1. Esther Mucznik, "Ainda acabas a dar aulas!" - «(…) O próprio sistema foi minando o papel dos professores, desprestigiando-o aos olhos dos pais e dos próprios alunos que, pouco a pouco, passaram a considerar como "bonzinhos" os pouco exigentes e "maus" os que tentavam ensinar alguma coisa. Contrariamente ao que afirma um leitor em carta ao PÚBLICO, não me parece que os professores gozem "de enorme capital de prestígio perante a opinião pública em Portugal". Basta ouvir as exclamações que se sucedem à escolha de alguns cursos: "Assim ainda "acabas" a dar aulas". E a verdade é que há cada vez mais pessoas "a dar aulas" e cada vez menos professores... (…) Seria bom lembrar, embora este aspecto esteja arredado do actual debate, que esta visão pedagógica "lúdica" tem uma correspondência ideológica, "progressista" e bem pensante, que se reflecte nos programas e manuais escolares, veiculando uma visão "politicamente correcta", em detrimento de uma reflexão crítica, que é ou deveria ser uma das finalidades de qualquer sistema educativo. (…) O mal-estar dos professores não é de hoje. Nem sequer de há três anos, com o início das reformas da actual ministra da Educação. Vem de muito mais longe, produto precisamente da política educacional das últimas décadas, de um sistema simultaneamente complacente e desvalorizante. (…) Nenhuma reforma é bem sucedida sem o apoio, a colaboração e a participação de, pelo menos, uma parte dos seus principais agentes. O ministério está a lidar com seres humanos, muitos dos quais dão o seu melhor num universo cada vez mais adverso. Não está a lidar com números, critérios ou estatísticas. Professores e pais têm de sentir que estas reformas são feitas para melhorar o ensino e devem ser feitas com eles e não contra eles. É por vezes, mais uma questão de clima de confiança do que do próprio conteúdo das reformas. A sua aplicação exige tempo, experimentação e acima de tudo a colaboração dos alvos dessas reformas. Esta é a primeira condição de sucesso. A segunda é que qualquer reforma de fundo só será bem sucedida num quadro de descentralização e desburocratização, o único que permite uma adaptação à diversidade e pluralidade de situações. Porque é evidente que não é possível avaliar da mesma forma aquilo que é diferente e o melhor sistema de avaliação é a livre escolha de pais e alunos de mudar ou não de escola, são os resultados dos alunos, é a própria gestão escolar. (...)»
2. Nuno Pacheco, "A festa de Sócrates, os foguetes de Vitalino e o azul de Menezes" - «Portugal não se leva a sério. O Governo auto-elogia-se e não "perde tempo" com coisas más. A educação move-se a birras. E o PSD iludea crise interna com um pano azul. Na manhã do dia em que 100 mil professores desfilaram em Lisboa, o porta-voz do Partido Socialista, Vitalino Canas, afirmou publicamente que "o PS olhará com atenção para os sinais que vêm da manifestação". Parecia uma afirmação sensata. Mas Vitalino avisava já que não haveria mudanças de rumo. Para quê, então, olhar "os sinais"? Por simples deleite contemplativo? Anteontem, ficou tudo mais claro. No final de uma reunião no ministério, o secretário de Estado Jorge Pedreira disse que poderia haver "soluções flexíveis"; e ontem, no Parlamento, a deputada do PS Isabel Coutinho, dizendo que essas tais "soluções flexíveis" já estavam previstas (coisa em que ninguém deve ter reparado), garantiu que "não há recuo do Ministério da Educação, nem do Governo". Ou seja: não há recuo porque as "soluções flexíveis" já faziam parte dos planos do Governo. Já a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, decerto furiosa com os jornais que lhe apontavam recuos, garantia depois, em conferência de imprensa, que as avaliações prosseguem. Tudo o que era para ser feito será. Com umas simplificações, claro, contornando algumas regras, sim, mas cumprindo o calendário. Vão-se os anéis, ficam os dedos. E nos dedos ficam avaliações que até podem não sê-lo, de facto, mas sempre são as tais 7 mil do plano. É o que tem de ser. Simplificadas ou flexibilizadas, lá as teremos. E o Governo pode dar por cumprida mais uma meta dos seus planos, mesmo que sirva apenas para isso: para dizer que foi cumprida e para a ministra não perder a face. O país, esse, vai perdendo tempo. (...)»
