tag:blogger.com,1999:blog-19283780702328600082024-03-14T16:32:41.351+00:00Nesta horaEscrever sobre os momentos e sobre as coisas que os fazem. Porque sim.João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.comBlogger3114125tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-29444996606485861142024-03-14T16:32:00.000+00:002024-03-14T16:32:08.846+00:00Os versos de Miguel Caleiro (4)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpWK6m4hka5q_0nW6Ket40KUzolmgxX5X3DkWo7nk4tXQgfkwkaVTHfA8Zkg9_Y9U0jKy2LqicRa-zW49dVQptXn8EWBznXpt84FPTARDxQiqd0oe5Kp4sE7LxGKc0v-fY-xErFd0RsedlIl7_yr_wq3VCOKkjlkkl024Ff0gi-z5SSe5vCCCbxZKHbOw/s1092/Miguel%20Caleiro%20e%20Sebastia%CC%83o%20da%20Gama,%20Loas%20a%20Nossa%20Senhora%20da%20Arra%CC%81bida.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="914" data-original-width="1092" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpWK6m4hka5q_0nW6Ket40KUzolmgxX5X3DkWo7nk4tXQgfkwkaVTHfA8Zkg9_Y9U0jKy2LqicRa-zW49dVQptXn8EWBznXpt84FPTARDxQiqd0oe5Kp4sE7LxGKc0v-fY-xErFd0RsedlIl7_yr_wq3VCOKkjlkkl024Ff0gi-z5SSe5vCCCbxZKHbOw/s320/Miguel%20Caleiro%20e%20Sebastia%CC%83o%20da%20Gama,%20Loas%20a%20Nossa%20Senhora%20da%20Arra%CC%81bida.jpg" width="320" /></a></div><p><br /></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">A motivação principal das colectâneas de rimas de Miguel Caleiro eram as Festas da Arrábida, também ocasião para que fosse editado um opúsculo com os seus versos, cuja temática principal era a ida ao Convento da Arrábida para essa celebração, havendo também cantigas, que diferiam de ano para ano, motivadas por razões autobiográficas ou por questões sociais - por exemplo, na edição de 1916 dos </span><i style="font-size: 13pt;">Versos em honra das antigas Festas d’ Arrábida</i><span style="font-size: 13pt;">, Miguel Caleiro escolheu para a linha autobiográfica duas cantigas dedicadas aos pais e duas cantigas que tomam o poetar como tema, particularmente uma em que esboça o seu auto-retrato; já a imagem da época, questão importante pelas implicações sociais, políticas e históricas, foi ocupada com duas cantigas sob o título “Despedida para a Guerra”, relatando o momento da separação familiar dos que eram recrutados para ir “auxiliar o francês”.</span><span style="font-size: 13pt;">Retomando a edição do início da década de 1920 que nos tem servido de base, vale a pena olhar para umas loas à Senhora da Arrábida, vinte e oito quadras organizadas em quatro partes - “Saída de Azeitão”, “Chegada ao Convento”, “A despedida da Serra” e “Chegada a Azeitão”. Nelas, o leitor acompanha, no momento da saída, a ansiedade dos romeiros pela partida para a festa, o trajecto da berlinda que acompanha a Senhora, a despedida que o povo faz da imagem, o sinal de partida dado pelo sino da igreja; já no Convento, assiste-se aos momentos de devoção perante a “Rainha do Céu”, à contemplação da grandiosidade do cenário natural, à reza a pedir a bênção e protecção para os romeiros; o momento da despedida é feito sob o signo da oração, pesando também a emoção “de tão triste apartamento”, pois era chegada a hora de regressar à vila; no último quadro, da chegada a Azeitão, a comoção envolve os peregrinos, no meio dos repiques sineiros, com aqueles que ficaram a manifestarem o contentamento, pois era “chegada a santa Imagem / cheia de graça e louvor”, com um momento intenso de oração no final.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">A ideia das loas para este momento festivo manteve-se pelos tempos. E, se algumas destas quadras se repetiram nas edições de vários anos, em 1946 (tinha Miguel Caleiro falecido há 11 anos), uma inovação surgia ao serem publicadas as <i>Loas a Nossa Senhora da Arrábida</i>, texto conjunto de Miguel Caleiro e de Sebastião da Gama (que tinha 22 anos à época e apenas um livro publicado). Das 28 quadras que constituem esta composição, organizadas nos mesmos quatro quadros, há oito que constam nos <i>Versos</i> de Caleiro do início da década de 1920. Não há a certeza de que todas as outras sejam de Sebastião da Gama, ainda que, em algumas, se consiga perceber a sua marca nas imagens que recorrem à Natureza, não se desconhecendo também o jeito que o jovem poeta tinha para a construção de quadras de gosto popular.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Esta junção dos dois poetas azeitonenses na publicação das <i>Loas</i> (que foram republicadas em 1966 e em 1996) alimenta também a admiração que Sebastião da Gama tinha por Miguel Caleiro - em Março de 1942, tinha Caleiro falecido há sete anos e estava Sebastião prestes a fazer 18 anos, o novel poeta azeitonense compôs um soneto em honra do antecessor, com a nota “para a sua campa”, assim retratando a memória: “Aqui repousam cinzas, pó e nada: / despojo </span><span style="font-size: 13pt;">humilde de quem foi alguém / e agora, com certeza, no Além, / maneja a Lira, a Lira bem-fadada. // Não vistes ‘inda a terra descuidada / que a torga, o alecrim, o lírio vêm, / a violeta, o malmequer também / tornar a mais formosa e delicada? // Teu estro foi, ó vate, o campo inculto / aonde foi nascer e tomou vulto /</span><span style="font-size: 13pt;"> </span><span style="font-size: 13pt;">jardim tão perfumado, tão mimoso! // Teu corpo aqui, Miguel! Mas lá nos céus / eu bem te vejo a recitar a Deus / teus versos - flor’s de tom o mais vistoso!”</span><span style="font-size: 13pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Que bom gesto de memória seria o de se conseguir uma compilação dos versos que Miguel Caleiro compôs, tendo como abertura este soneto de Sebastião da Gama, que constrói a feliz ideia de transformar o céu num espaço em que os poetas recitam versos para Deus!...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;"><span style="font-size: 13pt;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: n.º 1259, 2024-03-13, pg. 9.</span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;"><br /></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-38045782895463498382024-03-07T01:03:00.000+00:002024-03-07T01:03:00.218+00:00Os Versos de Miguel Caleiro (3)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiErFG26Mo4ks3HmiHTRJflF-yCfANKDpl1FhnMlB0EjDd_NtZkkHstqjhCF56UkKT8UtpZDKY6FUhLEeXbGO36MgLGg1dPUJOX5oWLxhGGFbdZyLSxRxJrXtzdH3Rgp7L7jBuvcQRQoy_eEL04V18T3eRXp_HkPdL69S6HNNSJbeU3EygxggqqMzOs-Pk/s1244/Miguel%20Caleiro%20e%20cantiga%20autobiogra%CC%81fica.jpg" imageanchor="1" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1008" data-original-width="1244" height="259" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiErFG26Mo4ks3HmiHTRJflF-yCfANKDpl1FhnMlB0EjDd_NtZkkHstqjhCF56UkKT8UtpZDKY6FUhLEeXbGO36MgLGg1dPUJOX5oWLxhGGFbdZyLSxRxJrXtzdH3Rgp7L7jBuvcQRQoy_eEL04V18T3eRXp_HkPdL69S6HNNSJbeU3EygxggqqMzOs-Pk/s320/Miguel%20Caleiro%20e%20cantiga%20autobiogra%CC%81fica.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;">Nos <i>Versos</i> de Miguel Caleiro, aparecidos cerca de 1920, passa também o sentimento da amizade, vivido numa festa feita em honra de Armando Barata, um seu amigo, sendo o poeta impressionado pela beleza do evento, tempo em que “nos passa a dor / entre as almas donairosas / que, fiéis e piedosas, / escutam a poesia” que lhes é oferecida pelo cantador. Os poemas são equiparados a “ramalhete de apreço”, constituído por dálias, verbenas e açucenas, imagem que serve também para elogiar a assistência - “são as flores que vejo / doçuras que amam poetas”. A cantiga (com uma quadra como mote e quatro décimas) conclui com a demonstração da alegria festiva e o agradecimento do poeta: “Ao ver tanta animação / nesta festa de amizade, / toda a alegria me invade / de raríssima confusão. / Perante a reunião / que escuta minhas glosas, / com palavras especiosas / são os mais gratos deveres, / elevando os vossos seres / como alfim mágicas rosas.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;">Outra cantiga com o mesmo formato da anterior recorda uma assustadora tarde de inverno, em que é registado o ambiente sentido, oscilando entre planos gerais e planos de pormenor - a aflição dos camponeses que não podiam atravessar a ribeira para acudir à família, o tom assustador das trovoadas, os rebanhos assustados em fuga, as árvores partidas e arrancadas pelo vento, os telhados destruídos, o relampejar feroz, as águas a descerem pela montanha, a ponte e a azenha destruídas, a noite avassaladora, a morte do moleiro e do seu filho. A quadra que dá o mote anuncia bem a calamidade que se descreve: “Era uma noite de inverno; o céu parecia um inferno. / Estavam os astros em guerra. / A ribeira mal sustinha a grande cheia que vinha / pelas vertentes da serra”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;">Duas cantigas assumem um pendor marcadamente autobiográfico, revelando alguns traços sobre o poeta destes <i>Versos</i>. A primeira, demonstrando a sua origem rural e modesta, o estatuto de poeta popular e de cantador que para si reclama e o reconhecimento do seu nível cultural, sujeita-se ao mote “Miguel Fernandes Caleiro, / um poeta camponês, / não pode cantar o fado / em correcto português”. A cantiga retrata o percurso do autor: nascido “numa aldeia de Azeitão”, em tempo de dificuldades sentidas por uma “humilde geração”, numa família sem posses financeiras para dar melhor formação ao filho. Na segunda décima, já o poeta valoriza o seu percurso, enaltecendo o trabalho, a honra e o autodidactismo - “Eu fui como uma pobre flor / pelo vento açoitada / e, herdeiro da enxada, / aprendi a cavador. / Nasci para trabalhador / no meio da honradez. / Em mim, não há altivez, / eu só canto irmãmente, / mas têm na vossa frente / um poeta camponês.” Prossegue a cantiga, manifestando a alegria por aquilo que faz, para terminar com uma evocação da figura da mãe e a afirmação do que entendia ser o poeta popular: “Minha mãe santo afecto / chorou ao ver-me crescer, / sem apenas aprender / as letras do alfabeto. / Assim, sou analfabeto, / mas não semeio a rudez. / E vós, povo que me vês, / queiram-me aqui desculpar, / porque eu não sei cantar / em correcto português.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;">A segunda cantiga de marca autobiográfica começa por glorificar a poesia, associando-a à capacidade emotiva: “Os versos que ides ouvir / nesta singela canção / são flores que nascem d’alma, / que brotam do coração.” Assemelhando os poemas que compõe a um “raminho de flores”, confessa o tom pessoal ao considerá-los “rimas do meu sentir”, garantia que vai dando ao longo do poema, terminando com a assinatura que reafirma o seu estatuto e a sua simplicidade: “São canções de um camponês / que não sabe ler nem escrever, / por isso não podem ter / grande beleza talvez. / Foi o Caleiro que as fez / sem a metrificação. / P’ra lhe oferecer elas são / como desfolhadas rosas, / as minhas pobres glosas / que brotam do coração.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: n.º 1254, 2024-03-06, pg. 10</span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;"><o:p> <br /></o:p></span></p><style class="WebKit-mso-list-quirks-style">
<!--
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoNoSpacing, li.MsoNoSpacing, div.MsoNoSpacing
{mso-style-priority:1;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:10.0pt;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
mso-fareast-font-family:SimSun;}
@page WordSection1
{size:612.0pt 792.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:36.0pt;
mso-footer-margin:36.0pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:1107894743;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:-1204383008 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525;}
@list l0:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
-->
</style>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-23374699347864754802024-02-28T19:11:00.003+00:002024-02-28T19:11:53.156+00:00Os versos de Miguel Caleiro (2)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH5dWOdekLwf8ypOHrREgxb4fUUrA9QjdpprDg1vA6u715BHmlYigvIXI5NahXKQ1G4kmYqLyoUot7qP_yihKQGjHuJeo9ozbMNWqeex9oDWGjewxBXoFTxxk5BME3bvBviUFLdeETMTnVUCdwRuqfQPADF__RRzzPQ3fn_LclFLwP3ztX3dEhNQd9cz0/s1142/Miguel%20Caleiro%20e%20Maria%20da%20Sau%CC%81de.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="846" data-original-width="1142" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH5dWOdekLwf8ypOHrREgxb4fUUrA9QjdpprDg1vA6u715BHmlYigvIXI5NahXKQ1G4kmYqLyoUot7qP_yihKQGjHuJeo9ozbMNWqeex9oDWGjewxBXoFTxxk5BME3bvBviUFLdeETMTnVUCdwRuqfQPADF__RRzzPQ3fn_LclFLwP3ztX3dEhNQd9cz0/s320/Miguel%20Caleiro%20e%20Maria%20da%20Sau%CC%81de.jpg" width="320" /></a></div><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: center;"><span style="font-size: 13pt; text-align: justify;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Os <i>Versos</i> de Miguel Caleiro publicados por 1920, inserindo uma fotografia em que estão o seu autor e a afilhada Maria da Saúde em gesto de escrita do que está ouvindo, contêm onze poemas, maioritariamente influenciados por características locais (as Festas da Arrábida, a paisagem, circunstâncias de vizinhança), mas também pelo registo autobiográfico.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">“Na Arrábida”, um poemeto com dezanove oitavas, esquema rimático constante e métrica variável, abre a série, quase configurando uma reportagem pessoal sobre a vivência da Festa da Arrábida - no primeiro dia, a chegada pela madrugada leva a curta estada no Convento e visitas à Lapa e ao Portinho, sendo o poeta acompanhado pelo canto do rouxinol até ao momento em que assiste à chegada dos pescadores, num olhar que bem representa uma tela do passado. O segundo dia é vivido no Convento, entre a alegria dos romeiros e os seus hábitos, particularmente no que respeita à devoção sentida, havendo também o compromisso pessoal do poeta - “trabalhar com amor do coração, / sempre pronto para ajudar meus companheiros”, manter-se como festeiro e recordar “com saudade os que morreram, / desta festa tão devotos promotores”. A parte que mais oitavas ocupa é a da partida e regresso a Azeitão, momento de ternura e emoção, pois a imagem da padroeira “só depois de passado um ano torna a vir, / esta serra montanhosa visitar”. O leitor assiste à narração da viagem a cavalo, à festa das bandeiras e estandartes, aos anjos no momento da despedida, num trajecto por Olivalinho, Calhariz, El Carmen, Parral, Pedreiras, Casais, Aldeia de Irmãos, Oleiros, S. Marcos, Baldrucas, até ao momento da “linda entrada / que dá o círio nesta vila nossa amada”, tempo de alegria e de partilha, de festa, com repicar de sinos, arraial, foguetes, havendo ainda uma palavra para os mais cépticos na derradeira estrofe - “Para muitos já não há religião, / cada um tem o seu modo de pensar. / Uns querem que ela acabe e outros não, / é difícil tanta gente contentar... / Àqueles que ainda têm devoção / ninguém tem o direito de censurar, / é sempre livre a vontade de qualquer / e pensará da maneira que quiser.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">Três cantigas compostas por mote (quadra) e quatro décimas abordam ainda o momento da festa - uma, a propósito da partida para a serra, em que os sentimentos são uma mistura de alegria pela festa e pela participação e de tristeza ocasionada porque muitos “se estão lembrando / dos tristes horrores da guerra” (cantiga produzida durante a participação de Portugal na Grande Guerra, por certo); a segunda, a cantar o prazer de estar na Arrábida, entre rosmaninho, jasmim, medronheiros e chilreios, contemplando a vista sobre Azeitão e subindo ao Alto Formosinho; a terceira, incidindo sobre o Convento franciscano, motivo para evocar a lenda de Hildebrando e a construção da comunidade arrábida com Frei Martinho e Pedro de Alcântara.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">A rivalidade entre duas aldeias, transferida para a argumentação dos respectivos santos patronos, está patente em duas cantigas que dialogam - uma, “dedicada ao Santo da minha aldeia que se zangou com o Santo da aldeia vizinha” (S. Sebastião); a outra, constituindo a resposta de S. Marcos aos remoques recebidos. O primeiro faz pública queixa logo no mote - “Eu sou o S. Sebastião / tão desprezado e sozinho, / o S. Marcos esse tem / tudo bem arranjadinho” e lembra as coisas desaparecidas da sua “velha morada” (louvando um tal “José da Tia” por ainda se esforçar na guarda) e o mau estado da calçada de acesso, lamentando ainda o abandono a que foi sujeito pelos antigos devotos e festeiros. A resposta de S. Marcos reflecte as conversas dos favores políticos locais - a partir da quadra “Ó mártir S. Sebastião, / não estejas assim zangado. / Deixa estar que o teu palácio / também vai ser arranjado”, o santo explica que as obras da sua capela tiveram de ocorrer porque o telhado estava a cair e anuncia que o seu vizinho também virá a ter obras (um chafariz e uma avenida), ainda que apresente uma justificação para o progresso na sua zona: “Dizes que isto é um jardim? / E admiras-te se for? / Tu não vês que o vereador / mora aqui ao pé de mim?”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 13pt;">* João Reis Ribeiro. "500 </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><span style="font-size: 17.333334px;">Palavras". <i>O Setubalense</i>: nº 1549, 2024-02-28, pg. 6</span></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;"><br /></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-12528274715756366822024-02-22T16:44:00.004+00:002024-02-22T16:46:37.574+00:00Os versos de Miguel Caleiro (1)<p align="center" class="MsoNoSpacing" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: center; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlu07idKtQPMWP6OjQD8EP3EbiIxR6HtYSQP-i7D_bEHWYnzL2VQ0QN_YGKG3lhZLjS4_NcwHb0g-AW2jdHqehk4Ej5LYo8trinlxgQ29kAJr6pYnd3O99cYQfnRinT5QeKTpCg1LcJTBNatSmsmg50tVK-6WWVdoN1OY6tI_RfbX-czOOktZ17c_sdZY/s4676/Miguel%20Fernandes%20Caleiro,%20Versos%20(c.%201920).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4676" data-original-width="3160" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlu07idKtQPMWP6OjQD8EP3EbiIxR6HtYSQP-i7D_bEHWYnzL2VQ0QN_YGKG3lhZLjS4_NcwHb0g-AW2jdHqehk4Ej5LYo8trinlxgQ29kAJr6pYnd3O99cYQfnRinT5QeKTpCg1LcJTBNatSmsmg50tVK-6WWVdoN1OY6tI_RfbX-czOOktZ17c_sdZY/s320/Miguel%20Fernandes%20Caleiro,%20Versos%20(c.%201920).jpeg" width="216" /></a></div><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: center; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;">No primeiro número do jornal <i>O Azeitonense</i>, de 3 de Agosto de 1919, a terceira página abre com o título “Poetas humildes”, informando, logo no primeiro parágrafo: “os versos que abaixo reproduzimos, sendo, como são, de uma alma inculta, revelam um temperamento poético, de que muito haveria a esperar se fosse cultivado.” Depois, é explicada a razão para nada ter sido alterado no texto poético: não haveria, assim, adulteração do “temperamento afectivo e bom”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;">Formalmente, o texto é uma cantiga, em que uma quadra (mote) anuncia o tema a desenvolver: “Eu gosto imenso de ouvir / pela fresca madrugada / o clarim do rouxinol / dar o toque de alvorada!” Seguem quatro décimas (glosas), retomando cada uma delas no final um verso do mote, desenvolvendo o tema do prazer da vida campestre - passeios no prado, canto da pastora e sons de flauta do pastor, trabalho agrícola das ceifeiras, cantar do rouxinol, moças na escamisada ou a transportar água da fonte.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;">O autor de tal poema é Miguel Fernandes Caleiro (1876-1935), de Aldeia de Irmãos, figura que o padre Manuel Frango de Sousa (1919-2000) divulgou na sua folha paroquial <i>Azeitão - A Nossa Terra</i>, em Fevereiro de 1989, dele dizendo ser “uma figura típica”, em quem “a espontaneidade era característica” e considerando a casa que ele animou e onde se cantava fado “um monumento de Azeitão”. Na última página do referido número de “O Azeitonense”, inteiramente dedicada a anúncios, consta o “Retiro Vila Jacinta de Miguel Fernandes Caleiro”, situado “nos Brejos, Casal de Bolinhos, Estrada de Coina”, espaço de “mercearia e belo retiro com bons petiscos e deliciosos vinhos”, condições que favoreceram os encontros de fado.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;">A sobrevivência dos textos de Miguel Caleiro deve-se, em grande parte, à sua sobrinha Maria da Saúde (1903-1995), que os transcrevia. Ligado às Festas da Arrábida, o poeta viu, no início da década de 1920, algumas das suas rimas publicadas sob o título <i>Versos em honra das Antigas Festas d’Arrábida que pomposamente costumam realizar-se na pitoresca Vila de Azeitão</i>, opúsculo de 16 páginas impresso na Tipografia Simões (com “oficinas movidas a força motriz”, em Setúbal), apresentado em “duas palavras”: “os versos que vão ler-se são simples e ingénuos como a sua alma de trabalhador do campo. Miguel Caleiro não sabe ler. As inúmeras canções populares de que é autor brotam-lhe espontâneas e é sua afilhada Maria da Saúde, uma engraçada pequena de 17 anos, que Caleiro estremece como se fora sua filha”, quem as escreve. É curioso que a nota sublinhe uma ideia que já tinha sido aflorada no recorte de <i>O Azeitonense</i>: “Dos versos de Caleiro diria de certo o nosso genial Guerra Junqueiro, se os lesse, que são como certas rosas que florescem nos matagais incultos.” Mas esta nota torna-se também interessante por recuperar o empenho que Guerra Junqueiro (1850-1923) pôs na divulgação da poesia popular, tal como fez no caso do poeta popular setubalense António Maria Eusébio (1819-1911), conhecido como “Calafate”, ao prefaciar a recolha dos seus <i>Versos</i> feita por Henrique das Neves em 1916, dizendo: “Não sabendo ler nem escrever, és um grande poeta (...). A tua bondade, meu velho, exala-se das tuas cantigas sem arte, como um aroma delicioso de um matagal inculto, que nasceu entre pedras (...) Ganhaste com o suor da fronte o pão de cada dia.” As palavras de Junqueiro sobre o Calafate poderiam ser aplicadas também a Caleiro, por certo...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: 13pt;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: n.º 1245, 2024-02-22, pg. 10.</span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><br /></p><style class="WebKit-mso-list-quirks-style">
