terça-feira, 30 de outubro de 2007
Minudências (15)
De facto, a “rankinguização” tem sido um processo em tudo semelhante àquelas febres noticiosas com data marcada, numa busca de repetidos acontecimentos, de análises iterativas e de luta que inferioriza a escola pública. Alguns peregrinos têm insistentemente dado a cara por essa onda do ranking, só eles sabendo o que os move… e pretendendo fazer passar a ideia de que o ranking que surge nesta altura do ano deveria ser factor a considerar na escolha da escola para os jovens. O que está aqui em jogo?
Fez bem a Ministra da Educação em explicar esta questão do ranking. Mas a verdade é que, nos anos anteriores, o Ministério não se tem pronunciado nestes termos, descolando-se dos rankings. E podia tê-lo feito. Mesmo para bem do ambiente nas escolas!...
Hoje, no "Correio de Setúbal"
Referendo – Bem podem os jornalistas andar atrás da ideia de “tabu” quanto ao adiamento de resposta por parte do Primeiro-Ministro para a eventualidade de o Tratado europeu vir a ser aprovado pelo Parlamento ou referendado. Ambas as formas são legais, a gente sabe. Mas não são a mesma coisa. A única característica que lhes é comum é o facto de surgirem num regime democrático; quanto ao resto, num lado, funciona a lógica partidocrática e, no outro, vive a participação dos cidadãos. Ora, sendo estes últimos quem vai suportar e aguentar o Tratado; constituindo tal documento um normativo para os países que integram a União Europeia; devendo os cidadãos europeus estar próximos da estrutura que (também) os gere; sendo necessário que a Europa não seja apenas um mito, mas uma prática quotidiana… lógico seria que a política trabalhasse no sentido de divulgar e esclarecer o Tratado, partilhando-o com os cidadãos, mesmo no plano da sua aprovação. Não acontecer isto será o mesmo que pôr os cidadãos fora dos corredores europeus, mesmo que continue a retórica que sustenta o direito de os eleitos falarem em nome de quem os elegeu (que, por vezes, são em quantidade pouco convincente).
Globalização – A ideia da globalização tem-se imiscuído muito nos discursos e serve de razão para todas as decisões. Talvez um dia nos arrependamos de deixar que ela vingue, porque isso significa que bocados de nós se vão perdendo, irremediavelmente esquecendo, numa viagem de não-regresso. Foi no livro A Ideia de Europa (2005) que George Steiner deixou expressa a ideia: “Não é a censura política que mata: é o despotismo do mercado de massas e as recompensas do estrelato comercializado”. Uma das marcas da Europa é a humanista. E, olhando o panorama, essa marca tem andado a girar para outro ponto cardeal, sujeitando-se à globalização sem limites. Não se pode ser ingénuo para afirmar o provincianismo contra a globalização, mas também se não pode ser ingénuo para adoptar o mito da globalização como razão para a vida.
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Minudências (14)
As duas situações brevemente apresentadas são reais e poderão ter lugar em muitas escolas. Foi o que se arranjou depois de ter sido passada a ideia de que os professores eram seres para estarem dentro das escolas, com normativos e ditos a preceito.
Sempre organizei e participei em visitas de estudo, mas as condições que têm sido impostas desmotivam a sua organização. Tenho experiências interessantes nas visitas, mesmo porque já me confrontei várias vezes com alunos que, a não serem aquelas saídas, só conheciam o caminho de casa para a escola e vice-versa, nem conhecendo a cidade que fica a pouco mais de 30 quilómetros. Tem-se procurado assim levar os alunos aos museus, à paisagem, ao mundo que se estuda. Mas as dificuldades mostram-se, não por parte de cada escola, mas por parte das normas que superiormente vão chegando. Daí que compreenda muito bem o que subjaz a cada uma das posições que comecei por relatar.
Mas… parece que tudo vai ficar resolvido. No início da tarde, a edição na net do Público, anunciava que o “Governo quer estimular visitas de estudo a espaços culturais próximos das escolas”, tal como defendeu a Ministra da Educação na abertura da Conferência Nacional de Educação Artística. Segundo a Ministra, as visitas de estudo a museus e espaços culturais próximos "é uma prática que muitas escolas já adoptaram” e que “importa generalizar". E continua a notícia: «A ministra da Educação entende que essa é uma prática que depende sobretudo da organização da escola. "O Governo pode apontar esse objectivo ou essa meta e dar as condições para que se atinjam, mas temos de respeitar a autonomia das escolas na organização das suas actividades pedagógicas é isso que faremos, ou seja, estimularemos as escolas para que cumpram esse objectivo", frisou.»
