Vem ver o mar, conhecer o sabor do sal,
embalar nas ondas a felicidade branca das crianças,
cantar o amor que cresce da luz.
Vem ver o mar, a saudade é a memória dos ventos
a lembrança de um sorriso, de um olhar.
Vem ver o mar, há um tempo de partir,
há um tempo de chegar.
II
Homem do mar de Setúbal,
ficas parado no olhar do rio...
nesse silêncio azul habitado por dentro,
nessa saudade salgada de memórias vivas.
Observas o sal (líquido) das sílabas,
o decifrar dos ventos no voo das gaivotas,
escutas o grito branco das ânforas,
a alma azul do pensamento
adormecida no coração das águas.
Homem do mar de Setúbal,
herói tantas vezes ignorado
que trazes um verso de sal entre as tuas mãos,
um rosto marcado pelo rumor das ondas,
uma palavra liberta no aceso navegar do mundo.
O teu silêncio é o olhar que vê
a raiz (inatingível) das marés vazias,
o coração oceânico do leito do rio
abandonado ao aroma das algas.
Homem do mar de Setúbal,
o teu destino irrompe desse azul interior
com palavras de vida,
amas e sonhas ao ritmo incandescente
da (imprevisível) luz.
III
O rio tem ainda o respirar das sombras da noite.
Cada olhar é uma asa debruçada sobre a alma,
um céu lavrado em sulcos de infinito
e tu, silêncio habitado pela aura das mãos,
já navegas o tempo entre o sono das águas,
um bote salgado cantando o seu nome
com letras desenhadas ao sabor do rio:
“Amor à Vida” – grita o Zé pescador
com os braços estendidos em forma de remos.
IV
Pescadores, são enfim um lugar perto do mar
mãos e rosto a sonhar azul,
são salgadas as mãos que seguram a esperança das redes,
são enfim asas na distância do olhar
ondas, aves, astros, navios na madrugada
velas erguidas nos mastros,
Nossa Senhora, estrela do mar,
são enfim o segredo da tarde,
saudades, poentes e luar,
monumento que se ergue
num lugar perto do mar.
Com este poema, Fernando Paulino obteve o primeiro prémio dos "Jogos Florais" promovidos em 2006 pelo "Stella Maris - Apostolado do Mar", de Setúbal. No ano anterior, em Maio, a mesma organização tinha procedido à inauguração de um monumento dedicado ao "Homem do Mar", da autoria do escultor António Pacheco, localizado junto ao rio Sado, de que aqui se reproduzem fotografias. Porque são necessários momentos de poesia, Fernando Paulino ofereceu o poema para ser divulgado no "Nesta Hora".
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