<!--
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
a:link, span.MsoHyperlink
{mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
color:#0563C1;
mso-themecolor:hyperlink;
text-decoration:underline;
text-underline:single;}
a:visited, span.MsoHyperlinkFollowed
{mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
color:#954F72;
mso-themecolor:followedhyperlink;
text-decoration:underline;
text-underline:single;}
p.MsoNoSpacing, li.MsoNoSpacing, div.MsoNoSpacing
{mso-style-priority:1;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:10.0pt;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
mso-fareast-font-family:SimSun;}
@page WordSection1
{size:612.0pt 792.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:36.0pt;
mso-footer-margin:36.0pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:1480270384;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:2094199166 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525;}
@list l0:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
-->
</style>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-41980965093877813632024-02-08T01:13:00.003+00:002024-02-08T01:13:56.667+00:00A força que as mãos têm<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5E41iFJKYOEU78Vc-XLe0B1IZWkfU9ZVT8J_r43zLwiwf2wKApWWSQGUbOsniZguY_jRbof-gkk6uhOclG0k11JD30DtD80A5saz4Y4CK326SUuZ7r_Z_S0ASMug1zt9gv71gKHlrev0VqeDlhHq5Cfd7pDyqcPUQOnqrGn_3Yf3bUmJ1f_ya4jAZZhQ/s1600/A%20Catedral,%20por%20Auguste%20Rodin.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5E41iFJKYOEU78Vc-XLe0B1IZWkfU9ZVT8J_r43zLwiwf2wKApWWSQGUbOsniZguY_jRbof-gkk6uhOclG0k11JD30DtD80A5saz4Y4CK326SUuZ7r_Z_S0ASMug1zt9gv71gKHlrev0VqeDlhHq5Cfd7pDyqcPUQOnqrGn_3Yf3bUmJ1f_ya4jAZZhQ/s320/A%20Catedral,%20por%20Auguste%20Rodin.jpg" width="240" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A universalmente conhecida escultura de Rodin intitulada “Catedral” (1908) atrai pelo entrelaçar de duas mãos, que não se tocam, numa forma que convida à aproximação, ao recolhimento, à elevação. A delicadeza que transparece esculpida deixa que o silêncio domine, num crescendo que vai muito além da visão das mãos que quase prolongam o movimento - olhamos esta obra (que, inicialmente, não teve esse título) e associamos-lhe a expressividade que a mão tem em toda a obra de Auguste Rodin (1840-1917). Não terá sido a pensar nesta escultura que João Pina de Morais (1889-1953) escreveu sobre a imagem das mãos (mesmo porque o fez quando estava como combatente na Grande Guerra) no seu diário, em 24 de Abril de 1917, mas a citação poderia constituir legenda para a peça de Rodin: “As mãos são expressivas: como são suplicantes quando se erguem a encaminhar para o céu as palavras que se vão dizendo; como são dolorosas quando cheias de dor se contorcem aflitivas, e mais e mais.” (in <i>A quem encontrar este livro… - Diário de Guerra 1917-1918</i>, publicado em 2015).<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A mão, símbolo de acção, de poder ou de generosidade, é também objecto de leituras poéticas, por vezes reprimidas pelos poderes instituídos... Quando a censura se deparou, em 1946, com a publicação colectiva <i>Bloco - Teatro, Poesia, Conto</i>, não hesitou em proibir a circulação da obra, entre outros motivos por causa do poema “Cântico” (em que o censor apôs um risco vermelho), de Mário Ruivo (1927-2017), um texto contra o trabalho escravo, que proclama: <span style="background: white;">“Nós não temos carabinas / nem bombas nem baionetas // Nós não temos bombardeiros / nem couraçados nem tanks // Nós não temos casamatas / nem jeeps nem cavaleiros // Nós não temos nada disso / Não temos Não // Mas temos as nossas mãos / que semeiam o trigo / e ceifam as searas / e amassam o pão // Nós temos as nossas mãos / que arrancam do subsolo / o ferro e outros metais / que estão nos vossos canhões // Nós temos as nossas mãos / que extraem do seio da terra / todo o petróleo e carvão / que faz mover vossos navios vossos carros celulares // Nós temos as nossas mãos / que constroem as turbinas / e manejam os volantes e as alavancas / dos geradores eléctricos // E as máquinas das fábricas paradas / e a cidade às escuras / e os colectores sem água / e o padeiro sem vir / e o mercado fechado / E tudo com fome E tudo com fome / E A VIDA PARADA // Nós não temos carabinas / Não temos Não // Mas temos as nossas mãos / Mas temos as nossas mãos”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Igualmente intenso na mensagem, pelo desafio que constitui para o homem pensante, construtor e interventivo, é o poema “As Mãos”, que Manuel Alegre (n. 1936) incluiu no livro <i>O Canto e as Armas</i> (1965), título também apreendido pela polícia política do Estado Novo, soneto que assim se inicia: “Com mãos se faz a paz se faz a guerra. / Com mãos tudo se faz e se desfaz. / Com mãos se faz o poema - e são de terra. / Com mãos se faz a guerra - e são a paz.” Depois de mencionar o valor do trabalho e a força transformadora exercida pelo homem, o poema conclui com um terceto apelativo: “De mãos é cada flor cada cidade. / Ninguém pode vencer estas espadas: / nas tuas mãos começa a liberdade.”<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Vale ainda lembrar o último romance de José Gardeazabal (n. 1966), <i>A Mãe e o Crocodilo</i> (de 2023), obra de questionamento sobre a vida e sobre o mundo, que refere a força das mãos, a propósito de um fenómeno social muito actual: “Os imigrantes imigram com as mãos, é uma maneira de ganhar a vida. Quando não se conhece a língua, ganha-se a vida com as mãos. Depois da língua, a melhor parte do corpo são as duas mãos.”<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A expressividade da mão pode definir-nos relativamente aos outros e ao mundo, às crenças e às situações; daí, também, a quantidade de expressões feitas em que a palavra “mão” surge, dando ideia da pluralidade de dimensões que interferem na vida. E os poetas, esses, surpreendem-nos com o uso metafórico que dela fazem, como muito bem o demonstraram, por exemplo, Pedro da Silveira (1922-2003), quando, no “Pequeno poema infinito”, construiu o terceto “A mão sobre o mapa / não viaja, / interroga.” (in <i>Fui ao mar buscar laranjas</i>, 2019), ou Sebastião da Gama (1924-1952), que, em <i>Cabo da Boa Esperança</i> (1947), confiando na segurança da mão, escreveu “<span lang="PT-BR" style="letter-spacing: -0.35pt;">Nem um momento só, / </span><span lang="PT-BR" style="letter-spacing: -0.3pt;">largo das mãos meu leme de certeza”, ou, indo ao encontro do acto de criar, definiu o poeta - “</span><span lang="PT-BR" style="letter-spacing: -0.35pt;">Era nas suas mãos que terminavam / </span><span lang="PT-BR" style="letter-spacing: -0.45pt;">as coisas infinitas e as finitas. / </span><span lang="PT-BR" style="letter-spacing: -0.35pt;">Por isso as suas mãos eram abismos / </span><span lang="PT-BR" style="letter-spacing: -0.25pt;">aonde se perdia o Pensamento.”</span><o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;"><span lang="PT-BR" style="letter-spacing: -0.25pt;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalens</i>e: n.º 1235, 2024-02-07, pg. 10</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;"><span lang="PT-BR" style="letter-spacing: -0.25pt;">** Foto: Auguste Rodin, "Catedral" - Casa-Museu Rodin, Paris</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-65356117185004440912024-02-03T18:21:00.003+00:002024-02-03T18:21:47.404+00:00Ana de Castro Osório e Paulino de Oliveira lembrados<p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqGyjfMpR96NN5nB_ACHUrxjFlzrz7Megump3n9CG-DN7pya5ef6-9hmqeb-W86w_r5HCK7mHV2S8dxzX5yitc2scYZ7ly4O4r3ukA4vEjZXKGW3q15J7qlssUnrvdUxtW9RM8CffRbB1HVJjqXSZQA05BeE7T4EHIW8HBMKDzatEfnvJfb7fR2Tj9YJg/s5500/Giovanni%20Licciardello,%20Ana%20de%20Castro%20Oso%CC%81rio%20e%20Paulino%20de%20Oliveira%20-%20Percursos%20poli%CC%81ticos%20e%20litera%CC%81rios%20(2023).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="5500" data-original-width="3986" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqGyjfMpR96NN5nB_ACHUrxjFlzrz7Megump3n9CG-DN7pya5ef6-9hmqeb-W86w_r5HCK7mHV2S8dxzX5yitc2scYZ7ly4O4r3ukA4vEjZXKGW3q15J7qlssUnrvdUxtW9RM8CffRbB1HVJjqXSZQA05BeE7T4EHIW8HBMKDzatEfnvJfb7fR2Tj9YJg/w145-h200/Giovanni%20Licciardello,%20Ana%20de%20Castro%20Oso%CC%81rio%20e%20Paulino%20de%20Oliveira%20-%20Percursos%20poli%CC%81ticos%20e%20litera%CC%81rios%20(2023).jpeg" width="145" /></a></div><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: center;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">As figuras do setubalense Paulino de Oliveira (1864-1914) e de Ana de Castro Osório (1872-1935, nascida em Mangualde), sua mulher, mereceram obra biográfica recente, assinada por Giovanni Licciardello sob o título <i>Ana de Castro Osório e Paulino de Oliveira - Percursos Políticos e Literários</i> (2023).<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">O trajecto e análise feitos nesta monografia estão dominados pela relação familiar do autor - sua esposa, Ana Leonor Osório de Castro, entretanto falecida, era trineta dos pais de Ana de Castro Osório, e as várias facetas destas figuras sempre foram partilhadas nas histórias familiares. No texto introdutório, a sobrinha-bisneta recordou as memórias que lhe chegaram do casal: “Desde muito pequena os nomes de Ana de Castro Osório e de Paulino de Oliveira sempre me foram familiares. Eram e ainda são chamados pelos vários membros que compõem a minha família, de ‘tia Ana’ e ‘tio Paulino’, mesmo ao fim de todos estes anos. No que diz respeito ao tio Paulino, (...) era, sobretudo, um homem de fortes convicções pessoais e políticas e um republicano dos sete costados. (...) Relativamente à tia Ana, habituei-me aos seus contos, ao longo de toda a minha primeira infância (...). Mais tarde na juventude, bem como actualmente na idade adulta, nunca dispensei a leitura regular da sua vasta e fecunda obra.”<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Giovanni Licciardello constrói este livro segundo dois vectores: por um lado, a relação familiar já indicada e, por outro, a necessidade de conhecer a obra dos antepassados, num contributo para a construção da memória e de partilha das descobertas (o autor chega a confessar que o seu conhecimento sobre os dois “era manifestamente pouco”). O segundo aspecto será, aliás, responsável por alguns excursos (sobretudo relacionados com relatos históricos e opinião sobre os factos) que, embora em relação com as personagens biografadas, são muito mais caracterizadores das épocas e prova de procura de informação sobre as mesmas, desviando, por vezes, a atenção sobre estes protagonistas (de que são casos a exposição sobre o conceito e a importância das biografias, os acontecimentos em torno do Ultimato ou as considerações sobre a Grande Guerra, por exemplo).<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A primeira personalidade abordada é a de Paulino de Oliveira, podendo o leitor seguir a sua intervenção contra o Ultimato no início de 1890 (que o chega a levar para a prisão), a defesa do ideal republicano, o envolvimento na revolta do Elevador da Biblioteca (1908) e consequente fuga para o Brasil, a intervenção cultural (em torno de Garrett, de António Maria Eusébio e do centenário bocagiano de 1805), a vida e os compromissos depois da instauração do regime republicano (com a situação de desconforto que criou ao agredir à chibatada várias mulheres da indústria conserveira que operavam na fábrica de uma sua familiar, situação que, mesmo explicada por carta ao director do jornal <i>O Germinal</i> - onde assumiu ter cometido um “estúpido crime” -, não colheu a desculpa), o assumir do cargo de cônsul no Brasil. A parte dedicada ao seu legado, em áreas como o jornalismo ou a poesia, careceria de mais amplo olhar, mesmo porque as suas obras não são de fácil acesso, continuando-se por cumprir aquilo que Fernando Pessoa lhe augurou: os seus “poemas ficarão” e “não deixarão de ser incluídos na Antologia Portuguesa definitiva”.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Quanto a Ana de Castro Osório, acompanha o leitor o seu trajecto desde a sua chegada a Setúbal em 1893 (casariam cinco anos depois), passando por momentos como a história da relação amorosa recusada a Camilo Pessanha (em troca de uma promessa antiga a um António de Meneses), o trabalho desenvolvido no âmbito da literatura para as crianças e da promoção de valores culturais locais e nacionais, a intervenção cívica (luta pela criação de um Museu Regional, defesa do papel da mulher na sociedade, activista em diversas organizações feministas, defensora da educação básica, produção panfletária em defesa das suas convicções). Relativamente à memória de Ana de Castro Osório, há ainda uma resenha de bibliografia passiva e a indignação por o seu nome ter desaparecido da lista de patronos de escola em Setúbal, num processo que não terá primado pela clareza.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Com esta obra, Giovanni Licciardello tornou viva a memória destas duas figuras (pelo seu significado local e nacional), homenageando-as de uma forma que poderia ter sido enriquecida se incluísse uma pequena antologia de textos de ambos, assim permitindo que as suas vozes fossem ouvidas e os leitores mais se aproximassem de dois nomes que não devem ser esquecidos.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: n.º 1230, 2024-01-31, pg. 10</p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-77823348649468975272024-01-17T18:57:00.003+00:002024-01-17T18:57:33.990+00:00Raul Reis e um livro cheio de garrafas<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvcLtJbo-jGJCHY-aoPYFq4QPimZODsqXilQEXEMSRgvTMl5jeY1zpOeu8rU4KmaXqlsHjytCjbfBQisUTZ8p_CT5pmC5reyyCGE-rpYCp8Uaxgj3VNDT1ufQOA98EgZUJgOjzfjl61ou0M3-qEw_C_KtvQmbaJ4NNWEbYuySgQVKRv8kmOF9UGp5lip4/s5378/Raul%20Reis,%20Vasilhame%20(2023).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="5378" data-original-width="4924" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvcLtJbo-jGJCHY-aoPYFq4QPimZODsqXilQEXEMSRgvTMl5jeY1zpOeu8rU4KmaXqlsHjytCjbfBQisUTZ8p_CT5pmC5reyyCGE-rpYCp8Uaxgj3VNDT1ufQOA98EgZUJgOjzfjl61ou0M3-qEw_C_KtvQmbaJ4NNWEbYuySgQVKRv8kmOF9UGp5lip4/w183-h200/Raul%20Reis,%20Vasilhame%20(2023).jpeg" width="183" /></a><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </span></div><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A garrafa é objecto que, normalmente, interessa pelo seu conteúdo, servindo, por essa razão, para a construção metonímica apenas quando está cheia - em primeiro lugar, com um qualquer líquido; depois, com aquilo que lá se queira meter, destacando-se, nesta última hipótese, a possibilidade de guardar segredos ou mensagens, recurso que deu já origem a muitas histórias de aventuras e a textos literários, haja em vista, por exemplo, obras de Daniel Filipe (1925-1964) ou de Alexandre Honrado (n. 1960) que trouxeram este objecto para título de narrativas.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Raul Reis (n. 1974), designer setubalense, resolveu encher um livro com fotografias de garrafas oriundas de uma centena de marcas portuguesas de refrigerantes e de águas, quase à dimensão real, que circularam entre as décadas de 1920 e de 1990, todas da era em que o material utilizado para as produzir era o vidro e a indicação das marcas era gravada por serigrafia (impressão directa sobre vidro).<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">“Um livro cheio de garrafas vazias”, assim explica o subtítulo de <i>Vasilhame</i> (No Frame Publishing, 2023), a prestar “tributo ao design gráfico de rótulos” e a carregar também a marca das recordações e de uma certa nostalgia.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Olhamos estas fotografias, a que são acrescentados alguns elementos informativos de carácter técnico e sobre as patentes, e, além de viagens no tempo, possibilitadas pela concepção dos desenhos, pelo olhar dos números de telefone constantes nos rótulos (alguns ainda com dois algarismos), pelo formato da garrafa ou pelas marcas que já desapareceram, conseguimos também viajar no país produtor de refrigerantes - desde Monção a Vila Real de Santo António ou desde Castelo Branco a Aveiro, o continente surge coberto na sua quase totalidade, em quinze distritos (de que se exceptuam Braga, Bragança e Vila Real), sendo o que apresenta mais elevado número de marcas o de Santarém (18), seguido de Lisboa (16), Coimbra (11) e Setúbal (10).<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Um olhar sobre os rótulos permite uma viagem por imaginários diversos - se a maioria apresenta figuras de fruta, certo é que, na motivação para o sabor também entram designações regionais (“Nabantina”, para Tomar, ou “Valenciana”, para Valença), motivos locais (o mosteiro, para a marca “Batalha”; os barcos e a praia, para a “Ericeirense”; o trajo regional, para a “Eramil” monçanense; a muralha, para a “Mirtilina” mertolense; o templo, para a marca vianense “Santa Luzia”), reproduções da figura feminina ou paisagens dominadas pelo sol e pelo ar livre.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Relativamente às marcas setubalenses, constam reproduções da grandolense “Foca”, das quintajenses “Frix” e “Vida & Fortuna”, da sesimbrense “Gaivota”, das barreirenses “Pérola” e “Sumo Fruto” (ambas do mesmo produtor), das setubalenses “S. João” e “Tody” e das seixalenses “S. Pedro” e “SP” (ambas do mesmo produtor).<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Conta Raul Reis que a sua colecção, mais vasta do que o repositório apresentado neste volume, começou “com uma viagem ao Oeste de Portugal e com um encontro casual com uma caixa cheia de garrafas de refrigerantes com rótulos pirogravados”, que, “encostada ao vidro de uma janela ampla, servia de elemento de decoração”. Daí veio a curiosidade pela análise do grafismo dos rótulos e o início da recolha, num processo de procura de exemplares, de contacto com trabalhadores e proprietários de algumas das empresas produtoras e de troca de experiências com outros colecionadores, surgindo o livro apenas como um “contributo para memória futura”.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><i>Vasilhame</i> é, assim, um passeio pela arte da impressão em vidro, pelas técnicas de publicidade e vida das marcas, pela história dos materiais, pela construção do gosto estético e dos sabores. As garrafas surgem vazias, sem tampa, mas repletas de memórias a encherem um livro...<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: n.º 1220, 2024-01-17, pg. 10</p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-76677608315471600762024-01-11T13:01:00.000+00:002024-01-11T13:01:03.350+00:00Rui Garcia: O "charroquês" e o Mestre Toine<p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiplyO929jEnvaKnmjGr57QuDnDgtJMUXE7pE3JEbTy31FFdTdikl5ftS4YWOqnlmn_nCURqIvgAWTpT8my9OwxFm7hR1WLQtP5ld6CS_cSBNK2pRYJ3c9tWQ2wDA2U3lt51ruJNhyTgFH9ymZy_nQJ28vR1HiRyAGpT1KvkTLaAHuzkf9f-7U1tkPUCvs/s5072/Rui%20Garcia,%20Charroque%20da%20Prrofundurra%20-%20As%20melho%CC%81rres%20histo%CC%81rrias.