Mas… haverá aqui alguma novidade? Por vezes, fico surpreendido com algumas declarações de responsáveis por darem a entender que o mundo só começa a sua rota quando esses responsáveis chegam aos lugares. Há já literatura qb sobre as visitas de estudo, há muita prática de visitas de estudo nas escolas, há roteiros e propostas para visitas de estudo, há trabalho dos professores envolvido na organização das visitas de estudo… Então qual a novidade agora apresentada? Ou a notícia não diz ou não é nenhuma…
domingo, 28 de outubro de 2007
sábado, 27 de outubro de 2007
Minudências (13)
Máximas em mínimas (8)
Minudências (12)
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Máximas em mínimas (7)
Minudências (11)
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Minudências (10)
“+Museu”, entre o fogo, a história e a água
Neste oitavo número, o destaque vai para a colecção e exposição do Ferreiro Faria (1898-1972) num texto, assinado por Maria Teresa Rosendo, de apresentação e caracterização do acervo, que terá continuação na próxima edição do boletim. Entre outros assuntos tratados, merecem referência a notícia sobre uma “nova planta” do castelo de Palmela, recentemente “descoberta” no Livro de várias plantas deste Reino e de Castela [entre 1699-1743], de João Tomás Correia, que apresenta esclarecimentos quanto a funcionalidades de diversos espaços do castelo, bem como a alusão aos três bustos do concelho que lembram “notáveis” da história local [José Joaquim de Carvalho (1895-1975), Venâncio da Costa Lima (1882-1956) e José Maria dos Santos (1832-1913)]. Interessante é ainda o destacável intitulado “Arquitectura da água: fontes, chafarizes e tanques – Para o inventário do património histórico edificado do concelho de Palmela”, elaborado por Cristina Prata, que estuda os caminhos da água no concelho, com um levantamento e caracterização exaustivos do património constituído pelos três tipos de construções ligadas à distribuição e utilização da água.
Fátima: a nova igreja em revista
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Máximas em mínimas (6)
O "prédio Coutinho"
Recordo-me da construção do chamado “prédio Coutinho” em Viana do Castelo e de alguma discordância que se ia ouvindo pelo facto de tão alta construção se implantar junto ao rio. Como pudera acontecer? Ia haver mais prédios assim, a acompanhar a margem do Lima do lado da cidade? Porquê uma coisa tão alta no meio de um panorama em que as construções não ultrapassavam os quatro andares?
Paralelamente, via-se também aquela construção como marca de um desenvolvimento que tardava em chegar à região. Com efeito, a ideia de progresso, de modernidade, estava ligada ao crescimento dos prédios em altura, influenciados que os tempos estavam pela chegada de muita gente às cidades, que deveriam ser seguidores da política arquitectónica dos “arranha-céus”. A relação é forçada, mas não podemos esquecer que as célebres e de triste memória torres do World Trade Center nova-iorquino tiveram o seu início de construção em 1966 e foram concluídas no início dos anos 70 (em 1971, a Torre Norte e, em 1974, a Torre Sul). O “prédio Coutinho”, de 13 andares, teve projecto apresentado em 1973, ficou concluído em 1975 e recebeu os primeiros moradores no ano seguinte.
Viana do Castelo vista desde a Senhora das Areias (margem esquerda do Lima), com o "prédio Coutinho"
Os milhões agora envolvidos numa eventual demolição são muitos. E muito dinheiro já terá corrido em toda esta história. Óscar Mascarenhas, baseado nas noções de uma “nova museologia”, vê o “prédio Coutinho” como “objecto metafórico”, explicando “ser de um tempo em que se viam as cidades como sede monumental de uma região, onde a cidade era observada de fora para dentro, tendo necessidade de ter referências ostentatórias, mais para elevar o ânimo e o orgulho dos seus não residentes do que propriamente destes”. O argumento é forte, mas socorre-se da comparação com o arrazoado utilizado por Mário Moutinho para a preservação das chamadas “casas tipo maison” dos emigrantes regressados a Portugal, construções habitualmente tidas por destoantes – “mas essas casas contam uma história da nossa história: contam um tempo em que portugueses, expulsos pela fome do seu país, tiveram de procurar o pão em terras estranhas. Encontraram-no e, quando regressaram, não se dispuseram a viver nas casas tradicionais, bem inseridas na paisagem – mas onde foram infelizes. E preferiram construir, de memória e com os meios ao dispor, casas semelhantes àquelas em que foram felizes”.
A concluir, Mascarenhas defende que o “prédio Coutinho” deveria ser património cultural, porque “tirar o prédio Coutinho de Viana do Castelo é apagar da história que Viana do Castelo também se quis sentir cidade como as maiores, também quis dar testemunho de prosperidade depois de dezenas de anos de cepa-torta, miséria e sobriedade e cinzentismo obrigatórios”. Assim, a demolição do “prédio Coutinho” afigura-se como um apagamento da História, cabendo-nos perguntar sobre a lógica de tal acto. O raciocínio de Mascarenhas é coerente, mas deixa o risco para o conceito poder ser alargado às “asneiras” ocorridas em termos de ordenamento territorial e de urbanismo e, aí, provavelmente, a história da asneira conteria muitos capítulos e muitas manifestações de património cultural… indesejado.
