Desde o dia 24 que o Público tem vindo a editar um trabalho de reportagem sobre o meio rural português, com fotos de Nelson Garrido e texto de Alexandra Lucas Coelho. Trás-os-Montes (Terras de Barroso), Douro (próximo de Carrazeda de Ansiães) e Minho (nos arredores de Fafe) foram sítios já visitados. Personagens são muitas, entre homens, mulheres e crianças. A vida é só uma: de trabalho, duro, frio, desgastante, longe. E com muita solidariedade vicinal.
Estas reportagens, com uma escrita bem urdida, gizadas com as palavras das pessoas visitadas, são belas de ler. Falam-nos de um mundo que não tem nada a ver com a vida urbana (reveladores são pormenores de forma de viver, de medidas, de vocabulário, de produtos agrícolas, que a jornalista não esconde só passar a conhecer depois deste contacto), de um mundo onde a desconfiança perante o estranho existe (ainda que depois se apazigúe), de um mundo em que as tonalidades não são suaves como a política quer fazer crer (a título de exemplo, registo a frase do podador José, algures entre Carrazeda e Foz Tua: “Se os que lá estão ganhassem tanto como nós não cantavam tanto o fado.”).
São retratos fortes, de um Portugal que, normalmente, não vem nos jornais, de uma Europa outra que não viaja (a não ser por trabalho duro). São também a possibilidade do reencontro com as raízes de muitos dos que, hoje, vivem na cidade (como, aliás, se percebe pela conversa em torno da matança do porco presenciada em Trás-os-Montes).
A ler e a seguir: publicados estão três trabalhos; faltam mais três.
[Foto: de Nelson Garrido, no Público de hoje, a propósito da reportagem sobre o Minho]
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