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="5072" data-original-width="3552" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiplyO929jEnvaKnmjGr57QuDnDgtJMUXE7pE3JEbTy31FFdTdikl5ftS4YWOqnlmn_nCURqIvgAWTpT8my9OwxFm7hR1WLQtP5ld6CS_cSBNK2pRYJ3c9tWQ2wDA2U3lt51ruJNhyTgFH9ymZy_nQJ28vR1HiRyAGpT1KvkTLaAHuzkf9f-7U1tkPUCvs/w140-h200/Rui%20Garcia,%20Charroque%20da%20Prrofundurra%20-%20As%20melho%CC%81rres%20histo%CC%81rrias.jpeg" width="140" /></a></div><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: center;"><br /></p><p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">O “charroque” existe em livro desde 2010, ano em que Rui Garcia publicou <i>Charroque da Prrofundurra - O Livrro</i>. No ano seguinte, saía <i>Charroque da Prrofundurra... volta à purrsefíce</i> (que inclui um “Dicionárrio Charroque”) e as histórias e as máximas de Mestre Toine, animador da loja e da ideia “charroque da prrofundurra”, prolongaram-se por títulos como <i>Apá Sóce... deslárrgame da mão!</i> (2014) e <i>Frráses Sádinas - Erra prra sairr uma frase fofinha mas saiu esta mérrda</i> (2018). Recentemente, as narrativas em que Mestre Toine e os seus amigos são intervenientes reapareceram antologiadas sob o título <i>Charroque da Prrofundurra - As melhórres histórrias</i> (edição da marca Charroque da Prrofundurra).<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Vale a pena retomar a apresentação feita no primeiro título: “Este livre é o suprrasúme do garrgalharr com Setúbal e em Charroquês”. A obra surgia na sequência de páginas nas redes sociais, de criação da marca e de loja (primeiro, virtual e, depois, real). E o prefaciador Charroque explicava ainda a origem do blogue: “nasceu duma grrande necessidade de acrreditarr que a nossa cidade vai sairr da obscurridão das desgrráças”, pois “há 20-30 anes nã acontcia nada e ia tudo prra Lisboa currtirr. Agorra acontece e fica tude em casa. Perrtante tames aqui com um prrublema.”<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Já percebe o leitor que o Charroque usa uma linguagem própria que o leva a escrever de acordo com regras gramaticais e ortográficas relacionadas com a oralidade e com as marcas da pronúncia mais forte dos “r” (mais associada à zona setubalense de Troino, sem que se conheça a origem desta variante) ou do final das palavras (anulando o som “u”, à semelhança de algumas regiões algarvias), uma e outra consequências de cruzamentos culturais e de migrações, por certo.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">O título agora aparecido, reunindo “as melhórres histórrias”, apoia-se nos textos publicados nos três primeiros volumes: 21 crónicas do livro inaugural; 12, do segundo; 17 do título editado em 2014. Este aspecto deve interferir com a leitura, na medida em que algumas referências terão de considerar o tempo em que foram feitas, muito embora estas crónicas possam (e devam) ser lidas pelo sublinhado do tom humorístico (por vezes, satírico - “garrgalharr com Setúbal”, lembremos) e da afirmação de algumas marcas identitárias.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Povoadas por “Méstrre Toine”, pescador, dono do barco “Marrgarrida do Sáde” (“a melhorr embarcação quiá”), vitoriano (“clube mai linde”), apreciador de choco frito e de umas “mines”, as histórias, com cunho de fantástico, trazem também os amigos Russe, Xique, Manel e Ptinga, todos integrando a companha do “Marrgarrida do Sáde”, e as irmãs Charroquinha e Charroquinhita, as duas filhas “caninas”. Pela cidade onde circulam o Fiat 127 “vermelhinhe” do Charroco e o “mata-velhos” do primo Chico Zarroulhe, estas personagens, que também calcorreiam a urbe, alimentam os dizeres de crítica social e de costumes, de análise de situações de dificuldade ou de abuso do poder, de cenas do quotidiano, de olhar algo cáustico sobre novas modas, sempre à mistura com muito sentido de humor, pormenor que vai amaciando a indignação quanto a indecisões ou quanto a situações ou problemas de mais difícil resolução.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Há alguns momentos fortes de narração, com vocabulário bem oportuno, cheio de graça e captação do movimento, como no episódio em que o Charroco e a família vão a um espectáculo de ballet, porque a filha era praticante da arte, e a dança impressiona fortemente o observador: “saltinhe prráqui, pirruêta prráli, biquinhes de pés prrácolá, salte desemcarrpade prró outrre láde, voltinhas a dárr cum pau” e, depois, os aplausos (“a cada fim de cena o Charroque e família semprre a bater as palminhas qué prra parrcerr bem”).<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Rui Garcia não deixou de lado o factor da esperança e da confiança na cidade, um pouco a apelar à lucidez e responsabilidade do “Mestre” - por isso, no momento em que é relatado um episódio num hotel da cidade, o leitor pode acompanhar o compromisso da personagem: “eu cá vou acrreditarr em mim, vou levarr tude à frrente, mas esta cidade vai serr munta grrande, vames terr órrgulhe nêla porrque é nossa e os nósses tão cá e os nósses filhes poderrão porr cá ficarr.”<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Trata-se de um livro em que impera a boa disposição, a enriquecer um mundo feito de personagens que vêem a vida na perspectiva mais prática, cruzando a realidade, mostrada na sua forma mais simplista e imediata, que se lê com prazer.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: nº 1215, 2024-01-10, pg. 9.</p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-75088297755255609452023-12-21T00:16:00.001+00:002023-12-21T00:16:24.525+00:00Albérico Costa e os dias de Setúbal (3)<p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGX60mVuMj640dpZennzTvhysAemrRZzJMLZr_0zBJtNLoRYaa-PfQhAWBg0bMRF6dj4GKdM5wpbEWJUeOluvCN5S5dwHAC-UBAqNhp1aQvx4KzNKi-IdNBvUCYEcYfBruRUsNggJfwZFbtdSqnNpW9jNKaHEVM_6UJ0hKVl4Vsh60K17epmZtzMrQWW8/s2767/Albe%CC%81rico%20Costa,%20Setu%CC%81bal%20sob%20o%20Estado%20Novo%201950-1974%20(2023).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2767" data-original-width="1984" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGX60mVuMj640dpZennzTvhysAemrRZzJMLZr_0zBJtNLoRYaa-PfQhAWBg0bMRF6dj4GKdM5wpbEWJUeOluvCN5S5dwHAC-UBAqNhp1aQvx4KzNKi-IdNBvUCYEcYfBruRUsNggJfwZFbtdSqnNpW9jNKaHEVM_6UJ0hKVl4Vsh60K17epmZtzMrQWW8/w143-h200/Albe%CC%81rico%20Costa,%20Setu%CC%81bal%20sob%20o%20Estado%20Novo%201950-1974%20(2023).jpeg" width="143" /></a></div><div><br /></div><p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11pt;">A década setubalense de 1970, no tempo decorrido até 24 de Abril de 1974, data que marca o fim da narrativa abordada por Albérico Costa em <i>Setúbal sob o Estado Novo - A Resistência a Salazar e a Caetano - 1950-1974</i>, oscilou entre um “crescendo de agitação social e política” de contestação e “mais repressão” por parte do regime.</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11pt;">O exercício da Resistência passou pelo MOD (Movimento de Oposição Democrática), criado em 1969, numa acção contínua de forte actividade reivindicativa no sector fabril e industrial até 1974, como passou por uma concertação dos movimentos oposicionistas, de maneira a não serem cometidos nas eleições os erros estratégicos das décadas anteriores - o envolvimento da Oposição nas eleições de 1973, depois dos trabalhos desenvolvidos no III Congresso da Oposição Democrática realizado em Aveiro, foi marcado por: acção intensa relativamente ao recenseamento; elaboração de requisitos para a escolha dos futuros candidatos a deputados; campanha muito participada em torno de temas como a libertação dos presos políticos, a guerra colonial, as liberdades públicas, a situação da mulher, o papel da juventude.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11pt;">Simultaneamente, ocorria a “lavagem da imagem” levada a cabo pelo marcelismo - a Censura passou a designar-se como “Exame prévio”; o partido da União Nacional viu o seu nome alterado para Acção Nacional Popular; a PIDE recebeu o nome de Direcção-Geral de Segurança (DGS). No entanto, estas mudanças nas designações pouco mais seriam do que isso mesmo, pois a repressão recrudesceu, com buscas às residências e prisões, grandemente dominadas pelo Congresso de Aveiro, pretendendo a polícia política estabelecer uma relação de colagem da Oposição com o Partido Comunista Português.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11pt;">Albérico Costa recorda-nos o papel fundamental que o Círculo Cultural de Setúbal desempenhou no apoio à Resistência, espaço que a PIDE designava como “um alfobre de oposicionistas ao regime vigente”, como regista a criação de comissões sindicais nas fábricas ao longo de 1973 “para tratar dos assuntos de carácter reivindicativo junto da entidade patronal” ou as várias greves que foram sucedendo, muitas delas designadas como “greve de cera”, em que “o pessoal fingia que trabalhava, mas não trabalhava”, como aconteceu, por exemplo, no início de 1974 com as operárias da secção de manipulação da INAPA, que “baixaram a produção individual de 100 resmas por dia para 30 e 40” quando souberam que havia a intenção de a empresa proceder a despedimentos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11pt;">Na cronologia desta época, vários momentos podem ser assinalados, como a constituição da SETENAVE e o encerramento de uma dezena de fábricas de conservas de peixe (1971), a queixa apresentada por 400 comerciantes do Mercado do Livramento contra a intenção de ser criado um supermercado em área próxima do Mercado e a criação no papel do Instituto Politécnico de Setúbal (1972, embora o IPS só venha a ser efectivamente criado em 1979), a realização da primeira intervenção cardíaca para aplicação de um “pacemaker” no Hospital de S. Bernardo e as chamadas de atenção para a poluição no Sado ocasionada por diversas unidades fabris (1973) e a realização da última reunião da Câmara de Setúbal em 24 de Abril de 1974, em que foram tratados assuntos como as carências dos bombeiros, loteamentos e concessão de alvarás de loteamentos e “o estado deplorável” em que se encontrava a morgue... <o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11pt;">Paralelamente a todos os eventos, pairava o espectro das prisões e da perseguição dos cidadãos, num ritmo de invasão da privacidade e das vidas, aspecto que constitui parte interessante nesta obra ao traçar as resenhas biográficas dos presos políticos e daqueles que eram referenciados nos depoimentos recolhidos. A quantidade de presos e de referenciados não nos surpreende, pois Albérico Costa, à medida que relata os acontecimentos, vai respigando as informações que povoam os relatórios policiais e, em variadíssimas situações, é dado a conhecer o meio por que chegavam as informações - os agentes ou informadores infiltrados foram um recurso permanente que manteve a polícia a par das intenções e dos planos da Oposição. As penas aplicadas (prisão, perda de funções políticas e de pensões de aposentação, multas e suspensão de direitos políticos) resultam de acções como: participação nas comissões promotoras do voto, ter como companhia indivíduos de que a polícia já suspeitava, intervenção desenvolvida em prol dos movimentos de contestação, ser leitor ou comprador do “Avante!”, exercício da emigração clandestina. Quanto aos “referenciados nos relatórios”, entre as faltas que lhes apontadas, constam: ser membro do Clube de Campismo de Setúbal ou do Círculo Cultural de Setúbal, ser visto com outros suspeitos, ter sido apoiante de candidatos anti-regime, ter fiscalizado a eleição para a Presidência da República, ser “um elemento desafecto” (adjectivo de amplo espectro, normalmente sem argumentação, mas fortemente acusador) ou promotor da “subversão da juventude” (como chegou a ser apontada a acção desenvolvida ao nível paroquial no trabalho com jovens).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 11pt;">Esta obra de Albérico Costa, se nos dá a conhecer o que foram em Setúbal os últimos 25 anos do regime ditatorial, sobretudo nas suas vertentes política e social, constitui também um bom repositório para o retrato da identidade setubalense e para nos ajudar a perceber a intensidade com que as manifestações políticas e sociais foram vividas neste território logo que a liberdade de expressão e de manifestação se instalou, ambas as vertentes cimentadas numa investigação rigorosa e plural, que devolve à história local de Setúbal o protagonismo da sua comunidade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;"><span style="font-size: 11pt;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: n.º 1210, 2023-12-20, pg. 10.</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;"><span style="font-size: 11pt;"><br /></span></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-83381214527521485972023-12-14T00:10:00.000+00:002023-12-14T00:10:24.746+00:00Albérico Costa e os dias de Setúbal (2)<p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLzRsvSWngf_IbM23SjWsGzttc47JyJ3bSOch2_F8Tv552nWH2Ao72t2Cir7XALM07q8l0B8WDAWtcoMG1sV8VdfO2Y7om_-skyPaOVFFZD8hS_nz6IDlduBG9q5WJAOL8Y_MMlct8WfxNt6bXbRWUCpQEKqptUjaHSBK8HJlsbRAdY8sDJ5mra7XCG-0/s2767/Albe%CC%81rico%20Costa,%20Setu%CC%81bal%20sob%20o%20Estado%20Novo%201950-1974%20(2023).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2767" data-original-width="1984" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLzRsvSWngf_IbM23SjWsGzttc47JyJ3bSOch2_F8Tv552nWH2Ao72t2Cir7XALM07q8l0B8WDAWtcoMG1sV8VdfO2Y7om_-skyPaOVFFZD8hS_nz6IDlduBG9q5WJAOL8Y_MMlct8WfxNt6bXbRWUCpQEKqptUjaHSBK8HJlsbRAdY8sDJ5mra7XCG-0/w143-h200/Albe%CC%81rico%20Costa,%20Setu%CC%81bal%20sob%20o%20Estado%20Novo%201950-1974%20(2023).jpeg" width="143" /></a></div><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: center;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">O estudo de Albérico Costa sobre a década sadina de 1960, em <i>Setúbal sob o Estado Novo - A Resistência a Salazar e a Caetano - 1950-1974</i>, permite ao leitor o destaque de cinco aspectos - as manifestações ocorridas em 28 de Maio de 1962, o trabalho ideológico feito na clandestinidade, a intervenção social e política dos católicos, o condicionamento da oposição nas eleições para a Assembleia Nacional de Outubro de 1969 e a perseguição da polícia política.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Nenhum destes temas surge isolado do contexto nacional desta década, iniciada por acontecimentos tão fortes do ponto de vista simbólico e social como a fuga de presos políticos de Peniche (Janeiro de 1960), o assalto ao “Santa Maria” e o início da guerra colonial (em 1961) ou o assalto ao quartel de Beja (cerca de um terço dos implicados pertencia à área de intervenção da PIDE de Setúbal) e as manifestações estudantis (em 1962), e concluída com a queda que vitimaria Oliveira Salazar (Agosto de 1968), uma anunciada liberalização de Marcelo Caetano e um ambiente persecutório à Oposição nas eleições de 1969.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">As palavras de ordem pintadas na Avenida Luísa Todi em 1 de Maio de 1962, exigindo a libertação dos presos políticos e contestando a política salazarista, abriram a porta para o que seria a manifestação de 28 do mesmo mês (data escolhida por coincidir com dia importante para a criação do Estado Novo), fortemente anunciada e vivida, em confrontos com as forças de segurança, com apedrejamento do edifício da Caixa Geral de Depósitos (instituição a que as pessoas recorriam para pôr “no prego” os escassos bens que tinham), sem que a polícia política tivesse descoberto os verdadeiros responsáveis, ainda que tenha responsabilizado e tentado incriminar os membros afectos ao Partido Comunista Português.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Se este partido esteve envolvido em todo o processo de Resistência ao Estado Novo, a verdade é que essa acção teve de ser desenvolvida quase totalmente na clandestinidade - Albérico Costa regista as instalações secretas na região de Setúbal (56 casas no distrito, entre 1941 e 1974, sendo 18 no concelho de Setúbal), destacando duas: a morada que serviu o casal de militantes comunistas Dinis Miranda e Aura Silva, na Praceta de Macau, até à prisão de ambos em 1967 e apreensão de documentos ligados ao partido, e a tipografia clandestina do jornal “Avante!” localizada na Rua Frei António das Chagas, desmantelada em 1967, quando foram presos Manuel Gonçalves e Joaquina Galante, ali residentes e responsáveis pela gráfica.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Sector também importante na crítica e contestação ao regime político foi o da Igreja setubalense (que viveu nesta década também os primeiros passos para a criação da diocese, sendo o cónego João Alves o vigário da Zona Pastoral de Setúbal), com a acção de vários membros do clero e de muitos leigos, numa perspectiva de compromisso com a liberdade, de contestação da guerra colonial, de apelo à participação nas eleições, de apoio social e de realização de sessões culturais e informativas. Capítulo indispensável para a história dos católicos de Setúbal, passa pelas histórias de muitos que estiveram na primeira linha da crítica ao poder (com prisões pela PIDE, como foram os casos dos padres Carlos Alves, de Alhos Vedros, e António Correia, de Palmela), pelo movimento do Secretariado Cristão de Acção Social, pela Fraternidade Operária das Praias do Sado, pelo jornal “Notícias de Setúbal” (periódico diocesano em que assumiu particular destaque a intervenção do médico Mário Moura), pela criação do espaço Culdex (que, depois, originaria a livraria Culsete).<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A década de 1960 acaba no processo eleitoral para a Assembleia Nacional em 1969, com uma Oposição a quem foi tolerado concorrer, mas sob fortes condicionalismos e pressões que foram até à falsificação e manipulação do processo eleitoral por membros afectos à União Nacional visando a distorção dos resultados e, mais uma vez (como sucedera no final da década anterior), sem um entendimento sólido entre as várias frentes que constituíam os movimentos oposicionistas.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Aspecto importante realçado ao longo desta obra é o das prisões e da recolha de informações sobre opositores, chegando muitas das observações à indignação, por um lado, e ao ridículo, por outro, pelas inferências apresentadas, como se vê num registo sobre Mário Moura pelo chefe do posto de polícia: “É um indivíduo muito esperto e manhoso, ausenta-se frequentemente do País, levando uma roulotte atrelada ao seu carro, possivelmente para estabelecer contactos no estrangeiro com maior segurança.”<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A cronologia da década informa sobre eventos importantes para a cidade em diversos planos: a inauguração do Museu de Setúbal (1961) e do Estádio do Bonfim (1962), o litígio entre a Soltróia e os proprietários em Tróia em torno da desocupação do terreno (1963), os problemas ambientais trazidos pela Socel (1964), a inauguração do Parque das Merendas da Comenda (1967) e a fundação do Círculo Cultural de Setúbal (1969), entre outros.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: n.º 1205, 2023-12-13, pg. 10.<span style="text-align: left;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><br /></span></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-88656286939633684682023-12-08T11:14:00.003+00:002023-12-08T11:14:32.994+00:00Albérico Costa e os dias de Setúbal (1)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFUORZvFZTn7TtobOVTG-XMqGtW9_aZ1OiZVwvZEDssHMCTUNM0oL1QHRpEp_AhFF_azGj_q3l9i8BpVPP3nirPoc-ku9lYlpzFyY_MaHFcpCb5EtN227tBIl7OKNoZIq5HAK41xqSUmIFDnpczEyANTmzrhGPxsLUnJwp5KQ3o-khH3iUqa7QxLoe5Go/s2767/Albe%CC%81rico%20Costa,%20Setu%CC%81bal%20sob%20o%20Estado%20Novo%201950-1974%20(2023).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2767" data-original-width="1984" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFUORZvFZTn7TtobOVTG-XMqGtW9_aZ1OiZVwvZEDssHMCTUNM0oL1QHRpEp_AhFF_azGj_q3l9i8BpVPP3nirPoc-ku9lYlpzFyY_MaHFcpCb5EtN227tBIl7OKNoZIq5HAK41xqSUmIFDnpczEyANTmzrhGPxsLUnJwp5KQ3o-khH3iUqa7QxLoe5Go/s320/Albe%CC%81rico%20Costa,%20Setu%CC%81bal%20sob%20o%20Estado%20Novo%201950-1974%20(2023).jpeg" width="229" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="font-size: medium; margin-right: -0.35pt; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="font-size: medium; margin-right: -0.35pt; text-align: justify;">Com a obra <i>Setúbal sob o Estado Novo - A Resistência a Salazar e a Caetano - 1950-1974</i>, acabado de publicar (Estuário, 2023), Albérico Costa encerra o ciclo da cronologia setubalense que se propôs elaborar, constituída por diversos tomos: <i>História e Cronologia de Setúbal - 1248-1926</i> (em 2011), <i>Setúbal sob a Ditadura Militar - 1926-1933</i> (em 2014), <i>Setúbal sob o Estado Novo - A Resistência a Salazar - 1933-1949</i> (em 2021) e <i>Setúbal Cidade Vermelha - 1974-1975</i> (em 2017), volumes com a mesma chancela editora. Conjunto que integra momentos de cronologia e de ensaio, este projecto de Albérico Costa tem uma história longa, pelo menos desde que, em 1988, publicou um pequeno livro intitulado <i>Cronologia Geral da História de Setúbal - 1249-1910</i> (editado pela Escola Superior de Educação de Setúbal). Sem qualquer dúvida, está o leitor perante uma obra indispensável para a história local sadina, de consulta obrigatória, que sugere, inclusivamente, múltiplas possibilidades de investigação, além de caucionar a importância da história local, em que o interveniente é, também, o cidadão comum.