A ajudar a opinião de Óscar Mascarenhas, tenho sérias dúvidas sobre a média de intenções dos vianenses, porque não me tem parecido que a bandeira da demolição seja agarrada. Antes pelo contrário: mais desejada seria a bandeira que, com o dinheiro investido (ou a investir) nesta operação, satisfizesse outras necessidades locais e regionais. Pouco depois de ter estalado a probabilidade de demolição em 2000, ouvi, em conversa com amigos naturais e residentes na zona de Viana, argumentos semelhantes aos de Óscar Mascarenhas quanto à simbologia daquele prédio para a cidade no tempo em que foi construído.
Viana do Castelo vista desde o Shopping Estação, com o "prédio Coutinho" ao fundo
Depois, há ainda o problema das pessoas, claro. De património humano poderíamos falar, esse que frequentemente é afastado das decisões políticas. Em Abril de 2006, Fernando Coutinho, o homem que mandou construir o prédio, ao celebrar os seus 89 anos, dizia ao semanário Notícias de Viana: “Este prédio é como se fosse um filho meu. Investi aqui o dinheiro que juntei em mais de 50 anos como emigrante no Zaire. Tenho aqui o meu lar há 30 anos e é aqui que quero morrer.” O desabafo era dito numa conversa em que também era argumentado pelo entrevistado que o próprio Presidente da Câmara que pretendia a demolição já ali vivera – “na altura dizia maravilhas do prédio. Agora, quer deitá-lo abaixo porquê? Porque é que não nos deixa em paz nas nossas casas?” A força do património humano poderá nem sempre ser audível ou entendível, mas existe. E as pessoas têm de contar, porque é com elas que a História se faz! E as cidades também!
domingo, 21 de outubro de 2007
Fortuna bocagiana
Quanto à obra completa, é um projecto que está em publicação, inserido na colecção “Obras clássicas da literatura portuguesa – século XVIII”, apoiada pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas. Saíram já quatro volumes da obra bocagiana, a cargo de Caixotim Edições – o 1º, o 2º, o 7º e, agora, o 3º. Neste último, estão reunidos “apólogos ou fábulas morais, epigramas, poesia sobre mote, poesia anacreôntica, endechas, elegias e epicédios”. O projecto da obra completa de Bocage está a cargo de Daniel Pires, que, na introdução a este volume o apresenta nos seguintes termos: “revela-nos algumas personalidades tutelares na formação de Bocage: Sócrates, Ovídio, Horácio, Tasso e Parny, autor por ele particularmente imitado ou traduzido. Indicia a sua vinculação à maçonaria, sendo dois correligionários por ele homenageados: Anselmo da Cruz Sobral numa elegia e, indirectamente, Gregório Freire Carneiro em ‘Aos Felicíssimos Anos da Senhora D. Maria do Carmo’, sua mulher. Como é do domínio público, o escritor pertenceu à loja ‘Fortaleza’, na qual adoptou Lucrécio como nome simbólico. Esta sua opção não foi arbitrária: evocou um poeta latino, com uma sólida formação filosófica, cuja obra De Rerum Natura faz a apologia da Razão, combate o fanatismo religioso, constituindo, assim, uma referência recorrente dos libertinos franceses”. A propósito, o mais recente estudo sobre as ligações de Bocage à maçonaria é Bocage Maçon, de Jorge Morais [Via Occidentalis Editora, 2007].
A edição da obra completa bocagiana por Daniel Pires (em publicação desde 2004) constitui a quarta vez que foram reunidos os trabalhos do poeta sadino, depois que o fizeram Inocêncio Francisco da Silva (em 1853), Teófilo Braga (em 1875) e uma equipa coordenada por Hernâni Cidade (entre 1969 e 1973, sob o título de Opera Omnia).
O segundo contributo recente para a divulgação da obra bocagiana é o cd intitulado Perscrutando a inquietude, editado pelo Centro de Estudos Bocageanos, apresentado ontem em Setúbal. Reunindo quarenta poemas seleccionados por Daniel Pires e ditos por José Nobre (actor do TAS – Teatro Animação de Setúbal), o ouvinte pode iniciar-se ou apenas visitar algumas linhas da poesia bocagiana: a vertente lírica, o erotismo, a autobiografia, a sátira, a intervenção social. Os poemas têm acompanhamento musical de Rui Serôdio e a capa é do pintor Vasco San Payo.
Entre Estremoz e Carrara
Uma saída de campo possibilitou o contacto com as entranhas de uma pedreira de mármores, ali mesmo nas imediações da cidade. A fama do mármore estremocense é grande, mas ficou a saber-se que uma parte dele contribui para a importância e para o mito de outro mármore bem mais conhecido – o italiano de Carrara, rocha preciosa para a arquitectura, com provas dadas em esculturas que, hoje, são obras-primas do património mundial. Pois bem: parte significativa do mármore de Estremoz é hoje exportada para Itália, onde é esculpido e vendido como sendo de Carrara!
