisionar os barcos alemães que aqui estavam aportados, assim respondendo a um pedido inglês, e se tornou, em consequência, inimigo da Alemanha. Para Bussillet, o retrato da entrada de Portugal na Guerra tem razões plurais: “C’est donc un concours de circonstances et de raisons diverses qui motive cette décision du régime républicain portugais d’entrer dans le conflit: le souci de maintenir ses colonies, avec l’arrière-pensée de revendiquer sa souveraineté à la fin de la guerre, le besoin de créer une légitimité à une jeune république et de lui donner une identité distincte de l’Espagne, avec une véritable indépendance nationale, sans oublier l’envie du gouvernement en place de s’affirmer politiquement sur la scène européenne.”
A evocação passa ainda pela referência ao “milagre de Tancos” (“en un temps record, il s’agit de transformer des hommes qui connaissaient une vie paisible et plutôt rurale en combattants aguerris pour un conflit dont on connaît la dureté”), pela duração da viagem até à Flandres (3 dias de barco até ao porto de Brest e outros tantos de comboio até Aire-sur-La-Lys, a 30 quilómetros das trincheiras), pela descrição da vida dos portugueses na frente de 11 quilómetros que constituiu o “sector português” (tranquilidade no Outono e Inverno de 1917, ainda que com condições de vida adversas, e catástrofe de Abril, momento em que Gomes da Costa dispunha de 20 mil homens para defender 11 quilómetros enquanto os americanos tinham 60 mil homens para defender 14 quilómetros). O desfecho não poderia ser muito diferente do que foi, pois, como Bussillet refere, “les hommes souffrent du travail incessant de remise en état des tranchées, de leur mauvais équipement, des conditions climatiques, d’une alimentation plus que rudimentaire”, além de que “le moral est au plus bas et la propagande allemande ne manque pas de s’affirmer que le gouvernement portugais de Sidónio Pais ne veut pas de cette guerre”.
A batalha de La Lys integrou o programa de ataque Georgette, preparado pelo alemão Ludendorff. O massacre sofrido a partir das 04h15 de 9 de Abril fica caracterizado como sendo de uma “rare violence”, devida ao uso da artilharia pesada e do gás, cifrando-se, no lado português, na morte de 29 oficiais e 369 soldados e no aprisionamento de 270 oficiais e de 6315 soldados.
“Que s’est-il passé le 9 avril 1918?” é o segundo texto sobre a intervenção portuguesa, assinado por Yves Buffeteaut. A pergunta do título pretende encontrar resposta nos relatórios do general Horne e do general Gomes da Costa, ambos veiculando versões nem sempre coincidentes. O relator britânico atribui a responsabilidade do insucesso aos portugueses, mas Buffeteaut, depois de ler o texto do general português, conclui: “On comprend que les Portugais ont été littéralement assommés par le bombardement allemand et que les Britanniques ont aussi beaucoup souffert. Dans ces conditions, il semble que chacune des divisions se soit en quelque sorte repliée sur elle-même, tentant d’éviter d’être submergée, mais bien incapable de conserver ses liens avec les unités voisines. Dans ces conditions, les Portugais ne se sont pas comportés plus mal que les Britanniques et ne peuvent en aucun cas être tenus pour responsable de l’effondrement allié du 9 avril. Ils ont probablement résisté moins longtemps, mais leur division était évidemment plus faible et moins aguerrie que les unités voisines”.
Yves Buffetaut escreve ainda “Circuit de La Bassée”, um roteiro sobre os cemitérios e a memória de militares estrangeiros na região, com destaque para o Cemitério Militar Português, em Richebourg, e para o monumento de Teixeira Lopes em La Couture, inaugurado em 1928, em pedra e bronze, com recurso à alegoria – na parte da frente: “La scène se déroule devant les ruines d’une église gothique. Devant une arcade, le Portugal, représenté dans les traits d’une femme armée de l’épée de Nun’Álvares, le héros légendaire de l’indépendance du pays, encourage un soldat portugais. Celui-ci se bat à coups de crosse avec la mort, un squelette armé d’une faux”; na parte traseira do monumento, em pedra: “un tombeau qui surplombe différents effets militaires, dont les casques très reconnaissables, des fusils, un tambour crevé, etc. Un Christ en croix a été ajouté postérieurement au-dessus du tombeau.”
[fotos do monumento de La Couture a partir de mémoires de pierre]

