As linhas do que poderá vir a ser o novo modelo de gestão nas escolas, anunciadas pelo Primeiro-Ministro no mais recente debate parlamentar em que esteve presente, são motivo de comentário de Santana Castilho no Público de hoje, que alinha a sua opinião sobre dois princípios:
a) o da sucessão de remendos, com um ambiente deprimido - " (...) O nosso sistema de ensino é um somatório sem nexo de sucessivas reformas casuísticas, desgarradas, que o tornaram uma fraude. As escolas, genericamente desconfortáveis 'por fora', frias no Inverno, quentes no Verão, degradadas, com poucos recursos, tornaram-se insustentáveis 'por dentro': professores amargurados, revoltados, com medos vários (de perderem o emprego, dos alunos, dos pais dos alunos e dos próprios colegas); alunos que não podem ser ensinados porque não querem aprender; iniciativas pedagógicas inúteis e redundantes (em vez de tornar actuantes as estruturas que não funcionam, mantêm-se as originais e sobrepõem-se-lhes outras, rotuladas com designações "modernas", que mobilizam os mesmos actores que geraram o problema a resolver). (...) "
b) o da dificuldade de participação de muitos encarregados de educação na gestão das escolas - "(...) Se a generalidade das famílias portuguesas não sabe nem pode prestar assistência aos filhos (uma forte causa do insucesso escolar), espera-se que funcione esse modelo de gestão das escolas? Se os pais não vão à escola para tratar das questões correntes da vida escolar dos filhos e reclamam que a mesma guarde as crianças 37 horas por semana (mais tempo do que os operários passam na fábrica) porque é essa a única forma de tornearem a desregulação actual dos horários de trabalho, acham que são esses pais que vão ter tempo e disponibilidade para participarem na gestão dos estabelecimentos de ensino? (...)"
Ainda no mesmo jornal, uma "Carta ao Director", escrita a partir de Trás-os-Montes, ironiza com os comentários publicados nas peças jornalísticas do passado fim-de-semana sobre a quantidade de reprovações, para zurzir nas constantes comparações com o sistema finlandês (que, supostamente, deveríamos igualar - e, haja optimismo qb, porque não ultrapassar?) e dizer que se esquece o 2º Ciclo "das turmas com 28 alunos de 10 e 11 anos, das salas inconcebíveis, do espantoso tecido curricular (...) que impinge bloco e meio de Educação Física (meio bloco quer dizer 45 minutos a esta disciplina), 225 minutos por semana a disciplinas tão redutoras como Estudo Acompanhado (90 minutos), Área de Projecto (90 minutos) e Formação Cívica (45 minutos), e não dedica um minuto a uma segunda língua estrangeira, às novas tecnologias (deixa isso para o 3.º ciclo) ou a um reforço da carga horária da língua materna."
O que nos vale é que, como é contado noutra notícia do Público, o fosso digital português é grande, mas os estudantes do Secundário salvam a situação - é que, "ao nível da penetração da Internet, é com os números dos estudantes do ensino secundário e do ensino superior que Portugal obtém melhores classificações" e "os 81 por cento de estudantes do ensino secundário que estão ligados à rede colocam Portugal muito acima dos 66 por cento da média europeia e próximo de países como a Suécia, França e Dinamarca". Mais um passito e estamos lá... na Finlândia, claro!
1 comentário:
Obrigada pela leitura e reflexão críticas que vais fazendo aqui, «Nesta hora», destes temas.
Eu, que tenho muito pouco tempo para ler os jornais diários, tenho assim a tarefa facilitada: tu lês, tu sublinhas, tu editas «on line» com comentários certos e certeiros, tu envias o «e-mail» a anunciar os novos «posts»... Eu só tenho que te visitar pontual e assiduamente!... Mais uma vez, obrigada!
Enviar um comentário