Uma fotografia do Maio de 68 constitui tema de capa do número inaugural da revista Visão – História (dirigida por Cláudia Lobo), alusivo ao mês de Abril. Este número é temático, indo buscar o ano de 1968, “o ano que não acabou”, por, como é dito na apresentação, ser uma “data-chave da segunda metade do século XX em que tudo aconteceu e cujas repercussões são ainda bem visíveis”.
Depois, vêm as fotografias desse ano, a primeira das quais é aquele poderosíssimo instantâneo de Eddie Adams, que captou o comandante da polícia de Saigão a executar um soldado vietcong, foto que fez recrudescer o protesto dos americanos contra a guerra no Vietname e que valeu ao seu autor o prémio Pulitzer, que nunca aceitou.
Há também uma cronologia do ano e, depois, vem “O mais longo mês de Maio”, que relembra os acontecimentos e que os analisa, agora que em França se discute essa vontade de acabar com as memórias dos “soixante-huitards”, intenção vista por Daniel Bensaid como “um discurso de exorcismo” porque “acabar com o espectro de 68 é uma tentativa de exorcizar a crença de que ele possa ressurgir”.
Praga, Vietname, Luther King (assassinado em 4 de Abril) e o racismo e a queda de Salazar são os outros destaques. Para lembrar, há ainda alguns livros (O delfim, de Cardoso Pires, ou Os afluentes do silêncio, de Eugénio de Andrade), músicas (Cantares do andarilho, de José Afonso), arte (Warhol e Júlio Pomar) e moda (entre o fim do previsível e o surto do “mosaico”) desse ano.
A finalizar, há um texto de Manuel Villaverde Cabral, exilado em Paris em 1968, que vê o Maio de 68 como uma “revolução cultural” com reflexos que perduram ainda hoje: “A retórica espontaneísta do ‘contra’ deixou marcas profundas e a actual paisagem humana e social seria bem diferente sem ela: contra o Estado e os seus mecanismos de enquadramento; contra a família convencional e o recalcamento sexual; contra o racismo e a subordinação das mulheres e crianças; contra a escola disciplinadora e reprodutora das desigualdades; contra o trabalho penoso e o consumo alienante, etc. Tudo isto é irreversível, tendo sido absorvido e massificado até ao limite do relativismo ante a falência das crenças autoritárias. E a prova está feita. Quando Sarkozy mobilizava recentemente os conservadores com o ódio ao legado de Maio, estava a esquecer-se de que era esse legado que lhe permitia casar e descasar em directo na televisão…”
Depois, vêm as fotografias desse ano, a primeira das quais é aquele poderosíssimo instantâneo de Eddie Adams, que captou o comandante da polícia de Saigão a executar um soldado vietcong, foto que fez recrudescer o protesto dos americanos contra a guerra no Vietname e que valeu ao seu autor o prémio Pulitzer, que nunca aceitou.
Há também uma cronologia do ano e, depois, vem “O mais longo mês de Maio”, que relembra os acontecimentos e que os analisa, agora que em França se discute essa vontade de acabar com as memórias dos “soixante-huitards”, intenção vista por Daniel Bensaid como “um discurso de exorcismo” porque “acabar com o espectro de 68 é uma tentativa de exorcizar a crença de que ele possa ressurgir”.
Praga, Vietname, Luther King (assassinado em 4 de Abril) e o racismo e a queda de Salazar são os outros destaques. Para lembrar, há ainda alguns livros (O delfim, de Cardoso Pires, ou Os afluentes do silêncio, de Eugénio de Andrade), músicas (Cantares do andarilho, de José Afonso), arte (Warhol e Júlio Pomar) e moda (entre o fim do previsível e o surto do “mosaico”) desse ano.
A finalizar, há um texto de Manuel Villaverde Cabral, exilado em Paris em 1968, que vê o Maio de 68 como uma “revolução cultural” com reflexos que perduram ainda hoje: “A retórica espontaneísta do ‘contra’ deixou marcas profundas e a actual paisagem humana e social seria bem diferente sem ela: contra o Estado e os seus mecanismos de enquadramento; contra a família convencional e o recalcamento sexual; contra o racismo e a subordinação das mulheres e crianças; contra a escola disciplinadora e reprodutora das desigualdades; contra o trabalho penoso e o consumo alienante, etc. Tudo isto é irreversível, tendo sido absorvido e massificado até ao limite do relativismo ante a falência das crenças autoritárias. E a prova está feita. Quando Sarkozy mobilizava recentemente os conservadores com o ódio ao legado de Maio, estava a esquecer-se de que era esse legado que lhe permitia casar e descasar em directo na televisão…”
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