Ler os outros

Em Combustões, "Custa dizê-lo": "(...) Menezes saíu. E daí ? Haverá decerto centos de mediocridades e insignificâncias que o possam substituir. O drama não é termos Betas como Menezes a liderar partidos. O drama é não haver alternativa alguma."
Em Por um Mundo Melhor, "Notas Soltas": "O que eu sei / é que queremos uma educação moderna e inclusiva. // O que eu sei / é que queremos encontrar respostas para os nossos problemas / para os problemas dos nossos alunos / para os problemas da nossas escolas. // O que eu sei / é que a avaliação só tem sentido se for incentivo para a melhoria / minha, nossa / dos nossos alunos / da nossa escola. // O que eu sei / é que temos de tomar decisões / de imensa complexidade muitas vezes / e muitas vezes em segundos. // O que eu sei / é que também somos parte da "solução" / e que as mudanças têm que ser construídas / tijolo a tijolo / e com as pessoas / os "rostos" das nossas escolas. // Sei que tenho de prestar contas / mas o que eu sei / é que queremos liberdade pedagógica / liberdade de acção / liberdade intelectual. // O que eu sei / é que somos pessoas / que os alunos são pessoas / que temos "razão" e "coração". // (...) // O que eu sei / -não!- / o que sabemos todos."
Em Terrear, "Proposições para se compreender o que (não) se passa": "Vivemos hoje um tempo caótico e contraditório. De muitas perplexidades. De grande confusão entre o que devia ser o essencial e o que é necessariamente secundário. No refluxo de uma política que foi sentida e profissionalmente vivida no sentido de um afrontamento injusto. (...) Mas as saídas do labirinto passam ainda e necessariamente pelos professores. Pela afirmação da vontade da autonomia e das liberdades (com os seus inerentes riscos, sempre preferíveis a uma ordem vassálica). Pela dedicação e dádiva ao outro. Pela investigação. Pela compreensão e valorização da diferença e da diversidade. E não passa pela postura da 'terra queimada', pela cega defesa corporativa, pelo insulto aos colegas que pensam de maneira diferente, pela pulsão totalitária, pelo 'medo de existir'. Se a opção maioritária for por este caminho, podem os professores vestir de vez as 'mangas de alpaca' até que o 'mão invisível do mercado' venha estabelecer e impor as novas regras do jogo. E aí as trevas e ranger de dentes serão outros."

sábado, 19 de abril de 2008

Francisco José Viegas traz Júlio Dinis ao público mais jovem

A "Colecção de Clássicos da Literatura Portuguesa contados às crianças" (Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições), que acompanhou o semanário Sol ao longo de doze semanas, chegou hoje ao fim, com a adaptação de Os fidalgos da Casa Mourisca, de Júlio Dinis, versão a cargo de Francisco José Viegas, ilustrada por Helena Simas.
O que é de valorizar nesta adaptação é a simplicidade da narrativa e da escrita, o que nem sempre aconteceu nos outros títulos da colecção. É, aliás, o narrador quem, no início, dá o mote para essa simplicidade, revelando que esta história não é mais complexa do que as outras que se contam - "Em todas as histórias há uma história de amor. E em todas elas há heróis."
O amor é, então, uma tónica; os heróis são outra constante. e assim se conquista o público infantil, habituado à presença dos heróis e também conhecedor de que é costume haver encontros em que amor manda.
Depois, são as coordenadas essenciais desta narrativa, logo a justificar o título e a dar a notação temporal: "Esta história aconteceu há mais de cem anos, quase há duzentos, com uma família que outrora fora rica e que, com o tempo, foi empobrecendo até se encontrar perto da ruína. Essa antiga família de fidalgos vivia numa velha casa que, por ser construída como os velhos castelos mouros, inspirada nos antigos palácios encantados que existiam mesmo antes de Portugal ter nascido, era conhecida por Casa Mourisca." A associar às marcas já apontadas, há neste início os elementos necessários ao encantamento, ao fascínio, ao maravilhoso - os "palácios encantados" entrelaçados com os "velhos castelos mouros".
Está criado o cenário espacial e temporal para a história que congrega personagens como D. Luís, tomé da Póvoa, Jorge e Berta. Apesar de haver referências a outras personagens (Maurício, Frei Januário, LUísa, Beatriz e Gabriela), o protagonismo está reservado, quase em exclusivo, àqueles, numa operação de simplificação narrativa, em que não falta quem ajude o herói ou quem se lhe oponha...
Ao longo da história, há ainda sítio para aprendizagens e transmissão de valores: a dignificação pelo trabalho - "havia do outro lado da colina uma outra propriedade que seguia um rumo muito diferente: a herdade de Tomé da Póvoa e da sua mulher Luísa, um modelo para todos, em que se trabalhava desde cedo e onde as colheitas animavam todo o vale, cheio das cores dos seus pomares e dos ruídos alegres dos quintais onde tudo crescia e nada faltava" - e a primazia da excelência da personalidade - "mais importante do que Berta ser rica ou ter nascido numa família nobre, era o seu carácter, a sua doçura, a sua bondade".
No final, dois sinais de sucesso e de paz: o amor conseguido entre Jorge e Berta (vencendo todos os obstáculos, nomeadamente os sociais) e o regresso da Casa Mourisca ao "seu antigo esplendor".
Francisco José Viegas conseguiu, nesta adaptação, manter o essencial dos linhas comuns das narrativas de Júlio Dinis: na caracterização das personagens, na força das figuras femininas, na valorização do trabalho, na questão social, no traçar dos costumes.
Escrever sobre esta adaptação pode ser ainda pretexto para lembrar uma outra publicação destinada ao mesmo público sobre Júlio Dinis, recentemente aparecida: o nº 8 da revista Na crista da onda (2ª série, Outono.2006), editada pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, que apresenta, à semelhança dos outros números, um pequeno roteiro biográfico dinisiano, uma resenha das principais obras e uma cronologia contemporânea do autor.