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Minudências (9)
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Máximas em mínimas (5)
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Minudências (8)
Máximas em mínimas (4)
terça-feira, 16 de outubro de 2007
O "Correio da Educação" não deve acabar
Nesse primeiro número, no texto “A voz e as vozes dos professores”, tipo de apresentação editorial, José Matias Alves, ainda hoje director da publicação, assim prognosticava o papel do jornalzinho de quatro páginas: “Assumimos o compromisso de, semanalmente, em cada ano lectivo, chegar a casa dos professores para dizer os temas da agenda educativa, o que se passa lá por fora no mundo da educação, as circulares e a legislação que vão saindo, registar as pequenas grandes iniciativas das escolas, dar a palavra aos actores e autores que fazem as realidades, debater as grandes questões que nos preocupam, tomar o partido dos profissionais da educação que no terreno trabalham em condições, por vezes, muito adversas.” Enquanto leitor que tenho sido, creio que o compromisso assumido foi cumprido.
Foi assim com pena e surpresa que li no blogue de José Matias Alves, nos comentários ao postal "O poder dos professores", que, fruto da aquisição da editora por um grupo editorial, a publicação do Correio da Educação só está garantida até Dezembro. Veremos o que vai suceder a seguir… Mas, se acabar, é pena que se finde um projecto que tem dado um contributo elevado para o acto de se pensar a educação e a política educativa, aprensão tanto mais justificada quanto há uns tempos acabou, noutra editora que foi adquirida pelo mesmo grupo editorial, a revista Pontos nos is, também ela dedicada, no seu mais curto trajecto biográfico (de 11 meses apenas), a pensar a educação. Muito gostaria de pensar que vamos poder contar com a continuidade do Correio da Educação… por razões que são óbvias, às quais não será estranho o próprio fenómeno de respirar, como acto primordial que é para a vida.
Minudências (7)
Hoje, no "Correio de Setúbal"
Portugal – “Raro se presta aos Portugueses a lacónica justiça pelo bem que fizeram, mas nunca se perde o ensejo de os denegrir pelo mal que eles, à semelhança de outros – e às vezes só outros – praticaram. Porque são fracos ou mal conhecidos? Porque não têm quem os defenda? Talvez porque não sabem cuidar dos seus interesses mais profundos, e esquecem que a cultura é a forma suprema da perpetuação? Não sei.” (José Rodrigues Miguéis, É proibido apontar, 1964)
Portugueses I – “Nós, portugueses, temos apenas o fado, que se canta sempre na mesma corda, e o mar, que nos embala sempre nas mesmas ondas. Somos um povo de sentimentais, de impenitentes amorosos. Isto vem-nos do sol ardente, do luar intenso, da maresia. A vizinhança do Oceano introduziu-nos na classe dos anfíbios; e, então, engorgitados de líquido salgado, somos como o crocodilo: desassimilamos pela lágrima. (…) Em Portugal não se pensa; ama-se.” (Rocha Júnior, Revista Portuguesa, 1923)
Portugueses II – “O povo português não tem um sentido trágico da vida. Arremeda apenas o melhor que pode esse sentimento.” (Miguel Torga, Traço de união, 1955)
Cidades – “Nas pequenas terras de província toda a gente se conhece. A aldeia é familiar, vive-se em sociedade. Não se passa por ninguém que não se diga ‘bom dia!’ ou ‘Deus o salve!’ Mas, nas cidades, cada um vive como se estivesse sozinho, porque anda no meio da multidão. A distância da natureza também nos enfraquece. (…) Na cidade as ruas são de cimento, nem se vê a terra, e as casas são muito altas, emparedam-nos do sol.” (Branquinho da Fonseca, Caminhos magnéticos, 1938).
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Minudências (6)
Máximas em mínimas (3)
sábado, 13 de outubro de 2007
Máximas em mínimas (2)
A Esquerda, segundo Mário Soares
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Minudências (5)
Haverá quem acredite e quem não acredite. Mas porquê deixar-se arrastar o tempo, com a bola de neve a aumentar, se tudo era tão simples e normal? Porque não publicitaram os responsáveis no imediato a normalidade, o consenso e a espontaneidade do acto?
Não sei se houve exageros na forma como foi comentado o encontro ocorrido entre os agentes e o sindicato nestes dias. Mas houve, por certo, o exagero do silêncio e das explicações pouco (ou nada) nítidas dos responsáveis por esta acção até à divulgação do relatório. Mesmo porque, se tudo foi tão “normal”, como compreender que tenham de ser feitas recomendações para alteração de procedimentos no mesmo relatório? O que é/está anormal, então? Ou será que não há nada mais para discutir e fazer e que, enquanto esta discussão andou, outras coisas adormeceram? Será que a verdade se credibiliza desta forma? O que é/está anormal, então?
