Do Público de hoje, a propósito do cigarro do Primeiro-Ministro no voo para a Venezuela: «1.º capítulo, a admissão: "Eu, de facto, fumei com pessoas que vinham na comitiva e com o ministro da Economia [Manuel Pinho] enquanto conversávamos". 2.º capítulo, o desconhecimento: "Tinha o convencimento que se podia fumar, pois a verdade é que sempre aconteceu [fumar] nas viagens anteriores que realizámos. Portanto estava convencido que não estava a violar nenhuma lei, nem nenhum regulamento." 3.º capítulo, as desculpas: "Se por algum motivo violei alguma lei e algum regulamento, lamento. Parece que há esta polémica. Lamento, peço desculpa por isso e isso [fumar a bordo] não voltará mais a acontecer".4.º capítulo, a tomada de consciência: "Tenho agora consciência que os fumadores, inconscientemente, podem violar normas e regulamentos que aliás desconhecem".5.º capítulo, o anúncio: "E também tomei uma decisão: isto não voltará a acontecer, tenho especial responsabilidade tendo o Governo feito a lei e... estamos a falar, eu não sei se a lei se aplica, se não aplica, mas, independentemente de a lei se aplicar ou não aplicar, a verdade é que eu tenho especial responsabilidade em dar o exemplo. E por isso tomei uma decisão: não vai voltar a acontecer porque decidi deixar de fumar".»
Sim, é interessante pedir desculpa, coisa que não temos o hábito de ver nos políticos. Mas, como aprendi e a outros tenho dito... as desculpas não se pedem, evitam-se! Sim, é interessante assumir-se que se vai deixar de fumar, numa atitude radical, acreditando-se mesmo que a intenção vai ser cumprida. Mas esse é um acto pessoal sobre o qual não tenho que me pronunciar. Sim, não deixa de ser espantoso que uma viagem à Venezuela para acordos internacionais se deixe ofuscar pelo poder incendiário de um macito de tabaco! Sim, não tenho a sorte de poder defender-me perante a autoridade que me quer multar com um argumento do género: "Peço-lhe desculpa, mas nunca mais vou infringir a lei. E nunca mais, porque vou deixar de conduzir o meu carro, porque ..., porque... não vou fazer nada que tenha a ver com essa lei." Sim, há diferenças, eu sei - não assinei diplomas, não gozo direitos que me permitam ser ignorado pelas leis. E há semelhanças: também não conheço todas as leis que tenho que respeitar. Da do tabaco, estou, no entanto, livre: não fumo. Também não me importo que fumem, desde que não me obriguem a respirar o ar que poluem. Quanto às leis, não ignoro que o seu espírito deveria ter carácter de universalidade... e não deveriam deixar zonas cinzentas.
3 comentários:
Fumar pode matar ... Mas o que me estar a "matar" não é o fumo que não fumo, é este (des)governo do qual esta é apenas uma, mais uma, fotografia deselegante!
MCT
Sócrates é a vergonha em pessoa. Depois do caso do canudo socrático e do caso das vivendas pseudoprojectadas por Sócrates, só faltava não cumprir a lei "inventada" pelo próprio...
Gomen kudasai.
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