3. Idalina Jorge, "Cartas ao Director" - «(...) O sr. Presidente da República e o sr. primeiro-ministro haviam de ir à televisão fazer um aviso sério aos pais para que ponham os meninos a estudar. O país não se pode dar ao luxo de ter as crianças convencidas de que não precisam de estudar para passarem de ano.»
4. Rui Silvares, "Cartas ao Director" - «(...) O ministério da 5 de Outubro deve estar convencido que, produzindo constantemente páginas imensas de uma legislação enigmática, está a contribuir para solucionar os problemas da educação. Quem trabalha nas escolas sabe que as ordens e contra-ordens com que têm sido bombardeadas nos últimos meses apenas têm servido para lhes complicar o trabalho. É tempo de explicar a todos os que circulam nos gabinetes ministeriais que na quantidade é possivelmente mais difícil encontrar alguma qualidade e que a aparente complexidade de um problema não obriga a uma resposta igualmente confusa. (...)»
2. Nuno Pacheco, "A festa de Sócrates, os foguetes de Vitalino e o azul de Menezes" - «Portugal não se leva a sério. O Governo auto-elogia-se e não "perde tempo" com coisas más. A educação move-se a birras. E o PSD iludea crise interna com um pano azul. Na manhã do dia em que 100 mil professores desfilaram em Lisboa, o porta-voz do Partido Socialista, Vitalino Canas, afirmou publicamente que "o PS olhará com atenção para os sinais que vêm da manifestação". Parecia uma afirmação sensata. Mas Vitalino avisava já que não haveria mudanças de rumo. Para quê, então, olhar "os sinais"? Por simples deleite contemplativo? Anteontem, ficou tudo mais claro. No final de uma reunião no ministério, o secretário de Estado Jorge Pedreira disse que poderia haver "soluções flexíveis"; e ontem, no Parlamento, a deputada do PS Isabel Coutinho, dizendo que essas tais "soluções flexíveis" já estavam previstas (coisa em que ninguém deve ter reparado), garantiu que "não há recuo do Ministério da Educação, nem do Governo". Ou seja: não há recuo porque as "soluções flexíveis" já faziam parte dos planos do Governo. Já a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, decerto furiosa com os jornais que lhe apontavam recuos, garantia depois, em conferência de imprensa, que as avaliações prosseguem. Tudo o que era para ser feito será. Com umas simplificações, claro, contornando algumas regras, sim, mas cumprindo o calendário. Vão-se os anéis, ficam os dedos. E nos dedos ficam avaliações que até podem não sê-lo, de facto, mas sempre são as tais 7 mil do plano. É o que tem de ser. Simplificadas ou flexibilizadas, lá as teremos. E o Governo pode dar por cumprida mais uma meta dos seus planos, mesmo que sirva apenas para isso: para dizer que foi cumprida e para a ministra não perder a face. O país, esse, vai perdendo tempo. (...)»
3. Idalina Jorge, "Cartas ao Director" - «(...) O sr. Presidente da República e o sr. primeiro-ministro haviam de ir à televisão fazer um aviso sério aos pais para que ponham os meninos a estudar. O país não se pode dar ao luxo de ter as crianças convencidas de que não precisam de estudar para passarem de ano.»
4. Rui Silvares, "Cartas ao Director" - «(...) O ministério da 5 de Outubro deve estar convencido que, produzindo constantemente páginas imensas de uma legislação enigmática, está a contribuir para solucionar os problemas da educação. Quem trabalha nas escolas sabe que as ordens e contra-ordens com que têm sido bombardeadas nos últimos meses apenas têm servido para lhes complicar o trabalho. É tempo de explicar a todos os que circulam nos gabinetes ministeriais que na quantidade é possivelmente mais difícil encontrar alguma qualidade e que a aparente complexidade de um problema não obriga a uma resposta igualmente confusa. (...)»
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