Máximas em mínimas (1)
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
José Gomes Ferreira lido por Sylvie Rocha
A primeira reacção… “a senhora já actuou na televisão, não foi?” E a actriz lá desfiou, com grande dose de simplicidade, uma pequena teia biográfica de aparecimentos em telenovelas e outras séries, mas confessando a sua predilecção pelo teatro, desabafo que pôs logo de orelha mais atenta alguns alunos que gostam de teatro.
Com muita simplicidade, relatou a sua descoberta de José Gomes Ferreira através da poesia, primeiro, e por meio das narrativas de O Mundo dos Outros (1950), depois. E leu “A Boca Enorme”, história da pequenita sardenta que, da sua simplicidade achada num dia de acaso, chegou a adulta num mundo complicado, com um final em tom de hino à liberdade pelo narrador. A miudagem gostou. E veio outra história: a do Graxa, rapazote atrevido, de vida dura, a tentar fazer do mundo a imagem que para ele passaram. O pessoal continuou a gostar. E veio a terceira história: sobre a “Brandura de Costumes”, a revelar sentimentos contraditórios do que é ser-se português, também, ou do que é ser-se humano. Aplauso unânime. Palmas e risos. E uma aluna resolveu ir conversar com Sylvie Rocha sobre teatro. E outra decidiu ir pedir um autógrafo. E muitos outros se seguiram, a pedir folhas ou a rasgá-las do caderno, para aproveitar o gesto da dedicatória e do autógrafo.
Foi um momento de leitura bem interessante, com textos bem lidos e a despertarem o interesse. “Ó professor, houve algumas palavras que não percebi bem, mas vou percebê-las melhor quando for ler o livro…”, “Leu muito bem, parece que estávamos a ver as histórias no teatro…” De facto, a expressividade e a gestualidade a acompanharem a leitura, transformando as histórias em pedaços de vida, podem fazer parte da alma de um texto. Também houve quem gostasse menos, não por a sessão não interessar, mas porque estava sentado havia muito tempo e sempre era fora da escola e, fora da escola, não é para sentar…
Valeu bem a pena ouvir esta leitura de José Gomes Ferreira. Ele mesmo, desconfio que teria ficado contente com esta interpretação, de tal forma os miúdos e os adultos saltavam vivos do meio das letras e das páginas. Conheci o José Gomes Ferreira em 1982, numa altura em que a saúde e a vista já não lhe abundavam. Quem me facilitou o contacto foi Urbano Tavares Rodrigues, então meu professor. Fui falar com o poeta por causa do livro A memória das palavras (ou o gosto de falar de mim) (1965), interessado que já andava nas escritas autobiográficas. Não se importou que gravasse a conversa. Mas a cassete não chegou para o encontro dessa tarde. A parte mais interessante foi a não gravada. Questões de autobiografia e da vida levaram-nos a falar sobre a morte. “A morte? A morte é a vida do avesso!”, disse-me ele com entusiasmo suave e num ritmo de feitura de versos. Nunca mais esqueci esta definição. E, hoje, com os meus alunos (a quem contei também esta história), a ouvir a bela leitura feita por Sylvie Rocha, deliciámo-nos a conviver com José Gomes Ferreira, um escritor recomendado em tempos em que o esquecimento parece querer reinar.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Pagelas Setubalenses (6)
A freguesia não pararia de crescer, apesar da sua topografia acidentada, quer pelo alargamento da linha de muralha, quer pela instalação de conventos (S. Domingos, Companhia de Jesus e “Grilos”), quer pela intensa actividade da salinicultura. Em 1758, o prior Pereira de Carvalho contava já, em S. Sebastião, 4458 “pessoas de Sacramentos” e 200 crianças, distribuídas por 1148 fogos, cerca de 40% da população de Setúbal. A freguesia cresceria ainda por motivos da industrialização (particularmente, as conservas), estendendo-se por bairros como Monarquina, Santos Nicolau, Carmona, Conceição, Bela Vista e Azeda.
Com 21 km² e cerca de 53 mil habitantes (40 mil eleitores), é nesta freguesia que estão localizados pontos importantes como a Casa de Bocage, o Museu do Trabalho ou o Hospital de S. Bernardo. Se, no momento da sua criação, a freguesia correspondia à paróquia de S. Sebastião, hoje, a freguesia é formada por três paróquias (S. Sebastião, S. José e Nossa Senhora da Conceição). A Junta de Freguesia, presidida por Carlos de Almeida, tem a sua sede no Largo Manuel L. Graça.
