A questão que o Presidente da República trouxe no seu discurso do 25 de Abril sobre a participação na política e sobre a participação e informação política dos jovens continuará a dar que falar, apesar do "politicamente correcto" que surgiu de todas as frentes partidárias...
Afinal, a importância dada à participação do cidadão parece não ser tão interessante quanto isso, a avaliar pelos resultados quanto à exequibilidade democrática no nosso país, conforme ontem foi revelado pela imprensa (por exemplo, no Diário de Notícias) a partir de um relatório da organização não governamental inglesa Demos, em que Portugal aparece quase no termo da tabela dos países europeus!
Hoje, no Público, André Freire, em artigo sobre "Os portugueses e a política", toma como pretexto o discurso do Presidente da República, analisa algumas linhas que poderão justificar o desinteresse dos jovens pela política e apresenta uma conclusão, eivada de recados que bem mereciam a atenção. Por isso, a transcrevo:
«(...) Porque as questões levantadas pelo PR são muito importantes, nomeadamente em termos de qualidade da democracia, e a classe política (PR incluído) não lhes terá dado ainda o devido relevo, termino reflectindo sobre o que fazer (para mudar a situação)? Primeiro, é preciso credibilizar a política. Aqui poderíamos realçar a) a necessidade imperiosa de cumprir os compromissos eleitorais e b) a de reduzir a promiscuidade entre negócios privados e acção política. A realidade está bastante aquém do desejável, apesar dos repetidos alertas... Segundo, é preciso incentivar e levar a sério a participação dos cidadãos na tomada de decisões políticas, ou seja, é necessário valorizar a participação e procurar incorporar, efectivamente, as demandas no processo decisório: só assim as pessoas verão que vale a pena participar. (o estudo evidencia, aliás, um forte apoio a mecanismos de democracia directa). Não é a isso que temos assistido, quando, após a eleição directa de um líder partidário ou do bastonário de uma ordem profissional, alguns dos seus ilustres correligionários se apressam a deslegitimar os novos eleitos e, assim, a sugerir que deveriam ser eles e não "o povo" a escolhê-los. Também não é propriamente a isso que temos assistido quando se desvalorizam enormes manifestações populares ou se demoniza a acção sindical. Ou ainda quando se comprime severamente a democracia nas universidades. Pena é que não se tenha ouvido a voz do PR nestes casos... Terceiro, o cidadão constrói-se. Por isso, é necessário apostar mais na educação política dos jovens, nomeadamente insistindo mais no ensino da História e da Ciência Política, bem como na educação cívica. Finalmente, para mobilizar os cidadãos são precisas alternativas: não é a isso que se assiste quando a política (do "centrão") é reduzida à mera gestão da coisa pública.»
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