Setúbal tem 148 anos de cidade

Passam hoje 148 anos sobre a elevação de Setúbal a cidade, quando reinava D. Pedro V e governava Fontes Pereira de Melo. Cerca de dois anos antes, em 14 de Abril de 1858, uma carta redigida pelo executivo camarário fora dirigida ao rei, pedindo a elevação da vida à categoria de cidade. O seu primeiro subscritor era o presidente da Câmara Aníbal Álvares da Silva (sobre cujo falecimento passa neste ano o primeiro centenário).
Que argumentos apresentou essa carta para tal pretensão? “Setúbal, conhecida em toda a parte do mundo pela extensão do seu comércio de sal, laranja, cortiça e cereais; compreendendo o seu concelho mais de sete mil fogos, com perto de trinta mil almas, rivaliza, em população e grandceza, com todas as cidades do reino, exceptuando Lisboa e Porto; e a todas disputa o lugar imediato a estas duas capitais da Monarquia. (…) Setúbal (…) todos os dias está recebendo, em seu magnífico porto, o preito que lhe pagam as principais nações do Mundo, cujos estandartes ali flutuam, atraídos pela excelência dos seus géneros e produtos da sua indústria. É uma povoação que progride, que enriquece e se civiliza. (…) A que alto graus de prosperidade não poderá chegar esta grande povoação, se ligada pelo já contratado ramal à linha férrea do Alentejo, se facultar pelo seu porto a entrada de mercadorias estrangeiras e se destruir o actual sistema económico que obriga a entrar em lastro as embarcações que ali vão comerciar? A que esplendor não chegará Setúbal, se tornada empório da riqueza do Alentejo, ela puder enviar ao centro desta província os produtos estrangeiros de que ela possa carecer?”
A resposta foi dada cerca de dois anos depois, através de decreto assinado no Paço das Necessidades em 19 de Abril de 1860, a que foi dada a seguinte redacção:
Decreto pela 2ª Repartição da Direcção-Geral de Administração Pública
do Ministério do Reino
Tendo em consideração que a muito notável vila de Setúbal goza naturalmente da primazia de ser a povoação imediata em importância às primeiras cidades do Reino, não só pela sua grande população e excelente posição topográfica e pela qualidade dos edifícios que avultam dentro de seus muros, mas também pelo movimento e vastidão do seu comércio, devido ao porto de mar, por onde anualmente se faz uma considerável exportação de géneros e produtos agrícolas;
Atendendo a que estes artigos comerciais devem ter progressivo incremento com a ligação de Setúbal à cidade de Lisboa, por meio de uma linha de vapores no Tejo e de um caminho-de-ferro desde o Barreiro até àquela vila;
Por estas razões e tendo em muito apreço os constantes testemunhos que os seus habitantes têm dado de nobre dedicação ao trono e às instituições constitucionais da Monarquia, hei por bem, anuindo à representação da Câmara Municipal de Setúbal, em vista da informação do Governador Civil de Lisboa e resposta fiscal do procurador geral da Coroa, fazer mercê à vila de Setúbal de a elevar à categoria de cidade, com a denominação de cidade de Setúbal; e me apraz que nesta qualidade goze todas as prerrogativas, liberdades e franquezas que directamente lhe pertencerem, devendo expedir-se à respectiva Câmara Municipal a carta competente, em dois exemplares, um para título daquela corporação e outro para ser depositado no Real Arquivo da Torre do Tombo.
O Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino assim o tenha entendido e faça executar. Paço das Necessidades, em 19 de Abril de 1860. – Rei – António Maria Fontes Pereira de Melo.
A carta patente a confirmar o título de cidade seria passada três meses depois, em 23 de Julho, assinada pelo Marquês de Loulé.