DOUTROS TEMPOS: “D. Fernando, (…) Arcebispo de Lisboa, (…) fazemos saber a todos os que esta nossa Carta de Desmembração e Separação e nova criação de igrejas matrizes virem, como El-Rei D. João o terceiro deste nome e meu Senhor, (…) zeloso de ampliar o culto divino (…) e por ter informação certa que na vila de Setúbal (…) havia muita gente e povoação e que as Igrejas Paroquiais, a que todos na dita vila eram obrigados a ir como fregueses, são somente duas (…) e querendo (…) prover a necessidade que há de haver mais freguesias, (…) ordena o seguinte: (…) há na freguesia de Santa Maria 877 fogos, manda Sua Alteza que se faça desta freguesia outra a S. Sebastião em Palhais (…). Cria Sua Alteza de novo esta freguesia na Ermida de S. Sebastião a Palhais, parte esta freguesia com a de Santa Maria pelo Postigo do Ouvidor, que está da banda do mar, e o beco que dele vem ter à rua Direita às casas de D. João de Lima; todas as casas que neste beco estão de uma banda e outra ficam a S. Sebastião e assim a rua Direita até aos muros, rua acima de uma parte e outra, e na mesma rua pela travessa de D. Filipa, à porta da vila as casas de Luís Mascarenhas, que estão sobre o muro da parte da terra ficam com S. Sebastião, com todas as mais casas daí até ao muro e assim o arrabalde de Palhais, Fontainhas, Fumeiros e as Hortas que cabiam à freguesia de Santa Maria, cabem a esta freguesia 361 fogos. (…)” - in "Carta de Criação da Freguesia de S. Sebastião" (14-03-1553, excertos)
Um pacto para a educação?
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Ainda o Dia Mundial do Professor
Linguagem jurídica?
António Barreto considera que o preâmbulo do normativo usa “uma linguagem obscura e burocrática”. Será isso alguma novidade? No meio de tantas rectificações, alterações e revogações (parcelares ou totais) que vão surgindo, o que fica, muitas vezes, é a sensação de que existe uma criação legislativa que nem sempre vislumbra as consequências do que molda. E, depois, vem este complicar, que não faz parte do jogo do pensamento jurídico, mas sim de um certo pendor para o emaranhado do discurso, para que a lei, na sua essência, não seja tão clara quanto deveria ser, mesmo porque afasta logo qualquer bem intencionada vontade de a conhecer…
sábado, 6 de outubro de 2007
O Presidente e a Escola
Em Portugal, tivemos a sorte de o Presidente da República discursar a propósito do 5 de Outubro e escolher a educação como assunto, uma acção que não aconteceu de surpresa porquanto o tema tinha já sido anunciado. Nos sítios ligados ao Ministério da Educação, nem uma palavra sobre a celebração do dia e, ao que informa o diário Público, a Ministra da Educação também não esteve presente para ouvir o discurso do Presidente. De qualquer dos modos, é fácil aceder ao texto, porque vários blogues e jornais o reproduziram e o sítio da Presidência da República será sempre uma boa fonte para o público o ir ler...
No que à educação respeitou, o Presidente da República começou por lembrar que “a Primeira República foi um período em que se destacaram notáveis pedagogos”, para, logo a seguir, referir que, “ao fim de quase um século de existência, temos de reconhecer que a República não conseguiu resolver aquela que é a principal causa do nosso atraso estrutural: as deficiências na educação das crianças e dos jovens.”
Estava dado o mote para as questões importantes do discurso, uma chamada de atenção forte para toda a sociedade e para todos os actores do processo educativo, sendo estes os cidadãos concretos e com responsabilidade acrescida – “gostaria de propor aos Portugueses um novo olhar sobre a escola, sobre um modelo escolar construído à luz da ideia de inovação social”, disse o Presidente da República, acentuando: “Não quero dirigir-me especialmente ao Governo e à Assembleia da República. Quero dirigir-me a todos os Portugueses.”
“Uma nova atitude perante a escola” foi o desafio deixado a vários intervenientes. Aos pais, Cavaco Silva questionou-os directamente: “de que modo participam na educação dos vossos filhos?” Aos autarcas, convidou-os a assumirem “maiores responsabilidades relativamente aos estabelecimentos de ensino”. Às comunidades, interpelou-as a uma participação na gestão das escolas. À sociedade em geral, pediu que desempenhe “um papel activo neste processo de inovação social” e que “a figura do professor seja prestigiada e acarinhada”. Aos professores, lembrou-lhes que “a dignidade da função docente assenta no respeito e na admiração que os professores são capazes de suscitar na comunidade educativa, junto dos colegas, dos pais e dos alunos”. Consciente das dificuldades, o Presidente da República concluiu a sua intervenção lembrando que, “com o esforço de todos, será possível realizar a ambição de uma escola melhor, em nome de uma melhor República”.