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-size: medium; margin-right: -0.35pt; text-align: justify;">Na nota introdutória ao volume agora publicado, o autor salienta dois aspectos que, em conjunto, justificam a sua motivação e valorizam a perspectiva da história setubalense: por um lado, no que respeita especificamente ao período em apreço (o tempo do Estado Novo), a necessidade de “fazer a História de uma cidade que nunca se conformou com o destino que lhe era imposto”; por outro, porque é importante notar que “o passado urbano do espaço setubalense não é apenas um espaço físico, mas também um espaço idiossincrático com características exclusivas”.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-size: medium; margin-right: -0.35pt; text-align: justify;">A obra, construída sobre fontes como estudos já realizados, imprensa local e nacional, testemunhos e entrevistas e aturada busca em arquivos (entre os quais, a Torre do Tombo), organiza-se em três planos - um conjunto de cinco capítulos, de cunho ensaístico, que relata, relaciona e interpreta os acontecimentos do período em apreço (os quase 25 anos que antecederam o 25 de Abril); um lote de sínteses biográficas, que compreende registos de 139 presos políticos setubalenses e de 165 nomes referenciados nos relatórios da PIDE de Setúbal; cronologia de acontecimentos em Setúbal no período entre 23 de Janeiro de 1950 e 24 de Abril de 1974.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-size: medium; margin-right: -0.35pt; text-align: justify;">O espaço dedicado à década de 1950, deixa transparecer um ambiente de crise económica e social em Setúbal (haja em vista a mono-indústria da área conserveira com baixos salários ou os períodos de defeso da pesca), por vezes minimizada com paliativos que mais visavam preservar a paz social do que resolver os problemas, com os vários quadrantes políticos da oposição distantes entre si, sem construírem conjuntamente uma alternativa. A forte repressão exercida na década anterior e o desaire em torno dos resultados do candidato Norton de Matos em 1949 terão conseguido uma quase neutralização da oposição, fortemente dividida. Mesmo a candidatura presidencial de Humberto Delgado em 1958 dificilmente congregou os vários movimentos da oposição - se a unidade em torno deste nome “esteve longe de ser linear” no plano nacional, também em Setúbal, só em 27 de Maio, a cerca de dez dias do acto eleitoral (8 de Junho) foi criada a Comissão Distrital de apoio a esta candidatura e só a uma semana das eleições (30 de Maio) foi celebrado o conhecido “Pacto de Cacilhas”, com a desistência da candidatura de Arlindo Vicente em favor da de Delgado. A situação vivida politicamente ao longo desta década leva Albérico Costa a considerar os anos de 1950 “como a década de todas as derrotas”.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-size: medium; margin-right: -0.35pt; text-align: justify;">Nos registos cronológicos para este tempo, não deixa de ser curioso que a primeira nota da década, de 23 de Janeiro de 1950, seja a de um apelo público saído na imprensa, convidando as senhoras que costumavam fazer compras em Lisboa a preferirem o comércio de Setúbal: “Se fizessem as suas compras na cidade, ajudariam os comerciantes setubalenses que investiram nas lojas e na mercadoria, e contribuíam para o desenvolvimento da sua cidade e ainda poupavam dinheiro.” Assim se misturava o apelo ao consumo com o benefício local como contributo para ultrapassar a crise. Por outro lado, a cronologia da década fecha com a notícia, de 3 de Novembro de 1959, sobre a instalação da indústria da celulose na cidade de Setúbal, “unanimemente aprovada pela vereação, considerando-se que a referida indústria não ia causar problemas ambientais.” A esperança surgia, a anteceder os anos de 1960, alicerçada na indústria...<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-size: medium; margin-right: -0.35pt; text-align: right;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: nº 1202, 2023-12-07, pg. 7.</p><p class="MsoNormal" style="font-size: medium; margin-right: -0.35pt; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p><style class="WebKit-mso-list-quirks-style">
<!--
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoNoSpacing, li.MsoNoSpacing, div.MsoNoSpacing
{mso-style-priority:1;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:10.0pt;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
mso-fareast-font-family:SimSun;}
@page WordSection1
{size:612.0pt 792.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:36.0pt;
mso-footer-margin:36.0pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:932011931;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:600709234 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525;}
@list l0:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
-->
</style>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-86450845568009468202023-12-06T22:39:00.001+00:002023-12-06T22:39:20.817+00:00Urbano Tavares Rodrigues: 100 anos<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhT5AAGCDZ69n00wK1sReliAPVT97BVedNaosQ8d5E8APpFYvo9cUz-_MdAiN-Gaavaovh7e2IyJD5SkmaPcaYFsM9rN9VRjLMDjaJ4XMBtn0Fz2jcJ6xODZGsofqzBKqVhjKw_AQN9kPYQcN_Rp9eYKbBBvvD6w4B9Jyxx4W7QlCmJMIad_KRiabkDftw/s320/1abda-urbano-tavares-rodrigues.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="314" data-original-width="320" height="196" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhT5AAGCDZ69n00wK1sReliAPVT97BVedNaosQ8d5E8APpFYvo9cUz-_MdAiN-Gaavaovh7e2IyJD5SkmaPcaYFsM9rN9VRjLMDjaJ4XMBtn0Fz2jcJ6xODZGsofqzBKqVhjKw_AQN9kPYQcN_Rp9eYKbBBvvD6w4B9Jyxx4W7QlCmJMIad_KRiabkDftw/w200-h196/1abda-urbano-tavares-rodrigues.png" width="200" /></a></div><br />Urbano Tavares Rodrigues nasceu há 100 anos e faleceu há 10 anos. O último encontro que tive com ele foi justamente na Feira do Livro de 2013, em 2 de Junho. Faleceria no Agosto seguinte. Mantenho forte lembrança e saudade de Urbano Tavares Rodrigues, de quem fui aluno e que me concedeu o prazer de sermos amigos. Em jeito de homenagem, republico o texto que li na livraria Culsete, num dia de Janeiro de 2003, quando a livraria setubalense quis homenagear o escritor.<p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="background: white;">"Não sei de quando vem o meu contacto com Urbano Tavares Rodrigues, mas sei que vem de muito longe, desde quando ainda nem pensava que viria a licenciar-me em Letras, muito menos imaginando que o iria ter como professor. Também não sei qual foi o primeiro livro que dele li – talvez <i>A Noite Roxa</i>, que me lembro de me ter sido emprestado por um amigo e que, mais tarde, adquiri para nele reler uma interessantíssima narrativa como “Escombros”, quase retrato de uma geração, e para nele fazer uns sublinhados que me tinham impressionado nessa leitura sobre a vida e a arte... Talvez o primeiro livro que li de Urbano não tenha sido este, mas tenha sido uma recolha literária sobre <i>Estremadura</i>, nessa quase indispensável colecção que é a “Antologia da Terra Portuguesa”, testemunho da indispensabilidade que a literatura se torna para dizer a terra, para dizer o homem, antologia, aliás, onde creio que tive um dos primeiros contactos com Sebastião da Gama, que topou e mostrou a alma arrábida em toda a sua maravilha... Ou talvez a minha primeira leitura de Urbano Tavares Rodrigues tenha sido outra. Recordo, no entanto, estas duas como as mais antigas que dele conheço.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="background: white;">Em 1979, entrei para uma licenciatura na Faculdade de Letras, ingresso já tardio porque me era necessário trabalhar, mas atempado porque pôde ser no curso que queria e na Faculdade que me ficava mais à mão, em horário cumprido depois das 17 horas. Lembro-me de várias pessoas que tive como professores e pelas quais senti uma admiração grande desde logo, que, em alguns casos, virou amizade, já em tempos posteriores ao curso (em jeito de aparte ou de excurso, vou apenas referir o António Vilhena, hoje professor em Setúbal [entretanto aposentado], poço de cultura e de disponibilidade, que conheci como professor de Latim na Faculdade e cujas aulas eram autênticos tratados – ainda que sem o peso que os caracteriza – sobre cultura portuguesa, com especial incidência na literatura, e sobre as marcas clássicas que a enformam).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="background: white;">Mas voltemos a Urbano Tavares Rodrigues, que tive como professor de Literatura Francesa. Uma das coisas que me fascinou na minha licenciatura foi o facto de ter conhecido escritores enquanto professores, podendo assim usufruir da sua experiência enquanto artistas e criadores e do seu estatuto enquanto professores, intelectuais e cidadãos intervenientes, que eram vários. O professor Urbano Tavares Rodrigues não fugiu a este quadro. E, se foi apaixonante a forma como nos fez ouvir a solidariedade e o social presentes em <i>Germinal</i>, se foi suave a maneira como nos fez entrar nos domínios do erotismo de <i>La Motocyclette</i>, se foi a tocar o fascínio que nos falou de uma obra como <i>Le Ravissement de Lol V. Stein</i>, certo é que todos estes predicados se construíram como metáforas dele próprio, isto é, a delicadeza do discurso, a singeleza das práticas, a simpatia da disponibilidade, o aprofundar permanente no cruzamento da literatura estudada com as múltiplas e incansáveis referências advindas da sua experiência de escritor, o sorriso disponível numa atitude de quem parecia tudo oferecer fazendo passar o universo literário numa relação constante de tu-cá-tu-lá para um degrau de contínua admiração pela arte... enfim, tudo isto nos foi transmitindo, tudo isto foi partilhando, porque o todo das suas aulas se nos afigurava também como uma partilha de reflexões e de angústias da estética e do sentir.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="background: white;">A permanente abertura do professor Urbano Tavares Rodrigues nunca lhe deixou escorregar um “não”. Recordo que, mesmo perante trabalhos ou observações de qualidade menos desejada, a sua atitude era de tentar dar a volta de forma subtil, não negando a pouca pertinência do resultado (ou, muitas vezes, a sua impertinência) e incluindo no seu comentário as pistas de orientação que o estudante deveria aproveitar ou explorar.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="background: white;">Habituei-me, assim, a olhar o professor Urbano Tavares Rodrigues como uma personagem dedicada, disponível e atenta (mesmo quando parecia que dormitava perante algumas apresentações de trabalhos, fazendo, no final, o seu comentário acertado e límpido), como uma personagem participante (frequentemente trocando opinião connosco sobre posições públicas a propósito de questões culturais e de ensino), como alguém sempre pronto a incentivar os voos de quem quisesse ir mais longe ou de quem precisasse da sua ajuda. Recordo que, no último ano da licenciatura, estudei a autobiografia em José Gomes Ferreira, a propósito do seu livro <i>A Memória das Palavras</i>, para a cadeira de Teoria da Literatura, leccionada por Lucília Gonçalves Pires. Ser-me-ia útil falar com Gomes Ferreira, mas ele estava a passar um mau momento de saúde, pela sua debilidade de 80 anos. Foi, aliás, o professor Urbano que me pôs ao corrente do estado de saúde de Gomes Ferreira, mas, logo que soube das suas melhoras temporárias, falou-lhe e pôs-nos em contacto, assim me tendo sido proporcionado um encontro de cerca de três horas com esse “poeta militante”, na sua casa da rua Rio de Janeiro, em que quase me limitei a ouvi-lo e em que grande parte da sua conversa não foi sobre poesia, mas foi poesia. Passadas cerca de duas semanas, o professor Urbano encontrou-me na Faculdade, perguntou-me pelo andamento do trabalho, tendo-lhe eu dito que o mesmo já tinha sido apresentado e avaliado. Quis vê-lo, porque, argumentou, “acho que tenho alguma responsabilidade nesse trabalho”. Dei-lhe uma cópia e, volvidos uns dias, propôs-me que o texto fosse publicado no “Suplemento Cultural” do <i>Diário</i>. Respondi que sim, meio sem jeito. Soube depois que era sua prática corrente incentivar os alunos à publicação de trabalhos e mesmo à edição.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="background: white;">Concluída a licenciatura, abandonei também o trabalho que tinha e passei para o ensino. Em 1985, estando em Beja – onde confesso que aprendi a gostar do Alentejo –, ao rebuscar numas prateleiras já esquecidas e poeirentas de uma livraria da cidade, encontrei um livro sobre Urbano Tavares Rodrigues, intitulado <i>Escritor da Fraternidade</i>, da autoria de Pires Campaniço. Já não contactava o professor havia cerca de dois anos, depois que saíra da Faculdade. Comprei o exemplar por uma bagatela e li as suas 130 páginas – fortemente ideologizadas – nesse mesmo dia, mais no sentido de ter um ponto de contacto com alguém que me impressionara fortemente. O livro lembrou-me o professor, sobretudo, e pareceu-me que o título escolhido, ao eleger a fraternidade para caracterizar o escritor, tinha acertado no ponto. Fraternidade, como quem diz solidariedade, como quem afirma disponibilidade... são lógicas de atributos que resultam bem se aplicados a Urbano Tavares Rodrigues.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="background: white;">Fui, entretanto, descobrindo também a sua faceta de ensaísta na área da literatura e de escritor de viagens, sempre encostando as obras abordadas a referentes culturais importantes ou as viagens a itinerários não menos sentidos (talvez sentimentais), como descobri num relato seu sobre Santiago de Compostela, publicado em 1949, verdadeira peregrinação no espaço e no eu, na busca de outras artes e do conhecimento do mundo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="background: white;">Encontrámo-nos depois em diversas situações mais ligadas à literatura (por exemplo, na sua defesa da tese de doutoramento sobre Teixeira-Gomes, ou na apresentação de <i>Violeta e a Noite</i> aqui neste mesmo espaço da Culsete), sempre relembrando tempos da minha vida de estudante. Mas, quando andei ocupado com um mestrado sobre a revista portuguesa dos anos 50, <i>Távola Redonda</i>, em que Urbano Tavares Rodrigues colaborou com uma tradução a partir do italiano – coisa que não é novidade, depois de se ter visto a tradução por si feita do <i>Decameron</i>, de Bocaccio, que também terá sido um dos meus contactos antigos com ele –, voltei a poder certificar a disponibilidade, a atenção, o saber, o testemunho, a delicadeza... Na noite de um dia 22 de Abril, passantes que eram já as dez da noite, Urbano Tavares Rodrigues recebeu-me em casa, ali na Tomás Ribeiro, para uma conversa sobre a revista, que acabou por ser também sobre a literatura portuguesa dos anos 50, que acabou por ser também sobre a sua obra, que acabou por ser o prolongamento de um fio de disponibilidade sempre demonstrada.<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt;">A mais recente vez em que nos encontrámos foi há bem pouco tempo, no mês passado, na apresentação do último livro de poesia de Teresa Rita Lopes. E o que nos uniu? Para lá de tudo, o professor Urbano Tavares Rodrigues falou-me, de imediato, do tempo da Faculdade e da lembrança das suas aulas. Ao fim e ao cabo, um tempo marcante, de aprendizagem e também de conhecimento, lados ambos de uma mesma estrada. Mantenho o gosto por Urbano Tavares Rodrigues enquanto escritor múltiplo e multifacetado, mas quero preservar também esta recordação feliz de um Urbano Tavares Rodrigues professor e mestre, dedicado, sabedor, atento, delicado e prestável, fazendo da literatura uma forma de criação e do ensino uma via de reflexão... ou talvez, e sobretudo, conjugando os dois percursos no rumo da disponibilidade para uma vivência de transformar a arte em cidadania. Não resisto sem ler quatro linhas de um seu escrito de cunho autobiográfico, publicado sob o título de “Apontamentos e Confissões”, no livro de ensaios sobre <i>O Tema da Morte</i>: “Já na minha adolescência desejava ser escritor, embora outras profissões me seduzissem, tais a de médico e a de professor: no fundo, aquelas que me permitissem ancorar e sentir-me útil.” É uma justificação simples, claro. Mas testemunho que, na sua simplicidade, a senti. E vivo bem com essa lembrança e exemplo."</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 12pt;"><br /></span></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-5806041462937482522023-11-29T23:48:00.004+00:002023-11-29T23:48:53.415+00:00D. Manuel Martins: mensagens para todos os tempos<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOTXlzBQR6wargbUpXFxwgAJBVzbO86RwPBcJuuEmzXX8wS2bj7_AUINfzJ4YJ0gU6ygO6qiyoC_NjxoeQp24ggCA2Uddn98vsrsiIdPY_fQzUCZwmx0Ppa_4t1vmu-egJtz2gTUIaY2W70CPp0XsHXPH2bGBb-e4m10oZLOM7189aG7RIWAKH0vGYYnY/s4938/Manuel%20Martins%20(D.),%20Crescendo%20com%20cheiro%20a%20Primavera%20(2023).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4938" data-original-width="3224" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOTXlzBQR6wargbUpXFxwgAJBVzbO86RwPBcJuuEmzXX8wS2bj7_AUINfzJ4YJ0gU6ygO6qiyoC_NjxoeQp24ggCA2Uddn98vsrsiIdPY_fQzUCZwmx0Ppa_4t1vmu-egJtz2gTUIaY2W70CPp0XsHXPH2bGBb-e4m10oZLOM7189aG7RIWAKH0vGYYnY/s320/Manuel%20Martins%20(D.),%20Crescendo%20com%20cheiro%20a%20Primavera%20(2023).jpeg" width="209" /></a></div><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: center; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>A imprensa foi um dos canais por onde passou a mensagem de D. Manuel Martins (1927-2017), o primeiro bispo de Setúbal, em artigos de opinião curtos, de leitura acessível, abordando causas pertinentes, relacionadas com a forma de ser cristão e de ser cidadão, tal como aconteceu em Setúbal com a sua colaboração nos jornais <i>A Seara</i> (da Fábrica da Igreja de S. Julião) e <i>Notícias de Setúbal</i> (órgão diocesano). Várias dessas crónicas foram reunidas em livro, tendo dado origem a títulos como <i>Pregões de Esperança</i> (em 1997, com nova edição em 2014) e <i>Posso entrar?</i> (2012), ambos recolhendo colaboração nos jornais sadinos, e <i>Nascemos Livres</i> (2018), crónicas vindas a lume no <i>Jornal de Matosinhos</i>.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>A palavra do primeiro prelado sadino voltou a ecoar, através de um título como <i>Crescendo com cheiro a Primavera</i> (Paulinas Editora, 2023), conjunto de 52 crónicas originalmente publicadas no mensário <i>Crescendo</i>, jornal paroquial de Santa Cruz do Bispo, entre Fevereiro de 2013 e Setembro de 2017 (mês em que faleceu), num trabalho de recolha devido ao setubalense Eugénio Fonseca (que já em 2020 publicara a obra <i>Testemunho de duas vidas compartilhadas</i>, memória do trabalho e da amizade desenvolvidos com D. Manuel Martins). Estamos perante um livro que ganha também sentido quando D. Américo Aguiar chega à diocese de Setúbal e assume D. Manuel Martins, seu conterrâneo, como referência.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>A crónica de Fevereiro de 2013, a primeira, reflecte sobre o sucessor de Bento XVI, que nesse mês apresentara a resignação, e, se bem que elogioso para o seu desempenho, D. Manuel Martins acalentava uma esperança: “que o novo Papa, com todas as experiências acumuladas dos antecessores, tenha, pelo menos, a força de arrumar a sua Casa. Todos vêem que isso se impõe.” No mês seguinte, o regozijo com a escolha saída dos cardeais era notório: “Exultemos de alegria e demos graças ao nosso Deus, porque deu à sua Igreja um novo Papa”. Enquanto leitores, desconfiamos mesmo de que D. Manuel Martins sorria de satisfação - referindo-se a Francisco, aponta várias características que hoje sabemos terem marcado o seu papado: veio de um “continente jovem”, “aparece ao mundo com simplicidade”, “assume o nome de Francisco, do Irmão Universal”, trocou hábitos palacianos por uma vida comum e “conhece o mundo”. Para D. Manuel Martins, era clara a mudança: “Ninguém falava dele como sucessor de Bento XVI, enquanto que dois ou três andavam na boca dos fabricadores de prognósticos. Foi mesmo o Espírito Santo que o tomou pelas mãos e o deu à Igreja.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Por estas reflexões de D. Manuel passa o valor das palavras e dos gestos de humanidade (o sentido de expressões como “obrigado” ou “desculpa”, por exemplo), circula a ideia de família como referência de proximidade e de aprendizagem (que se pode estender até à ideia de paróquia), é valorizado o património e a paisagem, vinga a ideia de modernidade da Igreja (com as referências a D. António Ferreira Gomes, seu mestre, ao Concílio Vaticano II ou a Paulo VI), são interpretados momentos do calendário litúrgico (os tempos da Quaresma e do Natal, as celebrações dos Fiéis Defuntos ou do Corpo de Deus, as festividades religiosas), é olhado o mundo nos seus cataclismos (atentados na Turquia, a acção do “Brexit”, o terramoto no Nepal), surge uma perspectiva sobre a actualidade em Portugal (reflexões sobre os incêndios ou sobre os interesses daqueles que “se nos propõem governar” nas autárquicas). Se, por um lado, é sempre acalentada uma esperança, há também receios - em Julho de 2017, escrevia: “A vida não vai bem em Portugal. Estabeleceu-se um clima de desordem e de medo (...), preocupa-nos a sorte do país.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Na sua relação de afecto com Setúbal, D. Manuel Martins relata dois episódios que constituíram aprendizagens para si mesmo: o primeiro, o encontro com o sem-abrigo à entrada da catedral sadina antes de uma celebração natalícia; o segundo, a recusa das irmãs da congregação de Teresa de Calcutá em terem televisão, sofá e frigorífico em casa. Ambos os momentos deixaram o bispo emocionado pelo que simbolizaram na necessidade de despojamento e de autenticidade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>No texto introdutório, João Matias Azevedo, pároco e responsável pelo periódico, testemunha a generosidade do colaborador, um “luzeiro no tempo” que ajudou a “cultivar a autoestima” do próprio jornal. A diversidade dos temas tratados é grande, sempre na linguagem simples e comprometedora que caracterizou D. Manuel, prevalecendo como destinatário das suas mensagens um “nós”, em que ele próprio se integrava.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><span>* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". O Setubalense: n.º 1197, 2023-11-29, pg. 10</span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><span><br /></span></p><style class="WebKit-mso-list-quirks-style">
