Diário da Auto-Estima – 69
Faltas – O novo “Estatuto do Aluno” do ensino básico e secundário anda envolvido em celeuma: a questão das faltas dos alunos, porque será intenção política levar a inclusão até ao ponto de não diferenciar as faltas justificadas das injustificadas. Os alunos poderão assim não se preocupar com as faltas porque uma milagrosa “prova de recuperação” acontecerá para repor a normalidade da sua situação e o aluno poder prosseguir os seus estudos. Em tempos em que se deveria fomentar o trabalho como um dos valores a preservar, em tempos em que as faltas ao trabalho são olhadas como acontecimento a reprovar, em tempos em que as faltas dos professores foram tão acintosamente invocadas para a mudança de paradigma na Escola… não deixa de ser curioso que se neutralizem os efeitos das faltas dos alunos através de uma medida que, burocraticamente, instituirá o fim do absentismo, do abandono e, provavelmente, do insucesso. O pior é que esta imagem da “desculpabilização” das faltas não encontra paralelo no mundo real e a Escola poderá, então, ajudar à cultura da desresponsabilização, que, como se sabe, está em risco de não ter futuro.
Referendo – Bem podem os jornalistas andar atrás da ideia de “tabu” quanto ao adiamento de resposta por parte do Primeiro-Ministro para a eventualidade de o Tratado europeu vir a ser aprovado pelo Parlamento ou referendado. Ambas as formas são legais, a gente sabe. Mas não são a mesma coisa. A única característica que lhes é comum é o facto de surgirem num regime democrático; quanto ao resto, num lado, funciona a lógica partidocrática e, no outro, vive a participação dos cidadãos. Ora, sendo estes últimos quem vai suportar e aguentar o Tratado; constituindo tal documento um normativo para os países que integram a União Europeia; devendo os cidadãos europeus estar próximos da estrutura que (também) os gere; sendo necessário que a Europa não seja apenas um mito, mas uma prática quotidiana… lógico seria que a política trabalhasse no sentido de divulgar e esclarecer o Tratado, partilhando-o com os cidadãos, mesmo no plano da sua aprovação. Não acontecer isto será o mesmo que pôr os cidadãos fora dos corredores europeus, mesmo que continue a retórica que sustenta o direito de os eleitos falarem em nome de quem os elegeu (que, por vezes, são em quantidade pouco convincente).
Globalização – A ideia da globalização tem-se imiscuído muito nos discursos e serve de razão para todas as decisões. Talvez um dia nos arrependamos de deixar que ela vingue, porque isso significa que bocados de nós se vão perdendo, irremediavelmente esquecendo, numa viagem de não-regresso. Foi no livro A Ideia de Europa (2005) que George Steiner deixou expressa a ideia: “Não é a censura política que mata: é o despotismo do mercado de massas e as recompensas do estrelato comercializado”. Uma das marcas da Europa é a humanista. E, olhando o panorama, essa marca tem andado a girar para outro ponto cardeal, sujeitando-se à globalização sem limites. Não se pode ser ingénuo para afirmar o provincianismo contra a globalização, mas também se não pode ser ingénuo para adoptar o mito da globalização como razão para a vida.
Referendo – Bem podem os jornalistas andar atrás da ideia de “tabu” quanto ao adiamento de resposta por parte do Primeiro-Ministro para a eventualidade de o Tratado europeu vir a ser aprovado pelo Parlamento ou referendado. Ambas as formas são legais, a gente sabe. Mas não são a mesma coisa. A única característica que lhes é comum é o facto de surgirem num regime democrático; quanto ao resto, num lado, funciona a lógica partidocrática e, no outro, vive a participação dos cidadãos. Ora, sendo estes últimos quem vai suportar e aguentar o Tratado; constituindo tal documento um normativo para os países que integram a União Europeia; devendo os cidadãos europeus estar próximos da estrutura que (também) os gere; sendo necessário que a Europa não seja apenas um mito, mas uma prática quotidiana… lógico seria que a política trabalhasse no sentido de divulgar e esclarecer o Tratado, partilhando-o com os cidadãos, mesmo no plano da sua aprovação. Não acontecer isto será o mesmo que pôr os cidadãos fora dos corredores europeus, mesmo que continue a retórica que sustenta o direito de os eleitos falarem em nome de quem os elegeu (que, por vezes, são em quantidade pouco convincente).
Globalização – A ideia da globalização tem-se imiscuído muito nos discursos e serve de razão para todas as decisões. Talvez um dia nos arrependamos de deixar que ela vingue, porque isso significa que bocados de nós se vão perdendo, irremediavelmente esquecendo, numa viagem de não-regresso. Foi no livro A Ideia de Europa (2005) que George Steiner deixou expressa a ideia: “Não é a censura política que mata: é o despotismo do mercado de massas e as recompensas do estrelato comercializado”. Uma das marcas da Europa é a humanista. E, olhando o panorama, essa marca tem andado a girar para outro ponto cardeal, sujeitando-se à globalização sem limites. Não se pode ser ingénuo para afirmar o provincianismo contra a globalização, mas também se não pode ser ingénuo para adoptar o mito da globalização como razão para a vida.
1 comentário:
Já agora o Sócrates "prometeu" no calor das eleições que utilizaria a via referendária para este tipo de questões.
No entanto, com o apoio do psd vão "mandar às urtigas" a promessa e a genuína forma de legitimidade dmocrática.É mais cómodo não dar ouvidos ao povo.Que se lixe o Sócrates.
João Vassalo.( enviado através do mail da Maria)
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