Deste discurso podem ser feitos os aproveitamentos adequados a cada situação. Não faltou o Primeiro-Ministro a dizer que este discurso era um bom incentivo para o Governo prosseguir o seu caminho; não faltaram os sindicatos a considerar que a mensagem escondia uma crítica à acção governativa; não faltou o director do Público a dizer que o Presidente deveria ter ido mais longe e dizer que cada família deveria escolher a escola pública que quisesse, com isso esquecendo a noção de comunidade que o Presidente quis exaltar!
A intervenção do Presidente da República foi pedagógica. E também foi coerente: quer com uma causa da República, quer com a actualidade, quer com a necessidade de participação responsável e democrática. Toca-nos a todos e querer ler nela apenas recados para os outros é não ter percebido que todos temos que participar no processo! [fotografia de www.presidencia.pt]
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Hoje é o Dia Mundial do Professor
2. Na mensagem conjunta subscrita por várias entidades (UNESCO, OIT, PNUD, UNICEF e IE) para o Dia Mundial do Professor deste ano, a profissão é assim valorizada: “O sistema educativo deve atrair e fidelizar um pessoal docente bem formado, motivado e composto igualmente por homens e por mulheres; deve apoiar os professores nas aulas e ao longo da sua carreira. A desvalorização dos professores, a fragilidade das suas remunerações, a mediocridade das condições de ensino e aprendizagem e a falta de evolução na carreira ou de formação profissional são outras tantas causas de descontentamento que levaram muitos a abandonar a profissão, por vezes depois de poucos anos de serviço.” Mais adiante, são abordadas as políticas: “As decisões que levam a fazer face à falta de pessoal aumentando o tamanho das turmas, alargando a carga de trabalho dos professores – particularmente quando o apoio de que beneficiam é já insuficiente –, baixando o nível de entrada nas instituições de formação de professores, recrutando pessoas não ou pouco formadas ou à base de contratos que não lhes oferecem segurança no emprego, contribuem para desvalorizar ainda mais a profissão, deixando os professores fragilizados face às realidades da profissão, ou para os desmotivar.” A terminar, a mensagem acentua um desejo que é também uma esperança: “Reconhecendo o papel essencial que os professores desempenham, reafirmamos a que ponto é necessário continuar a trabalhar conjuntamente para melhor vencer os problemas e estar no caminho para que as modalidades de recrutamento, de formação e de apoio aos professores permitam dispor de um corpo docente motivado e capaz de contribuir para a realização do nosso objectivo comum: uma educação de qualidade para todos os jovens.”
3. A gente lê, em muitas coisas reconhece o nosso país (felizmente, noutras não) e, ao olhar para a paisagem, fica a angústia resultante da forma como a imagem dos professores tem sido tratada nos últimos anos, sobretudo pelos políticos, numa atitude de duvidoso respeito pela profissão, numa oposição em que se confrontam governantes e sindicalistas, mas pela qual os professores, na sua quase totalidade desligados de qualquer destas esferas enquanto poder, são tabelados por baixo, aparecendo uma imagem da sua “pretensa” deficiente formação científica (relembre-se o que se passou quanto à generalização da TLEBS), da sua “pretensa” deficiente formação profissional (relembre-se que se criou a ideia de que o professor pertence a uma classe de pouco trabalho), da sua “pretensa” deficiente função social (relembre-se que os resultados do insucesso escolar foram várias vezes catapultados para a responsabilidade do professor), da sua “pretensa” deficiente qualidade (relembre-se essa ideia peregrina que persegue os defensores dos “rankings”, como se um “ranking” fosse atestado de qualidade ou da sua falta; relembre-se o cuidado burocrático das grelhas para avaliação dos docentes, como se uma aula – qualquer aula – fosse uma subserviência a uma folha de papel). E é pena que assim tenha acontecido!
