Desde há cinco semanas, o Público tem distribuído aos fins-de-semana uma colecção intitulada “Cadernos Biográficos”, de que já saíram dez números (e de que ainda sairão mais seis), da autoria de Paulo Marques, em edição da Parceria António Maria Pereira. Hoje, foi a vez de José Rodrigues Miguéis, que surgiu acompanhado pelo subtítulo “Estupidamente esquecido”.
Será Miguéis um “esquecido”? Não sei se tem tido a divulgação que merece, mas a sua obra tem sido estudada e divulgada (como, aliás, as referências bibliográficas no final deste “caderno” deixam ver); a sua biobibliografia, ainda há poucos anos, quando passou o centenário do seu nascimento (2001), teve eco nas bibliotecas e na imprensa (em Setúbal, por exemplo, houve mesmo uma conferência intitulada “Algumas mulheres na obra de José Rodrigues Miguéis”, por Teresa Martinho Marques, na Biblioteca Pública Municipal); a sua obra não está esgotada, encontrando-se disponível no circuito comercial e em bibliotecas; e, finalmente, o conto “Arroz do céu”, do livro Gente da terceira classe (1962, mas que surgiu numa primeira publicação na revista Seara Nova, em 1947), costuma integrar os manuais da Língua Portuguesa do 3º ciclo, havendo mesmo edição ilustrada desse conto (recordo o prazer que muitos alunos de 7º ano tiveram no ano lectivo passado quando leram esta narrativa, quer pelas questões sociais, quer pela ironia, quer pela espiritualidade… tendo mesmo havido alunos que quiseram fazer uma dramatização dessa história). Não encontro, assim, justificação para o subtítulo, sobretudo se pensarmos que muitos autores portugueses do século XX há que estão mesmo já esquecidos, com obra quase impossível de encontrar, infelizmente!
Na nota que antecede estes “cadernos” (comum a todos os números), é assim justificada a escolha dos biografados: “Numa época de carência de auto-estima nacional, em que muito se elegem ídolos medíocres e vazios de ideias, é importante relembrar estes 16 exemplos de portugueses, homens e mulheres que ousaram cumprir o potencial com que nasceram.” A razão é mais do que justa, sobretudo se pensarmos no que se passou há tempos, quando se andou à volta de um concurso de “Grandes Portugueses”…
O título da colecção pode justificar a curta extensão dos textos. Mas valeria a pena sentir-se uma orientação mais evidente e a presença de dados mais relevantes. Nas fichas de leitura que os alunos costumam entregar-me, há espaço para uma referência biobibliográfica sobre o autor, justificada com o enriquecimento cultural e a contextualização temporal. Não raras vezes, a meia dúzia de linhas que dedicam ao autor é importada de fontes nem sempre interessantes e, com frequência, não são indicados outros títulos da bibliografia do autor para além do que está a ser apresentado. Costumo anotar que o mais importante no percurso de um escritor é o conjunto da sua obra, pelo que deviam mencionar, pelo menos, alguns títulos, de preferência com data das primeiras edições… Vem isto a propósito do facto de, nas 46 páginas deste “caderno” dedicado à biografia de Miguéis, serem dele indicadas quatro obras – A escola do paraíso, Páscoa feliz, Léah e outras histórias, Um homem sorri à morte – com meia cara, bem como a crónica “Gente da terceira classe” (não havendo referência de que ela integrou livro com título homónimo). Muito pouco para um autor que deixou quase uma vintena de títulos e longa colaboração jornalística, e de quem, ainda em 2004, numa colecção publicada pelo semanário O Independente, saiu uma antologia, A amargura dos contrastes, com colaborações de Miguéis vindas a lume no Diário Popular, no Diário de Lisboa, na Gazeta Musical e de Todas as Artes, na Seara Nova, no Globo, no República, em O Diabo.
O propósito destes “cadernos” será o de impedir o esquecimento, mas também podia ser o de haver mais alguma informação elementar (indispensável e até determinante) sobre os biografados. Mais cumprimento teria o nome da colecção…
Será Miguéis um “esquecido”? Não sei se tem tido a divulgação que merece, mas a sua obra tem sido estudada e divulgada (como, aliás, as referências bibliográficas no final deste “caderno” deixam ver); a sua biobibliografia, ainda há poucos anos, quando passou o centenário do seu nascimento (2001), teve eco nas bibliotecas e na imprensa (em Setúbal, por exemplo, houve mesmo uma conferência intitulada “Algumas mulheres na obra de José Rodrigues Miguéis”, por Teresa Martinho Marques, na Biblioteca Pública Municipal); a sua obra não está esgotada, encontrando-se disponível no circuito comercial e em bibliotecas; e, finalmente, o conto “Arroz do céu”, do livro Gente da terceira classe (1962, mas que surgiu numa primeira publicação na revista Seara Nova, em 1947), costuma integrar os manuais da Língua Portuguesa do 3º ciclo, havendo mesmo edição ilustrada desse conto (recordo o prazer que muitos alunos de 7º ano tiveram no ano lectivo passado quando leram esta narrativa, quer pelas questões sociais, quer pela ironia, quer pela espiritualidade… tendo mesmo havido alunos que quiseram fazer uma dramatização dessa história). Não encontro, assim, justificação para o subtítulo, sobretudo se pensarmos que muitos autores portugueses do século XX há que estão mesmo já esquecidos, com obra quase impossível de encontrar, infelizmente!
Na nota que antecede estes “cadernos” (comum a todos os números), é assim justificada a escolha dos biografados: “Numa época de carência de auto-estima nacional, em que muito se elegem ídolos medíocres e vazios de ideias, é importante relembrar estes 16 exemplos de portugueses, homens e mulheres que ousaram cumprir o potencial com que nasceram.” A razão é mais do que justa, sobretudo se pensarmos no que se passou há tempos, quando se andou à volta de um concurso de “Grandes Portugueses”…
O título da colecção pode justificar a curta extensão dos textos. Mas valeria a pena sentir-se uma orientação mais evidente e a presença de dados mais relevantes. Nas fichas de leitura que os alunos costumam entregar-me, há espaço para uma referência biobibliográfica sobre o autor, justificada com o enriquecimento cultural e a contextualização temporal. Não raras vezes, a meia dúzia de linhas que dedicam ao autor é importada de fontes nem sempre interessantes e, com frequência, não são indicados outros títulos da bibliografia do autor para além do que está a ser apresentado. Costumo anotar que o mais importante no percurso de um escritor é o conjunto da sua obra, pelo que deviam mencionar, pelo menos, alguns títulos, de preferência com data das primeiras edições… Vem isto a propósito do facto de, nas 46 páginas deste “caderno” dedicado à biografia de Miguéis, serem dele indicadas quatro obras – A escola do paraíso, Páscoa feliz, Léah e outras histórias, Um homem sorri à morte – com meia cara, bem como a crónica “Gente da terceira classe” (não havendo referência de que ela integrou livro com título homónimo). Muito pouco para um autor que deixou quase uma vintena de títulos e longa colaboração jornalística, e de quem, ainda em 2004, numa colecção publicada pelo semanário O Independente, saiu uma antologia, A amargura dos contrastes, com colaborações de Miguéis vindas a lume no Diário Popular, no Diário de Lisboa, na Gazeta Musical e de Todas as Artes, na Seara Nova, no Globo, no República, em O Diabo.
O propósito destes “cadernos” será o de impedir o esquecimento, mas também podia ser o de haver mais alguma informação elementar (indispensável e até determinante) sobre os biografados. Mais cumprimento teria o nome da colecção…
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