Hoje, no "Correio de Setúbal"

Diário da auto-estima– 79
Rio Lys – No dia 9 de Abril, passaram 90 anos sobre o ataque que os alemães fizeram na frente ocidental, no sector protegido por portugueses, na zona de Armentières, nas margens do Lys, em (ainda) plena Primeira Grande Guerra, e de que resultaram sete mil baixas do lado português (com 400 mortos e 6600 prisioneiros, dos quais 230 faleceriam no cativeiro) e 1500 feridos. Provavelmente, não estaremos em tempos de efemérides; mas a atenção que se dedicou a esta data foi curta. Estamos longe do que sentiriam (e sentem) os franceses relativamente ao conflito de 1914-1918; mas a memória não pode ser apagada. Há uma década, em França, num inquérito que pretendia assinalar os mais importantes acontecimentos do século XX, a 1ª Grande Guerra ficou em quarto lugar, antes da construção europeia, do choque petrolífero ou da revolução russa; nesse mesmo inquérito, os jovens na faixa entre os 15 e os 19 anos puseram a Primeira Grande Guerra em segundo lugar. Obviamente, os inquéritos valem o que valem. Mas os resultados foram estes. Em Portugal, onde já não há sobreviventes dessa guerra, rapidamente se esqueceram os homens que deram a vida e o esforço a esse conflito. O mesmo risco se corria relativamente à Guerra Colonial, bem mais recente e de que há (ainda) muitos sobreviventes… Felizmente, os relatos sobre a Guerra Colonial estão a surgir, feitos pelos seus participantes, assim se pondo fim a um tempo de quase silêncio. Estes sofrimentos não podem ser esquecidos.
Arrábida – O Dia Municipal da Arrábida, em 10 de Abril, teve a sua primeira realização neste ano. Aprovada pela Câmara Municipal de Setúbal a sua criação em 2006, a data para o assinalar viria a ser fixada em finais de Abril de 2007. Razão para a escolha: o dia de nascimento de Sebastião da Gama, poeta azeitonense, que, no curto período de vida que teve (27 anos), manteve a Arrábida como tópico da literatura portuguesa, assumiu publicamente a preservação do ambiente da serra, deu-a a conhecer nos seus segredos de beleza. Veremos por quanto tempo se vai poder sentir a Arrábida como lugar de eleição, como motivo estético, como fundamento de espiritualidade… É ela o sítio onde “o mato cheira como dantes… Fala / comigo como dantes, reza, escuta…/ E o perfil da Montanha, como dantes, / adoça-se no escuro…”; é ela a “catedral / onde o órgão-Silêncio salmodia”; é ela, onde “a Primavera, quando chega, / já se encontra a si própria a esperar-se!” Assim o dizia o Poeta da Arrábida, Sebastião da Gama de seu nome.
(Des)acordos – Depois da manifestação em Lisboa que reuniu os 100 mil professores, ficaram as perguntas: e agora? que fazer com esta adesão? Era um pouco à maneira do que aconteceu com os votos no candidato Manuel Alegre, nas últimas eleições presidenciais, uns e outros números surpreendentes pelo que demonstravam de descontentamento, de união, de vozes de indignação. O discurso do poder parece ter amaciado no que respeita à educação; um entendimento parece ter surgido entre Ministério e Plataforma sindical; nas escolas, quem quis votou quanto à adesão a esse entendimento; a Plataforma veio dizer que os votos na concordância quanto ao entendimento foram “esmagadores” (e voltou-se à linguagem bélica da separação e da oposição entre frentes, questão sub-reptícia talvez, mas implícita). Ainda que dando o desconto do tempo (talvez curto ou a ser encurtado), fica a dúvida: eram estas as expectativas dos 100 mil que se manifestaram e de todos os outros que, não tendo estado lá fisicamente, se solidarizaram à distância das suas vidas?