<!--
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoNoSpacing, li.MsoNoSpacing, div.MsoNoSpacing
{mso-style-priority:1;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:10.0pt;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
mso-fareast-font-family:SimSun;}
@page WordSection1
{size:612.0pt 792.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:36.0pt;
mso-footer-margin:36.0pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:1275136196;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:-48059908 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525;}
@list l0:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:71.4pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:107.4pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:143.4pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:179.4pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:215.4pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:251.4pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:287.4pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:323.4pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
margin-left:359.4pt;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
-->
</style>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-53398335406031075102023-11-22T22:03:00.000+00:002023-11-22T22:03:10.980+00:00José Gardeazabal e a literatura como porquê (2)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZG3MqvMBpctQdL0CzBfJ08GL0nnjv7nnXsS7m28iBOi4w_Hc1lsnJBiVncegLSjJ0I7WA34IVuTqseQmPPit9o3ypP3s5Ya3CQji_mg843VM7ESZ6hIlf14d0HechFjvpafsMwzGN3wkQ5tFhaMjvOy__HYlEwy90OUrDDS6oCZReF_7LZ_D5Zpd8heA/s1080/Jose%CC%81%20Gardeazabal,%20A%20ma%CC%83e%20e%20o%20crocodilo%20(2023).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="690" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZG3MqvMBpctQdL0CzBfJ08GL0nnjv7nnXsS7m28iBOi4w_Hc1lsnJBiVncegLSjJ0I7WA34IVuTqseQmPPit9o3ypP3s5Ya3CQji_mg843VM7ESZ6hIlf14d0HechFjvpafsMwzGN3wkQ5tFhaMjvOy__HYlEwy90OUrDDS6oCZReF_7LZ_D5Zpd8heA/w127-h200/Jose%CC%81%20Gardeazabal,%20A%20ma%CC%83e%20e%20o%20crocodilo%20(2023).jpeg" width="127" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A personagem central de <i>A mãe e o crocodilo</i>, de José Gardeazabal, este operário da fábrica de reciclagem, fica. Mas fica transformado, assim como a sua vida. Vai havendo um progressivo apagamento da mãe, no caminho do esquecimento (“esquecer é uma viagem de adeus”), até chegar o seu último momento ou despedida, num tempo em que já não há segredos de família que alimentem Vladimir. Neste caminho, há também a descoberta da identidade do pai e da razão da separação, revelação que coincide com o final de vida da mãe. Há também a despedida do crocodilo, largado num rio que chegará à Alemanha - o animal de companhia silencioso, pesadelo sempre descrito, de presença obrigatória mas alheio, que Vladimir acreditara ter sido trazido por um missionário (mas que a mãe corrigia, dizendo ter sido um mercenário, mais tarde vindo a perceber-se o porquê desta designação antipática), e que, no final do livro, surge anulado - “Ao Benito, nunca mais o vi, desapareceu. Naufragou, afogou-se? O crocodilo pode não ter existido.” A perda desta companhia é ainda responsável pela incerteza de Vladimir no termo da história, oscilando entre a probabilidade de reencontrar Noor e rumar para Paris e o sonho em que se vê impossibilitado de entrar na Alemanha “por coxear da perna esquerda”...<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Esta segregação (ou momento impeditivo) colide com a perfeição e com a história dos tempos, com a construção da identidade e com o sentimento de humanidade. Se, por um lado, “os países não passam de variações de uma mesma coisa”, por outro, a Alemanha, o território desejado, significa a diferença, uma distância que não é apresentada como positiva - “A Alemanha devia poupar nas surpresas, algumas das piores surpresas foram alemãs, é da história”. Poderá Vladimir sonhar com um tempo melhor?<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">No último capítulo, ao olhar os outros, os que com ele trabalharam e que ele foi descobrindo, não nota que o tempo lhes tenha dado melhores condições ou suficientes alterações, antes parecendo que cristalizaram naquilo que já se adivinhava sobre o destino de todos. Nesse mesmo capítulo, uma das derradeiras revelações da mãe mostra-lhe a violência exercida sobre a sociedade a que pertencia a família, numa história que circulava na família, desde a avó de Vladimir: “Os soldados estavam de pé, de cada um dos lados da fila de homens. Tinham já acontecido muitos mortos quando a minha avó viu dois prisioneiros a avançar, sem estrelas ao peito. Toda a gente os viu. (...) Trouxeram dois triângulos cor-de-rosa e penduraram os triângulos ao peito dos homens, mas por pouco tempo, porque os homens iam morrer. Mandaram-nos tirar a roupa e descer para o fundo da vala e eles desceram de mãos dadas e depois morreram. Foram mortos. Warum?” E a passagem deste testemunho pela mãe continua: “O que a tua avó viu nesse dia fê-la prometer não ter um filho. Até ao meu nascimento. Eu nasci menina, sou a tua mãe. Até eu nascer, a tua avó teve a vida prisioneira daqueles dois homens nus a desaparecerem.”<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Esta revelação não é absoluta novidade, pois Vladimir crescera a ouvir uma história que se repetia nas gerações. Ainda antes da chegada de Noor, ele reflecte sobre a vida, qualificando-a com um adjetivo forte - “parada”. Uma vida parada, portanto. E, depois, retrospectiva: “Histórias de família. Bisavó: a vida não era fácil em 1942, nem em 1946. Avó: a vida não era fácil em 1968. Mãe: a vida não foi fácil em 1995 nem em 2001. Apesar disso, eu nasci. Ouço isto desde criança. A vida foi sempre difícil, as datas são aproximadas.” A dificuldade repetida, repisada, de geração para geração, e o resultado a ser sempre o mesmo. E rapidamente associamos os tempos de crise (para usar uma palavra eufemística) em que a morte campeou pela Europa (com particular incidência na Europa de Vladimir) e pelo mundo, em que o medo se implantou, em que as incertezas tiveram livre circulação.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Este romance não apresenta nada de ingénuo, como se tem visto. Poderemos ainda falar das remissões sugeridas pelos nomes - Vladimir torna-se evidente, tal como Benito, o crocodilo (para quem ainda chegam a ser sugeridos sobrenomes como Adolfo ou Iosef, também eles plenos de referência) ou o de Lazarus (o patrão da fábrica que chegou a parecer morto e foi salvo por uma refugiada que sabia de enfermagem). Com que linhas se cose a diversidade europeia, que identidade europeia é possível, qual a relação de forças entre aproximações e dissemelhanças, que formas há para que a história não se repita nos seus aspectos mais perniciosos - eis um leque de desafios que por aqui passam, fazendo deste um romance forte nas vias que vai traçando para eventuais descobertas ou reflexões em torno dos quotidianos e das diferenças, dos direitos e do sofrimento. Se a literatura não pode mudar o mundo, pode, pelo menos, pensá-lo e inquietá-lo, porque, como pensa Vladimir na sua última conversa com a mãe, “a vida precisa de porquês”.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: nº 1192, 2023-11-22, pg. 5.</p><p align="right" class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;"><o:p> </o:p></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-68480659330560353302023-11-16T15:31:00.002+00:002023-11-16T15:31:22.468+00:00José Gardeazabal e a literatura como porquê (1)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvHpCP3qWDj_2SZguMZazPe2S9bddKTwWonf2Q_Ni1IPFgyI_mDVdxq1iwdO1Vu-oqq1EMmw66Dlg0EUX1oih4d1LFU_B9IuSz5IePg27jVUbKL6D6wIa7J5gniQHKxX_Z9Cdz_y12qrOOOyQ50UcGqKhyphenhyphensH655SATBQNdqrkkpSqEgjIsugFqzPxg34Q/s1125/Jose%CC%81%20Gardeazabal,%20na%20apresentac%CC%A7a%CC%83o%20de%20A%20Ma%CC%83e%20e%20o%20Crocodilo,%20na%20Culsete.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1076" data-original-width="1125" height="191" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvHpCP3qWDj_2SZguMZazPe2S9bddKTwWonf2Q_Ni1IPFgyI_mDVdxq1iwdO1Vu-oqq1EMmw66Dlg0EUX1oih4d1LFU_B9IuSz5IePg27jVUbKL6D6wIa7J5gniQHKxX_Z9Cdz_y12qrOOOyQ50UcGqKhyphenhyphensH655SATBQNdqrkkpSqEgjIsugFqzPxg34Q/w200-h191/Jose%CC%81%20Gardeazabal,%20na%20apresentac%CC%A7a%CC%83o%20de%20A%20Ma%CC%83e%20e%20o%20Crocodilo,%20na%20Culsete.jpg" width="200" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">José Gardeazabal, na apresentação de <i>A mãe e o crocodilo</i>,</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">em Setúbal, na Culsete, em 20 de Outubro (Foto: Raul Reis)</span></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm;">A narrativa que passa neste <i>A mãe e o crocodilo</i>, de José Gardeazabal (Companhia das Letras, 2023), surge de sobreposição de histórias, nem sempre precisas, de associações de ideias que levam a um contínuo questionar (não por acaso, a pergunta “porquê”, em alemão “warum”, vai surgindo ao leitor com frequência), num jogo entre personagens que nem sempre convergem mas que se conhecem, em espaços em que se evidencia a transição histórica - “A minha cidade descansa a um canto da Europa, indecisa entre três países diferentes. Os edifícios públicos já pertenceram a quatro ou cinco nações inimigas. Nem eu nem ninguém fala a língua dos nossos avós. (...) Não somos do Leste, o Leste já não existe, somos do ex-Leste. Somos ex-fascistas e ex-comunistas, por esta ordem, somos a Europa dos ex. Pena não sermos um país surrealista, divertíamo-nos mais. Estamos no meio da Europa, há Europa por toda a parte, não temos saída. Deviam chamar-nos O Meio, O Meio da Europa.”<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm;">Com tal definição geográfica, histórica e social, percebe-se a pertinência da questão da identidade, linha maior deste percurso da personagem Vladimir, que busca permanentemente a sua identidade, descoberta que se vai construindo como se de um jogo se tratasse - na Europa Central, com a família reduzida à mãe, que apaga deliberadamente a história do pai, trabalhando na reciclagem, vivendo na rota de refugiados, abrigando-se numa subcave partilhada com um crocodilo...<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm;">Vladimir é um eu questionador, pouco conformado com a sua situação, alimentando sonhos de poder entrar na Alemanha, de poder melhorar a vida, de poder esquecer pesadelos do desconhecido, de poder amar, agindo numa história que poderia assentar em três momentos - a vida antes da chegada de Noor, a relação com Noor, a ausência de Noor.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm;">Na primeira parte, a personagem fala de si e dos outros, num mundo amargo, refugiando-se em si e no seu divagar - “As minhas melhores amigas são palavras no vazio, digo-as de vez em quando, ninguém as ouve.” A vida reveste-se de crueza - “À minha volta, o aspeto do mundo diz-me que aqui se aprofundou uma maldade. (...) A vida arrastou o melhor de nós para o fundo, como num enterro, devagar.” O presente não se reconcilia com o passado - “Este era um lugar bonito no tempo da indústria e da tortura. Eram empregos, percebem?, com empregos não se brinca. Quem nos roubou a mina roubou-nos tudo. Sobram os edifícios fabris, altos e feios ao sol, foi o que ficou do materialismo histórico.” A quase totalidade das referências às personagens que convivem no mundo de Vladimir é constituída por pequenos apontamentos, relacionados com momentos e com o conhecimento resultante da convivência na fábrica de reciclagem, espaço de degradação, mais do que de transformação - “Muita coisa nos tem abandonado, mas não a reciclagem, a reciclagem chegou sem avisar e desde aí nunca mais parou. É uma coisa moral, a reciclagem, é coisa do lixo. (...) A reciclagem mudou-se para aqui fugida de um país rico onde poluía imenso, isso e a mão de obra. O preço da mão de obra, para sermos exatos. Para funcionar, a reciclagem precisa de salários baixos em quantidades insuportáveis para um país rico. Sem salários baixos nem subsídios, a reciclagem são só boas intenções.”<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm;">O segundo momento acontece com a chegada de Noor, refugiada vinda de Nazaré, sofrida no seu convívio com a morte, personagem por quem Vladimir se apaixona, num trajecto que quer partir do zero. Ambos a trabalharem na reciclagem, na primeira conversa, ambos assumem que não têm um passado - para Vladimir, “um passado é objeto pesado. O passado é casa roubada, é pai incógnito. Uma casa judia, depois fascista, finalmente comunista. A mesma casa a passar de mão em mão. O passado pode ser um assassino na família, pode ser uma vítima, as pessoas não precisam da verdade.” Noor, que deseja chegar a Paris para estudar, intervém na fábrica, levando à paragem do trabalho, na tentativa da existência de melhores condições, como intervém na vida de Vladimir.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm;">Na terceira fase da história, Noor está presente apenas na lembrança do apaixonado - “Tocar, curar, transformar, assim lembrarei Noor, não esqueço”, afirmação que resume o papel daquela mulher, num segmento que prossegue com reminiscências que ecoam do poema “E depois do adeus”, de José Niza. Noor partilhou a sua história, o seu tempo, o seu ser, com Vladimir e partiu rumo ao cumprimento do sonho que alimentava. Desabafará ele consigo: “Obrigado, Al-Nazri. Pelo caminhar e pelo estarmos de pé, pelo abrir de olhos e o começar a ver. Teria sido divino cair, teria sido divino voar. Obrigado, Noor, pelo amor e pela verdade. Obrigado pela vida.”<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: nº 1188, 2023-11-16, pg. 9.</p><p align="right" class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;"><o:p> </o:p></p><span style="text-align: start;"></span></div>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-28094925528014815242023-11-08T22:44:00.003+00:002023-11-09T16:03:06.845+00:00Conhecer D. Américo Aguiar, o quarto Bispo sadino<p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIy7jnQ5iDqu7IByUaEDqtIpxEVNsMd1rFRhfoow9tae1z5ypdIw94eefh5G8XAPqEfg_KjHkpdfasjn8DhiaNTW1xICOYd0Ofl730f4MlxFkyojbtjkxhp8c_9HG-Un3xWrES3dQMoBhhTE-We4NgPztjyjOqzkAlEeKUE4agu4pfAUzOdcxSehjQrvk/s4910/Joa%CC%83o%20Francisco%20Gomes,%20Ame%CC%81rico%20Aguiar%20(2023).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4910" data-original-width="3356" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIy7jnQ5iDqu7IByUaEDqtIpxEVNsMd1rFRhfoow9tae1z5ypdIw94eefh5G8XAPqEfg_KjHkpdfasjn8DhiaNTW1xICOYd0Ofl730f4MlxFkyojbtjkxhp8c_9HG-Un3xWrES3dQMoBhhTE-We4NgPztjyjOqzkAlEeKUE4agu4pfAUzOdcxSehjQrvk/s320/Joa%CC%83o%20Francisco%20Gomes,%20Ame%CC%81rico%20Aguiar%20(2023).jpeg" width="219" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Uns dias antes da tomada de posse do cardeal D. Américo Aguiar (n. 1973) como quarto bispo de Setúbal, João Francisco Gomes (n. 1995), jornalista do <i>Observador</i>, publicou a obra <i>Américo Aguiar</i> (Paulinas Editora, 2023), em cuja capa, além da fotografia do biografado (ordenado bispo em 2019 e nomeado cardeal em 2023), consta apelativa frase que, ao mesmo tempo que promove, resume o essencial do livro - “Quem é e o que pensa o organizador da JMJ, que o Papa elevou a cardeal”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>O pendor biográfico da obra surge manifesto no texto introdutório - “Editado, justamente a pretexto da sua nomeação cardinalícia, este pequeno livro pretende dar a conhecer alguns traços do percurso de vida de D. Américo Aguiar, desde a infância até à JMJ de Lisboa.” O período delimitado não chega à nomeação de D. Américo para prelado de Setúbal, região que apenas aparece mencionada no livro a propósito da data de 9 de Julho de 2023, quando estava “num armazém na zona de Setúbal onde uma equipa de voluntários da JMJ se dedicava, a grande velocidade, à montagem dos quase meio milhão de kits que seriam entregues aos participantes da Jornada” e sentiu a vibração do telemóvel - uma mensagem do comandante da Gendarmaria do Vaticano a felicitá-lo pela nomeação cardinalícia, notícia que já estava a correr, mas que o próprio desconhecia. Acaso interessante, pois: D. Américo soube que foi escolhido para cardeal na região que, volvidos três meses, viria a ser a sua diocese.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>As fontes usadas por João Francisco Gomes são sobretudo jornalísticas (principalmente do <i>Observador</i> e das várias peças que assinou neste órgão), além de conversas com o biografado e com algumas pessoas que com ele privaram. O leitor assiste àquele que foi o percurso de um matosinhense nascido em Leça do Balio (onde também nasceu o primeiro bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, que D. Américo considera “uma figura importante na minha vida”), jovem que queria ser palhaço (sonho que caldearia o seu sentido de humor), oriundo de família modesta, activo no escutismo, com experiência autárquica (deputado municipal na Assembleia Municipal de Matosinhos) e trabalho desenvolvido na área do ambiente (foi um dos fundadores de uma associação de defesa do rio Leça e trabalhou como técnico de educação ambiental na Câmara Municipal da Maia), só ingressando no seminário em 1995 (depois de uma curta frequência seminarista em 1993). Na vida pastoral, iniciou-se como pároco em Azevedo de Campanhã (2001), tendo, depois, assumido cargos vários na diocese do Porto (a partir de 2002) - vigário-geral, chefe de gabinete do bispo D. Armindo Coelho, organização da visita de Bento XVI ao Porto, responsável pela Irmandade dos Clérigos (em cujo mandato aconteceu a manutenção da Torre dos Clérigos) -, a que sucederam funções em Lisboa, como direcção do Secretariado Nacional das Comunicações da Igreja e presidência do grupo Renascença Multimédia (2016) e nomeação para a organização da Jornada Mundial da Juventude e para coordenador da Comissão de Protecção de Menores do Patriarcado de Lisboa (2019).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Ao longo do livro, vai-se percebendo que as questões mais faladas sobre a Igreja Católica portuguesa têm tido a presença de D. Américo Aguiar, seja por um persistente trabalho de bastidores, seja pela sua relação com os meios de comunicação social (situação que muito bem conhece, mesmo pelo seu estudo intitulado <i>Um padre na aldeia global - Evangelização e o desafio das novas tecnologias</i>, de 2014, trabalho a que esta biografia poderia dar mais relevante nota), seja pela maneira como encara a relação da Igreja com a sociedade. Sucintamente, o autor liga a acção de D. Américo Aguiar às mudanças, quando escreve: “O novo cardeal português incorpora uma das características fundamentais da ‘era Francisco’: a consciência de que a Igreja Católica não existe numa bolha isolada do mundo; fala para pessoas concretas num mundo concreto e, se quer ser compreendida pelo mundo, terá de saber falar a linguagem do mundo.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Quase metade do livro debruça-se sobre os dois acontecimentos mais conhecidos, que catapultaram o bispo para as primeiras páginas - a questão do abuso de menores por elementos da Igreja e a organização da JMJ -, espaço que contextualiza e historia os vários episódios envolvidos. O derradeiro capítulo faz um apanhado de várias citações de D. Américo sobre questões importantes para o debate da Igreja - aborto, eutanásia, celibato obrigatório dos padres, ordenação sacerdotal de mulheres, o papel dos leigos na Igreja, abusos sexuais de menores, quebra do segredo de confissão, participação dos cristãos na política, os “media” e o digital, a Igreja de hoje e o Papa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Esta obra de João Francisco Gomes torna-se importante para se perceber o grau de aproximação e de compromisso com os problemas que D. Américo tem utilizado e, simultaneamente, para se percepcionar o nível de empenho que ele pode vir a desempenhar no cargo em que agora foi investido.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: nº 1182, 2023-11-08, pg. 9.</p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><br /></p><style class="WebKit-mso-list-quirks-style">
