Diário da Auto-Estima – 78
António Fortuna I – Quando, em 9 de Março, recebi telefonicamente a notícia da morte de António Matos Fortuna, fiquei triste. Acabava de perder a possibilidade de voltar a conversar com um amigo que sempre me abriu as suas portas de saber, de humanismo, de solidariedade, de amizade. A partir desse momento, António Fortuna passou para a memória, lugar onde estão todos os marcos importantes de uma vida, e a conversa com ele passou a ser apenas metafórica, através da leitura dos seus textos, uma boa vintena de títulos em livro e uma quantidade de artigos, sempre sob a batuta da região que palmilhou e cuja história esgaravatou.
António Fortuna II – Sinto-me privilegiado por me ter cruzado com António Matos Fortuna. Sobretudo pelo que com ele aprendi. E quero que essas imagens se mantenham na minha memória. Conheci-o há uns 20 anos, cruzámo-nos em várias situações, ou porque eu o procurava para saber mais e, às vezes, para conversar, ou porque ele me fazia o favor de se lembrar de mim para alguns dos seus projectos. Foi uma das pessoas que mais me impressionou pela simplicidade que punha em cima do seu saber e do seu conhecimento, ele que foi um recurso para muita gente que quis saber a história de Palmela e muitas histórias da região sadina, que abriu caminhos para que muitos enveredassem pelo passeio da história local.
António Fortuna III – Um dos seus últimos sonhos era preparar uma edição com os escritos de Almeida Carvalho sobre Palmela, misto de recolha e de antologia, com algumas anotações. Muitas vezes o vi às voltas com a caligrafia e com as minúcias desse setubalense do século XIX! No entanto, de há uns meses a esta parte, esse entusiasmo parecia esmorecer, num decréscimo que era proporcional ao seu agastamento – “sabe, sinto-me cada vez com menos forças, eu que sempre tive a presunção de ser um tipo de acção, de fazer, de antes quebrar que torcer, não pensava que isto pudesse acontecer comigo”, desabafava. E era este um dos seus maiores desgostos, um dos seus maiores inconformismos.
António Fortuna IV – Em cada livro de Matos Fortuna, o texto vai correndo e relatando, assim à maneira de quem conta uma historieta, recheado de apartes, com muitas ironias (por vezes subtis, outras vezes plenamente assumidas, sobretudo quando resultam da comparação entre as formas de viver no passado e no presente), com muitos ensinamentos a propósito, num jeito próprio de quem conversa, de quem reporta, mais parecendo anunciar um qualquer Fernão Lopes dos tempos de hoje, pondo alma no que conta, não perdendo o fito de que uma história não é apenas ela mas também é o conjunto de todas as outras que se podem – e devem – meter lá dentro.
António Fortuna V – Com a sua obra e com o seu testemunho, António Fortuna foi, talvez, uma das pessoas que mais fixou a identidade da região de Palmela, pelo menos naquilo que é descobrir os traços dessa mesma identidade, assumi-los e mantê-los, num jeito de inscrição e de memória. Valorizou o “palmelão” e o “montanhão”, pugnou pela genuinidade das suas raízes e do meio em que sempre viveu. Desenterrou documentos, reconstruiu o “puzzle” da história, estudou o falar, valorizou as personagens no seu quotidiano, pesquisou as lendas, actualizou grafias, estudou o património, num trabalho incessante em prol da afirmação do local e do regional, associado a uma vontade de ferro de partilhar, de levar as pessoas a conhecerem as suas origens, a entreterem-se com as suas próprias histórias, no fundo, de as levar a … conhecerem-se!
António Fortuna II – Sinto-me privilegiado por me ter cruzado com António Matos Fortuna. Sobretudo pelo que com ele aprendi. E quero que essas imagens se mantenham na minha memória. Conheci-o há uns 20 anos, cruzámo-nos em várias situações, ou porque eu o procurava para saber mais e, às vezes, para conversar, ou porque ele me fazia o favor de se lembrar de mim para alguns dos seus projectos. Foi uma das pessoas que mais me impressionou pela simplicidade que punha em cima do seu saber e do seu conhecimento, ele que foi um recurso para muita gente que quis saber a história de Palmela e muitas histórias da região sadina, que abriu caminhos para que muitos enveredassem pelo passeio da história local.
António Fortuna III – Um dos seus últimos sonhos era preparar uma edição com os escritos de Almeida Carvalho sobre Palmela, misto de recolha e de antologia, com algumas anotações. Muitas vezes o vi às voltas com a caligrafia e com as minúcias desse setubalense do século XIX! No entanto, de há uns meses a esta parte, esse entusiasmo parecia esmorecer, num decréscimo que era proporcional ao seu agastamento – “sabe, sinto-me cada vez com menos forças, eu que sempre tive a presunção de ser um tipo de acção, de fazer, de antes quebrar que torcer, não pensava que isto pudesse acontecer comigo”, desabafava. E era este um dos seus maiores desgostos, um dos seus maiores inconformismos.
António Fortuna IV – Em cada livro de Matos Fortuna, o texto vai correndo e relatando, assim à maneira de quem conta uma historieta, recheado de apartes, com muitas ironias (por vezes subtis, outras vezes plenamente assumidas, sobretudo quando resultam da comparação entre as formas de viver no passado e no presente), com muitos ensinamentos a propósito, num jeito próprio de quem conversa, de quem reporta, mais parecendo anunciar um qualquer Fernão Lopes dos tempos de hoje, pondo alma no que conta, não perdendo o fito de que uma história não é apenas ela mas também é o conjunto de todas as outras que se podem – e devem – meter lá dentro.
António Fortuna V – Com a sua obra e com o seu testemunho, António Fortuna foi, talvez, uma das pessoas que mais fixou a identidade da região de Palmela, pelo menos naquilo que é descobrir os traços dessa mesma identidade, assumi-los e mantê-los, num jeito de inscrição e de memória. Valorizou o “palmelão” e o “montanhão”, pugnou pela genuinidade das suas raízes e do meio em que sempre viveu. Desenterrou documentos, reconstruiu o “puzzle” da história, estudou o falar, valorizou as personagens no seu quotidiano, pesquisou as lendas, actualizou grafias, estudou o património, num trabalho incessante em prol da afirmação do local e do regional, associado a uma vontade de ferro de partilhar, de levar as pessoas a conhecerem as suas origens, a entreterem-se com as suas próprias histórias, no fundo, de as levar a … conhecerem-se!
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