segunda-feira, 17 de março de 2008

Máximas em mínimas (16)

A Guerra (em quatro andamentos)
A próxima guerra será silenciosa, esteticamente organizada, não haverá necessidade do ruído desagradável das bombas e da visão traumática e em último caso perfeitamente dispensável das cidades arrasadas, porque as cidades ficarão intactas, só as pessoas e os seres vivos morrerão, mas em silêncio, sem estertores nem gritos, nem nada de excessivo ou patético, tudo será eficiente, limpo, límpido.
Teolinda Gersão. O Silêncio (1981)
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Não vale grande coisa, a felicidade. Por vezes, está presa por um fio, outras por um braço. A guerra é o mundo de pernas para o ar: consegue fazer de um amputado o mais feliz dos homens.
Philippe Claudel. Almas Cinzentas (2004)
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As guerras em geral, como as tragédias da natureza, são impessoais, diluem-se na abstracção dos grandes números. Falar de milhares ou milhões de mortos não choca e só teoricamente ofende, mesmo aqueles que são capazes de chorar quando vêem uma criança com o rosto sulcado por um fio de sangue. A magnitude das tragédias é a sua fraqueza, porque ninguém consegue sentir, ou sequer imaginar, a desgraça particular dos milhares de mortos que jazem sobre um campo de batalha. É uma forma de fuga, pois todos receiam não resistir a um horror que ultrapassa a sua própria sensibilidade. Por outro lado, há sempre algum tipo de álibis, usados sem o menor pudor: não seriam assim tantos os mortos, a fotografia é a ilusão da aparência, as estatísticas enganam-se, é impossível existir tanta maldade…
Mário Ventura. O Reino Encantado (2005)
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A guerra massacra, mutila, macula, suja, esventra, decepa, esmaga, tritura, mata, mas por vezes também acerta o passo a muita gente.
Philippe Claudel. Almas Cinzentas (2004)

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