O mais recente número da revista Batailles - L'histoire militaire du XXe siècle (nº 27, avril-mai.2007) traz como tema de capa “Les offensives allemandes de 1918” e dá algum destaque à colaboração portuguesa no exército aliado da Primeira Grande Guerra, assim como ao desastre sofrido em La Lys, em 9 de Abril de 1918.
“Les soldats portugais dans la Grande Guerre” é a primeira referência à participação lusa no conflito, assinada por Dominique Bussillet, que parte das seguintes ideias: “La présence portugaise aux côtés des Alliés pendant la Première Guerre Mondiale est peu souvent évoquée; elle est pourtant bien réelle. Mais quels motifs avaient pu pousser la toute jeune république portugaise à prendre part à un conflit que ne la concernait pas directement?” A questão é pertinente porque Portugal se mantinha fora dos conflitos europeus, mais ocupado com a política interna e com a segurança das colónias, ameaçadas por combinações internacionais, particularmente Angola e Moçambique.
Iniciada a Grande Guerra, a posição portuguesa adquiriu os contornos de uma “frágil neutralidade”, sempre na dependência da aliança com Inglaterra, até Março de 1916, altura em que Portugal decidiu aprisionar os barcos alemães que aqui estavam aportados, assim respondendo a um pedido inglês, e se tornou, em consequência, inimigo da Alemanha. Para Bussillet, o retrato da entrada de Portugal na Guerra tem razões plurais: “C’est donc un concours de circonstances et de raisons diverses qui motive cette décision du régime républicain portugais d’entrer dans le conflit: le souci de maintenir ses colonies, avec l’arrière-pensée de revendiquer sa souveraineté à la fin de la guerre, le besoin de créer une légitimité à une jeune république et de lui donner une identité distincte de l’Espagne, avec une véritable indépendance nationale, sans oublier l’envie du gouvernement en place de s’affirmer politiquement sur la scène européenne.”
A evocação passa ainda pela referência ao “milagre de Tancos” (“en un temps record, il s’agit de transformer des hommes qui connaissaient une vie paisible et plutôt rurale en combattants aguerris pour un conflit dont on connaît la dureté”), pela duração da viagem até à Flandres (3 dias de barco até ao porto de Brest e outros tantos de comboio até Aire-sur-La-Lys, a 30 quilómetros das trincheiras), pela descrição da vida dos portugueses na frente de 11 quilómetros que constituiu o “sector português” (tranquilidade no Outono e Inverno de 1917, ainda que com condições de vida adversas, e catástrofe de Abril, momento em que Gomes da Costa dispunha de 20 mil homens para defender 11 quilómetros enquanto os americanos tinham 60 mil homens para defender 14 quilómetros). O desfecho não poderia ser muito diferente do que foi, pois, como Bussillet refere, “les hommes souffrent du travail incessant de remise en état des tranchées, de leur mauvais équipement, des conditions climatiques, d’une alimentation plus que rudimentaire”, além de que “le moral est au plus bas et la propagande allemande ne manque pas de s’affirmer que le gouvernement portugais de Sidónio Pais ne veut pas de cette guerre”.
A batalha de La Lys integrou o programa de ataque Georgette, preparado pelo alemão Ludendorff. O massacre sofrido a partir das 04h15 de 9 de Abril fica caracterizado como sendo de uma “rare violence”, devida ao uso da artilharia pesada e do gás, cifrando-se, no lado português, na morte de 29 oficiais e 369 soldados e no aprisionamento de 270 oficiais e de 6315 soldados.
“Que s’est-il passé le 9 avril 1918?” é o segundo texto sobre a intervenção portuguesa, assinado por Yves Buffeteaut. A pergunta do título pretende encontrar resposta nos relatórios do general Horne e do general Gomes da Costa, ambos veiculando versões nem sempre coincidentes. O relator britânico atribui a responsabilidade do insucesso aos portugueses, mas Buffeteaut, depois de ler o texto do general português, conclui: “On comprend que les Portugais ont été littéralement assommés par le bombardement allemand et que les Britanniques ont aussi beaucoup souffert. Dans ces conditions, il semble que chacune des divisions se soit en quelque sorte repliée sur elle-même, tentant d’éviter d’être submergée, mais bien incapable de conserver ses liens avec les unités voisines. Dans ces conditions, les Portugais ne se sont pas comportés plus mal que les Britanniques et ne peuvent en aucun cas être tenus pour responsable de l’effondrement allié du 9 avril. Ils ont probablement résisté moins longtemps, mais leur division était évidemment plus faible et moins aguerrie que les unités voisines”.
Yves Buffetaut escreve ainda “Circuit de La Bassée”, um roteiro sobre os cemitérios e a memória de militares estrangeiros na região, com destaque para o Cemitério Militar Português, em Richebourg, e para o monumento de Teixeira Lopes em La Couture, inaugurado em 1928, em pedra e bronze, com recurso à alegoria – na parte da frente: “La scène se déroule devant les ruines d’une église gothique. Devant une arcade, le Portugal, représenté dans les traits d’une femme armée de l’épée de Nun’Álvares, le héros légendaire de l’indépendance du pays, encourage un soldat portugais. Celui-ci se bat à coups de crosse avec la mort, un squelette armé d’une faux”; na parte traseira do monumento, em pedra: “un tombeau qui surplombe différents effets militaires, dont les casques très reconnaissables, des fusils, un tambour crevé, etc. Un Christ en croix a été ajouté postérieurement au-dessus du tombeau.”