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O 25 de Abril foi falado na Escola

Os alunos do 3º Ciclo da minha escola apresentaram ontem um trabalho alusivo ao 25 de Abril sob o patrocínio da disciplina de História, na sua “Oficina de História”. A evocação foi sendo construída nas turmas, que procederam a recolha de informação sobre a data, à procura de objectos que eram moda em 1974 e a entrevistas diversas que fizeram recuar os entrevistados até há 34 anos.
Os inquiridos abrangeram um leque diverso – familiares dos alunos, personalidades da cultura, políticos (locais e nacionais), figuras mediáticas, etc. –, podendo ser mencionados, a título de exemplo, os nomes de José Hermano Saraiva, Jerónimo de Sousa, Francisco Ferreira, Mário Soares, Marques Júnior, Almeida Santos, Ana Teresa Vicente, Marcelo Rebelo de Sousa, Mariana Aiveca, Clara de Sousa, António Vitorino de Almeida, Sérgio Godinho, Loureiro dos Santos, Io Apolloni e Carlos Vieira de Almeida, que responderam a um conjunto de cinco perguntas – a já clássica “onde estava no 25 de Abril?”, o que fazia nessa data, as lembranças desse tempo, a opinião sobre as mudanças produzidas de então para cá e a indicação de um objecto, livro ou moda com marca da época.
A colaboração dos entrevistados, num total de 60, está exposta na Escola, à mistura com alguns objectos de há 30 anos que, hoje, já fazem parte da arqueologia ou, pelo menos, da curiosidade, em que se destacam livros publicados na altura ou sobre o que foi o 25 de Abril, um televisor, leitores de cassetes, discos em vinil (singles e lps), máquina fotográfica, bijuterias...
Adília Candeias (Vereadora da CMPalmela) e Cor. José Villalobos (Associação 25 de Abril)

Presentes na sessão evocativa estiveram Adília Candeias, vereadora da Educação da Câmara Municipal de Palmela, e José Villalobos, coronel da Força Aérea e membro da Associação 25 de Abril, que, em jeito de testemunho, partilhou com o público as razões que levaram ao 25 de Abril, essencialmente do ponto de vista militar, com particular incidência na questão da guerra colonial e nos efeitos sociais, psicológicos e históricos que dela advinham. No seu depoimento, José Villalobos enalteceu ainda o papel de quatro figuras importantes ligadas ao 25 de Abril de 1974: Otelo Saraiva de Carvalho, enquanto mentor e estratega da operação; Melo Antunes, como mentor político da acção; Garcia dos Santos, pelo papel desempenhado no sector de Transmissões; Salgueiro Maia, pela coragem demonstrada.
Os alunos apresentaram depois pequenos quadros alusivos à data, não tendo faltado os poemas que também a fizeram (“E depois do adeus”, “Grândola”) nem a encenação de um texto que convidou os participantes à reflexão sobre as vivências anteriores ao 25 de Abril e as mudanças operadas.
Presentes na sessão estiveram alguns dos entrevistados, pais e encarregados de educação, professores e muitos alunos.

No final, "Grândola, vila morena" e cravos

Rostos (46)

Ovos moles, em Aveiro

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Pintores em leituras de Sebastião da Gama

