A revista “Única”, saída com o Expresso do passado fim-de-semana, dedicou treze páginas a Setúbal, sob um título curto mas nada lacónico: “Pobre Setúbal”. Lê-se e, para além de se saber que são retratos reais aqueles que ali constam, fica-se a saber que eles só poderão pecar pela exiguidade. Lê-se e, em revisão, recua-se no tempo de duas décadas e tal, em que Setúbal foi fustigada pelo mal-estar das dificuldades, com acentuado vinco na sociedade. Lê-se e recorda-se o papel que D. Manuel Martins, o primeiro bispo sadino, teve, quer na denúncia, quer na tentativa de contribuir com algumas soluções. A situação parece, no entanto, mais grave – é que, como concluem os jornalistas signatários da peça, “quem vê Setúbal vê o resto do país”. E explicam: “Claro é que Setúbal deixou de ser excepção, para padecer dos problemas que afectam o território nacional. A fome, o desemprego, a precariedade e a delinquência já não são mais graves no distrito sadino do que em outro ponto qualquer do país”.
A pretexto deste retrato, o jornal foi ouvir D. Manuel Martins (hoje no Porto), cujas palavras, mais uma vez, não são enigmáticas e dão continuidade àquele que foi o seu discurso nos tempos da actividade centrada na sua diocese de Setúbal, numa luta contra o marasmo. Que sinais são necessários? “Que a Igreja seja pobre. Gostava de uma Igreja que não condenasse, que dialogasse, que derrubasse muros, que comungasse os problemas do mundo, que ouvisse os clamores das pessoas e lhes soubesse responder. Quero uma Igreja que aprenda com o mundo e descubra uma maneira nova de estar. (…) A Igreja tem de estar num esforço permanente de reconversão. Depois, tem de sair para a rua, para o povo notar que está ao serviço do Homem. Toda esta descoberta da dignidade funda-se na democracia, que passa pela vivência e pelo testemunho de uma descoberta de valores. E estamos muito longe de qualquer coisa a que se possa chamar democracia.”
Se a voz deste homem pode ser entendida como uma reacção ao correr dos tempos, então o retrato é ainda mais negro do que se possa imaginar. Já não podemos atirar o futuro ou a mudança para o século XXII, por ser despropositado. Mas, no século XXI, que estamos a viver, o valor do Homem é cada vez menor. Como dava a entender Gedeão… o Homem Novo é cada vez mais uma réplica do Homem Velho. Talvez com tendência para piorar! E este nosso mundo será cada vez mais um espaço maior de desgosto e de insatisfação, de exploração e de pobreza. Inevitavelmente, isso reflecte-se na (nossa) vida. Inevitavelmente também, o bispo emérito de Setúbal poderá continuar a dizer, como um dia escreveu numa mensagem para a Semana da Solidariedade (in Pregões de Esperança. Setúbal: Caritas Diocesana, 1997): “Fazem chorar (e corar de vergonha) tantas situações de carências primárias que todos os dias nos batem à porta”, que todos os dias todos vemos.
A pretexto deste retrato, o jornal foi ouvir D. Manuel Martins (hoje no Porto), cujas palavras, mais uma vez, não são enigmáticas e dão continuidade àquele que foi o seu discurso nos tempos da actividade centrada na sua diocese de Setúbal, numa luta contra o marasmo. Que sinais são necessários? “Que a Igreja seja pobre. Gostava de uma Igreja que não condenasse, que dialogasse, que derrubasse muros, que comungasse os problemas do mundo, que ouvisse os clamores das pessoas e lhes soubesse responder. Quero uma Igreja que aprenda com o mundo e descubra uma maneira nova de estar. (…) A Igreja tem de estar num esforço permanente de reconversão. Depois, tem de sair para a rua, para o povo notar que está ao serviço do Homem. Toda esta descoberta da dignidade funda-se na democracia, que passa pela vivência e pelo testemunho de uma descoberta de valores. E estamos muito longe de qualquer coisa a que se possa chamar democracia.”
Se a voz deste homem pode ser entendida como uma reacção ao correr dos tempos, então o retrato é ainda mais negro do que se possa imaginar. Já não podemos atirar o futuro ou a mudança para o século XXII, por ser despropositado. Mas, no século XXI, que estamos a viver, o valor do Homem é cada vez menor. Como dava a entender Gedeão… o Homem Novo é cada vez mais uma réplica do Homem Velho. Talvez com tendência para piorar! E este nosso mundo será cada vez mais um espaço maior de desgosto e de insatisfação, de exploração e de pobreza. Inevitavelmente, isso reflecte-se na (nossa) vida. Inevitavelmente também, o bispo emérito de Setúbal poderá continuar a dizer, como um dia escreveu numa mensagem para a Semana da Solidariedade (in Pregões de Esperança. Setúbal: Caritas Diocesana, 1997): “Fazem chorar (e corar de vergonha) tantas situações de carências primárias que todos os dias nos batem à porta”, que todos os dias todos vemos.
2 comentários:
O que dói de facto é que este estado de coisas é, pode dizer-se, transversal a toda a sociedade. Somos confrontados, de manhã à noite, quer na rua, quer no local de trabalho, com a necessidade de "compreender" o que não se pode compreender. De bitolar por baixo por não termos interlocutor para sermos o que somos.De fingir que aceitamos apenas para não sentir o desgaste de quem nos apelida de "nunca está de acordo", está sempre a "implicar", é mesmo "picuinhas",enfim, é mesmo "chata"! E se se reage, com os lindos 53 anos que se foram acumulando, taquicardiza-se, entra-se em disritmia, sentem-se afrontamentos, náuseas e vómitos!
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