<!--
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoHeader, li.MsoHeader, div.MsoHeader
{mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-link:"Cabeçalho Caráter";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
tab-stops:center 212.6pt right 425.2pt;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoNoSpacing, li.MsoNoSpacing, div.MsoNoSpacing
{mso-style-priority:1;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
span.CabealhoCarter
{mso-style-name:"Cabeçalho Caráter";
mso-style-priority:99;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-locked:yes;
mso-style-link:Cabeçalho;
mso-ansi-font-size:12.0pt;
mso-bidi-font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:10.0pt;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
mso-fareast-font-family:SimSun;}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:272055084;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:-1670617612 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525;}
@list l0:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
-->
</style>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-52683845535231777042023-11-03T00:50:00.003+00:002023-11-03T00:52:27.078+00:00Teresa Meireles e contos para levar no bolso (2)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7wahT2CSUfWo61lF1cPrZt8kPb63pZOZB3LjfTREIDMatLkEMMWO6NGNrvHx9V5bslD2kh40xUXwKqLkydCaAyo0PE3AQtX7aKAgZQzj7R7Th-F-OVBV18T27loLKu-DrtnY3UVQKZ7BCQB8cOsya8K3z6H_S3iKs7C7juQ7t9eqoRHJ17MCzKEw7Cy8/s3586/Maria%20Teresa%20Meireles,%20101%20Contos%20de%20Bolso%20(2023).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3586" data-original-width="2951" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7wahT2CSUfWo61lF1cPrZt8kPb63pZOZB3LjfTREIDMatLkEMMWO6NGNrvHx9V5bslD2kh40xUXwKqLkydCaAyo0PE3AQtX7aKAgZQzj7R7Th-F-OVBV18T27loLKu-DrtnY3UVQKZ7BCQB8cOsya8K3z6H_S3iKs7C7juQ7t9eqoRHJ17MCzKEw7Cy8/w164-h200/Maria%20Teresa%20Meireles,%20101%20Contos%20de%20Bolso%20(2023).jpg" width="164" /></a></div><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: center;"><br /></p><p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Ideias importantes que perpassam pelas temáticas destes <i>101 Contos de Bolso</i>, de Maria Teresa Meireles, relacionam-se com o comum que todos somos, num desafio à nossa forma de estar e de viver o mundo e à construção social em que estamos inseridos: convivem cenas de tédio de algumas vidas com os pequenos infernos que os outros acabam por criar ao minimizarem os efeitos provocados sobre a vida dos vizinhos (a situação da gaiola de periquitos que alimenta um dos contos é paradigmática deste abuso); há instantes em que surge a necessidade de degustar o tempo interior e de olhar o mundo (em torno de um chá, por exemplo) e outros que são ocupados por uma epifania contributiva da descoberta da nossa identidade; conflituam a forma plural de sermos, em que um sujeito se compõe de diversificados e antagónicos eus, com a culpa sempre atribuída aos outros, fruto de uma raiva e de um olhar de desprezo sobre o que nos cerca; viaja-se até à infância, em que se cruzam as crianças “adoráveis” (mas formatadas e intimamente pobres) com a ternura resultante de momentos tão memorizados como o acto de ter aprendido a contar pelos dedos da mãe; revisita-se a escola como espaço de convívio e de estranheza, resultante de fenómenos tão excêntricos quanto as aulas à distância no período da pandemia (e o que elas possibilitaram que se visse do desconhecido que todos mantemos) ou quanto a estranheza dos pais perante as atitudes dos filhos na comunidade escolar; ridicularizam-se as mitologias do quotidiano, expressas nas datas comemorativas que nada alteram quanto ao rumo ou ritmo das vidas e num duvidoso poder argumentativo em torno de um “achismo” desmesurado; ironiza-se sobre o absurdo, a superficialidade e as manias de algumas vidas e sobre os “homens das cavernas” que, por vezes, invadem os nossos espaços. Enfim, um leque vasto de quotidianos, retratos de um olhar sobre o mundo de forma crítica.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">As histórias rápidas, depuradas, por vezes com final abrupto, inesperado, deixam o leitor a pensar, algumas a terminarem com uma pergunta retórica que incomoda ou com afirmações que avivam o sentido crítico das narrativas, pois, como é dito no conto em que se pretende pôr em causa os preconceitos dos olhares sobre geografias que nos são estranhas, “o contrário da realidade não é a irrealidade nem tão-pouco a ficção”.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Por estes contos passam duas fundamentais verdades que tecem os percursos de cada um: por um lado, a comodidade que vamos construindo num mundo muito próprio, pois “só vemos o que queremos ou podemos (que é uma maneira de dizer que todos vemos desequilibradamente, por excesso ou por omissão)”; por outro lado, a necessidade da reflexão e do olhar crítico sobre o nosso universo, pois “pensar agita por dentro e derrama para fora como leite em fervedor”.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Destes movimentos de oscilação, sai uma aprendizagem para que uma das narrativas nos convida: “a realidade é mais misteriosa e imaginativa do que qualquer estória que eu pudesse inventar.” Por isso, é que o derradeiro conto, “Parapeitos”, termina de forma peremptória: de peito assente no parapeito, a tia não se apercebeu dos factos que envolveram um pequeno pardal, mas a narradora relembra o sucedido, embora não o tendo compreendido - “Não sei o que aconteceu, ainda hoje não percebo, mas o pardal foi pulando, pulando, pulando até se acercar do vestido florido da minha tia e desaparecer por entre os seus seios para nunca mais ser visto - e a minha tia Graça nem deu conta do sucedido. Juro!” Este compromisso com a autenticidade, expresso numa exclamativa de juramento, serve para fechar o livro e para o leitor ser chamado a respeitar o pacto do narrador com a realidade.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Livro intenso, este, que mereceu o Prémio do Conto Manuel da Fonseca de 2022 e que nos desnuda perante as formatações e nos protege dos mecanismos que abalam e pautam a forma de se ser na nossa contemporaneidade, frequentemente desmontando convenções, outras vezes valorizando pequenos gestos do quotidiano, outras ainda levando-nos ao riso sobre nós próprios. Um bom convívio com o mundo que todos os leitores podem guardar no bolso...<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: nº 1178, 2023-11-02, pg. 9</p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-90578527108291905362023-10-26T15:42:00.002+01:002023-10-30T00:04:44.888+00:00Teresa Meireles e contos para levar no bolso (1)<p style="text-align: center;"><span face="Calibri, sans-serif" style="text-align: justify;"> </span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhghALKEDixd5XaJlxlk4wYncntSRU6v4FkTC_ebnF4h0AEKtDwgYpIIqzzALX_0tqMG2YnqyOKi0SO6_9bSMPvPikx-6ZQhddt_0v1vhOFot3A4QJfBuJ4vQki_GZfOPUakJy4aw4x9zQ8gpMb7tvC1ON-NgOcy8PEShFAncLK6yf1eRsOjukCa59pnYI/s311/Teresa%20Meireles,%20101%20Contos%20de%20Bolso.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="311" data-original-width="280" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhghALKEDixd5XaJlxlk4wYncntSRU6v4FkTC_ebnF4h0AEKtDwgYpIIqzzALX_0tqMG2YnqyOKi0SO6_9bSMPvPikx-6ZQhddt_0v1vhOFot3A4QJfBuJ4vQki_GZfOPUakJy4aw4x9zQ8gpMb7tvC1ON-NgOcy8PEShFAncLK6yf1eRsOjukCa59pnYI/w180-h200/Teresa%20Meireles,%20101%20Contos%20de%20Bolso.JPG" width="180" /></a></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">O título diz tudo - <i>101 Contos de Bolso</i>. A quantidade de textos e a extensão dos mesmos pode ser um convite para a leitura desta obra de Maria Teresa Meireles (a que foi atribuído o Prémio do Conto Manuel da Fonseca no ano passado, agora publicada pela Câmara Municipal de Santiago do Cacém), onde quer que estejamos, cultivando o aproveitamento do tempo. Assim, nunca o leitor será defraudado pelas interrupções, salvo se elas decorrerem das corridas da imaginação, porque, como refere a epígrafe escolhida, de Lídia Jorge (no seu conto <i>A instrumentalina</i>), “um conto breve faz um sonho longo”. E este é o primeiro desafio que Teresa Meireles apresenta, ainda que através de palavras emprestadas - cada um destes “contos-de-bolso” cumpre-se com a conivência do leitor, levado a participar na história pela imaginação que o texto suscita. Se isto é verdade para qualquer obra literária, muito mais importante se torna quando os elementos fornecidos pelo narrador se pautam pelo minimalismo e pela rapidez narrativa...<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Podemos assentar logo na primeira história que nos é apresentada, “Gostava de miniaturas”, uma quase-teoria da micro-narrativa, em que tudo o que rodeia e suscita a vida da personagem tem a ver com o minúsculo - dos brinquedos ao vestir, da alimentação aos livros preferidos, das memórias de infância até à vontade de imitar personagens diminutas, da profissão escolhida até ao objecto da sua investigação, do trabalho em torno de uma tese até à sua perda entre grãos de areia... Mas este conto é ainda importante pelas remissões que faz para o mundo da literatura, não só pelo entusiasmo e conhecimento que a personagem revela quanto a nomes que construíram a tradição literária do universo das pequenas coisas (Jonathan Swift, com Gulliver; Alexis Carroll, com Alice; Charles Perrault, com os seus contos), mas também porque deixa a porta aberta para a eventualidade de outras possíveis referências literárias a surgirem - e, de facto, elas visitam-nos a cada passo, chamadas a propósito de estabelecimento de relações ou de lembranças, vindas de variadíssimos universos - Pablo Neruda, Jane Austen, Karen Blixen, Rousseau, os irmãos Grimm, Simone de Beauvoir, Colette e também o referencial da <i>Bíblia</i>.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A entrada nos sucessivos contos abre as portas ao leitor daquilo que podem ser cenas dos quotidianos - casos da vida, em que interferem as nossas inseguranças, as nossas desistências, as nossas des-ternuras; histórias da vida, em que sobressai o valor do momento, o ímpeto da decisão ou as suas consequências, o convívio com os hábitos que nos vão fazendo, a inacessibilidade ao que o outro sente, a insistência na não-violação da privacidade e da intimidade.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A relação das personagens com o narrador vai variando ao longo dos textos, sendo mais frequente o distanciamento para a terceira pessoa, embora haja também muitos exemplos de narração na primeira pessoa, seja ela masculina ou feminina, por vezes mera testemunha do visto. O ambiente que rodeia as personagens decorre frequentemente da família, dando espaço para uma presença muito marcante dos avós e, por vezes, dos pais e do namorado ou marido.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Interessante é acompanhar o valor dado à expressão através da força da palavra nestes <i>101 Contos de Bolso</i>, que ocorre através de múltiplas situações: a construção de neologismos (“termo-incompatibilidade” ou “verbotropismo” - fica o desafio para descobrirem os seus significados na tarefa de leitura); o louvor da língua, da fala e da comunicação, presentes, por exemplo, numa narrativa em que o assunto ronda uma contadora de histórias; a criação de situações do fantástico através do jogo de palavras (sugerido, por exemplo, através da imagem de uma hera trepadora e invasora) ou por via da riqueza imagética (como no caso do pardal que desapareceu entre os seios de uma tia de vestido florido); a valorização de uma pequena história como uma anedota; a articulação entre as palavras e a vida, numa interessante associação do que possam ser “conjugações irregulares”, vinda da incompatibilidade entre palavras etimologicamente próximas e semanticamente ligadas, como “cônjuge” e “conjugar”; a descoberta das mensagens constantes em cartas arrecadadas num sótão, enviadas pelo avô combatente da Grande Guerra, como possibilidade de imaginar o romance entre os dois apaixonados que se carteavam; a força de uma palavra no momento oportuno, como acontece no conto “O segredo”, levando a destinatária a vencer o medo e a aprender a crescer... enfim, um mundo de valorização da palavra e dos contextos que ela origina, uma homenagem também à língua que nos aproxima.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: nº 1173, 2023-10-25, p. 9</p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-85303984979245665862023-10-18T23:58:00.003+01:002023-10-18T23:58:59.811+01:00O aluno Camus e o professor Germain (2)<p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizf0PqaVjZnECo5L_iQIHnfN44IAom3UfkK9cw6ts8YHMvhzdHqEhc5a3Xxu-m2vhF29tem4DJuWYzvFHh5ln5xyVbAjgqO2vnejQpTH2nLooMgUyJ_SHpJvySJGLbjFNR2uCFpfaCDJADLWBl9RH-VI_xDjwKOVaM8AfQI02v4jJPkf4WQprfbiU8G5A/s4032/Albert%20Camus,%20Caro%20Professor%20Germain,%20Discursos%20da%20Sue%CC%81cia%20e%20Le%20Premier%20Homme.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3024" data-original-width="4032" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizf0PqaVjZnECo5L_iQIHnfN44IAom3UfkK9cw6ts8YHMvhzdHqEhc5a3Xxu-m2vhF29tem4DJuWYzvFHh5ln5xyVbAjgqO2vnejQpTH2nLooMgUyJ_SHpJvySJGLbjFNR2uCFpfaCDJADLWBl9RH-VI_xDjwKOVaM8AfQI02v4jJPkf4WQprfbiU8G5A/s320/Albert%20Camus,%20Caro%20Professor%20Germain,%20Discursos%20da%20Sue%CC%81cia%20e%20Le%20Premier%20Homme.jpg" width="320" /></a></div><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: center; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><br /></p><p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Se Camus demorou cerca de um mês a contactar o professor Germain depois de lhe ter sido atribuído o Nobel da Literatura, a verdade é que associou definitivamente o nome do seu mestre ao prémio que recebeu: os textos da prelecção que fez, em 10 de Dezembro de 1957, na Câmara Municipal de Estocolmo, e da conferência “O artista e o seu tempo”, que fez na Universidade de Upsala quatro dias depois, foram reunidos sob o título <i>Discursos da Suécia</i>, publicado no ano seguinte, obra dedicada “a M. Louis Germain”, desta forma ficando para o conhecimento do mundo a referência que o professor foi para o premiado.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>A mais antiga carta contida no livro <i>Caro Professor Germain - Cartas e Excertos</i> foi escrita por Louis Germain em Paris, em 15 de Outubro de 1945. Camus era conhecido pela sua intervenção jornalística em prol da Resistência e por chamar a atenção para o estado da Argélia. Depois do vocativo “Meu caro rapaz”, Germain apresenta-se e faz-se lembrar, não sem invocar o seu alistamento como voluntário, aos 58 anos, no Corpo Franco-Africano em Argel, onde militou até à Libertação. Que objectivo tinha a carta? “Estou prestes a partir para Argel e ficaria muito feliz se pudesse ver-te antes de viajar. Como penso ter contribuído, ainda que com uma ínfima parte, para o teu destino, gostaria que me confirmasses se não me enganei ao encaminhar-te para o liceu.” Camus terá recebido esta carta tardiamente, por ter saído do jornal onde trabalhava, e só responde por finais de 1945: “Quero, sem qualquer dúvida, voltar a vê-lo. Não saberei dizer até que ponto a recordação que tenho de si permanece comigo - nem como lhe dar conta da minha gratidão. Mas, pelo menos, podemos falar desse passado, que continua a ser o que tenho de mais querido.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>A correspondência entre os dois manter-se-á até final da vida de Camus, manifestando este sempre a importância que Germain teve na sua vida, como se pode ver em carta de 13 de Fevereiro de 1950 - “O aluno permitir-se-á censurar uma frase ao seu querido mestre. Aquela em que me diz que tenho mais que fazer do que ler as suas cartas. Não tenho e nunca terei nada melhor para fazer do que ler as cartas daquele a quem devo o que sou, e que amo e respeito como ao pai que nunca conheci.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Na última carta conhecida de Germain para Camus, de 30 de Abril de 1959, o professor revela o princípio que praticou nas aulas a que a criança Albert assistiu: “O pedagogo que quer desempenhar conscientemente a sua profissão não despreza nenhum dos momentos que lhe é oferecido para conhecer os seus alunos, as suas crianças, e expõe-se a eles continuamente.” E, mais adiante, na mesma missiva: “Creio ter respeitado, durante toda a minha carreira, o que há de mais sagrado numa criança: o direito de procurar a sua verdade. Amei-vos a todos, e creio ter feito o possível para não manifestar as minhas ideias e influenciar, assim, a vossa inteligência jovem.” A derradeira carta de Camus, de 20 de Outubro seguinte, reafirma a importância daquele mestre: “Sabe bem que nunca poderei reconhecer completamente aquilo que eu, sim, lhe devo. Vivo com essa dívida, contente por saber que ela é impagável.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Não fora Germain e Camus não teria prosseguido os estudos no Grand Lycée d’Argel, de tal maneira o rapaz estava destinado a um trabalho manual para ajudar na manutenção da casa de família - ao professor coube mostrar à mãe e à avó do pequeno que ele deveria continuar a estudar, que tinha todas as condições para isso. O episódio é romanceado na primeira parte da narrativa <i>O primeiro homem</i>, intitulada “A procura do pai”, no capítulo dedicado à escola (incluído na obra Caro Professor Germain), onde o leitor pode ver que o sentimento do aluno Jacques pelo professor Bernard outra coisa não será senão o de Camus por Germain - depois de a família aceder ao prosseguimento de estudos e depois de feito o exame de acesso ao liceu, o mestre despede-se do discípulo: “Não terás mais necessidade de mim, vais ter mestres mais sábios. Mas sabes onde estou, vem ver-me se precisares da minha ajuda.” <o:p></o:p></span></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Na correspondência reunida em <i>Caro Professor Germain</i>, impressiona a história do relacionamento entre estes dois homens, baseado na relação fraternal entre o professor e os alunos, no facto de o professor reconhecer em cada aluno uma pessoa com pensamento e ideias próprias, numa relação de afecto, cultivando a distância, da parte do professor (sem esquecer as penalizações, de que Camus dá conta no romance inacabado e publicado postumamente). Por outro lado, da parte do aluno, socialmente carenciado, vibra o enaltecimento de uma pessoa, aquele professor, que o marcou e de quem se sente devedor. As cartas que testemunham este sentimento são extraordinárias de emoção e não as podemos sentir sem as associarmos àquilo que foi um professor como Sebastião da Gama, com quem os alunos se cartearam, graças ao mesmo sentido de grandeza humana...</span></p><p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-left: 21.3pt; margin-right: -0.35pt; text-align: right; text-indent: -18pt;"><span style="font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-ligatures: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;"><span style="font-family: Symbol;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras".</span></span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-size-adjust: none; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-style: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-ligatures: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;"> </span><!--[endif]--><i>O Setubalense</i>: nº 1168, 2023-10-18, pg. 13.<o:p></o:p></p><style class="WebKit-mso-list-quirks-style">