Vinte pintores homenageiam Sebastião da Gama desde 12 de Abril no Club Setubalense (na Avenida Luísa Todi, em Setúbal), num conjunto de cerca de três dezenas de telas, numa acção promovida pela Associação Cultural Sebastião da Gama e pela Câmara Municipal de Setúbal e organizada pela associação ECOSD’ART.
As motivações dos quadros expostos ligam-se à Arrábida, a Azeitão, a versos e à ideia do humanismo do poeta, numa mescla em que os pintores conseguem encontrar marcas da universalidade e da arte em Sebastião da Gama.
As assinaturas nos quadros são de Abílio Pereira, Adelina Pereira, Amélia Sousa, Ana Maria Godinho, Anabela Santos, António Lisardo, Cristina Ramalho, Fátima Alface, Fernanda Marialva, Idalina Meirinhos, Irene Delmar, Isabel Pena, Jaime Fidalgo, Manuel Garcia, Maria Adelaide Fonseca, Maria José Cardoso, Maria do Céu Batista, Marly Carvalho e Teresa Quintela, todos membros da ECOSD’ART, associação nascida na Quinta do Conde em 2004.
No desdobrável que acompanha a exposição, pode ler-se: “Homenagear Sebastião da Gama em Abril é corresponder ao respeito pelo tempo e pela memória. O poeta da Arrábida nasceu no dia 10 deste mês, em 1924, e, nos 27 anos que viveu, elegeu a Arrábida como imagem e motivo poético, defendeu-a da destruição e cantou-lhe as formas, as vistas, os silêncios e o corpo, num acto de dádiva e de criação. Foi por essa razão que a Associação Cultural Sebastião da Gama propôs à Câmara de Setúbal, em 2006, que o Dia Municipal da Arrábida fosse assinalado nessa data, repto que teve aprovação da autarquia em Fevereiro do ano seguinte e que tem primeira realização neste 2008. A esta efeméride quiseram associar-se as telas dos artistas de ECOSD’ART, cujas paletas se envolveram na homenagem ao poeta, que, com letras e versos, pintou a Arrábida a que chamou serra-mãe.”
A exposição, patente até 26 de Abril, pode ser visitada todas as tardes.
[fotos: "Sebastião da Gama na Arrábida", por Anabela Santos, e "Serra e mar", por Maria Adelaide Fonseca]

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Rostos (45)

O homem do vinho, em Porto da Cruz (Madeira)

domingo, 13 de abril de 2008

Rostos (44)

O homem da concertina, em Ponte de Lima

Máximas em mínimas (22)

Quando os pais falam
"(...) Há vozes dos pais boas e más, os leitores que perdoem esta linguagem simplista. São vozes más as que fomentam a intriga (por exemplo, quando os pais recolhem informações nos amigos às escondidas dos filhos), a inveja, a culpa ou a acusação. Quando os pais projectam nos filhos os sentimentos negativos que estão a sentir em relação a outras pessoas e os acusam de coisas que só na aparência dizem respeito aos mais novos. Ou quando os pais, dominados pelos seus próprios sentimentos de insegurança, deitam a sua própria fraqueza para cima dos filhos inquietos. São vozes boas: deves fazer o melhor possível, mas não te inquietes se não fores o melhor; ou põe-te no lugar do outro (a perda deste sentimento do outro é característica de muitas crianças e adolescentes actuais, habituadas a uma gratificação imediata e incapazes de sair da sua posição de autocontemplação). Outra voz boa poderá ser: vais conseguir, se te esforçares com persistência, porque o incentivo ao esforço continuado é um dos êxitos seguros na educação. E também é uma voz boa pensa antes de agir: sobretudo os adolescentes agem muitas vezes sem reflectir, nesta sociedade sensorial que fomenta o constante sentir em vez de pensar. A frase dos nossos avós vê lá até onde podes ir mantém toda a actualidade!"
Daniel Sampaio. "As vozes dos pais". Público ("Pública"), 13.Abr.2008

Máximas em mínimas (21)

Valores em educação
"(...) O problema da violência nas escolas tem que ver com muitas das razões já discutidas; mas tem que ver sobretudo com referências e valores que se ausentaram do espaço público e secular para passarem a ser do domínio e responsabilidades exclusivas da casa, família ou comunidades religiosas, ao mesmo tempo que observamos na sociedade geral o funcionamento de uma democracia da bandalheira (...). E porque esta bandalheira vem dos exemplos de cima, dos que nos representam e tomam as decisões mais importantes sobre os destinos dos cidadãos.
Na adolescência ouvia uns políticos e intelectuais e fascinava-me a sua sabedoria; sentia vontade de ir mais longe, mais alto, tinha referências, modelos a seguir. Não parecem existir modelos assim para os adolescentes de hoje. O facilitismo, a promiscuidade e a corrupção, que os mais poderosos mais facilmente desculpam, passa sempre impunes aos olhos dos mais fracos e desprotegidos. Em democracias onde não predominam o mérito mas sempre os compadrios, onde a justiça tem mão pesada só para os mais fracos, numa sociedade onde se fala muito de ética mas pouquíssimo de valores e moralidade, o que é que se pode esperar das escolas? Que sejam uma antítese do modelo social e ideológico predominante? Ao menos sejamos honestos e reconheçamos que ela é o espelho desta ausência de valores e de modelos referenciais para uma geração que vai gerir a nossa velhice da maneira como aprenderem hoje.
"
Faranaz Keshavjee. "A importância dos valores e referências para a Educação". Público, 13.04.2008.

