quinta-feira, 29 de maio de 2008

Luísa Todi e mais 29 portuguesas do tempo de Bocage

Assinou o primeiro contrato de trabalho, integrando o elenco dos cómicos, tinha catorze anos. Pouco tempo depois, já o seu nome – Luísa Rosa – figurava no cartaz. Entre o palco e os bastidores, apaixona-se, casa-se aos dezasseis anos de idade com um músico de quase quarenta. Aos dezanove, nasce-lhe o primeiro dos seis filhos que terá até aos vinte e nove anos; um mês depois do parto, estreia-se no Porto. Daqui passará para Espanha, actuará em Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Áustria e Rússia… Ao fim de quase vinte anos, regressa a Portugal; em plena invasão francesa, cai ao Douro, salva-se e refugia-se em Lisboa, onde morrerá cega, com oitenta anos. Eis Luísa Todi, a Euterpe do século XVIII.
Depois deste parágrafo (entre passados, presentes e futuros), que inicia o capítulo biográfico de Luísa Todi no quarto volume de Portuguesas com História, de Anabela Natário (Lisboa: Círculo de Leitores, 2008), a vida da cantora lírica setubalense surge rápida e vertiginosa, numa dezena de páginas de acção, ao sabor do ritmo que consta no parágrafo inicial, em jeito de crónica jornalística, leve e eficaz. À semelhança da escrita épica, temos a história a começar “in medias res”, no momento em que a jovem Luísa Rosa de Aguiar (seu nome de solteira) entra na carreira artística, que haveria de a catapultar para lugar cimeiro no canto e na fama. É esse percurso que aqui se acompanha, ainda que ressalte também alguma amargura e alguma dose de humanidade no retrato que de Luísa Todi é delineado.
Das restantes figuras cujo perfil biográfico é traçado, mais duas tiveram uma relação com Setúbal, ainda que não de uma forma directa. Menciono Luísa Clara de Portugal (n. 1703) e Catarina Lencastre (1749-1824). Quanto à primeira, que ficou conhecida como “Flor de Murta”, foi filha do Governador da Torre do Outão Bernardo de Vasconcelos, casou aos 16 anos com Jorge Francisco de Meneses (quase com o dobro da idade dela e senhor de vários títulos – comendador da Ordem de Cristo, de São Silvestre de Requião e de São Miguel de Alvarães) e depois foi amante de D. João V e do seu sobrinho. Relativamente a Catarina Lencastre, de Guimarães, viveu em Londres e, depois de enviuvar, dedicou-se à poesia, tendo ficado conhecida como a “Safo portuguesa” num meio artístico com o qual nem sempre teve uma relação pacífica, referindo a autora os casos de alguns “amores perdidos” como terá acontecido no relacionamento com Bocage, “mais novo dezasseis anos, com quem há-de zangar-se depois de com ele trocar mimos poéticos.”
Portuguesas com História, de Anabela Natário (n. 1960, jornalista) é obra prevista para seis volumes, tendo já saído os dedicados aos séculos X a XIII (primeiro), XIV e XV (segundo), XVI e XVII (terceiro) e XVIII (quarto). No final, cerca de 180 figuras femininas estarão retratadas pelas suas histórias para a História.

1 comentário:

Anónimo disse...
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