4. Na última edição da revista “Única” saída no Expresso (29 de Setembro), a secção “Uma pequena grande ideia” estava a cargo de Nuno Crato, que falou sobre os professores. E o texto termina desta maneira: “Recorda [Nuno Crato] os tímidos elogios e manifestações de carinho e agradecimento dos jovens que passaram pelas suas aulas. São aqueles que já não são alunos e que passam pelo Instituto por uma razão qualquer e que batem à porta do meu gabinete para dizer um simples olá, ou outros que me cumprimentam na rua. Sabe bem.” Os alunos, eles mesmos, reconhecem o valor dos professores, mesmo que seja tardiamente. E já todos tivemos sensações como esta que Nuno Crato regista: nas cartas que nos enviaram quando saíram da escola; nas mensagens que nos dirigiram, às vezes timidamente, a agradecer as aprendizagens e os exemplos do passado; nos encontros em serviços, em empresas, na rua, com a surpresa por parte do ex-aluno e do ex-professor; nas recordações que chamam para as conversas depois de muitos anos…
5. Levado nesta onda, recordo vários dos meus professores que me levaram a ficar-lhes grato por nos termos cruzado, porque com eles aprendi a ser o que era e a ser o que sou: Maria Delfina Campos Gomes (da escola primária, em Alvarães), João Felgueiras (mestre de Latim, jesuíta, que, em finais de 1969, partiu para Timor), António Morujão, Manuel Gomes, Manuel Faria e Abílio Queirós (jesuítas, que, em Cernache, me levaram pelas veredas da Geografia, da História, da Matemática e do Português), Maria Luísa (que me iniciou na língua francesa), Joel Canhão (com quem aprendi os primeiros andamentos e leituras de música) e Álvaro Marques (do Liceu de Viana do Castelo, que nos suscitou as primeiras discussões de aprendizagem democrática). Depois, no ensino superior, vários outros se impuseram no relacionamento, no respeito e na proximidade – Mário Dionísio, Ana Mafalda Leite, José Manuel Feio, Urbano Tavares Rodrigues, Fátima Freitas Morna, Maria Lucília Gonçalves Pires, David Mourão-Ferreira e António Vilhena (todos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo depois fomentado a amizade com alguns deles, especialmente com o António Vilhena, que, posteriormente, vim encontrar na Secundária de Bocage, em Setúbal) e, finalmente, porque mais recente, Clara Rocha (da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa). Enquanto professor, tenho-me esforçado por ter um pouco de cada um deles, naquilo em que os admirei (e admiro). Todos me ajudaram a poder dizer, na peugada de Sebastião da Gama, quando acabou de ler o livro do pedagogo Radice: “vi mais agudamente a beleza e a responsabilidade de ser Professor, quis ser Professor mais que nunca” (Diário, 20 de Abril de 1949).
6. Todos os pontos anteriores são fundamentais para me entender enquanto professor, aluno que já fui (e continuo), nunca desligado da escola desde que nela entrei aos 5 anos. Todas estas ideias e memorações me perpassam neste Dia Mundial do Professor em que acho que contra o pessimismo que nos tenta engolir deve vingar o optimismo do que é o acto de educar e de ensinar. “Para ser professor, também é preciso ter as mãos purificadas. (…) O aluno acredita em nós e não deve acreditar em vão. Impõe-se-nos que mereçamos, com a nossa, a pureza dos nossos alunos; que a nossa alimente a deles, a mantenha. Sejamos a lição em pessoa – que é isso mais importante e eficaz que sermos o papel onde a lição está escrita.” Outra vez Sebastião da Gama (Diário, 30 de Março de 1949), porque sim!
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Miguel Torga na Biblioteca Nacional
Por esta exposição passam imagens, livros, manuscritos, jornais e citações do Diário, o espelho em que Torga se quis deixar reflectido para a memória, feito ele mesmo com as memórias dos dias de uma vida que decorreu entre 1907 (12 de Agosto) e 1995 (17 de Janeiro).
Nas palavras do comissário da exposição, Carlos Mendes de Sousa, reproduzidas do catálogo, esta exposição é “o trajecto delineado pela vida e pela obra de Miguel Torga, revelando-se, deste modo, a extensão e a coerência do percurso de um dos maiores escritores de língua portuguesa do século XX”. A exposição é, então, um ponto de partida, um convite para a leitura e para o conhecimento de Torga, sendo, no entanto, pena que o espaço da mostra não tenha a profundidade necessária para uma visita sem estorvo e sem esforço, dada a sua exiguidade.
Em exibição estão também documentos sobre as perseguições que a polícia política moveu a Torga, assim como um abaixo-assinado protestando contra a apreensão de um dos seus livros, pouco tempo depois de o mesmo ter acontecido com Aquilino Ribeiro, que transcrevo: “O Governo Português, ao proibir a venda do 8º volume do Diário de Miguel Torga – proibição efectivada pela polícia na ronda às livrarias em 20 de Fevereiro – perpetrou novo atentado contra a dignidade da inteligência e a liberdade de expressão. Essa prepotência, vinda a seguir à apreensão do romance Quando os lobos uivam, e instauração de processo judicial ao seu autor Aquilino Ribeiro, não pode passar indiferente à consciência nacional, por muito habituada que ela esteja a ver açaimado hora a hora, dia a dia, tudo o que seja liberdade de pensamento e de expressão. Os abaixo-assinados protestam, com toda a indignação, contra mais esse atentado e afirmam ao admirável poeta e grande escritor que é Miguel Torga a sua inteira solidariedade.” Entre os subscritores estão José Cardoso Pires, Etelvina Lopes de Almeida, Fernando Piteira Santos, Pedro da Silveira, Manuel da Fonseca, Urbano Tavares Rodrigues, Jaime Cortesão, Raul Rego, Armindo Rodrigues e Manuel Mendes. Não estando datado, percebe-se ser de 1960, dados os factos relatados – publicação do oitavo volume do Diário nesse ano e apreensão de romance de Aquilino, que acontecera em Março do ano anterior. [foto a partir do catálogo da exposição]