Máximas em mínimas (20)

Árvores
"Si todos los hombres tuvieran un árbol delante de la ventana, no habría guerras en el mundo. (...) He dicho 'si todos los hombres...'; que sean sólo unos pocos no sirve."
Adan Kovacsics. "El Danubio". Guerra y lenguaje (2007)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Olhares da Arrábida, por Glória Dias




Sebastião da Gama e a Arrábida

A Arrábida desde cedo se revelou a Sebastião da Gama. Nascido em Azeitão, vila mesmo encostada à serra, para lá ele ia passear ainda em criança. A mãe registou e passou o testemunho de uma primeira quadra que o infante terá feito depois de um desses passeios, marcada pela linguagem infantil, mas contendo logo a que seria a principal linha temática do que viria a ser a sua poesia: “Fui passear / à serra da Arrábia / e encontrei / uma mulher grávia”.
A partir dos 14 anos, por razões de saúde, a sua vida teve de se concentrar na zona do Portinho da Arrábida. Ali, entre mar, céu e serra, Sebastião da Gama irá continuar a demandar e a desvendar os segredos da Arrábida, que passará por muitos dos seus poemas, que será calcorreada até à exaustão e que ocupará o título do primeiro dos seus livros, Serra-Mãe, saído em 1945.
Dois anos depois, em finais de Agosto de 1947 (tinha ele 23 anos), perante a provável destruição da Mata do Solitário, escreveu a jornais e a individualidades, clamando contra a degradação da serra e… teve eco. Já antes, em finais de 1942, aquando da construção da estrada pelo alto da serra, trouxera a defesa daquela paisagem para um dos seus poemas, “Tradição”, curiosamente nunca publicado em livro, mas que percorreu já revistas, e programas de divulgação de temática ecológica:

Os engenheiros vieram, mediram, olharam…
Havia árvores velhas…
Mandaram deitar abaixo
e os homens deitaram.

Sem lamentos, sem ais,
as árvores caíram…
Mas os engenheiros não puseram mais;
em seu lugar apenas
três cardos enfezados refloriram.

E os cardos vis são gritos de revolta
das sombras errantes pelo Ar;
das sombras que tinham por abrigos
aqueles freixos antigos
que o machado foi matar.

As sombras gritam, mas os engenheiros
Não põem freixos novos no lugar.


Para a Arrábida convidará muitos dos seus amigos de Lisboa, estudantes universitários como ele – David Mourão-Ferreira e Luís Filipe Lindley Cintra mergulharão também nos segredos e nas belezas da serra, levados pelo sentir de Sebastião da Gama. Ali conhecerá muita gente, a pretexto das suas deambulações pela serra e pelas praias e por causa da frequência da estalagem que a família instalara no forte, no Portinho. Entre outros, citem-se os encontros com Miguel Torga e com o rei Umberto de Itália.
Pela poesia de Sebastião da Gama passam muitas imagens da serra e do mar, como os exemplos demonstram:
tudo fala verdade ao pé do mar…” (in “Canção Inútil”)
rendas de Som o Mar foi levantando…” (in “Nocturno Primeiro”)
eu gosto de te ouvir, ó Vento!...” (in "Baixinho”)
a poesia da Serra adormecida…” (in “Serra-Mãe”)
vi / os poucos metros que vão / da minha Serra às Estrelas…” (in “Vida”)
a Serra é catedral / onde o órgão-Silêncio salmodia” (in “Oração da Tarde”)
Ó Serra (…) aonde a Primavera, quando chega, / já se encontra a si própria a esperar-se!” (in “Versos para eu dizer de joelhos”)
O mato cheira como dantes… Fala / comigo como dantes, reza, escuta…/ E o perfil da Montanha, como dantes, / adoça-se no escuro…” (in “Regresso à Montanha”)
Em 1949, produziu um dos mais lindos textos até hoje publicados sobre as terras em volta da Arrábida, A região dos três castelos, destinado a roteiro turístico por conta da Transportadora Setubalense, em que o leitor faz a viagem saindo de Cacilhas e passando por Sesimbra, Arrábida, Setúbal e Palmela, vivendo o deslumbramento das paisagens. Ainda nesse mesmo ano, a revista Flama publicou um texto seu que revelava aos leitores qual o fascínio que a serra sobre ele exercia: “O mais difícil não é ir à Arrábida (…). Difícil, difícil, é entendê-la: porque boas praias, boas sombras e boas vistas há-as em toda a parte (…); o que não há em toda a parte é a religiosidade que dá à Serra da Arrábida elevação e sentido.” Foi, aliás, esta sacralização que constituiu tema de conversa entre Sebastião da Gama e Teixeira de Pascoaes no encontro que, em Amarante, ambos tiveram em meados de Setembro de 1951 – segundo registo memorialístico do poeta azeitonense, publicado no Jornal do Barreiro nesse mesmo ano, Pascoaes ter-lhe-á dito: “A Arrábida é que é o altar da saudade; eu pu-lo no Marão, porque sou do Norte…” Depois, Sebastião da Gama conclui: “Tive pena que Pascoaes não tivesse nascido na Arrábida.”
[fotos: Glória Dias]