“Les soldats portugais dans la Grande Guerre” é a primeira referência à participação lusa no conflito, assinada por Dominique Bussillet, que parte das seguintes ideias: “La présence portugaise aux côtés des Alliés pendant la Première Guerre Mondiale est peu souvent évoquée; elle est pourtant bien réelle. Mais quels motifs avaient pu pousser la toute jeune république portugaise à prendre part à un conflit que ne la concernait pas directement?” A questão é pertinente porque Portugal se mantinha fora dos conflitos europeus, mais ocupado com a política interna e com a segurança das colónias, ameaçadas por combinações internacionais, particularmente Angola e Moçambique.
Iniciada a Grande Guerra, a posição portuguesa adquiriu os contornos de uma “frágil neutralidade”, sempre na dependência da aliança com Inglaterra, até Março de 1916, altura em que Portugal decidiu aprisionar os barcos alemães que aqui estavam aportados, assim respondendo a um pedido inglês, e se tornou, em consequência, inimigo da Alemanha. Para Bussillet, o retrato da entrada de Portugal na Guerra tem razões plurais: “C’est donc un concours de circonstances et de raisons diverses qui motive cette décision du régime républicain portugais d’entrer dans le conflit: le souci de maintenir ses colonies, avec l’arrière-pensée de revendiquer sa souveraineté à la fin de la guerre, le besoin de créer une légitimité à une jeune république et de lui donner une identité distincte de l’Espagne, avec une véritable indépendance nationale, sans oublier l’envie du gouvernement en place de s’affirmer politiquement sur la scène européenne.”
A evocação passa ainda pela referência ao “milagre de Tancos” (“en un temps record, il s’agit de transformer des hommes qui connaissaient une vie paisible et plutôt rurale en combattants aguerris pour un conflit dont on connaît la dureté”), pela duração da viagem até à Flandres (3 dias de barco até ao porto de Brest e outros tantos de comboio até Aire-sur-La-Lys, a 30 quilómetros das trincheiras), pela descrição da vida dos portugueses na frente de 11 quilómetros que constituiu o “sector português” (tranquilidade no Outono e Inverno de 1917, ainda que com condições de vida adversas, e catástrofe de Abril, momento em que Gomes da Costa dispunha de 20 mil homens para defender 11 quilómetros enquanto os americanos tinham 60 mil homens para defender 14 quilómetros). O desfecho não poderia ser muito diferente do que foi, pois, como Bussillet refere, “les hommes souffrent du travail incessant de remise en état des tranchées, de leur mauvais équipement, des conditions climatiques, d’une alimentation plus que rudimentaire”, além de que “le moral est au plus bas et la propagande allemande ne manque pas de s’affirmer que le gouvernement portugais de Sidónio Pais ne veut pas de cette guerre”.
A batalha de La Lys integrou o programa de ataque Georgette, preparado pelo alemão Ludendorff. O massacre sofrido a partir das 04h15 de 9 de Abril fica caracterizado como sendo de uma “rare violence”, devida ao uso da artilharia pesada e do gás, cifrando-se, no lado português, na morte de 29 oficiais e 369 soldados e no aprisionamento de 270 oficiais e de 6315 soldados.
“Que s’est-il passé le 9 avril 1918?” é o segundo texto sobre a intervenção portuguesa, assinado por Yves Buffeteaut. A pergunta do título pretende encontrar resposta nos relatórios do general Horne e do general Gomes da Costa, ambos veiculando versões nem sempre coincidentes. O relator britânico atribui a responsabilidade do insucesso aos portugueses, mas Buffeteaut, depois de ler o texto do general português, conclui: “On comprend que les Portugais ont été littéralement assommés par le bombardement allemand et que les Britanniques ont aussi beaucoup souffert. Dans ces conditions, il semble que chacune des divisions se soit en quelque sorte repliée sur elle-même, tentant d’éviter d’être submergée, mais bien incapable de conserver ses liens avec les unités voisines. Dans ces conditions, les Portugais ne se sont pas comportés plus mal que les Britanniques et ne peuvent en aucun cas être tenus pour responsable de l’effondrement allié du 9 avril. Ils ont probablement résisté moins longtemps, mais leur division était évidemment plus faible et moins aguerrie que les unités voisines”.
Yves Buffetaut escreve ainda “Circuit de La Bassée”, um roteiro sobre os cemitérios e a memória de militares estrangeiros na região, com destaque para o Cemitério Militar Português, em Richebourg, e para o monumento de Teixeira Lopes em La Couture, inaugurado em 1928, em pedra e bronze, com recurso à alegoria – na parte da frente: “La scène se déroule devant les ruines d’une église gothique. Devant une arcade, le Portugal, représenté dans les traits d’une femme armée de l’épée de Nun’Álvares, le héros légendaire de l’indépendance du pays, encourage un soldat portugais. Celui-ci se bat à coups de crosse avec la mort, un squelette armé d’une faux”; na parte traseira do monumento, em pedra: “un tombeau qui surplombe différents effets militaires, dont les casques très reconnaissables, des fusils, un tambour crevé, etc. Un Christ en croix a été ajouté postérieurement au-dessus du tombeau.”
1 comentário:
É sempre bom saber! Muito especialmente para aqueles que como eu lá tiveram familiares e sabem como o sofrimento desta guerra os acompanhou pela vida fora.
Uma marca para a vida!
MCT
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