<!--
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoNoSpacing, li.MsoNoSpacing, div.MsoNoSpacing
{mso-style-priority:1;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:10.0pt;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
mso-fareast-font-family:SimSun;}
@page WordSection1
{size:612.0pt 792.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:36.0pt;
mso-footer-margin:36.0pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:2087067249;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:-220807972 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525;}
@list l0:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
-->
</style>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-52943177734224394042023-10-13T01:23:00.000+01:002023-10-13T01:23:03.220+01:00O aluno Camus e o professor Germain (1)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijUETqs33-bY-nJVotnen4uDWiOXByWIXdph5Lazti1wk9cbakzxE2QdA6djkORgmDhxv9pehmdqRNFZkFkhPG0emtAlkv-3YRId1TnS1WnDnUuLJTBzo-xjC_T-vZ5ZZKRys2d8Ql05i59pAeZMLKM2lawIlJCj1LYisTjBBLTlwO7LByBCU4asE-zQM/s4032/Albert%20Camus,%20Caro%20Professor%20Germain%20e%20Le%20Premier%20Homme.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3024" data-original-width="4032" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijUETqs33-bY-nJVotnen4uDWiOXByWIXdph5Lazti1wk9cbakzxE2QdA6djkORgmDhxv9pehmdqRNFZkFkhPG0emtAlkv-3YRId1TnS1WnDnUuLJTBzo-xjC_T-vZ5ZZKRys2d8Ql05i59pAeZMLKM2lawIlJCj1LYisTjBBLTlwO7LByBCU4asE-zQM/s320/Albert%20Camus,%20Caro%20Professor%20Germain%20e%20Le%20Premier%20Homme.jpg" width="320" /></a></div><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: center;"><br /></p><p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Em 17 de Outubro de 1957, o <i>Diário de Lisboa</i> noticiava o nome do Prémio Nobel da Literatura desse ano, que a Academia Sueca revelara no dia anterior: “o escritor francês Albert Camus, pela sua importante obra literária que põe em relevo os problemas que hoje se apresentam à consciência dos homens.” Cerca de um mês depois, em 19 de Novembro, o laureado escrevia uma carta a Louis Germain (1884-1966), que fora seu professor no ensino primário: “Caro Professor Germain, Deixei que acalmasse um pouco todo o ruído que me envolveu nos últimos dias, antes de vir falar-lhe um pouco e de coração aberto. Acabam de me conceder uma grande honra, que não busquei nem pedi. Mas, quando soube da notícia, o meu primeiro pensamento, depois da minha mãe, foi para si. Sem o senhor, sem essa mão afectuosa que estendeu à pequena criança pobre que eu era, sem o seu ensinamento e exemplo, nada disto me teria acontecido.”<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Esta é uma das vinte cartas trocadas entre Albert Camus (1913-1960) e o seu mestre, que integram a obra <i>Caro Professor Germain - Cartas e Excertos</i>, acabada de publicar (Livros do Brasil, 2023), pela primeira vez editadas em França no ano passado, embora algumas delas fossem já conhecidas.<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Com a publicação desta correspondência, facilmente se percebe o significado do professor para o escritor franco-argelino. Já no seu romance <i>A peste</i> (1947), era feita uma referência ao papel do professor - “Não se felicita um professor por ensinar que dois e dois são quatro. Felicitar-se-á talvez por ter escolhido essa bela profissão.” E talvez não possamos ler esta citação sem saber que, dois anos antes, se dera o reencontro entre o ex-aluno Camus e o professor Germain, adiado desde que se tinham conhecido na Escola Comunal de Belcourt, em Argel, no início da década de 1920. <o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Se Camus só contactou o professor cerca de um mês depois de ser conhecida a atribuição do Nobel, a resposta do mestre demorou apenas três dias - em 22 de Novembro, desde Argel, Germain congratulava-se com a honra do discípulo e com o reconhecimento que este expressara e desabafava: “São muitos os alunos que tenho encontrado ao longo da vida e que me dizem conservar de mim uma boa recordação, apesar da minha severidade quando era preciso. A razão é muito simples: amava os meus alunos e, de todos eles, um pouco mais aqueles que a vida desfavorecera.” Esta explicação servia para Albert Camus, cujo pai, combatente na Grande Guerra, falecera na batalha do Marne, em 1914, e servia também para Germain, que combatera na mesma guerra até ao final (embora tenha sido ferido na batalha de Nieuport), se justificar: “Quando me vieste parar às mãos, ainda estava sob o golpe da guerra, da ameaça de morte que, durante cinco anos, ela fez pesar sobre nós. Eu consegui voltar, mas outros, com menos sorte, sucumbiram. Vi-os como camaradas infelizes, tombando e confiando-nos os que cá deixavam. Foi pensando no teu pai, meu caro rapaz, que me interessei por ti, como me interessei por outros órfãos de guerra. Amei-te um pouco por ele, o melhor que pude, não tive outro mérito. Cumpri um dever sagrado a meus olhos.”<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Camus nunca esqueceu os ensinamentos do professor Germain. Quando, num acidente de automóvel, faleceu, em 4 de Janeiro de 1960, estava a escrever um romance, que ficou inacabado e só foi publicado em 1994, <i>O primeiro homem</i>, obra repleta de referências autobiográficas em que são intervenientes as personagens Jacques Cormery, um possível alter-ego de Camus, e “Monsieur” Bernard, professor que deixa perpassar a imagem de Germain - aliás, em dado passo do manuscrito, Camus deixa escapar a verdadeira identidade da personagem, escrevendo: “Dans la classe de M. Germain, pour la première fois, ils sentaient qu’ils existaient et qu’ils étaient l’objet de la plus haute considération” (“Na aula do Senhor Germain, pela primeira vez, eles sentiam que existiam e que eram objecto da mais alta consideração”).<o:p></o:p></p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". O Setubalense: nº 1163, 2023-10-11, p. 8.</p><p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-54452493328130649432023-10-05T11:29:00.002+01:002023-10-05T11:29:40.505+01:00Daniel Pires e o essencial bocagiano<p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFNJtuaLW3yjQNkIkLLCAxLDRaPBRnMuv4MnciP5pG5RLy3MGGRhNuZWC6MbBvRn-PAY4c8-zZRftsXvK4YZmDm9ca9qXjwXk92sohdbIoQ86tc46lX-WaI1VOO6ale2d5_e1tPn5PYd8igec8m2SZSvV-F2CV73VD5tLVkT1qgpN9zyYWpTihFnVoOYo/s340/Daniel%20Pires,%20O%20essencial%20sobre%20Manuel%20Maria%20Barbosa%20du%20Bocage%20(2023).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="340" data-original-width="340" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFNJtuaLW3yjQNkIkLLCAxLDRaPBRnMuv4MnciP5pG5RLy3MGGRhNuZWC6MbBvRn-PAY4c8-zZRftsXvK4YZmDm9ca9qXjwXk92sohdbIoQ86tc46lX-WaI1VOO6ale2d5_e1tPn5PYd8igec8m2SZSvV-F2CV73VD5tLVkT1qgpN9zyYWpTihFnVoOYo/w200-h200/Daniel%20Pires,%20O%20essencial%20sobre%20Manuel%20Maria%20Barbosa%20du%20Bocage%20(2023).jpg" width="200" /></a></div><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: center; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;">“Livre-pensador insubmisso, heterodoxo, Bocage foi um arauto do porvir, anunciando algumas das medidas que, mais tarde, a Revolução Liberal de 1820 e o regime republicano implementaram. E, aliando o génio poético à sede de pugnar por direitos humanos inalienáveis, ponderou questões fraturantes que continuam pertinentes na atualidade.” Assim termina Daniel Pires a sua mais recente obra, <i>O essencial sobre Manuel Maria Barbosa du Bocage</i> (Imprensa Nacional, 2023), forma de demonstrar a importância do vate sadino e de manifestar a sua adesão a esta figura da cultura nacional a partir de Setúbal, sabido como é que parte da obra de Daniel Pires segue a temática bocagiana.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>O que será imprescindível saber sobre Bocage passa pela sua vida e pelas circunstâncias do tempo, pela obra legada e pela memória bocagiana - três áreas que correspondem a outros tantos capítulos do livro.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>O primeiro capítulo, “O homem e as suas circunstâncias”, é eminentemente biográfico, conjugando a história da família, o contexto da Setúbal da época e a saída de Bocage da sua terra-natal para um percurso recheado de aventura, de risco, de desafio, até à morte em 1805, três meses depois de fazer 40 anos. Cruza-se o leitor com a vida inconstante da personagem, na sua peregrinação pelo Oriente e no seu confronto com as instituições e com o poder em Lisboa (prisão no Limoeiro incluída), assim como é possível acompanhar-se o que seriam os seus círculos de inimigos (provocadores e acusadores) e de amigos (que o ampararam, defenderam, reconheceram, publicaram e até lhe pagaram o funeral). A imagem que domina é a de uma personalidade excepcional, tal como o reconheceu e registou William Beckford, testemunho que Daniel Pires reproduz: “O Sr. Manuel Maria, a mais fora do comum, mas talvez a mais original das criaturas poéticas formadas por Deus”, que deixou o inglês emocionado - “quando começava a recitar algumas das suas composições, nas quais a profundeza de pensamento se mistura com os rasgos mais patéticos, senti-me abalado, comovido.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>O segundo capítulo, “O legado de Bocage”, historia a obra do poeta nos seus vários títulos (incluindo os póstumos) e deixa ressaltar os principais contributos que a caracterizam, evidenciando a paixão que a poesia sempre foi para si, forma maior de viver, como deixou explícito na advertência do terceiro tomo das “Rimas”, ao referir que os poetas “nasceram com a brilhante mania de metrificar, sacrificam os proveitos da vida civil e até as comodidades da existência física”. Assim, Daniel Pires leva-nos a uma viagem na obra bocagiana, mostrando as influências clássica e sua contemporânea, portuguesa e europeia, a prática dos mais variados géneros poéticos da tradição literária, a tradução, a extensão e o escritor multímodo, bem como os temas da sua poesia (lirismo, autobiografia, intervenção política, crítica social, religião, erotismo, didatismo). A vastidão da obra analisada permite que seja olhada como um repositório de muitas influências e de inovações, pois Bocage “cultivou, de forma inovadora e autêntica, a poesia, o drama e a tradução, pondo em causa cânones, aparentemente inamovíveis, contribuindo para a construção de outros mais consentâneos com o dinamismo que caracterizou a sociedade do século XVIII”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>O último capítulo, “Posteridade, és minha!” (título saído de um verso bocagiano), elenca alguns contributos que têm construído a memória do poeta - edições póstumas, biografias, monumentos, homenagens, comemorações e abordagens artísticas (artes plásticas, teatro, cinema, música). Esta parte é curta, embora a lista seja vasta, limitando-se, na quase totalidade dos casos, a mencionar o nome dos autores, sem indicações de datas ou de títulos. O episódio de memória que tem mais larga presença é o da construção do monumento a Bocage em Setúbal (1871, por iniciativa dos irmãos Castilho), bem como as comemorações que nesta cidade foram surgindo (1905 e 1965, centenário do falecimento e bicentenário do nascimento).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Tratando-se de uma obra que pretende apresentar “o essencial”, cumpre bem a sua missão (embora pudesse considerar mais alguns títulos na lista da bibliografia passiva). O texto acessível e de considerável síntese torna este livro num vade-mécum útil e oferece uma abordagem séria de Bocage ao grande público.</span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: nº 1159, 2023-10-04, p. 10.</p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><br /></p><p class="MsoListParagraph" style="margin-left: 21.3pt; margin-right: -0.35pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><o:p></o:p></p><style class="WebKit-mso-list-quirks-style">
<!--
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoHeader, li.MsoHeader, div.MsoHeader
{mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-link:"Cabeçalho Caráter";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
tab-stops:center 212.6pt right 425.2pt;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoNoSpacing, li.MsoNoSpacing, div.MsoNoSpacing
{mso-style-priority:1;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
span.CabealhoCarter
{mso-style-name:"Cabeçalho Caráter";
mso-style-priority:99;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-locked:yes;
mso-style-link:Cabeçalho;
mso-ansi-font-size:12.0pt;
mso-bidi-font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:10.0pt;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
mso-fareast-font-family:SimSun;}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:1504859659;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:1448662910 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525;}
@list l0:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
-->
</style>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-81771427554500792792023-09-27T20:30:00.006+01:002023-09-27T20:34:10.441+01:00Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós juntos<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXZ18ygflnlSk_KbP1QIoGzUqsJth4fDlZvaXuq3SM6DL5jLA9jjTYk-XG2r66ekxuOdALE3J7x5ISuhoNhMEKZY7M6oqbUeKMCvyqJeeW6XsqxsuLoOZorxvh04CPh-rvFjAQDtP-LJvxAsQTzj-23Nfw11gUzy2cykwIRHRpm0aO4O7ILc3YzKMkpoU/s1600/Camilo%20Castelo%20Branco%20e%20a%20esta%CC%81tua%20do%20Porto%2004%20-%20Francisco%20Simo%CC%83es,%202012%20(2013-03-23).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXZ18ygflnlSk_KbP1QIoGzUqsJth4fDlZvaXuq3SM6DL5jLA9jjTYk-XG2r66ekxuOdALE3J7x5ISuhoNhMEKZY7M6oqbUeKMCvyqJeeW6XsqxsuLoOZorxvh04CPh-rvFjAQDtP-LJvxAsQTzj-23Nfw11gUzy2cykwIRHRpm0aO4O7ILc3YzKMkpoU/w200-h150/Camilo%20Castelo%20Branco%20e%20a%20esta%CC%81tua%20do%20Porto%2004%20-%20Francisco%20Simo%CC%83es,%202012%20(2013-03-23).jpg" width="200" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZAFvZ-0cCXGljmfktuDZMD5U9Hg8VrtSWoTSGJErDI6TWK1UmfYicDDX6hTL2W7-ReYUpRvf48YI_kP4pQPNRkeCYO_zdZ4oxpqgu00c5fPk92pJJx0X5Bj_3ppnwxSE74nSbHhdbTsJE6m0tGJ1njJseu7kvLNflHF_qL9G-Igf8k52p9JjxvpIs-bY/s2560/Ec%CC%A7a%20de%20Queiro%CC%81s,%20Teixeira%20Lopes%2002%20-%20Lisboa,%20Lgo%20Bara%CC%83o%20de%20Quintela%20(2018-05-18).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1920" data-original-width="2560" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZAFvZ-0cCXGljmfktuDZMD5U9Hg8VrtSWoTSGJErDI6TWK1UmfYicDDX6hTL2W7-ReYUpRvf48YI_kP4pQPNRkeCYO_zdZ4oxpqgu00c5fPk92pJJx0X5Bj_3ppnwxSE74nSbHhdbTsJE6m0tGJ1njJseu7kvLNflHF_qL9G-Igf8k52p9JjxvpIs-bY/w200-h150/Ec%CC%A7a%20de%20Queiro%CC%81s,%20Teixeira%20Lopes%2002%20-%20Lisboa,%20Lgo%20Bara%CC%83o%20de%20Quintela%20(2018-05-18).jpg" width="200" /></a></div></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Esculturas de Camilo Castelo Branco (Francisco Simões, no Porto) e de Eça de Queirós (Teixeira Lopes, em Lisboa)</span></div><div style="text-align: center;"><br /></div><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;">Os últimos tempos têm andado de feição para Camilo Castelo Branco (1825-1890) e para Eça de Queirós (1845-1900), não fosse o trabalho da memória uma coisa que mexe com os povos e com a cultura...<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;">Camilo veio à liça por causa de uma escultura no Porto, situada no largo que tem o nome de um dos seus mais conhecidos livros - <i style="font-style: normal;">Amor de Perdição</i>. Há pouco mais de uma década, a obra de arte, assinada por Francisco Simões, foi ali colocada, mesmo em frente do edifício onde o escritor esteve preso. Os tempos passaram e um grupo de perto de 40 cidadãos apresentou documento a Rui Moreira, edil do Porto, a pedir a retirada da estátua por razões tão sublimes quanto o “desgosto estético” e a “desaprovação moral”... Pelo meio, discussão para muitos gostos chegando-se ao ponto de ter sido opinado que as duas figuras da escultura - Camilo e uma representação feminina - deveriam estar em jogo de igualdade: ou ambas nuas, ou ambas vestidas. E assim se discutiam os gostos e as ideias e outras coisas quase inomináveis. Rápido a decidir foi o presidente portuense que logo terá mandado recolher a obra de arte para os depósitos camarários. Rápido também foi o aparecimento de uma petição, com milhares de assinaturas, a contestar a decisão. E o presidente deu o dito pelo não dito e retrocedeu porque terá descoberto que, afinal, a estátua estava ali por decisão da Câmara, etc., etc. Mas, mesmo assim, Rui Moreira <span>ainda veio escrever sobre o caso - no <i>Público</i>, de 18 de Setembro, lavrou o seu arrazoado: “Acresce que também eu tenho opinião. E, peço desculpa por o dizer assim, tenho uma legitimidade acrescida, porque presido ao município e tenho nas minhas mãos o pelouro da Cultura. Não sou especialista em estatuária, mas não gosto da estátua. Não por pudor ou moralismo. Felizmente, o nu e o erotismo fazem parte da arte, e estão presentes na cidade. Não considero aquela estátua erótica ou pornográfica. Apenas pornograficamente horrenda.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>É caso para dizer que mais teria valido não dizer nada, pois o emaranhado argumentativo esboroa-se por sua conta - o senhor tem opinião, acha que a sua opinião é agravada por ter a mão na cultura, não é especialista em estatuária, não gosta da estátua, não a considera erótica, mas acha-a “pornograficamente horrenda”. Isto é uma enciclopédia de saber, caramba! Só faltou a Rui Moreira dissertar sobre o conceito do “pornograficamente horrendo”, que deve dar uns bons quilos de prosa!...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Como quando se fala de Camilo também o nome de Eça salta para a ribalta, uns dias depois foi o turbilhão em torno da trasladação (ou não) dos restos mortais do autor de <i>Os Maias</i> para o Panteão Nacional. Eça esteve sepultado em Lisboa e, em 1989, foi trasladado para o concelho de Baião, onde se localiza a Fundação com o seu nome, instalada em lugar que ele tão bem descreveu e para o qual inventou um nome - Tormes.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>É verdade que o Panteão honra e destaca. Mas qualquer cemitério é espaço de respeito e de honra - ali estão marcas de pessoas que fizeram vidas. Deverão os restos mortais de alguém andar ao sabor de momentos histórico-políticos? Pelos vistos, sim. O problema é que os contextos histórico-políticos variam e, 90 anos depois de falecer, Eça foi levado para Baião e, agora, passados mais cerca de 30 anos, querem fazê-lo regressar a Lisboa. Lá por Baião, um candidato derrotado a Presidente de Junta tem feito finca-pé quanto a mais esta viagem queirosiana, ajudando a que o caso seja um problema político e não uma questão cultural, alimentando a querela entre descendentes de Eça divididos quanto ao destino dos restos mortais (uns, pró-Panteão; outros, contra), mais discussões parlamentares e decisões judiciais pelo meio...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Eça e Camilo, lá por onde andam, devem rir-se a bandeiras despregadas destas diatribes caseiras que vão acontecendo... e que tão mal dizem da forma como encaramos a memória, que vai sendo algo para jogar quando dá jeito e pouco mais.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Deixe-se a estátua de Camilo onde está e fiquem os restos de Eça onde estão. Afinal, como se pode provar qual a facção que tem mais razão? Será que, nestas coisas da memória, também temos de andar a reboque dos “remakes”, das reconstruções, dos sabores de ocasião? Eça e Camilo estão condenados a andar juntos, por muito que alguns sobrevalorizem um ou outro - e, por estes dias, esse debate tem surgido de novo com adeptos ferrenhos da supremacia artística de um ou de outro. Na verdade, o que importa é que se conheça a obra dos dois e que as suas páginas sejam lidas, pois são bons retratos do que é ser português. Se assim fosse, talvez não tivéssemos de assistir a estes tristes espectáculos cheios de provincianismo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 0px;"><span style="font-size: x-small;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: nº 1154, 2023-09-27, p. 10 (acrescentado)</span><span style="font-size: small;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><br /></p><style class="WebKit-mso-list-quirks-style">
<!--
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:10.0pt;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
mso-fareast-font-family:SimSun;}
@page WordSection1
{size:612.0pt 792.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:36.0pt;
mso-footer-margin:36.0pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:1005284473;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:1661213944 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525;}
