"Os professores tinham prometido concentrar 60 mil até Lisboa. Foram mais: 100 mil, segundo as contas dos sindicatos e também da polícia, que ontem à noite, corrigia a estimativa inicial de 80 mil. Ou seja: um número superior a dois terços do total dos (140 mil) professores do ensino público, básico e secundário, do continente. Porquê? Porque o descontentamento é de tal modo profundo que gerou uma mobilização nunca antes vista entre docentes, trazendo à rua muita gente não sindicalizada, apartidária (quando não mesmo avessa a partidos) e até estreantes absolutos em manifestações. A ministra uniu os professores, dizia-se nas ruas. E uniu-os inabilmente contra ela, numa estratégia que lhe pode custar, se não a permanência na pasta, pelo menos a margem de manobra para as reformas em que cegamente insiste, mesmo sabendo que não tem condições para vir a aplicá-las. (...)"
2. António Barreto, “Avaliações”. Público.
3. José Madureira Pinto. “Política educativa: uma estranha coerência”. Público.
"(...) Numa altura em que os teóricos da organização e gestão empresarial defendem cada vez mais a importância do envolvimento e participação criativa dos trabalhadores (encarados como actores "reflexivos"), desconfiando dos que teimam em racionalizar e controlar os comportamentos no espaço do trabalho sem ter em conta a pluralidade e riqueza das suas dimensões humanas, a obsessão "gestionária" do Governo no modo de conceber a actividade docente (actividade relacional por excelência) tem o seu quê de anacrónico - e pode vir a ter consequências muito negativas, se não forem revistos alguns dos seus fundamentos e modos de concretização."
5. Paulo Moura, "Marcha gigante vê na escola o último reduto da liberdade". Público.
"(...) Conhecêmo-los. Ninguém pode dizer que nunca se cruzou com um professor. Os habituées das esplanadas do Rossio olham-nos com alguma complacência. Não são metalúrgicos, não são mineiros, nem camponeses. Não são os explorados, os oprimidos: são os professores. Não mudaram muito desde o tempo em que foram os nossos professores. São reconhecíveis por todos, porque vêm de todo o país e vêm em três gerações: a de jeans e blusão, a de pulôver com camisa por baixo, a de barbas, casaco pingão e cachimbo. Não diferem muito dos clichés que temos deles e por isso simbolizam a educação que tivemos - ou não tivemos. Simbolizam o que somos. Todos os professores falam da avaliação, que não se pode fazer desta maneira, "porque as escolas não são empresas". Falam da "burocracia", da linguagem "simplista, dos números, das estatísticas". Dizem que "assim não se pode ensinar". Riem-se dos "tecnocratas da educação". Declaram, como se fosse uma evidência: "Uma escola não é uma empresa." E: "O ensino não é um produto. Os seres humanos não são produtos." Como se o país já fosse uma empresa e nós já fôssemos produtos, por fora. Mas, por dentro, humanos e livres. E os professores fossem a vanguarda dessa liberdade interior. Os habitués do Nicola olham-nos com alguma estranheza. Algum temor. Isto não é uma manifestação de operários, mas, se na sociedade moderna o conhecimento é o novo capital, estes são o novo operariado. O proletariado do espírito. (...)"
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