Neste dia, em 1924, nasceu Sebastião da Gama

Pequeno Poema

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais…
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém…

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe…

07-03-1945, Serra Mãe (1945)
[fotos: fragmento do "Registo de Nascimento" de Sebastião da Gama; primeira casa em que Sebastião da Gama viveu, até aos 6 meses, em Azeitão, na Rua José Augusto Coelho, 88 (actualmente estabelecimento comercial)]

Hoje, o primeiro Dia Municipal da Arrábida


Em 28 de Fevereiro de 2007, a Câmara Municipal de Setúbal escolheu a data de 10 de Abril para a celebração do Dia Municipal da Arrábida, que pela primeira vez se assinala em 2008.
Em período de crítica à então anunciada co-incineração a ter lugar na Arrábida, nas instalações cimenteiras da Secil, a autarquia sadina aprovara em Maio de 2006 a criação do Dia Municipal da Arrábida, propondo como data o dia 5 de Junho, por ser aquele em que também é assinalado o Dia Mundial do Ambiente.
Poucos dias após esta decisão camarária, a Associação Cultural Sebastião da Gama apresentou proposta ao executivo no sentido de se congratular com a criação do Dia Municipal da Arrábida, mas propondo como alternativa a data de 10 de Abril, dia em que, no ano de 1924, nasceu em Azeitão o poeta Sebastião da Gama.
Entre os motivos então apresentados, a Associação insistiu nos seguintes:
a) O primeiro livro de poesia de Sebastião da Gama, publicado em 1945,intitulou-se Serra-Mãe, em homenagem à Arrábida, inserindo-se o poeta na linhagem dos que trouxeram a serra para temática da literatura portuguesa;
b) Sebastião da Gama foi o primeiro defensor público da autenticidade e preservação da serra da Arrábida, numa altura em que ainda não havia associações ambientais para o fazerem (1947), chamando a atenção para a destruição iminente da Mata do Solitário por causa de um forno de cal existente em Alportuche, alerta que movimentou várias entidades a nível nacional, que teve repercussão na imprensa diária e que levou, no ano seguinte, à criação da Liga para a Protecção da Natureza (LPN).
A proposta da Associação Cultural Sebastião da Gama considerava num dos seus pontos, quase a rematar: “Assim, salvo mais consistente opinião, a melhor data que pode ser associada ao Dia Municipal da Arrábida é, em nosso entender, a de 10 de Abril, dia do nascimento de Sebastião da Gama, por ter sido ele que, em primeiro lugar, levantou a voz para a preservação da Arrábida, por se tratar de uma figura da região, por se poder valorizar a data do poeta e ser possível falar do ambiente e da serra da Arrábida em duas datas diferentes do ano (na data que se propõe e no Dia Mundial do Ambiente), por assim se poder acentuar o cunho municipal, local e regional da iniciativa.”
Na proposta que a Câmara Municipal aprovou em 28 de Fevereiro de 2007 (Proposta 34/DCED/DICUL/07), a instituir a data de 10 de Abril para celebração do Dia Municipal da Arrábida, foram usados os vários argumentos que a Associação apresentou, mas houve um silêncio total quanto à participação da Associação neste processo.
Entretanto, apesar de a data ter sido aprovada em Fevereiro de 2007, o Dia Municipal da Arrábida é assinalado pela primeira vez apenas neste ano, embora, em 2007, tenha havido uma sessão evocativa da Arrábida levada a efeito na Escola Secundária Sebastião da Gama, em Setúbal.
[em cima: reprodução da carta de Sebastião da Gama que despoletou a protecção da Arrábida e esteve na origem da criação da LPN]