@list l0:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
-->
</style>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-8889176224745583892023-09-20T13:25:00.001+01:002023-09-20T13:25:08.903+01:00Luís Aguiar: a partilha dos silêncios e o amor<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRpBJt0U2v_37hHG5-Iw35e6n-WEPcaURUOr7IvQpck7YGg20VfbNyY4CkmKHb-n-DYnHQHqwr1800DQANMuo8cwvUI6qpRqkkg3TyTZpyiWA-9QRayjzgLkoG4td-5XgTF2tLjWtU68yT7ynxd5xhjPF1oVHFZHrZABuJJv1MnXgXMyl1Dv0ZQXNT3dU/s3567/IMG-0974.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3567" data-original-width="2409" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRpBJt0U2v_37hHG5-Iw35e6n-WEPcaURUOr7IvQpck7YGg20VfbNyY4CkmKHb-n-DYnHQHqwr1800DQANMuo8cwvUI6qpRqkkg3TyTZpyiWA-9QRayjzgLkoG4td-5XgTF2tLjWtU68yT7ynxd5xhjPF1oVHFZHrZABuJJv1MnXgXMyl1Dv0ZQXNT3dU/s320/IMG-0974.jpg" width="216" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Há uma canção de Bob Dylan, de 1968 (“Open the door, Hommer”), em que o papel das memórias é assim poetizado: “Cuida de todas as tuas recordações / pois não podes revivê-las.” Estes versos do poeta-cantor nobelizado acentuam de forma crua o efeito da lembrança, uma quase-metáfora para tornar presentes coisas acontecidas no passado, momentos distanciados pelo factor tempo e pelo contexto em que os acontecimentos e as recordações ocorrem.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A obra surgida da edição do Prémio Literário Manuel Maria Barbosa du Bocage de 2022 que agora se publica, <i>O sossego do tempo sobre a pele</i> (Setúbal: LASA - Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, 2023), de Luís Aguiar, joga com esse elemento fundamental que é o tempo, fermentador de uma certa quietude e elevador das recordações, num percurso resultante da brutalidade do encontro com a morte, com o silêncio.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Na mais antiga recordação, o poema que inicia o livro, há a vivência de um passado que fazia o tempo, trajecto prolongado que parecia não ser interrompido - “Éramos tão novos, meu amor, / mas o tempo trazia nas veias lume, / romãs e os lugares / que um dia iríamos esquecer”. Contudo, este correr da vida e da paixão surge ameaçado logo no segundo poema, quando a escrita se confronta com a sorte e com a doença - “o destino é um viajante, / assim é a dor que o naufrágio causa / (...) / enquanto a leucemia se estendia / pelo sangue e pela linfa, / como se fosse um vestido preso / no estendal da quinta.”<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A memória impele para lugares de revisitação, numa tentativa de construção de momentos de felicidade retomada - “Ontem, estive junto à praia onde namorávamos / sem que a tua mãe o soubesse. / (...) / Em escassos segundos recordei-me do teu sorriso.” Porém, tais instantes podem acentuar a dor, trazida pela ausência - “O mundo não mudou e tu, agora, repousas em parte incerta, / enquanto eu me tento expulsar deste quarto / onde adormeceste ontem, e ontem foi há tanto tempo”.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A continuação do poema constrói-se sobre recordações assentes em objectos (as cartas), em partilhas (uma viagem de comboio para Caminha), em instantes de alegria (o vento na praia, a areia nos pés, os campos verdes), como é conseguida nas imposições do sofrimento (“Doem as perguntas mais planas, / e as histórias que desapareceram no azul desvanecido”) ou na insistência na vã procura do ser amado - “Diz-me, / em que manhã, / ou em que pôr-do-sol, / poderei / procurar o teu cheiro, / ou o teu beijo, / misturado num lívido poema (...)?”<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">A leitura deste <i>O sossego do tempo sobre a pele</i> é um desafio à sensibilidade do leitor, uma viagem pela dor e pelas cicatrizes trazidas pela vida, num percurso interrompido pela morte, que “chegou na idade em que o cimento / estava fresco, e as searas eram infindas / para os passos que não conseguíamos dar”. O trajecto torna-se difícil para o poeta, que, depois de se ver “órfão” na viagem, sente a falta do abraço do “último momento”, tem de responder às perguntas sobre a morte, peregrina na tentativa de minimizar a ausência.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Na justificação apresentada pelo júri para premiar esta obra, assinada por José-António Chocolate, é referido estar-se “perante uma história de amor e saudade, sendo esta última não o resultado de uma revolta perante as circunstâncias adversas da vida, mas um hino de agradecimento a quem partilhou uma relação intensa e verdadeira”, ao mesmo tempo que se sublinha a riqueza imagética e metafórica conseguida no poema. No fundo, um livro construído sobre o silêncio e a vertigem da dor.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Se, como disse Jaime Salazar Sampaio, “é preciso ter amado a vida para aceitar a morte”, este longo poema de amor é prova desse percurso, via difícil de procura e de encontro, que se conclui com uma declaração que ultrapassa todas as agruras, que vence a dor: “Amo-te, / mesmo que as rosas me rasguem as mãos, / por não suportarem / o peso do teu nome inscrito numa lápide.”<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". <i>O Setubalense</i>: n.º 1149, 2023-09-20, p. 10</p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><br /></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-17406401560163537322023-09-10T10:38:00.004+01:002023-09-10T10:40:00.593+01:00Pedro Narra desvenda segredos da Comporta<p align="center" class="MsoNoSpacing" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: center;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeQ_PTdqnKoEAPP1nVJ7ItcakU8J_cATgo0PSs_AEwVJyY-f5bJdmKIi76CW3z1bPkyJ4Tp7aNvM8aTEWC2wvOA8F4EvdJHtajEiGa_cyzizsUgXUxOW5QgtwyYYLppJ8NBujRLqi9Rndl7ofxdjDYvFTaDAW2tgClXBueA-343Pa-wan5me4ih2nulJA/s3229/Pedro%20Narra,%20Terras%20da%20Comporta%20(2023).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3229" data-original-width="2564" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeQ_PTdqnKoEAPP1nVJ7ItcakU8J_cATgo0PSs_AEwVJyY-f5bJdmKIi76CW3z1bPkyJ4Tp7aNvM8aTEWC2wvOA8F4EvdJHtajEiGa_cyzizsUgXUxOW5QgtwyYYLppJ8NBujRLqi9Rndl7ofxdjDYvFTaDAW2tgClXBueA-343Pa-wan5me4ih2nulJA/s320/Pedro%20Narra,%20Terras%20da%20Comporta%20(2023).jpg" width="254" /></a></div><p></p><br /><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Em quase uma centena de fotografias, Pedro Narra (n. 1974) leva-nos a um encontro com segredos da Comporta, nem sempre visíveis a quem daquele espaço aproveita apenas o mais óbvio, num convite para descobertas pessoais e momentos de contemplação da Natureza que nos cerca.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">O desafio passa pelas páginas de <i>Terras da Comporta</i>, álbum recentemente editado pela Vanguard Properties (fora do circuito comercial), título que se conjuga também com a marca dos empreendimentos que esta empresa está a promover na zona da Comporta - “Dunas” e “Torre”.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">O livro corre em duas vertentes - por um lado, nessa linha do desvendar, mostrando momentos quase únicos e insistindo na urgência do olhar e do parar; por outro, na pista das memórias do artista, que ali cresceu e se deixa mergulhar nas memórias vividas.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">“Revisitação do passado” - é assim que este livro é qualificado por Pedro Narra, para quem a Comporta é “um estado de alma”, conjunto de olhares resultantes do tempo ali passado a “contemplar o mar, as dunas” e a absorver “as fragrâncias que chegavam”. Um livro feito de sentidos, pois, em que se adivinham os cheiros, os ruídos, os gostos, os toques, vindos das brisas, do restolhar, do chilreio, dos sabores, do bate-que-bate das águas enroladas na areia. Um livro feito de olhares oportunos, demorados, contemplativos, perscrutantes, atentos, sub-reptícios.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Estruturado em cinco partes - “terra”, “azul”, “asas”, “areia” e “luz” -, por cada uma delas passa o mais forte de cada título, cobrindo a vida que nos é trazida dos meandros do arrozal, do sapal, das dunas ou do estuário. Encanta-se o leitor-observador com os animais (a gineta, o ouriço-cacheiro, a salamandra, o abelharuco, o chapim, a poupa, o pintassilgo, a garça, o pato-real, o golfinho, a cegonha, a águia-pesqueira, a raposa, entre outros), com as plantas (a alfazema, a camarinha, o pinhal, o feto, a azeda, a planta do arroz, o cravo-das-areias, partes de uma lista maior) ou com os efeitos de luz e cor (conseguidos em espaços como o arrozal próximo da praia da Comporta, as praias da Raposa, do Pinheirinho e do Carvalhal ou nos meandros a que Pedro Narra chamou “vida nas dunas” ou mesmo nas gotas de orvalho que serrilham uma folha).<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">Há fotografias que nos obrigam a parar, de tal forma a Natureza se nos impõe e se manifesta, como a que inaugura o livro - paisagem verde de arrozal, cruzada por linha vertical cor de terra, espaço de passagem e de divisão de lotes de terreno agrícola, quase mostrando as simetrias ou as geometrias com que a Natureza se nos apresenta muitas vezes - ou como a das camarinhas (nas suas bagas apelativas e tentadoras), a do pinhal na Praia da Comporta (com tufos de plantas que disfarçam a areia, dando ideia de que a protegem), a dos pintassilgos (no esforço de repartir o alimento pelos filhotes, em simultâneo com a avidez de bicos abertos na busca do pedaço que cairá em sorte), a do canal da Comporta (no seu delinear ziguezagueante, composição magistral de desenho livre), a da planta do arroz (na força da sua fragilidade), a dos flamingos em bando (construção de linhas paralelas estilizadas, em espírito de grupo e de orientação), a dos fetos castanhos (trabalho de recorte fino e de ornamentação), a do cravo-das-areias (quase querendo fazer com que o seu odor ou a sua cor corram na brisa) ou a da Praia do Carvalhal (mistura de cores numa paleta que desafia os restos de luz).<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;">É um livro bonito este, que Pedro Narra construiu para que o mundo próximo de nós nos surpreenda e para que o leitor se torne observador do que lhe é contíguo.</p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><span style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". </span><i style="text-align: left; text-indent: 35.4pt;"><span>O Setubalense</span></i><span style="text-align: left; text-indent: 35.4pt;">: nº 1139, 2023-09-06, p. 8.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: center;"><br /></p>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1928378070232860008.post-70251093887464646472023-09-04T18:16:00.002+01:002023-09-04T18:16:46.354+01:00Círio de Nossa Senhora da Tróia vivido em livro<p align="center" class="MsoNoSpacing" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: center; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgsgR1y5Q1NJFhtnVaZXDNB2CLh9t1S5_TRw_OlVpy0LqQs_3ykNZnR6BgR1Al3A2HaBN5x2WEWOKTdARFSunKZPXk0WjKGakK8n8JV4UWHK7-2lQuV01PBBxaZm9f2EFpALQK7y0EFE-UpodGeGq1CoF4bWIsBK27h41C1efw6l1Ig1B53OtgWOCBonc/s3416/143%20Ci%CC%81rio%20de%20Nossa%20Senhora%20da%20Tro%CC%81ia%20vivido%20em%20livro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3416" data-original-width="2768" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgsgR1y5Q1NJFhtnVaZXDNB2CLh9t1S5_TRw_OlVpy0LqQs_3ykNZnR6BgR1Al3A2HaBN5x2WEWOKTdARFSunKZPXk0WjKGakK8n8JV4UWHK7-2lQuV01PBBxaZm9f2EFpALQK7y0EFE-UpodGeGq1CoF4bWIsBK27h41C1efw6l1Ig1B53OtgWOCBonc/s320/143%20Ci%CC%81rio%20de%20Nossa%20Senhora%20da%20Tro%CC%81ia%20vivido%20em%20livro.jpg" width="259" /></a></div><p align="center" class="MsoNoSpacing" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: center; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>“A Festa de Nossa Senhora do Rosário de Tróia tem a duração de três dias (sábado a segunda-feira) e a sua data é marcada nas três primeiras semanas do mês de Agosto, dependendo das marés, de modo a que os barcos de pesca de maior calado possam entrar na Caldeira de Tróia na tarde de sábado e saírem na tarde de segunda-feira para o regresso a Setúbal.” É assim que começa o livro <i>Círio de Nossa Senhora da Tróia </i>(2023), em texto assinado por José António Carvalho, o seu mentor.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>São quatro os autores que colaboram nesta obra, cujos textos surgem em português e em inglês: José António Carvalho, Casimiro Henriques, Maria Miguel Cardoso e Inês Vaz Pinto.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>O primeiro faz a apresentação da festa, com o seu programa detalhado, e contextualiza-a no âmbito das comunidades piscatórias setubalenses de Fontainhas e de Tróino, nascidas a partir de geografias diferentes (da zona da Murtosa, a primeira, e da região algarvia e de Setúbal, a segunda), cada qual com a sua romaria própria ao longo de muito tempo, separação entretanto esbatida, quer pelas alterações sociais, quer pelas mudanças resultantes do ordenamento - explica José António Carvalho, recorrendo a informação de Maria Miguel Cardoso, que a rivalidade entre os dois bairros “era essencialmente masculina”, uma vez que as mulheres e as crianças “rapidamente se misturavam <span> </span>nas fábricas de conservas onde as relações sociais estabelecidas primavam pela solidariedade na pobreza”. Por outro lado, o reordenamento da zona ribeirinha setubalense acontecido na década de 1990, ao trazer os barcos de pesca para a Doca dos Pescadores, acabou por ser determinante para a aproximação entre as duas comunidades, de tal forma que, “actualmente, a comissão de festas é constituída por pescadores e descendentes de pescadores varinos, mas no círio fluvial e na festa participam pescadores de todas as comunidades.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>José António Carvalho é ainda responsável por cerca de uma centena de fotografias da festa, organizadas em três momentos (ou “narrativas fotográficas”), captadas nas cerimónias realizadas entre 2010 e 2019, verdadeira reportagem visual da totalidade das festas e do empenho posto pelos participantes, de tal maneira é forte e expressiva a presença humana nos tempos retratados, em que surgem os intantes da preparação, da oração e da alegria da festa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>O padre Casimiro Henriques assina o texto que se debruça sobre a experiência de fé dos romeiros, explicando o convívio entre o dogma e a religiosidade popular. A intensidade desta aproximação é visível no momento da experiência que vivencia a festa - “Para entendermos o sentido profundo dos romeiros e da romaria, é preciso estar lá. Olhar olhos nos olhos encharcados dos que dirigem ‘à santa’ as suas preces. É preciso contemplar as mãos trémulas ao acender as velas. É preciso saborear as palavras simples impregnadas das graças recebidas e agora agradecidas.” Eivado deste sentimento testemunhal, o texto funciona como um convite em que a emoção marca presença.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>Maria Miguel Cardoso faz uma abordagem sociológica da festa, destacando o papel assumido pela população na preservação deste evento ligado à freguesia de S. Sebastião (não esquecendo o que foi a “reconquista” da organização da festa em meados da década de 1940, depois de, durante cerca de 15 anos, ter sido organizada por um padre de Melides, que não consentiria na participação dos setubalenses...). Interessante é ainda a leitura apresentada quanto ao sentimento comunitário que a festa tem e quanto ao seu papel na proximidade entre as pessoas e na construção de famílias.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>O último texto, assinado por Inês Vaz Pinto, apresenta Tróia como “lugar sagrado”. Recuando às visitações da Ordem de Santiago, verifica-se que, já pelo século XVI, “a ermida não era apenas frequentada pelos habitantes da região, mas sim um lugar de peregrinação para gente vinda de longe”. O texto passa pela primeira referência explícita à festa em 1707 (por Frei Agostinho de Santa Maria), à presença do pregador bem conhecido na região que foi o padre Nabeto ou à retoma da organização da festa pelos pescadores de S. Sebastião em 1945. Para Inês Vaz Pinto, a capela de Nossa Senhora do Rosário da Tróia assenta num espaço que a História tem provado ser tradicionalmente religioso - “não só está muito perto da igreja paleocristã da época romana, como parece ter sido construída sobre um templo romano.”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; orphans: auto; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span>O círio de Nossa Senhora da Tróia, cuja procissão é em linha directa, atravessando o Sado, da igreja de S. Sebastião para a Caldeira, e com passagem pelo Outão e trajecto costeiro no regresso às Fontainhas, surge bem documentado numa abordagem visual e interdisciplinar nesta obra, que fica como referência para esta manifestação religiosa setubalense, em fotografias que alimentam a memória e em textos de que não está alheia a vivência da festa.</span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-feature-settings: normal; font-kerning: auto; font-optical-sizing: auto; font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font-variant-alternates: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-ligatures: normal; font-variant-numeric: normal; font-variant-position: normal; font-variation-settings: normal; line-height: normal;">* João Reis Ribeiro. "500 Palavras". </span></span><i style="text-indent: -18pt;">O Setubalense</i><span style="text-indent: -18pt;">: nº 1135, 2023-08-31, p. 10</span></span></p><p class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Calibri, sans-serif; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0cm -0.35pt 0.0001pt 0cm; text-align: right; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: small;"><span style="text-indent: -18pt;"><br /></span></span></p><p class="MsoListParagraph" style="margin-left: 21.3pt; margin-right: -0.35pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;"><o:p></o:p></p><style class="WebKit-mso-list-quirks-style">
<!--
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoHeader, li.MsoHeader, div.MsoHeader
{mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-link:"Cabeçalho Caráter";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
tab-stops:center 212.6pt right 425.2pt;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoNoSpacing, li.MsoNoSpacing, div.MsoNoSpacing
{mso-style-priority:1;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraph, li.MsoListParagraph, div.MsoListParagraph
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpFirst, li.MsoListParagraphCxSpFirst, div.MsoListParagraphCxSpFirst
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpMiddle, li.MsoListParagraphCxSpMiddle, div.MsoListParagraphCxSpMiddle
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
p.MsoListParagraphCxSpLast, li.MsoListParagraphCxSpLast, div.MsoListParagraphCxSpLast
{mso-style-priority:34;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-type:export-only;
margin-top:0cm;
margin-right:0cm;
margin-bottom:0cm;
margin-left:36.0pt;
margin-bottom:.0001pt;
mso-add-space:auto;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
span.CabealhoCarter
{mso-style-name:"Cabeçalho Caráter";
mso-style-priority:99;
mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-locked:yes;
mso-style-link:Cabeçalho;
mso-ansi-font-size:12.0pt;
mso-bidi-font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-size:10.0pt;
mso-ansi-font-size:10.0pt;
mso-bidi-font-size:10.0pt;
mso-fareast-font-family:SimSun;}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
/* List Definitions */
@list l0
{mso-list-id:1855879487;
mso-list-type:hybrid;
mso-list-template-ids:-1800658730 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525 135659521 135659523 135659525;}
@list l0:level1
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level2
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level3
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level4
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level5
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level6
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
@list l0:level7
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Symbol;}
@list l0:level8
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:o;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:"Courier New";}
@list l0:level9
{mso-level-number-format:bullet;
mso-level-text:;
mso-level-tab-stop:none;
mso-level-number-position:left;
text-indent:-18.0pt;
font-family:Wingdings;}
-->
</style>João Reis Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/05157373402125927001noreply@blogger.com0